Invisible Play escrita por Douglastks52


Capítulo 3
Início




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783832/chapter/3

Kurokawa guardou seu celular em seu bolso e caminhou lentamente de volta para a sua sala: 

—Isso é estranho, tenho certeza que fiquei mais de horas naquele lugar... -Pensou ele. -Tenho que perguntar a inteligência artificial o que está acontecendo. 

Ao abrir a porta da sala, ele conseguiu observar sua mesa: 

—Mas antes disso... -Sorriu ele. -Eu vou descansar... 

Mesmo que sua mesa de madeira não fosse o lugar mais confortável para se pousar uma cabeça, era o melhor que ele tinha no momento. Kurokawa havia dominado a arte de dormir durante as aulas sem ser descoberto pelo professor e foi justamente isso o que ele fez até o fim das aulas. 

Seu corpo já estava razoavelmente melhor e ele estaria satisfeito, se não tivesse que falar com a professora. A sua vontade de ir para casa e depois se desculpar dizendo que tinha esquecido era grande, mas não fazia sentido nenhum ficar apenas empurrando isso para outro dia. Ele juntou forças e se dirigiu para a sala dos professores. Kurokawa bateu na porta duas vezes e rezou que a professora não estivesse lá: 

—Pode entrar. -Respondeu ela destruindo qualquer expectativa que ele pudesse ter. 

Ele suspirou, abriu a porta e entrou: 

—Isso não vai demorar muito, não se preocupe. -Disse ela com a sua típica voz gentil. -Mas sente-se. 

A sala dos professores era preenchida por vários computadores, alguns armários, uma grande mesa quadrada com várias cadeiras, uma máquina de café e um sofá. Kurokawa arrastou uma das cadeiras próximas da mesa e sentou-se: 

—Fico feliz em te ver frequentando a escola, espero que você consiga se enturmar melhor esse ano. -Disse a professora. -Mas você sabe que eu tenho que te dar uma advertência por ter faltado até agora. Kurokawa, eu sei que a tua vida não é fácil... 

Kurokawa apenas mantinha sua postura indiferente enquanto evitava fazer contato visual: 

—É sempre a mesma coisa. Todos sempre dizem o mesmo. Olham para mim com esses olhares de pena. Me tratam como se eu fosse algum tipo de animalzinho indefeso. -Pensava ele indignado.  

—Eu sei que é difícil superar o que aconteceu com os teus pais, mas você precisa seguir em frente. -Dizia a professora tentando fazer suas palavras chegarem a Kurokawa. 

—Ninguém me entende. Sinceramente, eu não quero que eles me entendam. Só quero que parem de encher o meu saco. Só quero parem de agir como se soubessem tudo o que eu sinto. "Os teus pais..." Isso, "Os teus pais..." Aquilo, pelo amor de deus, me deixem! Vocês todos são só uns retardados arrogantes. -Pensava ele enquanto ouvia sua professora. -Eu sou eu, eu faço o que eu faço porque eu quero fazer. Eu não quero saber se vocês me acham triste ou depressivo, eu escolhi viver a minha vida assim. Eu não quero a vossa ajuda.  

—Mas para isso, você precisa colaborar conosco, você precisa abrir o seu coração para as pessoas a tua volta.  

—Eu cansei de dizer isso. No final, eu percebi que as pessoas não querem ouvir o que eu tenho para dizer. Elas querem que eu apenas concorde com elas. É trabalhoso demais ficar repetindo e só vai me arrumar mais problemas, então vamos lá. Vamos fingir. 

—Certo, Kurokawa? -Sorriu a professora. 

Kurokawa fez contato visual com a sua professora pela primeira vez durante essa conversa inteira. Seus olhos eram frios e manchados de ódio, ao vê-los, sua professora tinha certeza que tinha fracassado em tentar falar com ele. Kurokawa abriu um sorriso falso e sarcástico em seu rosto e respondeu: 

—Claro que sim. 

Ele levantou-se e arrumou a cadeira que tinha pego: 

—Suponho que a professora não tenha mais nada para dizer, por isso já vou indo para casa. Até amanhã. 

—Até amanhã... -Respondeu ela claramente triste. 

Enquanto ouvia os passos de Kurokawa ecoarem pelo corredor, ela tentava lidar com a sua frustração: 

—No fim, não fui capaz de fazer minhas palavras chegarem a ele de novo... 

Antes de ir para casa, Kurokawa decidiu subir até ao terraço de sua escola. A entrada era proibida porque a queda facilmente mataria alguém, mas há muito tempo atrás, ele havia roubado a chave da porta que levava até lá. Ele sentou-se perto da grade de segurança e começou a pensar: 

—Inteligência artificial, eu tenho algumas dúvidas. 

—Não hesite em me perguntar. 

—Sobre aquele treinamento, eu pensei que tivesse passado horas lá dentro, mas acabaram por ser apenas alguns minutos. Me explique isso. 

—O tempo dentro daquele espaço de treinamento passa de uma forma diferente, uma hora lá dentro equivale a um minuto aqui fora. -Respondeu ela. -Mais alguma dúvida? 

—Você disse que eu era a terceira pessoa a completar aquele treinamento na primeira tentativa em algum tempo, eu fiquei curioso. Poderia me dizer o nome da primeira e segunda pessoa? 

—Marwolaeth foi a primeira pessoa e alguns dias atrás alguém chamado Raizer tornou-se a segunda pessoa. 

—Entendo, eu vou me lembrar desses nomes. 

Kurokawa levantou-se e encarou o chão lá embaixo. Sua escola tinha cinco andares então por isso o terraço estava bem longe do chão: 

—Mais alguma dúvida? 

Ele subiu em cima da grade de proteção: 

—Por enquanto não. 

Ele pulou. Seu corpo foi caindo cada vez mais rápido. O vento batia contra o seu rosto com cada vez mais força e ele sorria. Mesmo que tenham sido apenas alguns segundos de queda, a adrenalina em seu corpo fez com que estes fossem os segundos mais longos de sua vida. Ele propositalmente pulou onde haviam árvores que pudessem amenizar sua queda.  

Kurokawa caiu no chão com várias feridas em seu corpo. Ao perceber que tinha sobrevivido, ele teve certeza que seu corpo não era o mesmo de antes. Ele olhou para o terraço e desatou a rir. Tinha sido incrível, verdadeiramente uma experiência única. Os arranhões em seus braços e pernas eram um preço pequeno a se pagar: 

—Bom, acho melhor ir para casa.  

Seu cérebro desligou-se totalmente do mundo a sua volta durante o caminho de volta a casa. Ele estava exausto fisicamente e mentalmente. Sua cama nunca tinha parecido tão confortável antes. Ele nem sequer se deu ao trabalho de limpar suas feridas ou de trocar de roupas e simplesmente desmaiou. Por sorte, hoje era sexta e por isso ele não precisava se preocupar em ir para a escola amanhã. 

Ele acordou doze horas mais tarde. Suas feridas de ontem estavam praticamente curadas, mais uma prova de que algo estava acontecendo com o seu corpo. Mas contanto que isso não lhe trouxesse consequências negativas, ele não se daria ao trabalho de se preocupar. Ainda havia sangue em seu corpo por isso ele decidiu tomar um banho.  

Após terminar de lavar seu corpo, ele secou-se e dirigiu-se para a cozinha. Até mesmo alguém como ele entendia que precisava consumir algo além de caramelos. Ele abriu um armário ao lado do armário onde eram estocados caramelos: 

—Meu armário de macarrão instantâneo. -Sorriu Kurokawa salivando. 

Ele rapidamente preparou um e foi sentar-se no sofá da sala. Enquanto assistia televisão, Kurokawa comia e pensava no que faria durante o fim de semana. Inesperadamente, sua campainha tocou. Ele levantou-se confuso: 

—Quem viria na minha casa no sábado... Talvez a professora? Eu espero que não... 

Kurokawa dirigiu-se até a porta e espreitou através do olho mágico. Era uma garota um pouco mais baixa que ele, com cabelos castanhos claros quase dourados, olhos também castanhos, bastante magra e uma postura tímida. Kurokawa não reconheceu seu rosto e começou a suspeitar. Ele abriu apenas uma parte da porta e a encarou com um olhar frio: 

—Eu não estou interessado em nada que você queira vender... 

Ela ficou confusa por alguns instantes: 

—Você entendeu errado, não estou aqui para te vender alguma coisa. Você é Kurokawa Mito, certo? 

Kurokawa deu um passo para trás: 

—Como você sabe o meu nome? 

—É uma longa história, mas eu vou direto ao ponto: Eu preciso da tua ajuda! -Pediu ela com uma cara aflita. 

Ele pensou um pouco sobre a situação: 

—Isso não faz sentido nenhum. Será que isso é alguma espécie de pegadinha que alguém está tentando fazer comigo? Provavelmente alguém da minha sala que achou que seria divertido brincar comigo. Tanto faz. Eu vou fingir que não percebi e entrar na brincadeira. 

Kurokawa abriu a porta completamente: 

—Entre, vamos conversar melhor aqui dentro. 

A menina parada em sua frente corou completamente no mesmo segundo e tapou seus olhos com as suas mãos. Ela começou a entrar em pânico. Kurokawa estava extremamente confuso e sem saber o que fazer: 

—O que foi? O que aconteceu? 

—Está...b-b-b-balançando! -Gritou ela envergonhada enquanto apontava para as pernas de Kurokawa. 

Ele ficou ainda mais confuso: 

—O que você quer dizer com balan...çan...do... -Disse ele olhando para onde ela apontava. 

Tudo fez sentido: 

—Ah...eu esqueci de me vestir... 

Ele fechou a porta imediatamente e foi vestir algumas roupas: 

—É a primeira vez em bastante tempo que falo com uma garota e ela com certeza pensa que eu sou algum tipo de pervertido. -Suspirava ele. -Morar sozinho por muitos anos me fez adquirir esse tipo de hábito... 

Alguns minutos mais tarde, ele abriu a porta como se nada tivesse acontecido e convidou-a para entrar: 

—Bem, sente-se e explique melhor a situação. 

—Meu nome é Lizzy e como eu disse antes, eu preciso da tua ajuda! -Exclamou ela. -Meus amigos estão sendo atacados numa floresta não muito longe daqui por vários monstros. Por favor, ajude-nos. 

—Calma, monstros? -Perguntou ele. -Ah, agora eu entendo, agora as coisas fazem sentido. Você faz parte daquele jogo na vida real. Sendo assim, você é um NPC e o que você está me dando é uma espécie de missão? 

—Não, eu não sou uma NPC. -Respondeu ela. -Mas se quiser tratar isso como uma missão, pode tratar. Podemos te recompensar quando isso tudo acabar.  

—Isso tudo soa muito estranho. Ela ainda não me explicou como sabe o meu nome. E outra, eu entrei nesse jogo ontem, tenho certeza que devem existir outras pessoas mais fortes do que eu por perto. Eles devem saber que não vou ser de grande ajuda. Isso tudo cheira a problemas. Mas eu adoro problemas. -Pensava Kurokawa. 

Ele levantou-se e foi a cozinha pegar um saco de caramelos para a viagem: 

—Descer a porrada em alguns monstros e possivelmente ser recompensado? Parece um bom negócio para mim. Vamos? 

Ela sorriu: 

—Obrigada.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Invisible Play" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.