WSU's Padre escrita por Lex Luthor, WSU


Capítulo 9
VIII




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783732/chapter/9

Futuras Instalações do Presídio Feminino

da Cidade do Corsário,

Entrada

 

De dentro da névoa a dupla de padres saía. A medalha no peito de Mathias brilhava, incandescia e apagava no ambiente pouco iluminado, era o sinal de um ambiente extremamente hostil.

Estalos de chicote, gritos de agonia e risos perversos se misturavam ao cheiro de cimento e enxofre. Ao lado da betoneira amarela e suja, os choramingos constantes atiçaram a curiosidade da dupla, que aproximou.

Logo, avistaram Julia de cócoras com a mão no rosto.

— Tuller! — gritava, chorosa.

O jovem padre aproximou-se da mulher e ergueu-a por trás. Sua medalha rapidamente iluminou-se forte e quando a mulher se voltou para ele, a pele negra e acinzentada, o sorriso com poucos dentes e o globo ocular direito pendurado pela córnea a denunciaram.

O grito bestial sucedeu o duplo soco no peito que atirou o Mathias ao chão. Com um salto descomunal, ela se posicionou em cima do jovem padre, que viu suas unhas se alongarem e tornarem-se negras e pontiagudas.

Quando abriu a boca novamente para mais um rugido, os cabelos da entidade foram puxados bruscamente para trás deixando livre o pescoço que foi atravessado pela lâmina do crucifixo de Wellington.

O corpo da mulher foi ao chão, enquanto sua cabeça ficou suspensa pelos cabelos na mão do exorcista.

— Pelo amor de Deus, garoto! — repreendeu, aborrecido. — Tente usar a força deles contra eles mesmos! Use a medalha e faça algo útil!

Irritado, jogou a cabeça para cima e chutou-a com força no ar. O crânio bateu num portão velho, que desabou e revelou um caminho escuro, de onde vários olhos vermelhos e urros de agonia saíram instantaneamente.

Escravos andando como mortos-vivos, arrastando suas correntes nos braços, pés e pescoços, isso quando tinham. Atrás da grande multidão, um fazendeiro pálido, enorme e de longas barbas brancas os chicoteava.

— Algo útil, hein? — ironizou Mathias, ao se levantar.

— Não enche! — rebateu, cruzando os braços no peito de sua camisa clerical e retirando dois crucifixos, que logo esboçaram suas lâminas retráteis nos pés da cruz. — Você pega o grandão!

A essa altura, a medalha de São Bento era como uma lâmpada no peito do jovem padre. Assustado, Mathias não sabia o que fazer vendo aqueles espíritos malignos dele se aproximarem aos urros.

Em sua direção vinha um homem forte, sem dentes e nem a parte inferior do maxilar. Seu punho com apenas três dedos fechou-se antes de acertar o jovem padre no peito, bem na medalha.

Quando Mathias foi ao chão, percebeu ao se levantar que o amaldiçoado agonizava com seu braço a se desfazer, como se fosse poeira. Wellington sorriu ao contemplar a cena, enquanto golpeava outro inimigo no pescoço com a lâmina.

O portador da medalha tratou de levantar com o punho fechado e socou forte a cabeça de seu agressor, arrancando parte do crânio e deixando exposto o que sobrara de cérebro podre.

— Seu racista, desgraçado! — gritou Wellington, sorrindo. — Eu te deixo um minuto sozinho e você arranca a cabeça de um pobre escravo! — Gargalhou. — O que vai ser agora? Um genocídio, jovem Adolf?

— Vai se foder! — esbravejou em resposta, dando um chute frontal num escravo que o levou a derrubar outros quatro com o golpe.

O mais velho olhou-o assustado, foi a distração que o levou a ser puxado pelo pé e arrastado ao chão por uma mulher.

— Me solta, filha da puta! — gritava chutando o braço da moribunda.

Não demorou para que outros escravos chegassem e tomassem a outra perna e os dois braços. Em seguida, puxaram-no com tanta força que o fizeram urrar de dor. Seus gritos de agonia só foram abafados por um rosnado feroz.

Assustados, os defuntos soltaram o padre e ele viu o familiar cão esguio rangendo os dentes e pronto para atacar seus agressores.

— Não pode ser — disse, incrédulo.

Foi então que cada osso, articulação, pele, músculos e pelos do animal se alongaram. Seus dentes tornaram-se maiores, amarelados e ameaçadores, bem como seus olhos avermelhados. O pequeno cãozinho agora era um lobo de quase dois metros de comprimento.

— É o Griggio! — bradou o ex-padre, contente. — O meu anjo da guarda!

O lobo avançou no pescoço de um, arrancando a cabeça do corpo com suas presas. Então, acertou a mulher com a garra de suas patas no rosto e mordeu o ombro, estraçalhando instantemente a articulação e clavícula. Arremessou a última contra os outros dois e rosnou alto.

Enquanto isso, o jovem padre atravessa seu punho no peito de um demônio. Porém, teve seu pescoço enlaçado por uma chicotada que de trás. Quando sentiu a pressão comprimindo usa traqueia, viu-se até parar no peito do imenso homem de chapéu branco.

Seu hálito horrível, pútrido, fétido e quente foi sentido na pele e na respiração do jovem que procurava fôlego. Ele inclinou o seu corpo para frente, fazendo um ângulo reto com o chão, o bastante para impulsionar o demônio para frente e livrar-se da laçada. Tentou pisoteá-lo na cabeça e esmagar seu crânio, porém o adversário foi mais rápido e numa rápida esquiva, levantou-se e puxou a perna do padre com seu laço.

Wellington e Griggio assistiram o tombo de Mathias de perto. O canino preparou-se para atacar o fazendeiro, mas o dono o impediu estendendo a mão à sua frente.

O portador da medalha de São Bento levantou-se e caminhou lentamente para trás, assustado. Percebendo, o demônio esboçou um sorriso em tons de amarelo e negro na boca. Logo, tentou mais uma certeira chicotada que atingiu o braço de seu oponente. Puxou-o em sua direção, mas o padre resistia, se opondo a seu esforço.

Percebendo tamanha força daquele ser amedrontador, Mathias decidiu usar aquela força ao seu favor e pulou na direção em que a criatura puxava com os punhos fechados encontrando o peito do demônio e o deixando cambalear, desnorteado.

Não foi o bastante para que o laço se soltasse de seu corpo, mas o aproveitou para puxar o seu braço fazendo com que o fazendeiro viesse direto ao de seu punho enlaçado e fechado. A mandíbula de seu adversário ficou presa apenas pela pele podre das bochechas e com um cruzado poderoso cruzado de direita, a assombração foi automaticamente ao chão.

O padre encarou o seu parceiro e lobo, que aplaudiu enquanto o animal balançava o rabo com uma cara de contente.

— Eu não contei — disse Mathias, coçando a nuca e com o rosto corado —, mas lá em Roma me chamavam de Padre Balboa... pela minha destreza no boxe.

 Wellington aproximou-se e cutucou o demônio caído com a ponta do pé.

— Então esse daí deve ser o Ivan Drago.

— Eu sei lá! — esbravejou, impaciente. — Não me falou nada sobre assombrações, ou sobre elas quase tirarem minha vida! Me explica você o que ele era!

Pegando um último cigarro no bolso de sua camisa e acendendo, o ex-padre caminhou até a passagem aberta pelo portão velho.

— Bem, o lugar é amaldiçoado — respondeu, com simplicidade ao ser seguido pelo companheiro e seu anjo da guarda. — Espíritos malignos, objetos e cenários podem transcender o tempo e o espaço.

— Isso é surreal.

— E demônios ficam mais poderosos em lugares assim. — Sorriu, tragando a nicotina. — Não vão ensinar isso em Roma.

Um gemido de dor alto ecoou com um grande estalo e os risos infantis, que aos poucos se deformavam em tons cada vez mais graves até cessar.

Ao seu lado, o portador da medalha caído com uma armadilha de urso presa em sua perna.

Assustado, Wellington debruçou-se sobre seu amigo. O padre usou sua força sobrenatural para abrir a armadilha forçando os dedos por entre os dentes de aço.

— Vai lá! — disse Mathias, agonizando com a dor.

— Eu preciso de você, cara! — gritou, fazendo o cigarro cair de sua boca. — É por isso que você está aqui. É um padre, você tem fé.

O jovem padre franziu o cenho, tirou a medalha de seu pescoço.

— Se você não tivesse fé, nem estaria aqui — respondeu, entredentes. — Faça isso pelo Lineker, vá e seja o que é...

Colocou na mão de seu amigo e fechou seu punho.

O Padre.

Wellington acenou para o amigo com a cabeça e levantou-se.

— Você vai ficar bem?

— Eu dou meu jeito, sou padre Balboa.

Conseguiu arrancar um sorriso de seu companheiro, que assobiou para o lobo antes de correr e desaparecer na escuridão daquele corredor junto do animal.

 

 

 

Futuras Instalações do Presídio Feminino

da Cidade do Corsário,

Pátio

 

— Tenha cuidado, cachorro — ouço a familiar voz chamar a atenção de seu animal. — O WMMA vai pagar pau pras brigas que vão acontecer aqui futuramente.

A névoa escura cobria o local e eu sentia o arrepio frio subir pela minha pele. Deitada e amarrada com minha barriga um tanto saliente em um banco numa academia cercada por grades, o vejo se aproximar.

— Julia! — grita o Wellington, ao me ver.

Corre em minha direção, mas decido alertá-lo.

— Padre, não! — Ele não me ouve e corta as cordas em meus punhos com seu crucifixo e seu lobo usa os dentes para arrancar a dos meus pés, cortante. — Ele vai matar você!

— Ele quem? — indagou o padre, confuso.

Um enorme haltere atingiu bruscamente o lobo nas costelas, fazendo-o parar nas grades. Amigos, a mais bestial das criaturas sentiria aquele gole.

— Eu! — berrou Lineker, correndo de encontro ao seu pai.

Pouco antes de acertá-lo em cheio, o padre pulou e rolou com seu ombro no chão para esquivar-se.

Link sou eu! — decidiu apelar, fazendo um sinal com a mão para me acalmar.

Certamente ele não queria que eu fizesse movimento brusco algum, isso iria fazer com que aquela criança bizarra me matasse. Por isso, tentou se aproximar lentamente do garoto, mostrando as palmas das mãos.

— Eu sei que sou um pai de merda e que você está com raiva de mim — falou alto e cuidadoso. — Só que eu não vou te machucar!

Olhei para os pés do garoto e os vi deixar o chão, levitando e encarando o padre com seus olhos negros como as veias que brotavam pulsando forte em seu rosto.

— Mas eu vou! — retrucou o moleque endiabrado, rangendo os dentes.

Nem a notável ameaça

— Eu sei — disse, agachando-se rápido. — Agora, Griggio!

O animal saltou sobre seu dono e acertou o garoto em cheio o levando para as grades dessa vez.

— Corra rápido! — disse Wellington, apontado para mim. — Vá buscar ajuda!

Rapidamente, corri para fora daquelas grades e tranquei o portão. Com o coração saltando pela minha boca, peguei o meu telefone celular. Não havia nenhum sinal ali, pelo menos não para o meu cartão SIM. Decidi tentar uma chamada de emergência.

Sargento Matheus Fonseca, Central de Polícia da Cidade do Corsário — ouço o policial me atender em meio às pancadas que as grades recebiam. — Como eu posso ajudar?

Observei a situação e tentei descrever o mais verossímil possível.

 — Tem uma criança endemoniada tentando matar o pai, que está lutando com ela com a ajuda de um lobo gigante.

Puta que pariu, eu nunca mais faço nada de errado na corporação — respondeu, incrédulo. — Eu não quero atender mais nenhuma ligação assim.

— É sério! — gritei, impaciente.

Tá e como eu registro isso? — perguntou, em um tom irônico. — Maus tratos à criança, tentativa de homicídio, ou ataque de animal silvestre? Ou devo redirecionar a ligação para a Sessão do Descarrego?

Foi então que vi o garoto segurar o focinho do lobo, fechando suas precisas e o arremessando contra o banco onde eu estava amarrada. Ele pegou o haltere enorme e, erguendo-o com um braço, acertou-o na perna do lobo que ficou a quebrando e fazendo uivar de dor.

— Não! — desesperou-se o pai, caído e levando às mãos à cabeça.

Olha moça, eu sinceramente quero que você se foda — disse o rapaz, de maneira tranquila. — Isso não é um canal para a senhorita ficar de gracinha e colocando até esses efeitos sonoros no fundo, só pra jogar no YouTube depois e zuar com os “polícia”.

O desespero aumenta, quando o garoto ergue o haltere e bate violentamente contra a outra perna do animal. Um uivo maior de agonia ecoou pelo local.

— Tem dois possíveis homicídios e eu estou na construção do presídio feminino da Cidade do Corsário! — gritei, em desespero. — E eu estou grávida, porra!

Ouço-o bufar do outro lado da linha.

Essa ligação foi o strike um. No três, eu vou te achar — senti seriedade em sua voz, dessa vez. — E esse local aí vai ser sua futura casa.

Desligo a ligação, pois não sou obrigada a escutar desaforos.

Sinto então um cheiro forte de enxofre e, ao olhar para dentro da jaula, vejo mais um homem. Este peculiar, num terno negro e esfumaçado com calça combinando, barba grande e pés descalços imundos. De pé, ele repousa seu olhar para o padre ao seu lado, arfando e apoiado em seu joelho. Como ele havia entrado ali? Eu sei lá!

— Não está tendo um bom dia, não é amigo? — ele perguntou.

— Eu já falei que não sou seu amigo, Mefisto! — disse, ao levantar-se.

Seu filho, flutuando, segurou firme o haltere e o apontou para a cabeça do canino. Puder ver em seus olhos, o desespero do animal quando ele ergueu braço novamente. Porém Wellington correu, saltou agarrando uma barra de exercícios, tomou impulso para empurrar a criança com os dois pés e cair por cima do garoto, que soltou a arma improvisada com o impacto.

Sacou o crucifixo, que parou a poucos milímetros da garganta do menino.

— Essa foi por pouco, hein, Well?! — gritou o tal Mefisto, rindo e se aproximando deles.

Ofegante e suado, o padre parou.

— Sempre tem que pôr uma criança na mira dessa lâmina, padre? — perguntou o moleque, com sua voz rouca. — Isso não é a cara de Moçambique?

— Você! — boquiaberto, Wellington gritou em transtorno.

Molha a ponta da minha língua com água, tenho sede! — implorou, o menino.

Mefisto pôs-se de cócoras e observou de perto a cena.

— Me tira do inferno, padre! — gritou se debatendo no chão, enquanto rangia os dentes. — Me tira daqui, Wellington!

O demônio bem trajado riu, vendo o punho de seu amaldiçoado se erguer empunhado o crucifixo.

— Você sabe o que tem que fazer, Well! — encorajou, Mefisto. — Não é sempre assim?

A mão armada partiu violentamente em direção ao garoto, que cerrou os olhos antes da lâmina ser fincada no chão ao seu lado. Meus amigos, vi em seus olhos uma coragem que me fez pasmar.

Ofegante, o padre enxugou o suor em sua testa.

— Não é sempre assim — rebateu, arfando. — E ele não é Vito, não é o garoto possuído e nem o meu filho.

Ele encarou o guri de veias negras saltando no rosto.

— Você é mesmo insistente — desprezou, Mefisto. — Tomara que ele o mate. — disse, se pondo de pé. — Sua alma ainda vai ser minha da mesma forma.

O rugido anunciou o empurrão no peito do padre que decolou em direção ao dono do contrato de Wellington, mas o demônio diluiu-se numa fumaça negra e o padre foi parar nas grades. Antes que pudesse reagir, a mão do garoto já estava em seu pescoço e seus pés estavam a meio metro do chão.

Percebi que não sairia dali viva, caso o padre também não saísse. Foi então, que abri o portão e o garoto, percebendo, apenas estendeu sua mão em minha direção. Amigos, só me lembro de vê-lo segurar firme o pescoço de seu pai. Tentei me levantar do banco de cimento em que fui parar arremessada por uma força sobrenatural.

Era uma boa hora para sentir aquele arrepio novamente, pois eu havia quebrado meu braço na queda. Mas eu não entendia como aquilo funcionava, apenas observei-os com meus olhos piscando.

— Acabou, padre — disse o endemoniado, com sua voz rouca e deformada. — A minha possessão leva à uma morte inevitável do garoto.

Wellington tentou sacar mais um crucifixo de sua camisa clerical, mas o possuído foi mais rápido. Segurou e apertou seu punho, pressionou até ouvir um estalo e o pobre pai soltar a arma.

— Sem mais truques dessa vez.

As unhas negras do garoto começaram a crescer. Engoli seco ao ver o resultado inevitável.

— Você o usou.

— Não é verdade — rebateu Wellington, arquejando.

Porém, foi calado com um forte soco no estômago. O garoto parou, olhando para a medalha no peito do padre.

— Se ao menos tivesse fé, conseguiria essa bosta — arrancou e segurou em frente ao rosto de sua vítima. — Preferiu usá-lo para seu trabalho sujo.

Olho para o meu lado e vejo aquele animal bestial, aquele lobo, transformar-se num cão esguio aos poucos.

— Você merece o inferno, Wellington. — Fincou suas unhas no rosto do homem e eu pude sentir a dor delas pressionarem de leve. — Mas eu posso fazer sua morte não ser em vão.

O garoto virou-se para mim e eu pude ver as veias saltarem no rosto do padre. Nesse momento, meus amigos, meu coração estava pronto para sair pela boca.

— Essa mulher o colocou nisso. — Me apontou com suas unhas negras. — Ela me tirou o meu contratante, eu preciso de um novo para matá-la.

— Não padre, não o ouça! — supliquei, me colando de joelhos. — Eu estou tentado proteger a mim e ao meu filho!

Agarrei a minha barriga. Os pés do endemoniado pousaram sobre o chão, vi a agonia de Wellington rangendo os dentes, fazendo espuma sair pela boca como numa convulsão.

— Eu posso te dar essa vingança, padre — a voz rouca e ameaçadora falou. — Você tem fé em mim?

— Eu tenho fé — respondeu de forma robótica.

Quando seus olhos tornaram-se negros, tranquei minha respiração. Era o fim.

— Mas não só em você — continuou o padre. — Credo in unum Deum.

A medalha na mão do garoto brilhou como nunca, os olhos do padre tornaram-se humanos novamente e eu suspirei aliviada. Ele pegou o crucifixo no chão rapidamente e partiu o cordão da medalha nas mãos do garoto, tomando-o para si.

— E você mexeu com o pai errado.

O possuído saltou e tentou acertar o rosto do exorcista, que esquivou-se e pôs a medalha incandescente sobre sua testa. O garoto ficou paralisado, senti a agonia do queimor ao ver a fumaça subir.

— Tema o poder daquele que morreu na cruz e sua autoridade! — bradou Wellington, deixando Lineker ajoelhado. — É dessa autoridade, que eu ordeno que você me diga seu nome, demônio!

— Eu sou o Vingador Profano! Sou quem traz a vingança dos mortos! — o grito do demônio ecoou pelo local. — Eu sou Nekron!

Num último instante, o menino segurou o braço de seu pai.

— Só me pediram para impedir a chegada do filho dele — falou, Nekron olhando para mim.

Confuso, Wellington apenas seguiu o rito.

Nekron! — chamou, fazendo-o olhar para si novamente. — Eu ordeno que você deixe o corpo do meu filho...

O pobre garoto gritou e revirou os olhos agarrando a própria cabeça, como se estivesse sofrendo uma lobotomia.

— Seu filha da puta — disse o exorcista, observando seu filho deitar no chão.

O cão ao meu lado correu, como se nada tivesse ocorrido com as suas pernas e, indo em direção ao garoto, lambeu seu rosto. O menino despertou aos poucos como se estivesse num sono profundo e seus olhos já não eram mais negros, não havia unhas ou veias negras.

— Griggio! — surpreendeu-se, agarrando o cachorro magrelo.

O padre ajoelhou-se diante de seu filho e com os olhos mareados, disse-lhe:

— Você tinha razão. — Sorriu. — Ele é mesmo o meu anjo da guarda.

— Eu sempre tenho razão.

— Quase sempre — rebateu, o exorcista. — Só que vai perder toda ela se não me der um abraço bem apertado, neguinho!

Abraçaram-se, não puderam conter as lágrimas nos olhos. Enquanto eu assistia tudo aquilo, o cão abanava seu rabo. Era a hora de sair dali e deixar que os dois se reconciliassem.

— Eu nunca mais vou deixar você ir, Link — disse, com a voz trêmula.

Aquela era a minha deixa.

— Julia! — me chamou o padre, fazendo com que eu me virasse para eles novamente.

O exorcista caminhou até mim.

— Você ainda me deve algo — fala, colocando a mão em minha barriga. — Vai saber que fazemos de tudo por nossos filhos em breve.

— Eu sei — respondo. — Eu vou te ajudar com o conselho tutelar.

Um brilho encandeia nossos rostos, uma luz que vem da mão dele. É, meus amigos. O desgraçado é esperto.

— Você é a mãe da criança.

Ele me descobriu e tudo o que eu poderia fazer era sorrir.

— Alguém tinha que trazer esse diabinho ao mundo, padre.

O cão ladra para o meu lado, Wellington mostra a frustração em seu rosto corado.

— Todo mundo com a mãozinha pra cima! — um grito nos interrompe. — Polícia da Cidade do Corsário!

Os policiais correram e algemarem a mim e Wellington, deixando a criança chorar desesperada e o cachorro latindo, confuso.

— Lobo gigante, ? — disse o policial que me conduzia para a viatura fora do local, olhando para o cão. — É o seu strike dois.

Ele me fez entrar na parte de trás do veículo e ficar encarando o rosto do padre, que entrou no outro carro.

Ele e seu filho estavam a salvos.

Eu e o meu filho estávamos a salvos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "WSU's Padre" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.