Pokémon - Laço Eterno escrita por Benihime


Capítulo 4
Encontros Lendários




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783603/chapter/4

Serena estava agarrada à mão de Calista, praticamente arrastando-a consigo enquanto as duas entravam no teatro de Exibição Pokemon da cidade de Coumarine para saber detalhes sobre o próximo round da competição.

— O que você acha que vai ser? — A irmã de Ash inquiriu.

— Uma performance temática. — Serena respondeu. — Arrebanhar Rhyhorns, eu espero.

— Sua garota trapaceira. — Calista acusou, rindo. — Já está querendo a vantagem, é?

— Bem ... — A jovem loira sorriu, marota. — Um bom ponto de partida não faz mal nenhum, não é?

A morena riu com gosto daquela resposta. Sendo a mãe de Serena uma celebridade das corridas de Rhyhorn, é claro que a menina saberia algo sobre eles. Caso estivessem corretas, seria mesmo vantagem para ela.

As duas amigas finalmente alcançaram a responsável pela coordenação do evento, uma mulher alta de cabelos negros, olhos castanhos e rosto severo que lhes informou que as regras haviam sido mudadas naquele ano.

— Um novo desafio para as performers. — Explicou. — Todas devem competir em pares e mostrar um bom trabalho de equipe em batalhas de exibição.

— Bom, nesse caso ...

— Serena! — Uma voz feminina aguda chamou, interrompendo a performer kalosiana antes que esta terminasse sua frase. — Ei, Serena! Oi!

Uma menina da idade de Serena correu até elas. Era baixinha e delicada, com uma bonita pele cor de oliva. Seus cabelos, presos em um rabo de cavalo charmosamente bagunçado, eram castanhos. Seus olhos eram verdes como folhas novas de grama e seu rosto era redondo, irradiando simpatia, assim como seu largo sorriso.

— Shauna! — Serena exclamou, parecendo deliciada ao ver a recém chegada. — Oi!

— Você ainda não se inscreveu, não é? — A garota chamada Shauna inquiriu, seu rosto se contraindo em uma expressão de preocupação tão exagerada que chegava a ser quase cômica.

— Ainda não ... — A menina loira respondeu, olhando relutantemente para Calista. — Mas ...

— Vá em frente. — Calista sorriu. — Vocês duas ficam fofas juntas, vão formar a dupla perfeita.

— Tem certeza, Caly?

— Absoluta. — Foi a resposta. — Temos tantas performers competindo que não vou ter problemas em conseguir um par.

— Está bem, então. Se você diz ...

De braços dados, as duas jovens tomaram à frente e se inscreveram como uma dupla. A encarregada lhes entregou duas chaves decoradas com um cristal amarelo, que as meninas guardaram com segurança dentro de suas bolsas.

— Que falta de modos! — A menina chamada Shauna exclamou de repente, se voltando para a jovem kantoniana com outro largo sorriso. — Não me apresentei. Sou Shauna.

— Calista. — A irmã de Ash respondeu com uma risadinha. — É um prazer conhecê-la.

— Calista?! — Shauna exclamou, atônita, seus olhos se arregalando em surpresa e deleite. — A performer ardente?!

A jovem kantoniana se conteve para não revirar os olhos com aquele título, que parecia persegui-la. Com certeza ainda encontraria uma forma de dar o troco por aquele apelido bobo. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, porém, a encarregada do evento a chamou.

— Não esqueça sua Chave, senhorita.

Calista se voltou para a mulher de olhos castanhos atrás do balcão de inscrições, surpresa.

— Desculpe, deve haver algum engano. — A jovem disse educadamente. — Eu ainda não me inscrevi.

— Não há engano nenhum, senhorita. — A encarregada declarou gentilmente, checando o tablet em sua mão. — Sua parceira as inscreveu há poucos minutos.

Surpresa demais para protestar, Calista aceitou a chave com cristal cor de rosa que a mulher lhe estendeu.

— Caly, sua boba! — Serena repreendeu enquanto ela, Shauna e a irmã de Ash se afastavam juntas. — Por que você não me disse que já tinha um par?

— Eu não sabia. — A morena protestou, girando a pesada chave dourada entre os dedos. — Pode acreditar, estou tão surpresa quanto você.

A jovem loira ergueu os olhos, pronta a dar uma resposta, mas se calou. Seu olhar se fixou em algo além do ombro de Calista e ela abriu um sorriso malicioso.

— Acho que não por muito tempo. — Ela disse com uma risadinha. — Vamos, Shauna, é melhor começarmos a ensaiar. Nos vemos depois, Caly.

Serena praticamente arrastou Shauna, que estava perplexa demais para protestar. Confusa, Calista se virou na direção que a garota havia olhado, tentando ver o que provocara aquela reação. Teve que piscar duas vezes para ter certeza de que não estava alucinando, pois sozinha na parte mais afastada do salão estava uma mulher loira muito familiar.

— Ah, aquela loira! — A irmã de Ash resmungou consigo mesma, seus lábios se erguendo em um sorriso a contragosto. — Só podia ser. Eu devia ter adivinhado.

A campeã de Sinnoh tinha o nariz enterrado em um livro, para variar, e ainda não a havia visto. Calista ficou tentada a lhe pregar uma peça se aproximando de mansinho para assustá-la, mas mudou de ideia. Não estava com humor para ser tão infantil.

— Ora, ora, campeã. — A jovem disse assim que se aproximou. — Eu pensei que você estivesse ocupada com a Liga.

— Oi pra você também, Cal. — Cynthia respondeu jocosamente, fechando o livro e erguendo os olhos com um sorriso maroto. — Eu menti. Não vou estar ocupada com a Liga até depois do Ano-Novo.

— Estou desapontada. — A morena declarou, balançando a cabeça desaprovadoramente com a maior dramaticidade possível. — Mentir é muito feio, sabia?

— Só menti para pegar você de surpresa. — Foi a resposta. — Lembra quando falei sobre um possível ninho de Articuno? Pois bem, sua sabichona, não é em Kanto. É aqui em Kalos.

— O que?! Você está inventando isso! Todas as lendas apontam para a região de Kanto.

— E daí? Articuno é uma ave. Pode muito bem ter migrado para cá. — A expressão da campeã era de desafio. — Que tal irmos dar uma olhada e ver quem está certa?

— Por mim tudo bem. — A morena declarou, cedendo a uma risada. — Sua convencida. E, afinal, que história é essa de se inscrever como minha parceira para as batalhas de exibição?

— Simplesmente porque conheço você. — A campeã rebateu. — Eu tinha certeza de que você não saberia sobre a mudança de regras e se inscreveria de última hora.

— Ei! — Calista protestou, cruzando os braços e fingindo estar ofendida. — Eu não me inscrevi de última hora. Deixe de ser chata, loira!

— Claro que não. — Cynthia zombou. — Tenho certeza de que você conseguiria encontrar uma parceira na próxima meia hora.

— Ah, qual é, Cynthia, dá um tempo!

A loira simplesmente riu daquela reação, o que fez a irmã de Ash lançar-lhe um olhar carrancudo. Não que estivesse realmente irritada, é claro.

— Que seja. — Calista resmungou. — Como diabos você conseguiu se inscrever, afinal?

— Ora, Cal, você conhece as regras melhor do que eu. Qualquer mulher pode se inscrever nas performances de Classe Inicial. Aliás ... — Os olhos cinzentos da campeã brilharam maliciosamente, enquanto um sutil tom de riso se infiltrava em sua voz. — Monsieur Pierre estava aqui quando nos inscrevi. Eu queria que você tivesse visto a cara dele quando percebeu com quem estava falando!

— E você ainda tenta me convencer de que não é uma loira bobona arrogante. — A morena rebateu, sua pretensa seriedade se desfazendo em uma sonora gargalhada. — Bem, se vamos mesmo entrar nessa juntas, precisamos ensaiar.

— Concordo. — A loira declarou. — Que tal hoje à tarde, às cinco horas? Assim posso começar a investigar se os rumores são verdadeiros.

— Perfeito. Nos vemos às cinco. — Ao terminar de falar, Calista estreitou os olhos ameaçadoramente. — E, se você for procurar por Articuno sem mim, juro que nunca mais falo com você.

— Me considere avisada. — Cynthia riu, afastando-se com um rápido aceno. — Até mais tarde, Cal.

Calista tentou permanecer séria ao retribuir o aceno de despedida da campeã, mas não conseguiu não sorrir.

Para passar o tempo a jovem decidiu dar uma caminhada à beira-mar e poucos minutos depois encontrou Serena e Shauna, que haviam tido a mesma ideia. A namorada de seu irmão acenou quando a viu, fazendo sinal para que se juntasse a elas, ao qual Calista atendeu de bom grado.

— E então? — A performer loira inquiriu. — Tudo bem, Caly?

— Tudo bem. — Calista respondeu, sorrindo ante a curiosidade mal disfarçada de sua amiga. — Cynthia não conseguiu me tirar do sério, se é o que você quer saber. Pelo menos ainda não. Veremos o que acontece no ensaio.

— Você e ela sozinhas? — Serena provocou. — Vão acabar se matando.

— Bem provável.

As duas performers riram, mas apenas por um breve momento.

— Tem certeza disso, Caly? — A menina loira inquiriu, seu tom agora sério. — Da última vez ...

— Espere aí! — Shauna, que até então simplesmente ouvira tudo em um silêncio perplexo, exclamou, erguendo as duas mãos à sua frente como alguém tentando parar o trânsito. — Vocês estão falando da Cynthia? A campeã da região de Sinnoh? Você a conhece, Calista?

— Melhor do que eu gostaria. — Calista respondeu, abrindo um sorriso caloroso para a menina. — E, pelo que estou vendo, você é uma fã.

— Quem não?! Ela é uma das treinadoras pokemon mais poderosas do mundo!

— Tem razão. — O sorriso da morena se tornou mais maroto enquanto ela dava uma piscadela brincalhona. — Mas não deixe que isso a intimide, Shauna. Depois que você a conhece, Cynthia é na verdade um doce. Irritante, mas ainda assim um doce.

— E também a maior rival da Caly. — Serena acrescentou, fazendo Calista corar até a raiz dos cabelos.

— Ela não é mais minha rival, Serena. — A irmã de Ash protestou. — Eu já superei isso.

A performer kalosiana meramente revirou os olhos, sem se deixar enganar por aquela óbvia mentira deslavada.

Às cinco horas em ponto, Calista viu Cynthia entrar no estúdio de dança anexo ao enorme teatro onde as performances seriam realizadas. O local ficava destrancado até as nove da noite, e qualquer performer competindo poderia usá-lo para ensaiar. A maioria, porém, preferia ensaiar sozinha, e as poucas que haviam estado no estúdio já haviam ido embora. Àquela hora, Calista e Cynthia eram as únicas no local.

— Ora, ora, campeã, que pontual. — A morena provocou. — Você parece até um relógio.

— Engraçadinha. — Cynthia rebateu jocosamente, sentando-se ao lado da morena na beira do palco. — Não acredito que somos as únicas ensaiando aqui.

— Pois é. Estranho como esse lugar fica vazio. Acho que a maioria prefere privacidade. — A irmã de Ash respondeu, dando de ombros com desinteresse. — Por falar em estranho, ainda não acredito que você se inscreveu como meu par. Tem certeza de que sabe onde está se metendo, loira?

Da posição em que estava Calista só podia ver a campeã de perfil, mas percebeu de imediato que seu comentário a magoara.

— Preferiria que fosse outra pessoa? — Cynthia inquiriu simplesmente.

— Você sabe que não. — A irmã de Ash respondeu de imediato. — Admito, eu não poderia ter uma parceira melhor. Só ainda não entendi o motivo.

— E sempre tem que haver um motivo? — A campeã rebateu, seu tom ligeiramente impaciente. — É tão difícil assim aceitar a ajuda de alguém sem questionar, ou essa atitude é reservada a mim?

— Uau, alguém está de mau humor. — Calista provocou. — O que o seu irmão aprontou dessa vez?

— E como você sabe que isso tem a ver com ele?

— Simples: ninguém mais consegue tirar você do sério desse jeito.

— Posso pensar em mais uma pessoa.

A acidez da resposta e a rapidez com que foi dada fizeram Calista rir. Chegava a ser uma surpresa ver aquele lado mais espontâneo em uma mulher que sempre parecera tão poderosa e intimidadora, e a morena gostava disso. Cynthia era surpreendente em vários sentidos, o que só a fazia admirá-la ainda mais.

— Tem certeza mesmo? — A morena inquiriu. — Você não precisa fazer isso por mim.

— Tenho certeza, Cal. — Foi a resposta. — O que você pretende fazer? O mesmo que fez na prévia?

— Não, não funciona assim ...

Calista se interrompeu subitamente, percebendo o verdadeiro significado daquela pergunta e corando violentamente.

— Você assistiu?!

— É claro. — A loira respondeu casualmente. — Meus parabéns, a propósito. Você conseguiu se recuperar muito bem depois daquela primeira exibição.

— Argh, nem me lembre! Aposto que você deve ter rido bastante me vendo fazer um papel de boba como aquele.

— Talvez. — A loira respondeu com um sorriso travesso. — Admita, foi engraçado.

— Para você, talvez. — Calista resmungou. — Sua loira chata.

— Deixe de ser boba, Cal. — A campeã rebateu. — Não importa quantas vezes você cair, e sim quantas vezes vai achar um jeito de levantar. Ainda não aprendeu isso?

Calista relaxou, abrindo um pequeno sorriso. De alguma forma, Cynthia sempre sabia a coisa certa a dizer para fazê-la sentir-se melhor. Era uma das coisas que mais gostava nela.

— Obrigada. — A jovem kantoniana disse calorosamente. — E então, vamos começar?

Como o tema principal do evento só seria revelado na noite seguinte, Calista achou melhor treinarem sincronia e velocidade com movimentos básicos. Roserade se mostrou uma excelente oponente para Mirabelle, ágil e cheia de truques.

— Nada mal. — Calista sorriu aprovadoramente. — Tenho que admitir, vocês são um páreo duro. Vai usar Roserade amanhã?

— Talvez. — A loira respondeu. — Quais pokemon você vai usar?

— Mira e IceFire nas preliminares. — A irmã de Ash respondeu pensativamente. — Já na batalha ... Bem, isso é uma surpresa.

— Tudo bem, então usarei Roserade e Togekiss. Ter uma vantagem em velocidade pode contar a nosso favor.

— Tem razão. — A morena sorriu, animada. — Você é boa nisso, sabia?

— Obrigada. — Os olhos da loira brilhavam de pura empolgação. — E então, pronta para uma batalha?

A jovem kantoniana não pôde deixar de rir, porque sabia que aquela havia sido a intenção de sua amiga o tempo todo. É claro que ela queria batalhar. 

Calista substituiu Mirabelle por IceFire. A Charizard soltou um poderoso rugido assim que viu a campeã de Sinnoh, uma coluna de fumaça escapando entre suas mandíbulas e pelas narinas enquanto a pokemon tipo Fogo mostrava as presas em um breve rosnado.

— Ei! — Calista repreendeu. — Se comporte, Fire. Não seja infantil.

A campeã simplesmente riu daquela atitude, substituindo Roserade por sua confiável Garchomp. A pokemon tipo Dragão deu apenas uma olhada para IceFire antes de brandir as garras no ar e soltar um rugido desafiador.

— Comporte-se, Garchomp.

A pokemon assentiu obedientemente, assumindo posição. Foi uma agradável surpresa para Calista que Cynthia e sua pokemon não apenas conhecessem o estilo das batalhas de exibição, mas também fossem excepcionalmente boas nele.

As duas treinadoras batalharam por um longo tempo, alternando rounds em que criavam combinações de ataque com rounds em que tentavam passar pelas defesas uma da outra. Somente quando suas pokemon começaram a demonstrar sinais de cansaço foi que resolveram encerrar o dia.

— Caramba, vocês são boas. Nada mal mesmo, Garchomp. — A morena exclamou, ao que a pokemon tipo Dragão respondeu com um meneio de cabeça, parecendo satisfeita com o elogio. — Mas sua Roserade foi quem mais me impressionou. Eu não esperava que você tivesse uma pokemon performer tão boa.

— Eu sei. — Cynthia respondeu, dirigindo à sua pokemon um olhar orgulhoso. — E aposto que você também vai ficar surpresa se eu lhe contar que minha Roserade ganhou a fita de Hearthome anos atrás.

— Sério?! — Calista virou-se para encarar sua amiga, surpresa. — Você já competiu em um Concurso Pokemon?

— Claro que sim. — A campeã deu de ombros casualmente. — Eu gosto de desafios. Você sabe que tentar tudo pelo menos uma vez é quase uma regra para mim.

— Ah, isso eu sei. Mas, com o seu estilo de batalha, deve ter sido bem difícil treinar para um Concurso Pokemon.

— Eu não diria que foi difícil. — A loira declarou pensativamente. — Foi ... Diferente. Um desafio, sim, mas interessante à própria maneira.

— Mas aposto que você ainda prefere as batalhas normais.

— Você venceria essa aposta.

As duas riram, já se dirigindo para fora do estúdio.

— A competição é amanhã. — Calista comentou. — A julgar pela forma como nos saímos hoje, eu diria que não vamos ter problemas.

— A competição é somente à noite, certo?

— Isso. O evento começa às sete.

— Perfeito. — A campeã assentiu para si mesma, parecendo satisfeita. — Quer ir investigar o ninho amanhã à tarde?

— Pode apostar!

— Combinado. Me encontre na Baía Azure, às duas da tarde.

— Certo. Mal posso esperar! — A irmã de Ash exclamou animadamente. — Acha mesmo que Articuno pode estar lá?

— Talvez. — Através da compostura quase perfeita, era óbvio que Cynthia estava animada, muito mais do que queria admitir. — Não saber é a melhor parte.

— Pode ser ... Bom, se realmente o encontrarmos, aposto que posso capturá-lo antes de você.

A campeã revirou os olhos, mas não conseguiu não rir daquela declaração.

— Sua cabeça de pedra incorrigível. — Ela disse. — Por que você precisa tentar transformar tudo em uma competição?

— Admita. — Calista respondeu, rindo. — Você gosta. É por isso que está aqui.

— Talvez. — A loira rebateu jocosamente. — Como minha rival, você definitivamente tem mantido as coisas interessantes.

— Ah, pare com isso. Nós duas sabemos que não estou nem perto de me comparar a você. Somos amigas, não rivais.

— Não se subestime, Cal. Você é melhor do que imagina. — Cynthia declarou calorosamente. — Nos vemos amanhã à tarde, cabeça de pedra.

Calista sabia que a campeã a estava provocando, sabia que não devia cair na armadilha da loira, mas não conseguiu se impedir de corar violentamente, até a raiz dos cabelos. Seu único consolo foi que Cynthia não viu aquilo, pois já estava se afastando com Garchomp.

A irmã de Ash ficou acordada boa parte daquela noite ensaiando, nervosa demais para pegar no sono e querendo estar preparada para qualquer imprevisto. Graças a isso, ainda estava profundamente adormecida quando Ash foi chamá-la para o almoço.

Como já era seu hábito, os dois discutiram o caminho todo até o refeitório do Centro Pokemon, onde o restante do grupo os esperava.

— Ei, mana. — O moreno disse enquanto comiam. — Já que você tem a tarde livre hoje antes da sua performance ... Que tal aquela batalha?

Calista quase sorriu, lembrando de seu vigésimo quarto aniversário. Ash a desafiara para uma batalha, mas sua perna ferida não lhe permitira aceitar, e em vez disso ele recebera uma promessa de que batalhariam assim que possível.

— Desculpe, Ash. — A morena disse sinceramente. — Eu não posso. Tenho um compromisso hoje à tarde.

— Vai ensaiar com a Cynthia? 

— Que droga, Serena! — A mulher mais velha exclamou, corando. — Não acredito que você contou para ele!

— Desculpe. — Serena disse com um sorrisinho maroto. — Mas eu não contei nada. Todo mundo está comentando sobre isso.

— Todo mundo? Caramba, aquela loira me meteu numa confusão e tanto!

— Eu diria que ela salvou sua vida dessa vez. — A performer kalosiana rebateu. — Duvido que alguém vá ter alguma chance contra vocês duas.

— Contra ela, você quer dizer. Eu sei muito bem disso. — Calista rebateu. — Falando nisso ... Você sabe alguma coisa sobre essa mudança nas regras?

— Na verdade ... Fiquei sabendo sobre uma performer que foi pega tentando sabotar uma colega na Exibição passada. Os juízes a desclassificaram, mas Aria queria fazer mais alguma coisa sobre isso. Pelo que sei, essa mudança nas regras foi sugestão dela, uma forma de estimular o trabalho em equipe entre nós.

— Uma espécie de funil. — A morena percebeu. — Bem inteligente. Quanto mais sei sobre ela, mais acho que essa Aria vai ser uma oponente muito difícil de superar.

— Ela é, sim.

— Ah, parem com isso, vocês duas. — Ash interferiu, rindo. — Você vai acabar com ela, mana. Pode ter certeza. Aria não tem a mínima chance.

— Valeu, pirralho. — A performer kantoniana sorriu. — Tudo bem, agora preciso ir arrumar minhas coisas. Não quero me atrasar. 

É claro. Angel, empoleirada em seu ombro, riu. Ninguém iria querer se atrasar para um encontro.

Nem comece. Calista rebateu, lançando um rápido olhar para a Pokemon Melodia. Isso não é um encontro. Só vamos investigar o ninho de Articuno, nada mais do que isso.

E Cynthia poderia simplesmente investigar sozinha, mas mesmo assim a convidou. Para mim, parece que ela quer passar um tempo com você. Definitivamente um encontro.

Ash reparou na discussão silenciosa e inclinou para mais perto de sua irmã mais velha, olhando-a com curiosidade.

— Meloetta está com você, não está? — O rapaz perguntou em um sussurro.

— Infelizmente está. — A morena respondeu, o que lhe rendeu uma cotovelada de Angel. — Por que?

— É que ... — O garoto pareceu preocupado enquanto se inclinava para ainda mais perto, de modo que apenas sua irmã o ouvisse. — Não vi Ho-Oh desde aquele dia, quando enfrentamos Darkrai.

— Ele vai voltar. — Calista assegurou, sem saber ao certo como tinha tanta certeza. — Quando for necessário. Na verdade, eu não sei por que Angel decidiu ficar por perto.

Porque você é divertida. A Meloetta declarou. E é minha amiga.

Bem ... A jovem kantoniana sentiu seus lábios se curvarem em um sorriso. Obrigada. Posso dizer exatamente o mesmo sobre você.

Angel sorriu e se aninhou entre os cachos negros que caíam sobre o ombro de sua parceira, descansando a bochecha contra a da jovem enquanto esta se levantava e seguia para seu quarto no segundo andar do Centro Pokemon.

Assim que reuniu tudo o que precisava em uma mochila, Calista jogou uma das alças sobre seu ombro e correu para fora, tirando IceFire de sua pokebola. A Charizard a cumprimentou com um grunhido baixinho do fundo da garganta, ao qual a morena respondeu com um largo sorriso.

— Oi, parceira. — Ela disse. — Pronta para voar?

IceFire assentiu com um rosnado gutural de empolgação, abrindo suas enormes asas. Calista a montou agilmente e as duas dispararam para o céu, relaxando assim que ganharam altura.

A Charizard abriu as asas o máximo que pôde, aproveitando uma corrente de ar para planar acima das poucas e diáfanas nuvens presentes no céu cor de anil, descrevendo pequenos círculos ao redor, acima e abaixo delas. Calista perdeu toda a noção de tempo. Foi somente ao relancear um olhar para o relógio em seu pulso que percebeu estar cinco minutos atrasada.

— Que droga! — A morena exclamou. — Vamos, Fire, ou Cynthia vai ficar uma fera conosco.

IceFire assentiu e curvou as pontas das asas de forma que apontassem para trás e ficassem pressionadas contra seu corpo. Dessa maneira conseguia dobrar sua velocidade de voo, e pousou na ilha central da Baía Azure poucos minutos depois, perto de uma montanha rochosa. Cynthia e Garchomp as esperavam, perto da entrada de uma caverna que parecia profunda.

— Oi. — Calista disse. — Me desculpe pelo atraso. Fire e eu perdemos a noção do tempo depois que decolamos.

— Oi, Cal. — A loira sorriu. — Sem problemas. Garchomp e eu fazemos isso o tempo todo.

— Talvez possamos voar juntas qualquer hora dessas. Aposto que IceFire é mais rápida do que a sua Garchomp.

IceFire assentiu, cheia de si, enquanto Garchomp rosnava alto em protesto.

— Desafio aceito. — Cynthia declarou, bem humorada. — Mas eu não contaria com isso. Será outra derrota para vocês.

— Sonhe, loira.

IceFire chicoteou sua cauda no ar, mostrando as presas para Garchomp com um rosnado que só podia ser descrito como zombeteiro. A pokemon tipo Dragão rugiu, irritada.

— Calma, Garchomp.

— Fire, já chega!

As mulheres se olharam e sorriram, divertidas pelo fato de terem falado exatamente ao mesmo tempo. As duas então entraram na caverna. A abertura era larga, mas se estreitava poucos passos depois. Não era exatamente um túnel, mas um espaço vagamente iluminado, estreito o bastante para ser claustrofóbico.

Calista estava certa em supor que a caverna era profunda. Depois de avançarem por algum tempo pelo caminho pedregoso, a luz que vinha da entrada já havia deixado de ser o suficiente para verem ao redor. A chama na cauda de IceFire era a única fonte de luz, mas mesmo assim não era o bastante.

Apesar de estreito, o túnel em que estavam era alto, e as chamas iluminavam apenas uma pequena porcentagem daquela escuridão. De certa forma aquilo fez com que Calista se lembrasse da estranha dimensão de sombras onde enfrentara Darkrai. A morena estremeceu com a lembrança.

— Calista. — Cynthia chamou, dando um passo à frente para ficar lado a lado com sua amiga. — Você está bem?

— Estou bem. — Foi a resposta, enquanto a jovem se esforçava ao máximo para não demonstrar nenhum sinal de medo. — Vamos continuar.

— Não. — A loira declarou com firmeza. — Isso foi um erro. É melhor voltarmos.

Surpresa, Calista se voltou para a campeã. Sob a luz das chamas, a expressão dela era grave, sua preocupação evidente.

— Recuando agora, campeã? — A morena provocou jocosamente. — Não me diga que está com medo.

— É claro que não. — Foi a resposta, em um tom ligeiramente beligerante. Apesar de tudo, ela não conseguiu não reagir ao desafio nas palavras da jovem kantoniana. — Tem certeza de que consegue continuar?

— Eu consigo. — A irmã de Ash assentiu. — Não se preocupe. É só ...

— Eu sei. Também percebi.

O tom tenso na voz da campeã de Sinnoh fez Calista perceber que estavam pensando na mesma coisa.

— Como é possível que esteja tão escuro? Você acha que ele ... ?

— Não. — Cynthia lhe assegurou gentilmente. — O túnel desce mais profundamente do que parece, só isso.

— É um pouco assustador. Parece que qualquer coisa pode pular da escuridão para nos pegar.

A campeã não riu nem a provocou por aquela declaração. Melhor do que ninguém, ela entendia de onde aquele medo vinha.

— Me desculpe. — Ela disse simplesmente. — Se eu soubesse, teria vindo sozinha.

— Não, está tudo bem. Eu posso lidar com isso. — Calista lançou um pequeno sorriso para a mulher ao seu lado. — Mal posso esperar para ver a sua cara quando você admitir que inventou essa história sobre Articuno.

— Nem comece, Cal. Você é que está sendo teimosa e não quer admitir que estou certa.

— Porque você não está. Nenhuma das lendas aponta para a região de Kalos.

— Nenhuma que você conheça.

— É, minha atenção estava meio que focada em outro pokemon lendário.

— Mítico. — Cynthia corrigiu quase automaticamente. — Os pesadelos continuam?

— Cada vez piores.

A loira não respondeu, balançando a cabeça em desalento. Cynthia ainda se culpava pelo que acontecera, por não ter conseguido impedir Darkrai. A jovem kantoniana tentara convencê-la do contrário, de que sabia o que estava fazendo quando o enfrentara, mas isso não parecia ter adiantado de nada. Sem saber mais o que dizer sobre o assunto, as duas simplesmente andaram em silêncio.

O túnel era muito mais longo do que qualquer uma delas havia suposto, e pareceu uma eternidade até atingirem o final. Para seu desapontamento, uma sólida parede de rocha bruta bloqueava a passagem.

Cynthia se adiantou para inspecionar o paredão, tirando uma lanterna da bolsa enquanto Calista e IceFire se ocupavam em examinar as estalagmites que se erguiam como presas gigantescas na direção do teto.

— Isso! — A loira exclamou triunfantemente depois de alguns minutos. — Cal, venha cá. Acho que encontrei alguma coisa.

Calista, que estivera examinando a base de uma das estalagmites, se pôs de pé e foi até a campeã de Sinnoh, postando-se ao seu lado para examinar a estranha formação rochosa sob a luz da lanterna.

— Isso parece ... Um tipo de passagem. — A morena estendeu uma das mãos, correndo um dedo pelas rachaduras nas rochas. — Uma passagem selada.

— Exatamente o que pensei, também. A princípio. Olhe direito, Cal. Às vezes a resposta é mais óbvia do que parece.

A jovem obedeceu, analisando o paredão mais atentamente até finalmente ver ao que Cynthia se referia: havia um outro túnel paralelo, quase ao nível do chão.

As duas treinadoras trocaram um rápido olhar, como se confirmando que seus pensamentos corriam na mesma direção. A campeã tirou uma pokebola do bolso. O dispositivo continha um Glaceon. Calista escolheu Mirabelle.

As duas eeveeluções, sendo pequenas, conseguiram passar pelo túnel estreito. Cerca de dois minutos depois as mulheres ouviram o ruído de pedra sendo triturada enquanto parte do paredão maciço se movia, revelando uma passagem para uma segunda câmara, muito maior.

Mirabelle pulou para os braços de sua treinadora assim que esta atravessou a passagem, enquanto Glaceon se postou ao lado de Cynthia. As duas treinadoras e seus pokemon olharam em volta em silêncio, maravilhados.

A câmara à sua frente tinha paredes de pedra, cinzentas e cobertas de musgo, e era imensa. Estalagmites se estendiam na direção do teto e a água marinha havia penetrado devido a algum túnel subterrâneo, formando pequenas piscinas que cintilavam sob a luz do sol vinda de uma gigantesca abertura circular no teto. O lugar parecia uma catedral de pedra, um templo ancestral construído pela própria natureza.

— Cal, cuidado!

A advertência de Cynthia tirou Calista de seu transe maravilhado. A campeã agiu tão rápido quanto um raio, empurrando a jovem morena para trás de si, usando seu próprio corpo como escudo enquanto ordenava que Glaceon usasse Pulso d'Água para bloquear um ataque Lança-Chamas.

— Mas o que ... 

O som de um enorme par de asas batendo fez a irmã de Ash olhar para cima, diretamente nos olhos flamejantes de um Moltres enfurecido.

— Saia daqui. — Cynthia ordenou. — Corra.

— Nem pensar. Você não vai enfrentar esse Moltres sozinha.

— Ah, eu vou sim. — A campeã rebateu. — Posso cuidar disso. Alcanço você daqui a pouco.

— Sem chance.

As duas se encararam pelo mais breve dos momentos. Calista percebeu que não estava lidando com a mulher doce, brincalhona e às vezes francamente infantil cuja companhia havia aprendido a apreciar. Era com a campeã de Sinnoh que lidava agora, o fogo que brilhava naqueles olhos cinzentos deixava isso bem claro. E Calista sentiu aquela coragem despertar algo dentro de si enquanto respondia àquele olhar com um sorriso selvagem.

Cynthia percebeu que discutir seria pura perda de tempo. Glaceon e Mirabelle foram chamados de volta para suas pokebolas, e duas Milotic se postaram lado a lado, serpenteando elegantemente seus longos corpos escamosos.

As Hydro Bomba lançadas em perfeita sincronia se misturaram em um único jato de água de altíssima pressão, atingindo o Pokemon Chama direto no peito quando ele investiu em rasante.

Mas, é claro, Moltres era um pokemon lendário. Podia não ser um dos lendários mais fortes, como Giratina ou Reshiram, mas ainda assim seria necessário muito mais do que aquilo para derrubá-lo. Mesmo um ataque duplo super efetivo de duas pokemon extremamente bem treinadas apenas serviu para atordoar o pássaro, que logo em seguida foi envolvido por uma luz branca.

Nenhuma das duas jamais soube quem percebeu a oportunidade primeiro. Calista e Cynthia pareciam estar pensando como uma só, agindo juntas em sintonia perfeita. Elas aproveitaram o momento, enquanto Moltres se preparava para usar Ataque do Céu, para ordenar mais um ataque de suas Milotic com duas certeiras Hydro Bombas.

Moltres, porém, foi mais rápido do que esperavam, desviando e descendo em rasante.  A Milotic de Cynthia estava preparada e impediu o ataque usando Surfe, obrigando a ave tipo Fogo a voar alto novamente para escapar de sua poderosa onda. Foi nesse momento que Calista avançou, segurando uma Ultra Bola com firmeza na mão direita, seus olhos fixos no pássaro flamejante.

— Cal, não!

Mas Calista, é claro, não lhe deu ouvidos. Cynthia tentou impedi-la, mas se viu completamente paralisada. A loira só pôde observar, seu coração batendo tão rápido que parecia querer pular para fora de seu peito. Não sentia tanto medo há anos.

Uma onda de Água Barrenta veio de algum lugar nas profundezas da enorme caverna, forçando Moltres a recuar e tirando Cynthia do transe. A loira segurou o pulso de Calista e a puxou para trás no momento exato em que Moltres usava Incinerar. As chamas erraram por milímetros.

— Calista, sua idiota! — A campeã repreendeu, furiosa. — Ficou louca de vez?!

— Talvez. — Calista rebateu maliciosamente, sem parecer nem um pouco abalada. — Ou talvez eu só quisesse impressionar você.

Cynthia fez o melhor que pôde para conter um arquejo de surpresa com aquela resposta, sentindo suas bochechas esquentarem. Ela disfarçou o fato com um olhar gélido.

— Não brinque com isso. — A loira sibilou em resposta.

Calista riu e assumiu posição junto a Aphrodite mais uma vez. As duas treinadoras trocaram olhares, formulando um plano em questão de segundos.

— Agora! — Ordenaram em uníssono. — Hydro Bomba!

Em vez de combinarem seus ataques, as Milotic serpentearam em direções opostas, atingindo Moltres pelos dois lados. Uma nova onda de Água Barrenta se formou no mesmo canto distante da caverna, atingindo Moltres por trás. O pássaro gritou alto de dor, passando pela cavidade no teto e desaparecendo no céu.

Assim que o Pokemon Chama foi embora, outro pokemon apareceu em uma das piscinas nas profundezas mais escuras da caverna. Foi Calista a dar um passo à frente dessa vez, pronta para outro confronto.

— Não, Cal. — Cynthia disse, estendendo uma das mãos à sua frente para detê-la. — Olhe.

O pokemon misterioso finalmente deu mais um passo, ficando visível sob os raios de sol. Era um pokemon relativamente pequeno e tinha uma concha que lembrava a de um Cloyster, porém lisa. No lugar dos espinhos, graciosas marcas circulares em branco e azul-claro enfeitavam a superfície roxa. Na metade superior da concha havia algo similar à barbatana dorsal de um Gyarados, porém de aparência mais delicada. Um único espinho que parecia afiado se destacava na parte frontal da concha.

O corpo da criatura era negro, com uma cauda semelhante a de um Dewgong, porém menor e mais graciosa. Seus braços eram longos e finos, terminando em mãos com afiadas garras de cor púrpura. O belo rosto oval da pokemon, pois só podia ser uma fêmea, era emoldurado por tentáculos azul-claros de aparência etérea que lembravam longos cabelos. Uma marca azul tão clara que quase parecia branca se destacava como um diadema entre dois grandes olhos azul celeste, emoldurados pelo que pareciam ser longos cílios, que as fitavam com curiosidade e um toque de malícia brincalhona.

A pokemon se aproximou, flutuando graciosamente. Seu rosto não tinha lábios visíveis, mas alguma coisa em seu olhar deixava claro que estava sorrindo.

— Tapu Fini! — Calista exclamou, atônita. — Mas o que ... ? Como?!

Tapu Fini deu uma risadinha surpreendentemente feminina, avançando até estar frente a frente com Cynthia, tão perto que a campeã mal precisaria estender uma das mãos para tocá-la. E então, para surpresa das duas treinadoras, a Pokemon Espírito da Terra se curvou em uma profunda reverência.

— Ora, ora, campeã. — Calista provocou. — Eu pensava que, se algum pokemon fosse escolher você, seria um tipo Gelo. Isso é uma surpresa e tanto.

A loira se voltou para olhá-la com uma expressão de satisfação incrédula, balançando a cabeça devagar em negativa.

— Isso não é real.

Tapu Fini invalidou essa declaração quase imediatamente, pegando a campeã pela mão e puxando-a suavemente na direção da passagem na rocha.

— Acho que ela quer sair daqui. — Calista disse. — Provavelmente antes que aquele Moltres volte para um segundo round.

As duas treinadoras chamaram suas Milotic de volta às pokebolas e deixaram a câmara acompanhadas por Tapu Fini. Garchomp e IceFire, grandes demais para conseguirem passar pela abertura estreita da passagem secreta, as esperavam no túnel.

A pokemon tipo Dragão batia a cauda no chão impacientemente. Tanto ela quanto IceFire pareceram suspirar aliviadas ao verem sua treinadoras sãs e salvas, e mais uma vez a Charizard as guiou pelo túnel escuro.

— Obrigada. — A morena disse calorosamente assim que se viram outra vez ao pé da montanha, finalmente fora da caverna. — Por ter me protegido lá dentro.

— Tentado, você quer dizer. — A campeã rebateu acidamente. — Você precisa deixar de ser tão imprudente, Cal. Vai acabar se machucando de verdade um dia desses.

— É, você tem razão. Eu sinto muito, Cynthia. — A jovem disse sinceramente, baixando a cabeça. — Aquele ataque Incinerar teria me mandado direto para o hospital se você não estivesse lá ... Ou talvez até pior.

Só então, quando o olhar da irmã de Ash se desviou para suas mãos, foi que Cynthia notou algo estranho: a jovem mantinha a mão esquerda em um punho cerrado, enquanto massageava a região próxima ao pulso com as pontas dos dedos da mão direita.

— Calista. — O tom da loira foi inequivocamente uma ordem, pingando desaprovação. — Me dê sua mão.

— Está tudo bem, sério. Foi só um arranhão. Não precisa se preocupar.

Aquela resposta despreocupada lhe rendeu um olhar furioso, do tipo que poderia fazer até mesmo um Hydreigon furioso recuar. Calista, porém, não se intimidou.

— Nem tente discutir, Calista. — Cynthia praticamente rosnou. — Me deixe ver essa queimadura.

— Está bem, está bem. — A jovem cedeu, revirando os olhos. — Credo! Você é pior do que a minha mãe!

— E você consegue ser mais teimosa do que o seu irmão!

Silêncio. Cynthia examinou a queimadura e constatou que realmente se tratava de um pequeno ferimento. A pele estava vermelha, mas a área ferida podia ser confundida com uma simples queimadura de sol.

— Ah, eu quase esqueci! — A morena exclamou de repente, para surpresa de sua companheira. — Tenho uma coisa para você.

Calista tirou algo do bolso, uma pedra perfeitamente redonda de um roxo intenso, com um desenho de chamas em vermelho e amarelo no centro.

— Isso é ...

— É. — O sorriso da jovem performer se alargou. — Garchompite. Eu definitivamente não esperava encontrar uma dessas por aqui. Deve ser nosso dia de sorte.

— Sua definição de sorte é bem estranha, Cal. — Cynthia rebateu jocosamente. — Mas como sabia o que era, ainda mais naquela escuridão?

— Minha pedra chave reagiu a ela, foi assim que a encontrei encravada em uma daquelas estalagmites. — A jovem explicou casualmente. — Fique com ela. Um presente meu por ter me salvado hoje.

Cynthia aceitou a mega pedra, ainda surpresa. Pega de guarda baixa pela atitude de Calista, não conseguiria protestar mesmo que quisesse.

— Obrigada. — A campeã disse formalmente.

— Disponha. — Foi a resposta, dada com um sorriso maroto. — Espero vê-la usar isso da próxima vez que batalharmos. Talvez lhe dê uma vantagem.

— Como se eu precisasse de mais vantagens do que já tenho.

— Sua convencida! — Calista riu alto, mas logo ficou séria. — Enfim ... Assim que conseguir uma pedra chave, você e Garchomp vão precisar começar a treinar. Não subestime esse aviso. Mega Evolução é completamente diferente de qualquer coisa que já vimos. Se não tomar cuidado, a energia pode sair de controle.

— Eu sei. — Cynthia respondeu. — Já enfrentei Steven e Metagross. Não sou nenhuma novata, Cal.

— Está bem, então. — A morena rebateu, seus lábios se curvando em um sorriso malicioso. — Quando Garchomp sair de controle pela primeira vez, vai entender do que estou falando. Não diga que não avisei. E que história é essa de enfrentar um Metagross mega evoluído? Aquela coisa é um tanque, aposto que acabou com vocês.

— Errado. — A loira rebateu, trocando um sorriso com sua parceira pokemon. — Nós acabamos com ele. É por isso que sei que podemos controlar a mega evolução. Eu confio em meu elo com Garchomp.

Garchomp, ao lado de sua treinadora, apoiou aquelas palavras com um aceno enfático de sua cabeçorra. Calista simplesmente ergueu uma sobrancelha. Dawn tinha razão, ela e Cynthia eram mais parecidas do que havia percebido.

A morena lembrou-se de quando conseguiu sua Charizardite Y, do quão confiante estivera na primeira vez em que mega evoluíra IceFire. A situação acabara com seu parceiro de treino precisando mega evoluir seu próprio pokemon, uma Garchomp, para deter a Charizard fora de controle. E fora assim uma vez após a outra, até que Calista enfim conhecera alguém capaz de ajudá-la. Não fora fácil, mas com a ajuda dela conseguira controlar a Mega Evolução de IceFire.

— Bem ... — A morena disse, achando graça de tamanha confiança. — Me avise se precisar de ajuda. E não treine sozinha, especialmente na primeira vez. É sério.

— Que tal você me ajudar a praticar?

— Na primeira vez em que Garchomp mega evoluir? — A irmã de Ash exclamou, fingindo terror absoluto com a ideia. — Nem pensar! Quero estar o mais longe possível!

Cynthia balançou a cabeça, rindo baixinho.

— Sua covarde. — Ela provocou, batendo de leve seu ombro contra o da morena em um gesto jocoso.

— Veremos sobre isso ... Quando eu derrotar vocês na nossa próxima batalha.

— Ah, por favor! Nós duas sabemos que eu vou vencer. Como sempre.

— Até parece. — A irmã de Ash rebateu, petulante. — Você não me assusta mais, bicho papão.

A campeã ficou muda de surpresa ao ser chamada daquela forma, então soltou uma sonora gargalhada.

— Muito engraçado, Cal. — Ela disse finalmente. — Depois dessa, eu com certeza vou derrotar você.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pokémon - Laço Eterno" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.