Pokémon - Laço Eterno escrita por Benihime


Capítulo 21
Plano-não-tão-perfeito




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— Não, Cynthia. — Calista disse com um suspiro pesado, tentando conter sua irritação. — Pela bilionésima vez, loira, explodir as portas e acabar com todo mundo não é uma opção.

— Admita, Cal, você quer isso tanto quanto eu. — Cynthia rebateu jocosamente, sem tirar os olhos dos papéis que lia.

— Talvez ela queira. — Diantha declarou jocosamente. — Mas Calista claramente tem mais cérebro do que você.

— Parem com isso. — Calista repreendeu quase por hábito, antes que suas duas amigas começassem a discutir. — Vocês duas não acham que já estão velhas demais para esse tipo de implicância?

— Ouch! — Cynthia exclamou, e então caiu na risada. — Essa foi para você, super estrela.

— Ah, nem comece. — Mas era óbvio que Diantha também estava contendo o riso. — Calista falou sobre nós duas. Você não escapa da alcunha, Cynthia.

— Odeio você. — A loira declarou, embora estivesse sorrindo. — Sabe disso, não sabe?

— E a recíproca não poderia ser mais verdadeira.

Calista revirou os olhos. Desde que haviam concordado em deixar as diferenças de lado, essas discussões pareciam uma espécie de esporte para Cynthia e Diantha. As duas não conseguiam conversar mais do que cinco minutos sem começar a trocar farpas. Pareciam crianças, às vezes.

— Chega. — A morena interferiu mais uma vez. — Caramba, vocês duas são piores do que Ash e eu!

— Falando nisso ... — Não havia mais sugestão de riso na voz de Diantha, apenas preocupação e simpatia. — Alguma novidade?

— Nenhuma. — Calista respondeu, balançando a cabeça devagar em um gesto negativo. — Ele acha que sou parte da Equipe Rocket. Ash me odeia e, no entender dele, com todos os motivos.

— Talvez sua mãe possa fazê-lo ver a razão.

— Duvido. — Foi a resposta, com apenas um ligeiro toque de amargura. — Aquele pirralho nunca ouve ninguém além de si mesmo.

— Parece com alguém que eu conheço. — Cynthia declarou, abrindo um sorriso brincalhão que atenuou em grande parte a crítica contida em suas palavras. — Não acha, Diantha?

— Ah, quieta, sua loira irritante!

Cynthia não conseguiu conter o riso ante aquela reação, exatamente a que já esperava, mas em poucos instantes ficou séria novamente.

— Brincadeiras à parte ... — A loira disse gentilmente. — Tenho certeza de que ele vai mudar de ideia quando souber a verdade.

— O que não vai acontecer, a não ser que eu consiga descobrir alguma coisa sobre como tudo isso começou.

— Você é a segunda em comando. — Diantha declarou. — Não pode ser tão difícil.

— Mais do que você imagina. Meu pai está desconfiado, ele tem ficado de olho em mim. Se eu tentar qualquer coisa minimamente suspeita, tenho certeza de que ele vai dar um jeito de me impedir. — A morena se interrompeu, lançando um olhar jocoso para Cynthia. — A não ser, é claro, que eu entre lá e acabe com todos eles antes que me peguem.

— Ah, por favor, você sabe que eu estava brincando. — Cynthia zombou. — Sou loira, não completamente burra.

— Não é o que parece. — A irmã de Ash murmurou consigo mesma.

— Eu ouvi isso, Cal. — A campeã de Sinnoh informou, fingindo-se ofendida. — Continue assim e vou desistir de ajudar você, sua cabeça de pedra.

— Certo. — Calista bufou, contendo-se para não cair na gargalhada. — Sua loira irritante.

— Quem está sendo infantil agora? —  Diantha zombou.

— Pega no ato. — A morena admitiu com uma risadinha. — Caramba, Diantha!

— Talvez seja possível conseguir ajuda interna. — A atriz kalosiana sugeriu. Nenhuma das outras estranhou a súbita mudança de assunto. Aquilo era típico de Diantha. — Aposto que nem todos na Equipe Rocket são leais a Giovanni.

— É perigoso demais. — Calista protestou — Sei com certeza que todo o alto escalão é leal a ele, e não podemos correr riscos com ninguém abaixo.

— Isso é verdade. — Cynthia opinou. — Mas talvez seja possível. Tenho quase certeza de que um dos comandantes cederia ... Com a motivação certa.

— Suborno?! — A jovem kantoniana inquiriu, surpresa e desapontada por não ter pensado antes em uma solução tão óbvia.

— Ou sedução. O que for necessário. — A loira rebateu. — Todos tem um ponto fraco, Cal. Só precisamos descobrir qual é.

— Ainda assim é arriscado demais.

— É nossa melhor opção.

— Talvez não. — Um sorriso largo e cheio de malícia se espalhou pelos lábios de Calista conforme uma nova ideia lhe ocorria. — Estamos pensando em como podemos entrar lá sem sermos vistas ... Mas e se sermos vistas for exatamente a chave?

— Do que você está falando, Cal?

— Bem ... Como Diantha mesma disse, eu sou a subcomandante da Equipe Rocket. Ninguém me questiona, exceto meu pai. Se eu disser a qualquer um naquele laboratório que estou em missão para o chefe, entrarei direto pela porta da frente com uma escolta de honra.

— E você achou que a minha ideia era ridícula. — Cynthia zombou. — Pelos menos eu não estava falando sério.

— Pense bem, Cynth, é o jeito mais fácil.

— E também o mais perigoso. — A loira argumentou. — Se for pega, você estará sozinha contra dezenas de Rockets. Acha mesmo que conseguiria passar por todos para sair de lá?

— Poderia. — Calista garantiu, totalmente convicta. — Se consigo enfrentar você, um punhado de Rockets com Golbats e Raticates mal treinados vai ser brincadeira de criança.

— É diferente. Eu luto limpo, eles não vão se dar a esse trabalho. Vão usar qualquer truque sujo disponível para vencer.

— Eu sei disso, Cynth. — Calista protestou, agora realmente irritada. — Caramba, você acha mesmo que sou assim tão fraca?!

— É claro que não, sua idiota! — Cynthia rebateu. — Não lhe ocorreu que só ajo assim porque me preocupo com você?

— Já chega, vocês duas. — Diantha interrompeu. — Ficar discutindo não vai nos levar a lugar algum.

— Tem razão, Diantha. — Calista cedeu com um suspiro profundo de rendição. — E me desculpe por reagir tão mal, Cynth. Eu sei que você só quer ajudar.

A loira apenas assentiu em resposta, sem dizer nada. Conhecendo-a bem, Calista tinha certeza de que ela ainda estava em partes iguais preocupada e zangada.

— Há outra maneira. — A atriz kalosiana declarou. — Se você e eu formos juntas, os riscos serão menores.

— Não acho que isso seria uma boa ideia. — Calista respondeu. — Sem ofensas, Diantha, mas você é um pouco ... Memorável demais.

— Ah, meu bem, há muito tempo que aprendi a lidar com isso. — A atriz replicou, rindo. — Pode acreditar, nem mesmo você me reconheceria se eu não quisesse.

— Se assim você diz ... — A jovem cedeu, permitindo-se um sorriso. — Obrigada, Diantha. Você é o máximo.

As três continuaram a discutir o plano, debatendo detalhes. Cynthia não conseguia esconder sua frustração com o fato de que seus deveres na Liga Sinnoh apenas lhe permitiriam ajudar à distância.

Menos de uma semana depois, Calista e Diantha pousavam nas cercanias da cidade de Laverre. A atriz usava um uniforme da Equipe Rocket, seus cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo alto. Ela não usava maquiagem, o que a fazia parecer muito mais nova, feminina e inocente.

— Ora, ora. — Calista provocou. — Se eu não soubesse, quase diria que você é mesmo membro da Equipe Rocket. Estou impressionada.

— Não fique. — Diantha respondeu simplesmente. — Afinal, atuar é meu trabalho.

— Mais como um talento, eu diria.

A atriz simplesmente sorriu em agradecimento a essa resposta, enrolando distraidamente uma mecha cor de chocolate no dedo indicador da mão esquerda enquanto caminhavam.

— Acabei de pensar em uma coisa. — Ela disse depois de alguns segundos. — O laboratório é vigiado?

— Provavelmente. — Calista respondeu, dando de ombros. — Mas não se preocupe, podemos passar pela segurança sem problemas.

— Não há risco de que alguém a reconheça?

— Não. Além de meu pai, ninguém na equipe nunca viu meu rosto. E, mesmo assim, podemos embaralhar o registro de vídeo das câmeras assim que estivermos lá dentro. Não vai ser problema.

— Estou começando a achar que deveríamos ter planejado melhor.

— Poderíamos passar a eternidade planejando, e mesmo assim alguma coisa daria errado. — A jovem rebateu. — A vida é assim. Além do mais, temos nosso plano B.

— É, certo. — Diantha disse acidamente, numa óbvia reprovação daquela ideia. — Realmente espero que não precisemos recorrer a isso.

O plano B consistia em Diantha revelar quem realmente era. As duas amigas encenariam uma luta, colocando o laboratório abaixo no processo. Isso, é claro, se falhassem em pegar os dados. Nesse caso, o mínimo que poderiam fazer era impedir tais atrocidades de prosseguir.

As duas mulheres atingiram o prédio abandonado que Dehlia mencionara. Provavelmente havia sido uma luxuosa mansão em tempos passados. Calista e Diantha entraram juntas, hesitando pela primeira vez.

— Há uma passagem em algum lugar por aqui. — A morena informou — Talvez esteja nas paredes mais distantes.

Dividiram-se para procurar. Foi Diantha quem finalmente encontrou algo, um pequeno botão escondido na junção de duas paredes que revelou um teclado ao ser pressionado.

— É sério? — A atriz reclamou. — Senhas?

— Deixe comigo.

Calista digitou rapidamente "hail Giovanni". Com um estalo, parte do piso pareceu afundar sobre si mesmo, separando-se e revelando uma escadaria revestida de metal. As duas mulheres trocaram um rápido olhar antes de começarem a descer.

A escada terminava em um curto corredor que levava a uma porta formada por duas pesadas chapas de aço. Acima, uma pequena luz vermelha indicava que estavam sendo observadas. Calista se adiantou, parando bem na frente da câmera com total confiança.

— Identificação. — Uma voz feminina exigiu secamente.

— Tenho certeza de que pode ver por si mesma. — A morena declarou com arrogância. — O chefe me enviou.

— Sob qual bandeira?

— Isso não lhe diz respeito. — A jovem ergueu sua mão direita, onde o anel de opala que Giovanni lhe dera anos atrás brilhava. — Abra. A não ser que queira levar esse assunto diretamente a ele.

— Sim, senhorita. — A jovem subitamente pareceu nervosa, quase com medo. — Minhas desculpas, madame!

As portas se abriram quase imediatamente, revelando uma jovem de cabelos curtos pintados de cor de rosa neon. Não parecia ter mais de dezoito anos, e estava obviamente aterrorizada, embora tentasse não demonstrar.

— Sinto muito, senhorita. — Ela disse novamente, gaguejando de leve. — Não sabíamos que viria.

Calista fingiu abrandar, esboçando um sorriso tranquilizador para a jovem.

— Bem, este é exatamente o propósito de uma missão sigilosa. — A jovem kantoniana declarou calmamente. — Não a condeno por ter cautela. Na verdade, isso é muito recomendável da sua parte. Apenas mantenha minha presença em segredo, está bem?

— Sim, senhorita. Digo ... Princesa.

— "Senhorita" está ótimo. — A jovem kantoniana disse gentilmente. — E, em troca do seu silêncio, não vou mencionar esse ... Incidente ... Ao chefe. Combinado?

A garota arregalou os olhos, não conseguindo esconder a pura gratidão que sentiu. Foi claro como o dia em seu rosto, e ela não conseguiu conter um sorriso ao assentir entusiasticamente.

— Vou chamar Rafe. — A garota de cabelos cor de rosa disse. — Ele ... Ele é o encarregado do laboratório. Por favor, espere aqui.

— Ótimo. — Calista assentiu. — Faça isso. E muito obrigada.

A jovem membro da Equipe Rocket saiu praticamente correndo, deixando Calista e Diantha a sós. Quando a olhou, a irmã de Ash viu que sua amiga tinha um sorriso maroto nos lábios.

— Nada mal, Calista. — Ela disse. — Você poderia pensar em seguir carreira como atriz, se quisesse.

— Ora, obrigada. — Calista sorriu timidamente, com falsa modéstia. — Vindo de você, isso é um elogio e tanto.

A menina de cabelos cor de rosa voltou em poucos minutos, acompanhada por um homem já na meia idade. Era magro, com cabelos já ficando grisalhos, óculos de lentes grossas e semblante gentil. Parecia mais um professor distraído do que um cientista inescrupuloso.

O homem estendeu uma das mãos e Calista aceitou o cumprimento, apertando sua mão com firmeza.

— Princesa. — Ele cumprimentou em sua voz de barítono. — É um prazer. Sou Rafe, cientista chefe deste laboratório.

— O prazer é todo meu, Rafe. — A jovem kantoniana respondeu com altivez. — O chefe falou muito bem de você.

— Isso me honra imensamente. — Rafe respondeu com satisfação. — Então, o que posso fazer pela senhorita?

— Informações. — Calista declarou. — O chefe quer transferir parte dos dados de forma independente. Por segurança.

— É claro. Venha comigo.

Assim que começaram a seguir pelo corredor, já longe de ouvidos alheios, Rafe lhe lançou um olhar curioso.

— Dividir os dados, huh? — Seu tom revelava o quanto estava intrigado. — Giovanni está ficando paranoico. Me diga ... Há algo em que ele esteja particularmente interessado?

— Sim. O Projeto Um. Foram feitas novas descobertas, ao que parece, que não devem de forma alguma chegar ao conhecimento de ninguém a não ser ele próprio.

— É uma pena. — O velho cientista declarou, balançando a cabeça com pesar. — Há muito tempo que este projeto está estagnado, eu adoraria ver seus avanços.

— Quanto tempo, exatamente?

— Dezessete anos. — Foi a resposta. — Isso tem dado nos nervos de quase todos por aqui. Bem, aqueles que sabem, pelo menos.

— Suponho que não sejam muitos.

— Não mesmo, senhorita. — Rafe deu uma risada irônica. — Somente eu e minha equipe pessoal.

— Ótimo. Você está fazendo um bom trabalho, Rafe.

O cientista a olhou por cima do ombro, seus olhos se detendo em Diantha por um breve segundo. Ele a analisou de cima a baixo, como se só naquele momento a visse claramente, porém não fez comentários. O silêncio imperou enquanto continuavam a andar.

As duas mulheres se permitiram diminuir o passo, ficando propositalmente atrás de Rafe, trocando um rápido olhar. Sem ter certeza de como, Calista soube imediatamente que as suspeitas de Diantha ecoavam as suas. Rafe as guiou cada vez mais para dentro do laboratório, até um corredor sem saída. Ele indicou a última porta.

Calista estava prestes a fazer algum sinal para Diantha, indicando seu plano, mas a atriz pareceu não perceber. Ela se adiantou e entrou primeiro, logo atrás de Rafe. O cientista fechou a porta e se virou para as duas mulheres. Sua expressão era de um desdém hostil.

— Muito bem. — Ele declarou. — Quase me enganaram, vocês duas. Transferência de dados uma ova! Quem são vocês? E nada de mentiras, ou juro que não sairão daqui inteiras.

E mais uma vez, sem qualquer necessidade de comunicação, as duas amigas agiram juntas em perfeita sincronia.

Diantha deu um passo quase imperceptível para a esquerda, postando-se exatamente atrás de Rafe e passando-lhe uma rasteira. Assim que o cientista se desequilibrou Calista o pegou pelos braços e os torceu atrás das costas do homem, imobilizando-o com rapidez e habilidade. Segundos depois Rafe estava amarrado a uma cadeira com a corda que Calista havia levado enrolada ao redor de sua cintura especialmente para aquele propósito.

— Agora sim podemos conversar. — A morena disse. — Quero saber exatamente do que se trata o Projeto Um. Em detalhes.

— Pode esperar sentada, princesa. Não vou lhe contar nada.

— É mesmo? Pois eu acho que você vai, sim.

A morena se pôs atrás da cadeira, libertando rapidamente os braços de Rafe apenas para passá-los para trás do encosto, erguendo-os tanto que ele fez uma careta de dor. O estalo das articulações de seus ombros foi audível.

— E agora? — Ela inquiriu. — Ainda se recusa a falar?

— Recuso. — Foi a resposta. — Não vou dizer nada a vocês.

 Calista rosnou de raiva, pronta para tentar mais uma dose de dor, mas Diantha foi mais rápida. Os socos atingiram Rafe no estômago e no nariz, o que fez com que o sangue começasse a escorrer.

— É melhor nos dizer o que queremos. — A atriz advertiu calmamente. — A menos que queira que eu continue.

— Não vou contar nada!

Diantha recuou o punho mais uma vez, mas Calista ergueu a mão para impedi-la. A morena recuou e acertou ela mesma um soco no nariz já quebrado do cientista.

— Entendeu agora? — Ela disse ao ouvi-lo grunhir de dor. — Eu não queria recorrer a nenhum tipo de violência mas, a menos que queira que eu quebre cada maldito osso do seu corpo com minhas próprias mãos, é melhor começar a falar.

Rafe estremeceu de dor enquanto assentia lentamente, rendendo-se, finalmente parecendo amedrontado.

— Está bem. — Ele disse. — O que você procura está no último nível.

— Mentira. — Calista protestou. — Eu vi as plantas desse laboratório. Este é o último nível.

— Não, não é. — O cientista insistiu. — Há outro nível abaixo deste, que não aparece nas plantas. No bolso do meu jaleco há um cartão de acesso. Precisarão dele para entrar lá. O acesso ... É pelo elevador.

Calista encontrou o cartão no lugar indicado e o passou para Diantha, enquanto se ocupava em amarrar Rafe com mais força.

— É melhor estar dizendo a verdade. — A morena advertiu. — Se for uma armadilha, ou uma forma de nos distrair ...

O homem meramente assentiu em concordância, indicando que entendera a ameaça implícita, enquanto as duas mulheres saíam da sala e seguiam até os elevadores.

 Belo soco, super estrela. — Calista comentou enquanto andava. — Eu não sabia que você conseguia bater daquele jeito.

— E eu já não lhe disse, meu bem? — Diantha rebateu, parecendo muito satisfeita consigo mesma. — As aparências enganam.

— É, acho que você disse isso em algum momento ... Bonequinha.

— Pode  parar. — A atriz kalosiana lhe dirigiu um sorriso brincalhão. — Me chame assim mais uma vez e será a próxima a levar um soco.

— Até parece que não consigo enfrentar você, super estrela.

 As mulheres meramente riram baixo. As brincadeiras eram uma forma de dar vazão à adrenalina, acabar com a tensão de estar naquele lugar. Mas, é claro, a frivolidade não podia durar.

Ao atingirem os elevadores, Diantha só precisou de um momento para descobrir como usar o cartão de acesso de Rafe. As duas logo se viram descendo em direção ao misterioso nível secreto do laboratório.

— Calista, pretende mesmo denunciar a Equipe Rocket?

— Sim. — Foi a resposta. — É a coisa certa a fazer.

Um sorriso sutil tocou os lábios da atriz kalosiana, uma expressão satisfeita, quase de orgulho, enquanto ela assentia em concordância. Houve silêncio por alguns segundos. Calista podia praticamente ouvir as engrenagens do cérebro de sua companheira se movendo.

— Você está tramando alguma coisa, Maître. — A jovem kantoniana declarou enfim. — O que é?

Diantha se voltou para ela, surpresa, incrédula que Calista conseguisse interpretá-la com tanta facilidade, quase como se lesse sua mente.

— Como você sabe?!

— Porque você falou. Acabou de dizer "pode dar certo".

— Eu não disse nada.

— Certo. — A morena cedeu ironicamente. — Então devo estar ouvindo coisas.

Uma expressão intrigada passou pelo rosto da ex campeã, mas foi logo suprimida.

Nesse momento as portas do elevador se abriram, revelando um corredor longo e muito mais escuro do que os do nível acima. As duas tentaram algumas portas, encontrando apenas salas vazias. Quando finalmente chegaram ao final, restavam apenas duas portas: uma estava entreaberta e a outra era uma enorme porta de aço, parecida com a de um cofre, firmemente fechada, com uma fechadura eletrônica para se assegurar de que assim continuasse.

— Não tem saída.

— Ótimo. — Calista rebateu ironicamente, apontando para a porta entreaberta. — Aquela deve ser a sala principal. Vamos, não quero ficar aqui mais do que o necessário.

— Receio que isso será um longo tempo. — Diantha rebateu. — A menos que você seja clarividente.

— Melhor ainda. — Calista abriu um sorriso malandro. — Sou a filha do chefe. Tenho certeza de qual é o padrão dessa fechadura. 

— Nesse caso, vamos nos separar. Você olha essa sala, eu olho a outra.

— Tem certeza?

A atriz assentiu, já se dirigindo para a sala mencionada. Calista foi até a última porta e estendeu a mão direita para a fechadura, seus dedos trabalhando com agilidade. Logo ouviu um bipe agudo e a porta se abriu com apenas um suave empurrão, revelando um cômodo pequeno e sem janelas, com um catre minúsculo no canto mais distante. Não havia mais nada ali, e a morena não se demorou no local. A aura de desespero naquela sala quase a sufocava.

A outra sala, cuja porta estava agora completamente aberta, revelou ser uma espécie de base de dados. Exatamente como Calista imaginara. Diantha estava debruçada sobre o teclado de um dos computadores, seus dedos deslizando habilmente sobre as teclas, digitando com uma rapidez surpreendente.

— Diantha. — A morena chamou. — Encontrou algo?

— Ah, sim, encontrei — A atriz respondeu sem se virar. — Venha cá e dê uma olhada nisso.

Calista se aproximou para ler por sobre o ombro de sua amiga, soltando uma imprecação entredentes poucos segundos depois.

— Temos que encontrar mais provas. — A morena declarou. — Quero ver todos atrás das grades!

— Eu não contaria com isso, meu bem. — Foi a resposta. — Aposto que será preciso muito para encontrar outra pérola como essa.

— Então é melhor começarmos logo, não acha?

Diantha meramente sorriu, apreciando a determinação de sua jovem amiga. As duas se atiraram à tarefa. Subitamente, alarmes começaram a soar de algum lugar acima, fazendo ambas pularem de susto.

— Droga! — Diantha exclamou. — Rafe deve ter conseguido se soltar!

— Então vamos logo!

A atriz ainda levou alguns segundos para se virar, parecendo relutante em desviar os olhos dos dados à sua frente. Calista a agarrou pelo pulso e as duas dispararam para fora da sala.

Chegar ao elevador foi a parte fácil, difícil foi enfrentar as dezenas de Rockets nos andares acima. Mesmo com a velocidade de Felina e o poderio incrível de Gardevoir, os Rockets eram como baratas: assim que um era derrotado, outro tomava seu lugar.

Graças à memória fenomenal de Calista, que decorara as plantas do laboratório, e a uma boa dose de força bruta, as duas amigas conseguiram chegar ao primeiro nível mesmo assim.

— Vamos correr até a sala de controle. — Calista sugeriu. — De lá podemos abrir a porta e dar o fora.

— Nossos novos amigos vão continuar nos perseguindo, não importa o que façamos.

— Não se eu embaralhar os códigos de segurança.

— Ora, ora. — A atriz sorriu, metade aprovação e metade malícia. — Nada mal, minha amiga.

— Deixe para me elogiar depois, super estrela.

Diantha rapidamente chamou Gardevoir de volta para sua pokebola, enviando Aurorus no lugar da Pokemon Abraço.

— Use Nevasca. — A atriz comandou. — Bloqueie o corredor.

O Pokémon Tundra obedeceu, criando uma muralha de gelo de quase sessenta centímetros de espessura. O chão e as paredes também foram congelados, transformando o corredor em uma pista de patinação improvisada.

— Lembra como se faz? — Havia um quê de travessura na voz de Diantha enquanto a atriz punha Aurorus de volta em sua pokebola. — Não vá cair, meu bem.

— Engraçadinha. — Calista rebateu jocosamente. — Eu melhorei um pouco desde aquela vez.

A ex campeã apenas riu em resposta. As duas deslizaram pelo gelo o máximo possível e em seguida correram os últimos metros até a sala de controle do primeiro nível. A garota de cabelos cor de rosa que as recepcionara ainda estava lá, e pulou de susto ao vê-las.

— É melhor nem tentar lutar. — Calista advertiu. — Nós a esmagaríamos em um segundo.

Ao invés de responder, a garota se virou e digitou um comando no teclado.

— Vamos. — Ela disse. — A porta só fica aberta por um minuto de cada vez.

Engolindo a surpresa, Calista e Diantha seguiram a garota de cabelos cor de rosa pelo corredor. Quando estavam quase passando pela porta, uma Esfera de Aura foi disparada, vinda de trás. 

Calista sentiu a mudança no ar segundos antes de ouvir o golpe. Mesmo sem se virar, o sibilo da esfera azul brilhante lhe dizia claramente quem era seu alvo.

Surpresa, a jovem viu Diantha se abaixar no momento certo sem diminuir o passo, deixando o golpe passar raspando acima de sua cabeça. As três mulheres passaram pela porta bem a tempo e as pesadas folhas metálicas se fecharam atrás delas.

— Ainda não acabou. — A garota de cabelos cor de rosa advertiu. — Temos que sair antes que abram a porta de novo.

Calista e Diantha trocaram um breve olhar. Como se soubesse exatamente no que ela estava pensando, a atriz assentiu quase imperceptivelmente. A morena então tirou IceFire de sua pokebola e ordenou que a Charizard usasse Lança Chamas na porta, de modo a soldá-la.

— Não vão sair tão cedo. — A irmã de Ash declarou com um sorriso sarcástico.

As três saíram do casarão abandonado que escondia a entrada do laboratório.

— Obrigada. — A garota disse assim que se viram ao ar livre. — Por me ajudar a dar o fora desse lugar.

— É tão ruim assim?

— Você não faz ideia. — Foi a resposta. — As coisas que eles fazem aqui são simplesmente ...

Uma explosão soou nas profundezas da casa em ruínas, e a garota arregalou os olhos de puro pavor, interrompendo sua fala no meio da frase. Ela disparou em uma corrida alucinada pela estrada que levava à cidade, enquanto Calista praguejava alto.

Num movimento ágil, a morena montou em IceFire e estendeu uma das mãos para ajudar Diantha. A atriz montou com movimentos quase tão graciosos, passando com firmeza os braços pela cintura de sua  amiga.

— Segure firme. — A irmã de Ash disse. — Vamos lá, Fire!

A Charizard decolou a toda velocidade, como uma bala na direção do céu. Quando pousaram em Lumiose as duas mulheres ainda sentiam a descarga de adrenalina.

— Aquilo ... Foi demais! — Calista exclamou, pulando agilmente para o chão e se virando para ajudar Diantha a descer. — Obrigada pela ideia da parede de gelo, foi bem inteligente.

 A atriz abriu um sorriso travesso, deslizando de sobre a Charizard com naturalidade, equilibrando-se com graça sobre as botas de salto alto.

— O prazer foi todo meu.

Calista soube imediatamente que aquelas palavras eram sinceras. Por mais estranho que parecesse, Diantha havia adorado aquela missão maluca.


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