Não era nem 5 da tarde quando Itachi entra na sala pela porta da frente, sem bater nem nada.

—Hey! -Reclamo enquanto ele fecha a porta após entrar- Caiu a mão e por isso não bateu? Eu podia tá pelada.

Eu estava descansando do almoço-Sim, ainda- comendo um picolé que pinta língua de azul.

Itachi revirou os olhos.

—Na sala Sakura? Você ia tá muito encrencada. -Cruza os braços, fazendo um bico.

Entendi muito bem o que ele quis dizer e rio do jeito encabulado dele.

—Porque Itachi? As vezes o chamado aparece até na sala .

Seu bico fica maior.

—Dá pra não falar sobre sua vida sexual? Não mereço saber mesmo.

—Minha vida sexual tá mais parada esse teu cabelo duro aí.

—Inveja Sakura? Dessa idade?-Ele chega perto de mim e puxa meu cabelo de leve, provocando.

—Tá, me deixa, veio fazer o que aqui?

Ele sentou ao meu lado e colocou os pés na mesinha junto comigo, coisa que faria minha mãe dá um grito.

—Sasuke foi fazer caminhada mas se sentiu entediado por ir sozinho, daí ele me chamou e eu obviamente neguei, aí ele chamou a Hozuki que além de aceitar me chamou e agora eu tô te chamando porque preciso continuar o ciclo . Simples.

—Ah esquece. Tô ocupada. -Sair da preguiça pra ir caminhar é muito brusco.

—Bela ocupação Sakura, precisa de tanta energia pra chupar um picolé.- Me provoca, como sempre, sarcástico.

—Sério. Eu preciso terminar de trabalhar. Só estava curtindo um pouco a preguiça.

—Pela nossa amizade, vamos. – Ele vira pra mim, sério- Eu sinto que você tá fugindo da gente, e Sakura, eu também sou família. A gente não conversa a anos.

Sim, as vezes até eu tinha a impressão que fugia.

Vê todo mundo com a vida perfeita não me dava inveja deles, claro que não, eu realmente estava contente por todas suas realizações, mas sempre sentia que estava sendo deixada para trás, e agora convivendo diariamente deixava isso tudo bem mais claro.

—Tudo bem então. Mas posso ir assim?-Estava de cabelo preso, moletom rosa e jeans preto.

—Tá perfeita, vamos.

Itachi fica em pé e me puxa para eu me levantar do sofá e vamos em direção a saída.

Atravessamos rapidamente o jardim e quando estávamos uns 3 metros da entrada da casa a porta se abre e de lá sai Izumi seguida por Sasuke. Os dois estavam com roupas apropriadas para exercícios físicos.

—Oi, sem atraso hoje? -Sasuke comenta quando me aproximo .

—Ah não Sasuke, dessa vez fui arrancada do sofá, não é Itachi?

—Não usei força bruta e sim uma boa lábia. – Responde convencido.

Começando a andar calmamente, eu junto a Itachi na frente enquanto Izumi e Sasuke ficava um pouco atrás aparentemente conversando sobre casamento, evito prestar atenção no assunto mas o rosto de Sasuke demonstrando desconforto é hilário. Ele realmente não parecia gostar dos deveres de festa de casamento.

—Eu sei que na maioria das vezes eu só ando brincado, mas de verdade, como você tá?- Itachi pergunta depois de uns 3 quarteirões de caminhada.

Não preciso pensar muito pra responder o automático.

—Tá tudo bem.

—Eu fiz cinco anos de direito e tô a uns anos no mercado de trabalho, acha mesmo que eu não sei identificar uma mentira?

—O que você quer que eu diga Itachi? Sabe como eu tô.

—Sim, todos nós sabemos, mas quando você vai aceitar isso? E melhor, quando você vai superar isso?

—Se você tiver falando do Sasori..

—Não tô falando do Sasori.- Ele me Interrompe- Falo de você. Pode ser clichê, mas o que tá te impedindo de ser você é você mesma. Muita coisa não deu certo, mas a Sakura que eu conheço não ia deixar tudo desabar assim sem fazer pelo menos uma bagunça. Tudo tem um jeito. Apesar de ter sido praticamente uma pressão, fico feliz por você não está mais sozinha, não esquece, eu também sou família. A gente vai tá aqui por qualquer coisa.

Raros, eram muito raros esses momentos de Itachi responsável e dono da razão.

Paro a caminhada e dou um abraço lateral nele que retribui e faz um carinho no topo da minha cabeça. Agradeço baixo, mas o suficiente pra ele ouvir.

—Ôh família, vocês tão enrolando.- Sasuke aparece ao nosso lado.

—Ah Sasuke, qual é, até parece que tem maratona. Ninguém tá afim de correr- Diz Itachi.

—Olha eu perdôo a Izumi mas vocês dois tão se arrastando.

—Sasuke se eu andar mais um quarteirão eu sinto que a Shiori vai sair só pra te bater. Meus pés tão me matando! – Izumi reclama.

—Tá bom então sedentários, vamos voltar. Não deu nem pra suar. -Ele diz frustrado e volta a andar devagar.

Itachi me solta do abraço e vai em direção a Izumi estendendo a mão que aceita de bom grado e começa a andar de forma bem lenta em direção a casa.

—Sasuke, vamos apostar uma corrida.- Digo do nada, sem pensar.

Ele para e me encara com as mãos na cintura.

—Você sabe que eu não aposto pra perder.

—Não apostaria se eu não fosse ganhar.

—Eu corro todo dia.

—Como eu não corro tenho energia acumulada.

Óbvio, era um blefe meu, eu não tinha chance.

—Certo, pela Shiori a gente vai até o fim do quarteirão . Corrida de 100 metros, a chegada é pular e bater naquele galho da árvore do fim da rua, pronta? -Ele aponta pra uma cerejeira na esquina.

Obviamente eu não estava pronta.

De chinelo, com muita preguiça e bastante sedentária, mas confirmei com a cabeça. Itachi daria a largada.

—Vou jogar uma pedra pra testar os outros sentidos de vocês, quando ela cair no chão podem iniciar a corrida.

Itachi claramente queria me vê perdendo.

A pedra foi jogada para o alto e eu mal vi ela sendo arremessada, mas antes dela cair no chão eu dei a largada ouvindo um protesto de Sasuke em seguida. Não demorou nada pra ele me ultrapassar pela esquerda. Meus pulmões já ardiam e eu começava a suar.

Quando eu já estava pensando em desistir tenho minha atenção atraída para minha diagonal, do outro lado da rua.

Vejo uma moça de longos cabelos violetas sorrindo e acenando pra mim, empolgada. Estranho, mas aceno de volta.

Acontece que, um milionésimo de segundo de distração foi o suficiente pra me fazer pisar em falso e cair com tudo no chão.

Caio totalmente de mal jeito, sentindo o calor no meu joelho e uma dor enorme no tornozelo que me faz gritar.

Ouço meu nome ser chamado mas não reconheço a voz.

Procuro a moça que deve tá rindo da minha queda tosca, mas ela tinha sumido.

—Hey, tá tudo bem?- Sasuke se abaixa ao meu lado e me ajuda a sentar.

—Claro que não Sasuke- Olho meu joelho, tinha um arranhão não muito pequeno alí.

—O que fez você perder a concentração sua doida?- Itachi corre ao meu socorro e se abaixa também .

—Eu fui olhar pra uma moça que estava acenando, vocês não viram?

Três cabeças negaram ao mesmo tempo.

—Tá doendo mais alguma coisa Sakura?-Sasuke pergunta.

—Não, acho que só o joelho mesmo.Me ajuda a levantar- Sasuke se levanta e puxa a mão que eu estendo, porém na hora que eu coloco o pé direito no chão sinto uma dor aguda que me faz perder o equilíbrio, mas sou segurada por Sasuke.

—Droga Sakura. -Ele pragueja.

—Sakura você é muito literal, quando eu disse pra dá um jeito era na vida e não no tornozelo.

—Sem piada agora Itachi. -Izumi o repreende- Você acha que é algo sério Sasuke?

—Não dá pra saber aqui no meio da rua. – Sasuke se abaixa na minha frente. -Sobe nas minhas costas, lá em casa eu vejo seu pé.

—Não Sasuke. Eu sou pesada, você não vai querer me levar, eu saio pulando..

—Deixa de ser teimosa- Me interrompe- O joelho de uma das pernas tá machucado e o tornozelo da outra tá no mínimo torcido, só sobe.

Ir pulando até em casa não parecia realmente ser uma ideia inteligente, mas seria muita proximidade com Sasuke.

Mas não tinha jeito.

Coloquei meus braços em seus ombros, os cruzando levemente em volta do seu pescoço. Ele segura minhas pernas e se levanta sem muito esforço .

—Desculpa Sasuke.- Falo depois dele começar a caminhar. Izumi e Itachi iam na frente, já nós estávamos a uma distância de quase 2 metros.

—Pelo que?

—Por ter caído, por dá trabalho, por ser pesada...

—Mas você machucou só a sí mesmo caindo, dá trabalho mas estranho seria se não desse. E você não é pesada, quem te disso isso?

—Ninguém..

Na verdade, Sasori vivia dizendo isso. As vezes as até insinuava que eu deveria emagrecer pra ficar esbelta.

—Se preocupa com isso não, você é linda.

Okay, pura sorte que estou nas costas dele porque com certeza meu rosto estava da cor do meu cabelo. Não era muito comum eu ser elogiada.

—Er...e o projeto? Deu tempo dá início?

—Na verdade eu praticamente terminei, só preciso da sua visão literária e pedagógica pra anexar. A gente pode mandar pro e-mail da Marionette quando você terminar.

—Ainda sim é melhor ligar pra ele ou entregar pessoalmente, a demanda é grande, provavelmente demoram pra dá a resposta.

—Hum... Você quer falar com ele né?

—O que!? Não Sasuke- Nego firmemente- Eu quero te ajudar no projeto.

Ele vira o rosto pra mim, o rosto a centímetros de distância. Ele dá um sorriso singelo.

—Que bom Sakura, obrigado.

Depois desse breve momento de conversa ficamos em silêncio até chegar na casa dos Uchihas. Não tinha ninguém, como sempre, Mikoto talvez estivesse dormindo e Fugaku na empresa.

Sasuke me coloca no chão e diz que vai no quarto pegar um kit de primeiros socorros. Sento com tudo no sofá com Izumi ao lado.

—Cansada de que Sakura, Sasuke que te carregou. -Alfineta Itachi.

—Meu joelho tá sangrando e meu osso deve ter saído do lugar, dói manter a pose.

Realmente, eu queria muito chorar.

Itachi revira os olhos e vai na cozinha, passa o tempo ele volta com dois copos e uma garrafa de água ao mesmo tempo que Sasuke volta com a maletinha.

Enquanto bebo água Sasuke silenciosamente se agacha ao lado do meu tornozelo machucado.

—Olha, eu vou mexer aqui e qualquer dor você avisa tá bom? Preciso ver se saiu algo do lugar.

Concordo com os olhos cheio de água.

Ele coloca os óculos e cuidadosamente suspende minha perna.Suas mãos mornas apertam meu tornozelo em pontos estratégicos, resmungo um pouco de dor e ele diminui a força, mas continua fazendo o seu trabalho concentrado enquanto eu fico observando.Uma linha se forma em sua testa e seus óculos escorregam um pouco do seu nariz fino. 

Fico hipnotizada com a cena.

Itachi estala os dedos na minha frente, me fazendo acordar assustada do transe. Olho pra ele que não tão discretamente faz gestos, limpando o canto da boca. Mostro o dedo do meio pra ele.

—Seu tornozelo aparentemente não tá quebrado, torcido nem nada. Foi só a queda de mal jeito, um analgésico e gelo devem resolver. Mas acredito que os movimentos que eu fiz devem ajudar.

—É, a Sakura gostou dos seus movimentos.

Sasuke o olha de canto com a sobrancelha arqueada enquanto Izumi o belisca com força o suficiente pra ele levantar do sofá apertando a costela.

—Ai aí, tá bom, vou ficar quieto. Pego o gelo pra você Sasuke. -E sai da cozinha novamente.

—Agora vou cuidar do joelho.- Diz Sasuke voltando a atenção para mim.

—Só não me diz que precisa de ponto!
Ele rir com meu desespero.

—Não vai precisar, só vou passar uma pomada e enfaixar pra você evitar movimento. Mas tá tranquilo, prometo.

Ele pega o antisséptico e respinga no joelho e dessa vez evito olhar o procedimento por causa da ferida.

Itachi chega na hora que Sasuke termina de enfaixar meu joelho e entrega pra ele uma bolsa de gelo que prontamente é colocada no meu pé.

—Prontinho.-Diz depois de prender a faixa na perna.

—Precisa pagar a consulta Dr. Uchiha?

—Claro, como você acha que eu me sustento? -Ele responde humorado olhando pra mim. Fico boba com seu sorriso enquanto ele também me encara.

—Bora comer uma pizza hoje? Será se já tá aberto a essa hora? Tô com fome já. Quer sabor de que Sakura?. -Itachi fala chamando a nossa atenção.

Sasuke se levanta e senta ao lado de Itachi que estava no sofá da frente.

—Não Itachi, eu vou pra casa, tenho muita coisa pra fazer. Minha cota já encheu hoje.

—Fica Sakura. -Pede Izumi.

Não queria ficar muito perto de Sasuke. Sinceramente, depois de tanto tempo sozinha parece que bateu a carência. Itachi e Izumi casados e Sasuke com o pé na igreja também. Precisava manter a distância, minha mente não estava trabalhando muito bem com todo mundo bem resolvido amorosamente ao meu lado.

—Eu realmente preciso ir, tenho que estudar. Obrigada Izumi.

Ela acena concordando comigo. Peço pro Sasuke me ajudar a levantar pra ir pra casa.

—Não não, você não vai estragar o meu trabalho no seu tornozelo. -Ele levanta do sofá e vem até minha frente e se abaixa – Pode subir, te deixo lá .

Com as faces rubras evito olhar pra Itachi que deve está rindo de mim e subo nas costas de Sasuke novamente.

A caminhada até minha casa foi silenciosa e ao entrar na sala vejo minha mãe no sofá e meu pai na cozinha.

—Santo Deus Sakura, o que você aprontou dessa vez?-Pergunta meu pai saindo da cozinha com o pano de prato na mão.

—Queda, estabanada como sempre.-Sasuke o responde.

—Foi alguma coisa grave Sasuke?

—Não dona Mebuki, eu só queria que ela mantesse o repouso e não forçasse o pé pelo menos por hoje.

—Já tô bem Sasuke, valeu.

—Bem nada, vou te levar pro seu quarto.-Ele vai em direção a escada- Licença dona Mebuki!

—Toda Sasuke!

Ele sobe a escada rapidamente e vai em direção ao meu quarto, caminho já conhecido por ele desde a infância.

Abre a porta e me coloca sentada na cama.

A atadura do joelho estava escorregando e ele se abaixa pra ajeitar.

—Está entregue.- Diz depois de finalizar novamente o curativo.

—Acho que minha conta vai ficar altíssima, até carregada pro meu quarto eu fui. Sabe que tô desempregada né, vai ser complicado pra pagar.

Ele olha pra mim e sorrir. Seus óculos estavam no colarinho da camisa regata preta que deixava os seus bíceps a mostra . Pego os óculos e coloco no seu rosto delicadamente.

—Te vê me faz sentir como se tivesse 17 anos novamente.- Ele sussura olhando nos meus olhos. Me abaixo até encostar minha testa no topo da sua cabeça.

—O que você faria se tivesse 17 anos?-Pergunto baixo, com os olhos fechados.  Sua respiração contra minha pele.

—Seria mais corajoso. E você?

—Teria feito tudo diferente.

Ficamos mais uns poucos segundos alí, sentindo a respiração lenta um do outro até que ele levanta e deixa um beijo no topo da minha cabeça. Me deseja boa noite e sai do quarto.

E nessa noite eu não consegui dormir direito.