AMITIS

Uma rainha poderosa.Era isso o que ela era,e todos sabiam o quão perigoso seria desafiar Amitis e qualquer pessoa que amasse.Especialmente,se fosse algum dos filhos que tanto protegia.

Desde que se casara,Amitis acreditara que a força e o poder resolviam tudo.Apesar de sua visão não ter mudado,novos sentimentos emergiram em seu coração quando os filhos nasceram.Ou apareceram em sua vida.

Evil-Merodaque,o primogênito,era calmo e sensível,nunca contrariando ninguém para evitar desentendimentos.Amitis sempre tentara amenizar as coisas para que ele não sofresse mais do que o necessário.

Kassaia,a do meio,parecia-se extremamente com o irmão,sempre ocupando a mente com fantasias e histórias.Amitis ainda tentava entender como a filha conseguia ser tão menina mesmo já tendo vinte e três anos.

Nitócris,a caçula,tinha o mesmo temperamento do pai,o que sempre fez com que fosse mais forte do que os outros.Mas havia a arrogância e o egoísmo da filha,o que faziam com que muitos a temessem apenas;Amitis sabia que o marido sabia impor respeito sem ameaças,ao contrário de Nitócris que precisava usar a força sempre.

E claro,não poderia faltar,Kassandra.A filha que Ishtar concedera aos Reis da Babilônia,aquela que não tinha o mesmo sangue mas era a que mais se assemelhava com Nabucodonosor e Amitis ao mesmo tempo.Possuía a inteligência e astúcia de ambos,combinando a determinação e força de vontade apenas do Rei com a sinceridade e espírito aventureiro da Rainha,fizeram-na se tornar a preferida de Nabucodonosor.

Quando seu marido,contou-lhe que arranjara uma noiva para Evil,Amitis ficara preocupada.Tinha medo de que nenhuma mulher fosse capaz de compreender o coração do filho e assim poderia machucá-lo,mas Shamiran mostrara que era digna de ser a futura Rainha da Babilônia.Para o completo desgosto de Nitócris,que ambicionava o trono para seu filho,Belsazar.

Kassaia não tentara refutar a decisão do pai,ao casá-la com o comandante do Exército,Nebuzaradã.Mas Amitis ficara imensamente triste quando sua filha recebera a notícia de que poderia ser estéril,que procurara saídas de todas as formas.E agora tinha certeza de que encontrara,na forma do hebreu conhecido como Lobo de Judá.

Por alguma razão,que Amitis desconhecia,Nabucodonosor nunca falava sobre um possível casamento para Kassandra.Parecia que o Rei iria mantê-la sempre junto a si,sem ter de dividi-la.Internamente,a Rainha agradecia;se não gostava de Neusta e Issa agindo como se a garota ainda fosse delas,imagina um homem que talvez não a tratasse com a devida dignidade.

Mesmo sendo uma rainha poderosa e temível para muitos,dentro de seu palácio,Amitis era apenas uma mãe que faria de tudo pela felicidade dos filhos.Os quatro.

SAMMU-RAMAT

Desde criança,Sammu-Ramat sentia ódio e nojo da vida que tivera.O pai simplesmente agia como um tirano,que sem hesitar,a trocou por setenta moedas.Mas,tudo bem,isto possibilitou que conhecesse muito das coisas que a fariam a mulher que era hoje.

E,sobretudo,conhecera seu grande amor.O jovem a quem tentara roubar para sobreviver,e que a poupara de morrer.Descobrir que era um guerreiro da mais alta patente fez seu desejo de crescer na vida,para assim poder conquistá-lo e ter tudo o que sempre sonhou.Foi com essas ambições que se tornou a principal sacerdotisa,conhecendo fatos que poucos se atreviam a desvendar.

Mas saber que seu amor estava casado com uma das princesas,despertou toda sua ira.Sammu-Ramat passou a lutar incansavelmente para que sua rival nunca tivesse seu maior desejo realizado,um filho com seu amado.Nebuzaradã nem sonhava que era ela quem bloqueava o ventre de Kassaia.Mesmo tendo um caso com o mesmo,ela não se atreveria em revelar nada,pelo risco de perdê-lo.

Mas,nos últimos tempos,Nebuzaradã parecia frio e distante com ela.Apesar de saber da relação com a princesa de Judá,Issa,que se tornou uma aliada na luta para impedir que Kassaia engravidasse,Sammu-Ramat não entendia a razão daquilo.Isso até encontrar,na cabine do exército que pertencia ao amado,um véu que sabia não pertencer a nenhuma das duas.Fora no dia seguinte a ter ido ver o escravo hebreu escolhido para 'fecundar' Kassaia,que passara pelo local onde militares se reuniam e se infiltrara na cabine de Nebuzaradã que achara aquilo.

Sammu-Ramat sentiu um ódio enorme ao sentir o perfume de flores que ela só sentira em uma pessoa.Karen,irmã caçula de Issa e filha adotada de Nabucodonosor,conhecida por todos como Kassandra.Por quê raios Nebuzaradã tinha um véu dela em suas coisas?Será por isso que ele estava tratando ela e Issa de forma estranha?

Não,isso não ficaria assim.Não iria perder para uma garota idiota e sonsa,isso nunca.Mesmo que levasse anos,Sammu-Ramat faria Karen de Judá sofrer imensamente por envolver seu amado.

DANIEL

Daniel nunca fora dado a sentimentos românticos.Mesmo quando aconselhava seus amigos e familiares,com seus próprios dilemas,ele ainda não sabia como agir quando era seu coração que se acelerava quando via aquela moça.

Mesmo que Lia fosse escrava e ele,o governador-geral da Babilônia,não parecia haver barreira alguma para que seu amor não se concretizasse.E ainda contava com o apoio de Karen naquele assunto,a garota era como Daniel,tinha uma sabedoria incomum para a idade.

"Precisa agir logo,Daniel.Mostre a ela quem és de verdade,porque pelo que eu percebi Lia não tem uma boa opinião sobre você não.Mude esse quadro e verá que seus sentimentos correspondidos,você é um bom homem.",disse Karen enquanto o amigo pensava naquela mulher que estava dominando sua mente.

"Mas Karen,eu realmente não sei o que fazer.Libertá-la está fora de questão,até porque o Rei não permitiria;conheces Nabucodonosor tão bem quanto eu.Tudo o que posso fazer é tentar uma aproximação,só que Lia não permite.Isso está me matando.",disse e então a amiga ficou sem dizer nada,pelo menos até Mesaque entrar ali na sala do amigo.

"Amigos,estou realmente preocupado com Raquel.Ela não está comendo direito,nem dorme mais tão bem,já faz quase uma semana que a encontro acordada tecendo as roupas reais.",disse e tanto Karen quanto Daniel pareceram igualmente preocupados com a moça.Ambos sabiam que Mesaque tinha fortes sentimentos para Raquel,mas o que poderiam fazer se a moça estava valorizando mais as opiniões dos outros do que a própria felicidade?

"Mesaque,se acalme antes de tudo.Nós podemos tentar ajudá-la,Karen mesma pode falar com ela para tentar mudar essa situação no mínimo desagradável.Faria isso,não é mesmo,Karen?",perguntou Daniel,receoso de que a amiga pudesse se negar a fazer aquele favor.Mas ela deu um sorriso meigo e segurou a mão do amigo,que tremia de nervosismo.

"É claro que farei.Pode ficar tranquilo,Mesaque,darei um jeito para que Raquel volte a ser como era.",disse gentilmente e logo estavam discutindo outro assunto de extrema importância:as armações que Beroso armava contra o governador e seus aliados.Obviamente,não tocaria na princesa mas em Mesaque,Sadraque e Abdenego não poderiam afirmar nada além do desejo de vingança.Decidiram que deveriam ficar atentos ao menor sinal de perigo para qualquer um,e tentar impedir que inocentes fossem vítimas da crueldade do sacerdote caldeu.

BENJAMIN

Não,não poderia ser possível.Logo agora,que conseguira finalmente fugir do lugar em que vivera e estava disposto a procurar pelo irmão e Karen,tinha de ter sido encontrado por assaltantes do deserto que levaram todo o ouro que juntara naqueles anos todos.E agora seu caminho fora bloqueado por mercadores de escravos,que zombaram da forma que se encontrava.Havia marcas de socos em todo seu rosto e vestígios de sangue em suas vestes.

"Ora,ora,parece que achamos mais uma mercadoria.Cuidem das feridas dele,senão ninguém vai querer comprá-lo todo machucado.Depois que estiver recuperado,escravo,partiremos para Tiro.",dissera o homem que o encontrara enquanto uma mulher mais velha tratava suas feridas com um unguento.Benjamin não viu o que aconteceu depois,pois seus olhos estavam pesados e logo ele adormeceu.

Acordou num sobressalto,vendo que ainda era madrugada e todos estavam dormindo.Era sua chance de fugir e estava quase fazendo-o,quando sentiu uma mão em seu ombro.Era a mesma senhora que cuidara suas feridas,olhava-o com um semblante triste.

"Não faça isso,rapaz.Meu filho percebeu que você é forte e por isso vai valer mais do que outros no mercado.Eu lamento dizer isso,mas Sanoto nunca deixará você ir muito longe,irá atrás e o castigará cruelmente.O melhor que faz é ficar e esperar.",disse mas Benjamin estava disposto a fugir o mais rápido que conseguisse.

"Senhora,eu não posso esperar.Preciso reencontrar meu irmão,esperei anos para chegar aqui e ser vendido como escravo?Não,esse não pode ser o destino que Deus preparou para mim.",disse fazendo a mulher arregalar os olhos.

"Você é hebreu?Mas,como estava tão longe de seu reino?",perguntou vendo os olhos de Benjamin ficarem úmidos.

"Sim,senhora.Sou um hebreu de Judá,mas perdi quase toda a minha família num incêndio quando os caldeus invadiram meu reino.Esse meu irmão é a única família que eu tenho,por isso preciso encontrá-lo.",implorou mas a mulher simplesmente balançou a cabeça.Benjamin não queria fazer o que estava pensando,mas não via solução.Tentou derrubar a senhora no chão,mas era mais forte do que pensava e logo amarrou-o para que não fugisse.Depois,ela deitou-se novamente para dormir,não percebendo as lágrimas que começavam a escorrer dos olhos de Benjamin.Tudo o que poderia fazer era orar ao Senhor para sair daquilo vivo e reencontrar o irmão e Karen.