Pokémon - Laço Eterno escrita por Benihime


Capítulo 16
Princesa Rocket




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783603/chapter/16

Era surpreendentemente fácil trabalhar com a Equipe Rocket, apesar de Giovanni não lhe ter feito nenhum favor em se tratando da hierarquia.

Calista começou como apenas mais uma simples subordinada mas em poucos meses, graças a uma combinação de inteligência e força de vontade, se tornou a líder de um time de campo. Sua equipe era formada por ninguém menos do que o trio infame: Jessie, James e Meowth.

No começo a situação não fora nada fácil. Não demonstrar nenhum sinal de hostilidade em relação a Jessie exigira um tremendo autocontrole, quase mais do que Calista dispunha. James, por outro lado, rapidamente ganhara sua simpatia com aquele charme de cavalheiro atrapalhado e Meowth era um caso à parte, sempre fazendo-a rir com sua personalidade sarcástica.

Depois de seis meses, o trabalho dos quatro havia se tornado natural. Naquela noite em particular, a morena liderava mais uma operação para a infame equipe criminosa.

— Tem certeza de que consegue abrir isso?

— Pode apostar, benzinho. — Meowth respondeu, já mostrando suas afiadas garras para tentar abrir a tranca que vedava o duto de ventilação. — Como uma lata de sardinhas.

— É o que veremos, gatinho.

— Não subestime o mestre, belezura. — O pokemon rebateu acidamente. — Vou lhe mostrar como se faz.

Liepard, o novo pokemon de Calista, foi tirado de sua pokebola. O pokemon do tipo Sombrio fora um presente de Giovanni para ajudar a manter a identidade de sua filha em segredo. Afinal, se até ele ligara Mirabelle e IceFire à ascendente Rainha de Kalos, outros certamente não demorariam a fazer a mesma conexão.

— James, você fica aqui. — A morena ordenou, sentindo a estranha vibração em sua garganta, acompanhando o ritmo de suas palavras. — Distraia qualquer um que passar, mantenha-os bem longe.

O homem de cabelos azuis assentiu, dizendo um respeitoso "sim, madame".

A jovem kantoniana levou brevemente uma das mãos à gargantilha de veludo que usava, uma peça que continha uma única pérola engastada. Sob a pérola, um dispositivo havia sido engenhosamente implantado para alterar as vibrações de suas cordas vocais, disfarçando sua voz enquanto usasse a joia.

— Ande logo, Meowth. — Jessie sibilou impacientemente. — Não temos a noite toda, seu gato preguiçoso!

— Calma aí, Jessie! — Meowth rebateu, revirando seus enormes olhos escuros. — Já está quase ... Ai! Ai!

O gato pokemon saltou para trás, gemendo de dor. Havia quebrado uma unha.

— Incompetentes. — Calista disse jocosamente. — Sempre preciso fazer tudo sozinha.

— Pare de reclamar, princesinha. — Jessie rebateu beligerantemente. — E faça seu trabalho, para variar.

A morena simplesmente revirou os olhos ante aquela declaração, já tirando do bolso o mini computador que Giovanni lhe entregara. Com uma série rápida de comandos, a jovem assumiu o controle das câmeras da loja e desativou os alarmes.

— Prontinho. Agora chega de ficar vadiando e parta para a ação, mulher serpente.

Jessie sorriu maliciosamente, lançando um olhar para seu Seviper. O pokemon serpente assentiu, se valendo de seu corpo longo e flexível para entrar pelos dutos de ventilação do edifício. A ideia era abrir a porta por dentro, causando o menos possível de comoção. Um assalto rápido e discreto.

— Não tão rápido, Equipe Rocket!

Calista mal reconheceu aquela voz, não naquele tom tão imperioso. Por um segundo, chegou a pensar que fosse Cynthia. Ao se virar, porém, viu-se encarada pelos olhos azul-celeste de Diantha.

Apesar de conhecer a ex campeã de Kalos há mais de um ano, Calista ficou surpresa. Sabia o quanto aquela mulher era generosa e amável por natureza. Também já havia acompanhado vários trabalhos daquela atriz espetacular, e nunca a tinha visto parecer tão furiosa.

— Eu cuido dela. — Calista disse para seus três companheiros. — Vocês vão em frente e terminem o trabalho.

Jessie, James e Meowth assentiram no momento exato em que Seviper conseguia abrir a porta por dentro, causando um sonoro clique.

— Bola das Sombras, Gardevoir. Pare esses três.

— Felina, use Soco Enganador!

A Liepard deu um salto ágil na direção da Bola das Sombras, garras sombrias crescendo em sua pata dianteira direita. Com essas garras a pokemon felina acertou o ataque da adversária, lançando-o inofensivamente para o alto. A distração causada por isso deu tempo para que o trio entrasse no prédio, voltando a fechar a porta pelo lado de dentro.

— Droga! — Calista ouviu Diantha exclamar.

A morena esboçou um sorriso, apreciando aquele novo lado da ex campeã. Estava acostumada a ver sua amiga como uma boneca de porcelana, gentil e brincalhona. Era fácil esquecer o quanto aquela mulher era, na realidade, extremamente forte.

Eu serei sua oponente esta noite, campeã. — A jovem declarou, dando um passo à frente com um sorriso selvagem estampado nos lábios.

— Que assim seja. — Foi a resposta, acompanhada por um olhar de afronta. — Gardevoir, Explosão Lunar!

— Felina, pare-a com Talhar!

Para surpresa de ambas as mulheres, a Pokémon Abraço não atacou. Ela apenas encarou sua treinadora, fazendo que não com a cabeça. Em resposta Diantha simplesmente chamou Gardevoir de volta para sua pokebola e enviou Hawlucha em seu lugar, fazendo seu melhor para manter uma expressão neutra. Calista, porém, viu a fagulha de surpresa naqueles olhos azuis.

O Pokémon Lutador atingiu Liepard com Prensa Voadora, demonstrando sua já conhecida velocidade atordoante. O movimento super efetivo fez um grande dano, e o pokemon do tipo Sombrio foi a nocaute.

— Muito bem! — A ex campeã exclamou, satisfeita. — Não a deixe escapar, Hawlucha!

O pokemon tipo Lutador assentiu, enviando uma poderosa rajada de ar com suas asas. Calista perdeu o equilíbrio e caiu, sua máscara se soltando com o impacto. Ela ouviu os saltos altos de Diantha estalando contra o asfalto conforme a atriz se aproximava e virou o rosto, fazendo o possível para esconder suas feições com seus densos cachos negros.

— Olhe para mim.

A jovem negou com um mero gesto de cabeça. Diantha, porém, estendeu uma das mãos e a segurou pelo queixo, forçando-a a obedecer. Os olhos azuis da atriz se arregalaram de surpresa ao se deparar com o último rosto que esperava ver.

A voz já familiar de Hitoshi soou, juntamente com passos apressados correndo pela rua. O rapaz logo surgiu na esquina, acompanhado por seu Glaceon.

— Vá.

Calista se pôs de pé, surpresa. Se não tivesse visto aqueles lábios pintados de escarlate se moverem, jamais teria acreditado. Surpreendendo-a totalmente, Diantha deu um passo à frente, se colocando exatamente na linha de visão de Hitoshi e escondendo a morena com o próprio corpo.

— Diantha, eu ...

— Agora, Calista. — A atriz ordenou, sua voz fervendo de raiva. — Rápido. Antes que eu mude de ideia.

A jovem kantoniana recolocou a máscara, chamou Felina de volta para sua pokebola e disparou correndo pela noite, aproveitando as sombras dos becos para se esconder. Dessa forma, passou despercebida pelos esparsos transeuntes.

Sua mente ainda estava um turbilhão na manhã seguinte. Calista sabia, sentia em seu âmago que o que acontecera na noite anterior com Diantha seria somente o começo de algo muito maior.

Sem conseguir voltar a dormir, a irmã de Ash saiu cedo, caminhando a passos rápidos até um pequeno parque perto de uma das saídas da cidade, onde corria todas as manhãs. Felina foi tirada de sua pokebola assim que chegaram ao local.

— E aí, garota. — Calista forçou um breve sorriso. — Pronta para perder hoje?

A Liepard revirou os olhos, como quem diz "até parece", sua cauda chicoteando no ar em antecipação. Calista começou a correr, deixando o ritmo apagar qualquer pensamento que cruzasse sua mente. Correu por um longo tempo, até estar exausta e precisar parar para recuperar o fôlego.

Haviam bancos de concreto dispostos a intervalos regulares, e foi em um desses que Calista desabou, arfando pesadamente. Felina sentou ao seu lado, apoiando a cabeça no colo de sua treinadora. A jovem sorriu distraidamente e estendeu uma das mãos para acariciar o pescoço da Pokemon Cruel, massageando suavemente até fazer a Liepard ronronar de prazer.

Enquanto acariciava sua pokemon, a jovem notou em sua visão periférica um par de pernas muito familiar se aproximar. Calista congelou de imediato, sem ousar erguer os olhos.

— Eu sabia que a encontraria aqui. — Uma voz feminina conhecida declarou acidamente. — Princesa Rocket.

A morena continuou acariciando Felina, sem conseguir criar coragem para erguer os olhos e encarar a mulher que sabia estar parada à sua frente.

— Não pode me evitar para sempre, Calista. — Diantha declarou. — Cedo ou tarde vamos acabar tendo essa conversa. Você sabe disso tão bem quanto eu.

Isso fez a morena finalmente olhar para cima, mais por surpresa do que por qualquer outro motivo. Não estava acostumada com aquele lado mais sério de sua amiga, porém teve que admitir que aquilo lhe agradava. Os mesmos olhos azul-celeste que Calista já vira luzirem de malícia e satisfação agora a encaravam com severidade, praticamente soltando faíscas depuro ultrage.

— Como você sabia onde me encontrar? — A morena inquiriu enfim, tentando ganhar tempo. — Eu nunca lhe falei sobre este lugar.

— Não me subestime, Calista. — Foi a resposta. — Eu tenho meus meios. E não se faça de boba. Você sabe que me deve respostas. Pelo que fiz ontem à noite, e também como minha amiga. Ou pelo menos pensei que fosse.

— Sim. — Calista se permitiu admitir com um suspiro. — A propósito ... Eu não tive a chance de lhe agradecer. Muito obrigada por me ajudar ontem à noite. Você é uma amiga incrível, Diantha.

— Você faria o mesmo por mim. — A atriz declarou simplesmente, embora o elogio da morena tenha feito seus lábios se curvarem em um pequeno sorriso.

—  Diantha, eu ...

— Apenas responda, e seja sincera. — A mulher mais velha interrompeu impacientemente. — Me dê uma boa razão para não denunciá-la agora mesmo.

Calista deu um pulo, pega de surpresa por aquela pergunta, mas logo relaxou. Conhecia Diantha bem o bastante para ter certeza de que a ex campeã jamais a denunciaria. Não sem ouvir o seu lado da história, pelo menos. Caso contrário, Diantha não teria ido ao seu encontro e sim agido em primeiro lugar. A ex campeã de Kalos não era uma mulher de ameaças.

— Já lhe ocorreu que posso mentir apenas para sair ilesa? — A jovem kantoniana inquiriu.

— É claro. — Diantha rebateu impacientemente. — Se fosse qualquer outra pessoa, Calista, eu nem ao menos me dignaria a ter essa conversa. Você sabe disso.

A morena não respondeu e se pegou sorrindo contra a própria vontade. Aquele lado mais forte e direto, de certa forma, combinava bem com Diantha.

— Está bem. — Calista cedeu, com uma nova onda de respeito pela amiga. — Tem razão, Diantha. Eu lhe devo explicações, e muito mais.

— Sou toda ouvidos.

Para sua surpresa, a atriz nem mesmo hesitou ao sentar-se ao seu lado. Calista contou a ela sobre Giovanni, sobre sua infância, revelando todas as mentiras contadas por Dehlia. Diantha a ouviu sem interromper, seu rosto o tempo todo fechado em uma máscara sem emoções.

— Entendo. — Ela disse enfim, quando sua companheira chegou ao fim do relato. — Por isso Gardevoir não quis lutar contra você.

Calista soube exatamente o momento em que Diantha decidiu deixá-la ir. Pôde ver naqueles olhos azuis, no modo como abrandaram repentinamente. Por um longo momento, nenhuma das duas mulheres disse nada.

— Diantha ... — Calista enfim quebrou o silêncio, embora tenha falado baixinho. — O Ash ... Ele não sabe de nada sobre isso.

— E quanto a sua mãe?

— Ela sabe. Algumas partes, pelo menos. — A morena admitiu. — Mas não sabe de nada do que aconteceu nos últimos meses. Para ser honesta ... Você é a única além de mim que sabe a história toda. Eu não ... Não acho justo envolver meu irmão nessa confusão toda. Ele pode achar o contrário, mas ainda é só uma criança. Não quero vê-lo se ferir.

A atriz assentiu, sem dizer mais nada, parecendo estranhamente satisfeita em ouvir aquela declaração. Felina, que até então apenas observara, se aproximou e voltou a deitar a cabeça no colo de sua treinadora. Calista a acariciou quase por reflexo.

— Se está pensando que vou denunciá-la, meu bem, pode esquecer essa ideia. — Diantha declarou enfim, gentilmente. — Não cabe a mim.

— Está dizendo que vai manter meu segredo?!

— Exatamente. — Foi a resposta — Pelo tempo que eu puder. Mas não espere conseguir esconder isso para sempre. Você sabe que a verdade sempre acaba vindo à tona.

— Obrigada. — Calista disse fervorosamente. — Muito obrigada, Diantha!

Por um momento, Diantha não respondeu. A expressão em seu rosto era sombria.

— Calista ... — Ela disse enfim. — Giovanni pode ser seu pai, mas não pense ... Nem por um segundo ... Que ele não a jogaria aos leões se fosse obter alguma vantagem com isso. Nunca se esqueça disso, está bem?

Agora, aquela era a Diantha que Calista conhecera, sempre gentil e pondo os outros acima de si mesma, a amiga que sempre fizera questão de protegê-la. A morena se permitiu admitir tudo, assentindo devagar. Não adiantaria negar, afinal.

— Mantenha a guarda alta, meu bem. — A atriz aconselhou. — A última coisa que quero é vê-la sair ferida dessa situação.

Por algum motivo, o tom daquele aviso bem intencionado fez Calista ter um arrepio. Não sabia exatamente a razão, mas aquelas palavras quase soaram como uma profecia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pokémon - Laço Eterno" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.