Invisible Play escrita por Douglastks52


Capítulo 2
Tutorial


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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—Isso é real? -Pensou ele extremamente confuso. 

Kurokawa deu alguns tapas em seu rosto para ter certeza de que não estava sonhando e também inspecionou a área a sua volta: 

—Não tem câmeras por aqui... -Concluiu ele. -Então isso não é nem um tipo de brincadeira... 

Ele cruzou os braços e continuou encarando aquelas letras flutuando em sua frente. O garoto novamente esticou seu braço lentamente até tocar aquilo. O letreiro sumiu e uma voz começou a ecoar na mente de Kurokawa: 

—Bem-vindo! Eu sou a inteligência artificial responsável por apresentar este mundo aos novatos. Gostaria de passar por um tutorial onde os basi– 

—Não, obrigado. -Respondeu Kurokawa. 

—Ah...ok... -Respondeu a inteligência artificial claramente decepcionada. -Bem, eu vou te mostrar o menu e se você tiver alguma dúvida, é só me chamar, eu te ajudarei no que puder. 

Um menu com diversas opções surgiu na frente de Kurokawa: 

—Isso é um jogo então... -Concluiu ele ainda desacreditando. -Um tutorial... e agora um menu com opções demais...que jogo de merda... 

Ele pensou um pouco e decidiu pedir ajuda: 

—Inteligência artificial, como eu faço para descer a porrada em inimigos? 

—Temos o treinamento contra espantalhos para novatos. -Respondeu a inteligência artificial. -Mas antes disso, tem certeza que não quer saber nada sobre a tua raça, sobre as características, sobre magia, sobre feitiços, sobre os mapas, sobre o mundo? 

—Não, me dê os espantalhos. -Afirmou Kurokawa aquecendo seus músculos. 

A inteligência artificial suspirou: 

—Tudo bem... 

A realidade a volta de Kurokawa começou a ser distorcida e no segundo seguinte ele estava no centro de uma arena. A arena era bastante espaçosa, cercada com muros com mais de três metros de altura que comportavam uma plateia. A plateia fazia movimentos repetitivos e tinha uma aura inumana, Kurokawa com seu pequeno conhecimento de jogos foi capaz de perceber que se tratavam de NPCs: 

—Esse treinamento é bastante simples, você lutará contra espantalhos e toda vez que derrotar um, o próximo será mais poderoso. -Explicou a inteligência artificial. -Não se preocupe com a sua integridade física, você sente dor normalmente aqui, mas a qualquer momento você pode sair da simulação, basta gritar sair. Caso você morra, a simulação também será parada. Qualquer dano sofrido dentro da simulação será curado quando você sair, mas é possível que a dor e cansaço físico permaneçam. Boa sorte. 

Kurokawa sorriu quando viu o primeiro espantalho se materializar a alguns metros de distância: 

—Mesmo se isso for só uma alucinação, eu vou ter certeza de me divertir. 

O espantalho tinha cerca de dois metros, seus membros eram de madeira, mas de alguma forma ele conseguia se mover. Ele caminhou lentamente na direção de Kurokawa: 

—Ele não tem olhos...como ele consegue ver... -Comentou Kurokawa confuso. -Nada faz sentido nesse lugar... 

Ao invés de ficar assustado ou pensativo, Kurokawa simplesmente disparou na direção daquele ser. O espantalho tentou impedir o seu avanço movendo um de seus braços de madeira, mas Kurokawa desviou-se facilmente: 

—Tão devagar... -Pensou Kurokawa. -Ou será que eu estou mais rápido? 

Ele aproximou-se mais um pouco e acertou um soco em cheio no centro do espantalho. Aquela pobre criatura foi brutalmente arremessada para longe até colidir com uma das bordas da arena. Kurokawa ficou parado por alguns segundos enquanto encarava seu punho: 

—Que? Como assim... -Pensava ele muito confuso. -Isso não faz sentido nenhum...aquele espantalho pesava no mínimo uns trinta quilos e eu arremessei ele para longe como se fosse papel... 

Antes mesmo de entender o que estava acontecendo, outro espantalho já estava surgindo: 

—Esquece, não vale a pena pensar sobre isso. -Disse ele fechando seu punho. -Isso está começando a ficar divertido... 

Ele investiu na direção do novo espantalho e novamente se esquivou de seus ataques: 

—Melhor do que antes, mas mesmo assim continua muito devagar! 

Kurokawa cravou suas duas mãos no torso do espantalho e dividiu-o no meio. Farpas de madeira voaram em todas as direções e um novo espantalho foi projetado. Kurokawa sorriu e atacou novamente. E a batalha foi ficando cada vez mais caótica. Os espantalhos tornavam-se cada vez mais rápidos, mais fortes e mais ameaçadores, mas Kurokawa dava sempre um jeito de se sobressair. 

Quando só a sua força bruta se tornou insuficiente para vencer, ele colocou sua experiência em combates em prática. As dezenas de lutas contra os espantalhos não trouxeram nenhum ferimento grave, pelo contrário, ele estava se divertindo mais do que nunca. Ele respirou fundo e esmagou a cabeça de madeira de um espantalho: 

—Esse foi o número noventa e oito? -Pensava ele enquanto tentava recuperar o fôlego -Ou talvez o noventa e nove? Eu perdi a conta... 

Um novo espantalho nasceu no centro da arena, Kurokawa encarou-o e percebeu alguma coisa diferente. Sua aparência física era a mesma de sempre, mas a sua aura, a energia que ele transmitia era totalmente diferente. Aquela coisa exalava morte. Ele adotou uma postura mais cautelosa e esperou por um movimento de seu adversário enquanto tentava desenvolver um plano 

Mas o espantalho não lhe deu ao luxo de pensar, aquele ser correu contra Kurokawa numa velocidade absurda. Kurokawa esquivou-se do primeiro ataque com alguma dificuldade: 

—Ele é rápido demais, é difícil acompanhar com os olhos... 

Kurokawa evitou o segundo ataque, mas acabou por se colocar numa má posição, ao ver o terceiro ataque se aproximando ele sabia que o resultado não seria agradável: 

—Não vou conseguir desviar, vou ter que bloquear. 

Ele juntou seus dois braços na forma de cruz em frente ao seu peito e aceitou o golpe. O braço do espantalho era claramente feito de madeira, mas naquele instante, Kurokawa tinha quase certeza que aquilo fosse tão duro quanto aço. O impacto entre aquilo e os braços de Kurokawa produziu o ruído de uma rachadura. 

Kurokawa não tinha dúvida, um de seus braços havia sido quebrado e o outro estava bastante machucado. Mas o espantalho não parou, ele continuou colocando força em seu ataque até projetar Kurokawa para longe. Ele voou até bater na borda da arena e ficar afundado em uma pequena cratera. No momento do impacto contra a borda da arena, Kurokawa sentiu mais alguns ossos se quebrarem dentro de seu corpo: 

—Que força absurda. Meu braço e algumas costelas. Dói. Dói tanto. Ah, dói demais. Calma...respira...não deixe a dor atrapalhar seus pensamentos, fique calmo... –Pensou ele tentando mover seu corpo. -Eu nem sei como estou vivo, se isso tivesse sido lá fora, eu com certeza teria morrido. Realmente, dói para caralho. Mas também está sendo divertido para caralho. 

Ele abriu um sorriso estranho em seu rosto enquanto saía da cratera na parede: 

—Dói. Mas eu quero mais. -Kurokawa cerrou seus punhos. -Dói, mas eu quero vencer. 

Ele pensou rapidamente num plano e se preparou para executá-lo. O espantalho caminhava lentamente em sua direção, ele foi sensível o suficiente para dar tempo para Kurokawa recuperar-se de seu ataque. Os dois encaram-se novamente e Kurokawa esperou o inimigo fazer seu movimento. Ele encostou seu corpo na parede atrás de si e fez um sinal provocativo com sua mão. 

O espantalho aceitou a provocação e investiu na direção de Kurokawa com mais velocidade do que antes. Ele fez um ataque direto e Kurokawa esquivou-se por pouco. O soco do espantalho atingiu a parede da arena e a fez desmoronar um pouco: 

—Era isso que eu precisava. -Pensou Kurokawa agarrando um grande bloco que desmoronou da parede. 

Ele desviou do próximo ataque do espantalho enquanto apoiava seus pés na borda da arena. Kurokawa impulsou-se para frente e afastou o espantalho com uma cabeçada em seu peito: 

—AÍ! Minha cabeça! O corpo dele é duro demais... 

Continuar lutando com a parede da arena limitando seus movimentos era perigoso por isso ele precisava de espaço. Kurokawa era incapaz de atacar já que seu braço funcional estava segurando o pedaço da parede. Por outro lado, mesmo que atacasse, dificilmente um de seus ataques atingiria aquele monstro e mesmo se atingisse, o dano não seria grande o suficiente. 

Mas Kurokawa tinha um plano em mente. Ele propositalmente esquivou-se de um dos ataques do espantalho abaixando, o que fez o próximo ataque ser um chute lateral por baixo. Kurokawa desviou do chute pulando e se colocando numa posição extremamente perigosa. No ar, ele não era capaz de se esquivar corretamente, por isso bloquear era a única alternativa. Mas bloquear outro daqueles ataques era morte certa. 

O espantalho impiedosamente disparou um soco na direção de Kurokawa. Mas ele estava preparado para isso, usando o pedaço da parede da arena, ele foi capaz de absorver grande parte do dano, mas mesmo assim foi arremessado para longe. Enquanto voava para cima por causa do impacto, Kurokawa agarrou um pequeno pedaço do que restava daquele bloco da parede da arena: 

—Esse soco foi ainda mais forte do que antes, mesmo com o bloco da arena, meu outro braço quase quebrou. -Sorriu ele. -Mas nada disso importa agora... 

O corpo de Kurokawa parou de subir e começou a cair enquanto adquiria mais e mais velocidade. O espantalho percebeu que seu inimigo estava vivo. Ele podia ter apenas se esquivado e visto Kurokawa se esparramar no chão, mas ele não era inteligente o suficiente para o fazer. Ou talvez tivesse alguma espécie de orgulho que o impedisse de recuar de tal forma. 

Kurokawa concentrou toda a sua força em seu braço funcional que segurava um fragmento pontiagudo da borda da arena e se preparou para o impacto. Durou menos de um milissegundo. A velocidade do choque somado à força do soco do espantalho abriu um buraco no lado esquerdo do corpo de Kurokawa, que não conseguiu desviar-se direito. Por outro lado, a pedra na mão de Kurokawa perfurou a cabeça do espantalho. 

Ele caiu no chão esvaindo-se em sangue e totalmente exausto: 

—Ganhei... -Riu ele. 

Aquela realidade desfez-se e Kurokawa foi levado de volta ao mundo real. Suas feridas foram curadas, ele abriu seus olhos e viu-se deitado no chão. Enquanto tentava se levantar, ele percebeu que cada célula de seu corpo doía. Kurokawa arrastou-se até a parede mais próxima e sentou-se encostado nela. Ele sorria enquanto lembrava do quão divertido tudo aquilo tinha sido: 

—Parabéns por ter completado esse treinamento, como você é apenas a terceira pessoa a completar isso na primeira tentativa em algum tempo, você será presenteado com uma recompensa. -Disse a inteligência artificial. 

—Eu fiz porque achei que seria divertido, não precisa me recompensar nem nada do gênero. -Respondeu Kurokawa ainda extremamente dolorido. 

—Você não está entendendo muito bem, você não tem a opção de recusar. -Afirmou a inteligência artificial ligeiramente irritada. 

Kurokawa suspirou: 

—Tá...então...me dê logo a recompensa. 

—As opções são variadas: uma poção de cura completa que também dá efeitos secundários positivos, uma capa de teletransporte que tem um tempo de recarga, um chapéu que te permite identificar mentiras, um anel que- 

—Não tem nada que tipo...me deixe mais forte? 

A inteligência artificial respirou fundo visivelmente irritada 

—Se você tivesse me deixado acabar...Mas sim, existe. Uma das opções é um aumento considerativo em todas as suas características básicas. 

—Eu quero isso. 

—Feito. -Respondeu a inteligência artificial. -Se tiver mais perguntas, não hesite em me contatar, farei o meu melhor para te ajudar. Lembre-se apenas que a minha ajuda está disponível somente durante as próximas vinte e quatro horas. 

Kurokawa apenas balançou sua cabeça para mostrar que tinha entendido e a aquela voz sumiu novamente. Ele levantou-se com muitas dificuldades e começou a caminhar em direção a sua sala: 

—Eu devo ter ficado tanto tempo lá dentro... -Pensou ele. -Imagino que horas são... 

Ele observava que o fluxo de pessoas dentro da escola ainda era bastante grande: 

—Que estranho... 

Ao ouvir o som do toque e as pessoas retornando para dentro das salas, as coisas ficaram ainda mais confusas: 

—Calma... 

Ele estendeu sua mão até o seu bolso com dificuldades e buscou o seu celular: 

—O que? Isso não faz sentido nenhum...Só se passaram quinze minutos... 


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