O Doutor e Naomi vs Os Truggons escrita por Karina A de Souza


Capítulo 1
Coisas Malucas no Dia das Bruxas


Notas iniciais do capítulo

Olá.
Eu queria escrever algo para o dia das bruxas, e algo sobre o Oitavo Doutor. Foi assim que esse conto surgiu.



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—Ah, aí está você!-Michelle exclamou, assim que cruzei a rua. A roupa de Sabrina, a personagem daquela série da Netflix, era reconhecível. -Achei que não viria.

—Você me mandou mensagem faz cinco minutos e eu disse que estava chegando.

—E...?

—Deixa pra lá. John já chegou?

—Ainda não. -Suspirei. -Vamos entrar? Vamos? Está tocando Madonna.

—Não posso, combinei de entrar com John. Nossas fantasias combinam.

—Os dois estão de góticos?

—Que? Não. Você não reconhece a minha fantasia?

—Hã... Garota emo?

—Lydia! Estou de fantasiada de Lydia!

—Quem?

—Lydia Deetz. De Beetlejuice. -A expressão dela não se alterou. -O filme de 88.

—Ah, eu não assisto nada que seja da década passada. É velho demais e nada descolado.

—É claro que não. Bom, eu sou a Lydia e preciso do meu Beetlejuice, que é o John.

—Talvez deva dizer o nome dele três vezes. -Apontei pra ela de forma acusadora.

—Você assistiu o filme!

—Só um pouquinho. -Revirei os olhos.

—Okay. Beetlejuice. Beetlejuice. Beetlejuice!-Olhei em volta. -Não, não funcionou.

—Bem, então eu vou entrando para fazer uns stories e você espera o fantasminha camarada aqui fora.

—Filme errado, gênio.

—E quem liga?-Sorriu e entrou na casa.

Saí do caminho enquanto algumas pessoas passavam para a festa também e ajeitei o cabelo. Tinha decido cortá-lo em vez de comprar uma peruca, era mais simples, mesmo que tenha deixado meus pais malucos. “Seu cabelo estava tão lindo longo", mamãe tinha dito. Sempre exagerada. Às vezes parecia que Michelle e eu tínhamos sido trocadas na maternidade.

Uma enfermeira e uma vampira passaram por mim, conversando animadamente.

—Cadê você, John?-Murmurei, olhando para cima e para baixo da rua.

Nem sinal do meu Beetlejuice.

Algo brilhou lá no alto. Desci os degraus da casa, tentando ver o que era. O brilho parecia aumentar, se aproximando, então desapareceu em direção ao chão. Pisquei, confusa, tentando imaginar o que era, então saí correndo.

Talvez fosse um drone, ou uma tentativa de pegadinha do dia das bruxas que deu errado.

Parei na beirada de um beco, vendo que a luz misteriosa tinha caído ali.

—Olá?-Chamei, indecisa entre me aproximar ou não.

A luz apagou, mas havia fumaça agora, e na semi escuridão era difícil ver o que estava no final do beco. Uma luz mais fraca acendeu, como se uma porta tivesse sido aberta, e silhuetas grandes podiam ser vistas.

Franzi a testa. O que diabos tava acontecendo?

Dei um passo para frente, então mãos me puxaram para o lado, e direto na direção de grandes latas de lixo.

—Que isso?-Gritei

—Shh. -Uma mão masculina cobriu minha boca com a mão. -Shh.

Eu sabia que devia ter prestado mais atenção nas aulas de defesa pessoal, e não conseguia lembrar por que não tinha.

De repente, coisas enormes que podiam ser... Não sei, alguma coisa grande, passaram exatamente onde eu estava antes e sumiram da minha linha de visão.

O aperto em mim diminuiu. Me soltei, empurrando e chutando, então puxei o spray de pimenta da bolsa, girando na direção de quem tinha me agarrado.

—O que você está fazendo?-Ele perguntou, pulando para trás.

—Eu podia perguntar o mesmo! Fique onde está!

—Isso não vai ser possível. -Passou por mim, o segui, pronta para usar minha arma secreta. Com a luz da rua, eu podia vê-lo melhor. Era um homem alto, com cabelos que quase chegavam aos ombros. -Você viu pra que lado eles foram? Isso é bem ruim, eu não devia perdê-los de vista. Em que ano estamos?-Olhou pra mim, confuso. -Por que está vestida assim? Você vai à um enterro?

—Que?

—Desculpe, não é a língua certa? A TARDIS devia estar traduzindo.

—Nada do que você diz está fazendo sentindo.

—Só por que você não entendeu não quer dizer que não faça sentido. Ano. Que ano estamos?

—2019.

—Ah. O século 21. É um bom século. Existem melhores, é claro. Então, quem morreu?

—Ninguém. -Apontou pra mim. -Que?

—As roupas.

—É uma fantasia. Dia das bruxas. -Apontei pra mim também. -Lydia Deetz.

—Beetlejuice!

—É a primeira pessoa a acertar. -Sorriu.

—Bem... Onde estávamos?

—Eu ia te acertar com spray de pimenta. -Ergui a lata.

—Por quê?-Se afastou de mim, confuso.

—Você saiu do nada e me agarrou.

—Eu salvei a sua vida.

—De que?

—Do que você acha?-Saiu andando em direção ao fundo do beco. O segui, o spray ainda na mão. -Eles nem colocaram uma camuflagem, deviam estar com pressa.

—Camuflagem no que?

A mesma luz fraca de antes. O homem entrou nela e sumiu de vista. Hesitei, olhando por cima do ombro, e o segui.

—O que é isso?

—Transporte! E dos bons!

—Que?-Parei. Parecia a cabine de alguma coisa. Havia muitos botões e poltronas largas onde pilotos podiam se sentar. O homem foi de um lado ao outro, mexendo em tudo. -Isso... É uma nave alienígena... Não é?

—É sim. Boa dedução. Você é esperta. Pessoas espertas não são tediosas, o que é uma boa coisa.

—Okay. Então isso veio do espaço?

—Claro. Se é alienígena veio do espaço. E essa daqui veio de longe.

—Você é da NASA? Do exército? Não parece um soldado.

—Obrigado. Você também não. Ah, olha só quantos botões!

Dei um passo para trás, tentando assimilar aquilo tudo. Eu sabia que alienígenas existiam. Não era idiota. Um Universo tão grande para haver vida num planeta só? Qual é, era burrice e egocentrismo demais achar que éramos a única vida inteligente por aqui.

Isso não significava que eu já tinha visto alienígenas de perto.

Espera aí... Ele me perguntou em que anos estamos...

—Você é alienígena também?-Perguntei.

—Sou sim. Oi. -Estendeu a mão, mas eu não a apertei, o que pareceu tê-lo deixado confuso. -Achei que humanos faziam isso, mas tudo bem.

—Eram seus amigos... Os alienígenas no beco?

—Os Truggons? Não. Eles não gostam de outras espécies. E você e eu parecemos comida pra eles. Ter uma amizade com esses caras não ia ser fácil.

—Comida?

—Eu não mencionei que eles comem carne? É por isso que estão aqui. Devem ter parado para fazer um lanche.

—E não imagino que queiram passar no Mcdonalds.

—Ah... Olha a boa dedução aí de novo. Sherlock ia adorar você.

—Eles vieram comer humanos? Isso?

—É.

—Tá cheio de humanos lá fora! É dia das bruxas, tem crianças nas ruas pedindo doces e festas em toda parte! Pessoas!

—Carne. Digo, é, pessoas. Eles correm perigo.

—É, isso ficou meio óbvio!-Guardei o spray de pimenta. -Qual é o número da NASA?

—Eu não acho que seria uma boa ideia, não temos uma boa relação.

—O que?

—O que?

—Deus, você é estranho. E aliás, quem é você?

—Eu sou o Doutor. -Se virou pra mim.

—Doutor...?

—Só Doutor. -Revirei os olhos.

—Médico é?

—Não.

—Advogado?

—Não. O meu nome é Doutor.

—Certo. Doutor. Sou Naomi.

—Olá, Naomi. -Estendeu a mão de novo. Suspirei e aceitei o cumprimento. -Sabia que humanos faziam isso! Bem, temos que parar os Truggons.

—Temos?-Começou a sair da nave. O segui.

—É claro. Ajuda é bem vinda. E você fala bastante e é esperta. Eu adoro companheiras assim. Ah, você ia se dar bem com a Grace.

—Quem?-Parou na entrada do beco.

—Pra que lado agora?-Ouvimos gritos. -Acho que daquele ali. -E saiu correndo.

—Espera!

Eu podia só deixar pra lá, voltar para festa, encontrar John e Michelle e me divertir. Era dia das bruxas. Eu adorava o dia das bruxas. Mas, por algum motivo muito doido e desconhecido... Eu corri atrás do Doutor.

Ele tinha parado no fim do quarteirão e parecia um pouco decepcionado. A origem dos gritos veio de uma Capitã Marvel assustada por um Drácula. Nada de alienígenas carnívoros.

—Foi um pequeno erro. -O Doutor disse, virando pra mim, como se estivesse se desculpando. -Eu esqueci como é o dia das bruxas, na verdade, não me lembro de participar muito dessas festas. É complicado quando se tem a minha idade.

—O que, trinta anos?-Franziu a testa, um leve ar cômico no rosto.

—Ora, Naomi, eu pareço uma criança pra você? Eu sou um homem crescido. Acho que já passei dos 700 anos agora.

—Você passou do que?

—Acho que talvez devêssemos ir pelo outro lado. -Voltou a andar.

—Qual o seu plano?-Perguntei, me apressando em segui-lo. -Quando encontrarmos os... Hã...

—Truggons.

—Isso. O que faremos quando acharmos os Truggons?

—Vamos pedir educadamente para deixarem o planeta, é claro.

—E se eles não obedecerem?-A expressão dele se tornou sombria apenas por alguns segundos, mas me fez questionar por que eu estava seguindo um homem que tinha acabado de conhecer.

—Ah, não vamos ser negativos!-Sorriu. -Eles vão sair sim... De algum jeito.

—Então... Você é um alienígena... É interessante.

—É, sim.

—Você roubou a pele de algum humano?

—O que?

—Você parece humano e fala como um. Mas alienígenas são... Diferentes.

—Há muitas espécies pelo Universo, muitas formas diferentes. Algumas são humanoides, tem dois olhos, um nariz e uma boca, exatamente como você e eu. Você esperava que todos os alienígenas fossem baixinhos e verdes de olhos grandes? Esse é um estereótipo bem batido.

—Eu nunca vi um alienígena antes, dá um desconto.

—Mas não estou vendendo nada. -Tentei não rir.

—Você não interage muito com humanos, interage?

—Na verdade, sim. Tive muitos companheiros e muitos foram humanos. Ian, Bárbara, Sarah Jane, Jo Grant... Grace. Ela não ficou por muito tempo, uma noite apenas.

—Ela morreu?

—Não, ela só tinha outras coisas pra fazer.

—Ah, bom. Se você não é humano, mesmo parecendo um, o que é?

—Sou um Senhor do Tempo.

—E o que vocês fazem? Sempre sabem a hora certa?

—Foi uma tentativa de piada?

—Foi tão ruim assim?

—Hum... Olha...

—Deixa pra lá. A gente vai ficar só andando por aí? Nem sabemos onde os... Os...

—Truggons.

—Isso. Nem sabemos onde os Truggons estão. Ficar andando à esmo vai ajudar? É cansativo. E eles podem... Você sabe, estar lanchando agora mesmo.

—Eu sei. Se tivéssemos um jeito de... -Parou de andar e olhou pra mim, como se tivesse me visto pela primeira vez.

—Que foi?

—Você é uma garota do século 21.

—Hã... Aham. É. Vinte, na verdade, eu sou de 98...

—Não importa. Você tem um telefone, não tem?

—Sim.

—E imagino que tenha aquelas coisas sociais.

—Você quis dizer “redes sociais”?

—Isso. Isso mesmo. Você tem?

—É. Tenho. Twitter, Facebook, Instagram, Tumblr...

—Okay, okay. Eu preciso que use tudo isso para uma coisa. Vamos fazer as pessoas nos dizer onde os Truggons estão.

—Isso causaria pânico geral. O exército ia fechar a cidade todinha.

—É dia das bruxas, Naomi... Estão todos fantasiados.

—Espera... Vamos dizer que os Truggons na verdade são pessoas fantasiadas?-Assentiu. -Isso é genial!

—Modéstia à parte... Eu sou um gênio.

—Que autoestima legal ein, amigo. -Ri, pegando o celular. -O que quer eu publique?

***

Em menos de uma hora, diversas respostas aos meus posts nas redes sociais apareceram. O Doutor e eu levamos um tempo verificando se as fotos mandadas eram mesmo dos Truggons e não pessoas realmente fantasiadas.

Finalmente, algumas fotos depois, localizamos os três alienígenas algumas quadras de distância, graças à resposta de @15694.

Agora na luz, eu podia ver melhor os Truggons, mas não entender muito bem o que raios eles deviam ser.

Tinham corpos largos, andavam em duas pernas e a pele era cinza e escamosa. Dentes afiados e grandes ocupavam a boca, e a cabeça me lembrava um rinoceronte, tinha até aquele chifre (aquilo era um chifre, certo?).

—Então aí estão vocês três. -O Doutor disse, dando alguns passos para ficar na minha frente. -Foi um pouco difícil encontrá-los. Deus abençoe a Internet. Bem, vamos ao que interessa. Quero os três fora desse planeta imediatamente. -Os Truggons trocaram um olhar. -Eu preciso repetir?-O trio mostrou os dentes. Tentei não recuar. -Liguei os localizadores da sua nave. Não vai demorar muito até os Judoons perceberem que é a nave de vocês. Mas, até lá, vão ter que lidar comigo. -Um dos três abriu a boca e disse alguma coisa, suponho, mas não entendi uma palavra sequer. -Eu? Eu sou o Doutor.

Os Truggons recuaram. Foi até estranho. Eles simplesmente recuaram como um vampiro recuaria ao dar de cara com o sol. Olhei para o Doutor e para o trio repetidas vezes, tentando entender a reação. O Senhor do Tempo não tinha sacado uma arma, nem feito movimento algum. Ele estava só parado lá, encarando-os seriamente.

Outro Truggon disse alguma coisa, inclinando a cabeça para baixo enquanto falava.

—É claro. Vamos acompanhar vocês, se não se importam. Por ali, cavalheiros. -Olhou pra mim. -É melhor ficar de olho neles até irem embora. Nunca se sabe. Ei! Vamos, eu sei que a nave de vocês não está pra esse lado!

***

—Você colocou eles pra correr!-Exclamei, observando a nave Truggon desaparecer lá no alto. -Você simplesmente os espantou.

—Bem, eles não devoraram ninguém, mas é bom os Judoons saberem que estiveram aqui. Só a visitinha deles quebra uma lei ou outra.

—Leis do espaço?

—Do Universo.

—Uau. -Começou a se afastar. O segui. Tinha a sensação de que ele estava prestes a ir embora, sumir assim como os Truggons. Eu não queria que ele sumisse. -É tarde. Puxa, é muito tarde. -Observei a tela do meu celular. -A festa já deve ter acabado.

—E você a perdeu. Sinto muito.

—Tudo bem. Ano que vem tem mais. Posso me fantasiar de alienígena, quem sabe.

—Ficaria bem de Senhora do Tempo. -Ri.

—Pode me mostrar como as mulheres do seu planeta se vestem.

—Sabe, você não precisa perder aquela festa.

—Eu já perdi.

—Bem... Podemos mudar isso. -Parou, tirando uma chave do bolso.

—Isso é uma cabine da polícia. Eu já vi uma, mas não se usam mais.

—Essa ainda é usada. -Sumiu dentro dela.

—Está prendendo a si mesmo?

—Por que não vem ver?

—Eu... Não sei... -Colocou a cabeça para fora.

—Mencionei que ela viaja pelo tempo e espaço?

—Mas é uma caixa azul. -Sorriu.

—Por fora. Não quer ver como é por dentro? Eu posso voltar no tempo e te deixar na festa... Se quiser.

Hesitei. Muita coisa maluca tinha acontecido naquela noite, talvez houvesse mais algumas esperando para acontecer.

Respirei fundo e atravessei as portas, pronta para as outras coisas malucas.


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Notas finais do capítulo

Os Truggons são criação minha, é por isso que eles tem esse nome idiota. Toda vez que Naomi esquecia o nome deles, era eu esquecendo, e tinha que procurar na história pra escrever de novo kkkkk
Os Truggons acabaram parecidos com os Judoons, por que era a imagem que eu tinha na minha mente quando escrevia sobre eles.
E aí, será que a Naomi virou companheira ou durou apenas uma noite? Quis deixar isso em aberto, mas espero trazer esses dois juntos de novo.
Acho que é isso. Feliz dia das bruxas! Coloquem doces na porta, ou a Missy irá aprontar com vocês!
Bjs! ♥



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