V E N U S - Origin (Segunda Temporada) escrita por badgalkel


Capítulo 8
2.7 Origem Humanóide




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O estoque de ervas anestésicas já havia se dissipado e, ainda assim, o grave som dos gritos de Vênus não havia diminuído uma fração sequer. Por vezes ela desmaiava de dor, mas em seguida despertava aos berros novamente.

Callisto projetava possiblidades aparentes para resolver aquela dor intermitente, no entanto seus pensamentos se embaralhavam toda vez que o monitor piscava anunciando que os batimentos cardíacos da mulher estavam acima do considerado saudável.

Por um instante Callisto mirou a cápsula embrionária e estranhou a intensidade das luzes que transmitia, as quais só aumentavam a cada instante. O ambiente se tornou completamente iluminado, de uma forma que fazia os olhos do rapaz arderem e incapazes de enxergar um palmo sequer a sua frente.

Uma explosão ocorreu pela sobrecarga dos materiais da cápsula, um dos considerados mais fortes e resistentes, para em seguida uma descarga elétrica causar um blecaute total, deixando não só o laboratório, mas toda Sovereign às escuras.

A luz vermelha de emergência se acendeu no mesmo instante em que os gritos cessaram.

Callisto, assustado com fato de que uma cidade que se alimenta de energia das baterias mais potentes do universo estava pela primeira vez nas trevas, se aproximou da cápsula para conferir Vênus.

Antes que chegasse perto o suficiente da cápsula sua porta explode, arremessando-o ao chão, e de lá uma fumaça cinza sai, espalhando-se por todo o laboratório lentamente.

Ele tenta enxergar por entre toda aquela fumaça, a escuridão e a luz vermelha que piscava em um ritmo doentio. Junto à fumaça uma Vênus completamente renovada e livre dos hematomas sai da cápsula lentamente com a expressão vazia. Ela dá dois passos inconscientes na direção do rapaz e em seguida cai de joelhos no chão.

Ela grunhi e fecha os olhos pela dor, aparentemente mais controlada.

Sua mão direita sobe e se direciona diretamente para a sua nuca e, estando lá, agarra o dispositivo e o puxa lentamente.

Ela não pôde controlar os gritos novamente, a medida que os fios eram drasticamente arrancados de sua cabeça, diretamente dos nervos de seu cérebro, mais era a sua dor. Ela tremia, lágrimas saiam de seus olhos, mas nada a impediria de finalmente se livrar daquele objeto que a aprisionou por anos dentro do próprio corpo.

Quando os fios estavam completamente aparentes e o dispositivo absolutamente desativado, ela o esmaga na mão com raiva e o arremessa para longe para em seguida passar as mãos sob o rosto quente.

Já com a respiração normalizada prosseguiu com as mãos pelo restante do corpo, incluindo pescoço, braços, tronco, pernas e, por fim, se abraça com um leve sorriso nos lábios.

A sensação de alívio domina o seu corpo.

Por um milésimo de segundo.

Em seguida as luzes aos poucos são restituídas, tornando a iluminar o planeta. E é quando ela se lembra de que não está sozinha naquele laboratório. Seu sangue ferve.

Callisto engole em seco ao vislumbrar a amada o mirando com os olhos repletos de energia cósmica e expressão furiosa.

— Você. – Ela murmura, levantando-se e caminhando em sua direção. Callisto inconscientemente se arrasta para trás estupidamente, para logo ser erguido pelo colarinho. – Você é o responsável.

— Harriet... – ele soprou engasgado, as mãos de Harriet enlaçavam o seu pescoço.

— Me transformou em um monstro. – À medida que suas palavras cortantes eram ditas, ela apertava mais o pescoço.

— Não...

— Ela me fez aniquilar milhões! – gritou e o soltou.

Callisto caiu sob seus pés.

Harriet respirou profundamente por duas vezes consecutivas, enquanto o rapaz tossia desesperado pelo ar arranhando a entrada aos seus pulmões novamente.

Harriet se agacha lentamente para puxar o queixo do homem e fazê-lo olhar diretamente em seus olhos, já normais, enquanto cuspia: – O sangue deles está em suas mãos!

— Eu sei...

— Depois de tudo o que eu havia dito à você... – ela soprou enquanto os olhos marejavam e a voz se tornava falhada – Homens, mulheres... Crianças inocentes.

— Você via tudo... – ele concluiu assim que ela soltou seu rosto e deu-lhe as costas para esconder as lágrimas.

— Eu senti tudo. – Harriet limpou a garganta e virou-se para ele. – De alguma forma agora posso captar o que os indivíduos pensam com o toque... – umedeceu os lábios em uma pausa – e por isso, eu sei exatamente pelo o que cada um deles passou.

— Harriet... – Callisto ergueu-se lentamente. – eu sinto tanto. Não tenho como imaginar pelo o que passou.

— Exatamente. – Cuspiu entre dentes ficando a centímetros dele. – Você não sentiu na sua pele as queimaduras, os ossos sendo esmagados ou o medo deles causados pelas minhas mãos. Você não sabe como é ter que sentir tudo isso em silêncio durante anos por que metade do seu cérebro está tomado por um ser completamente cruel, sádico e bárbaro.

Callisto acompanhou uma lágrima grossa percorrer a bochecha da mulher, canto da boca até que ela a secasse no queixo com as costas da mão.

— Ela gostava do que fazia. – Continuou depois de engolir em seco – Ela sentia prazer. E você não fez nada porque é um covarde egoísta!

O peito de Callisto doeu.

— Porque se aproveitava de mim!

— Não, Harriet... – sentiu seus olhos embaçarem.

— Não! – ela o interrompeu. – Nenhuma desculpa justifica o que você fez.

Dito isso se afastou, encarando-o acusatoriamente.

— Eu sei, eu sei... – ele se exasperou e tornou a diminuir a distância entre os dois. – Sim, eu sou um covarde por não conseguir dar as costas ao trono e tentar agradar ao meu pai. Sou covarde por não ter impedido Ayesha de fazer o que fez com você só para não decepcionar ainda mais o meu povo mesmo sabendo o quanto eles são soberbos, hipócritas e desprezíveis. – Callisto disparava as palavras em cima de Harriet rapidamente – Sim, eu fui egoísta. Egoísta por olhar tanto para o meu próprio umbigo e não ter empatia, palavra que eu só aprendi por que conheci você. Egoísta por não querer enxergar o que estava acontecendo diante dos meus olhos. Fui egoísta por não ter conseguido te ajudar por medo de perde-la. – Ele ousou em agarrar-lhe a mão. – Mas eu consegui. Não estou cem por cento melhor como pessoa, mas você me motivou a mudar. E por isso eu não restaurei o dispositivo. Por isso eu recobrei a sua consciência. Só peço perdão por ter demorado tanto para evitar algo que eu sabia que Ayesha faria com você.

O silêncio tomou conta do ambiente, só podia-se ouvir a respiração ofegante do rapaz depois da rajada de dizeres.

Harriet calmamente recolheu a sua mão e encarou-o mais amena.

— Ela planeja coisas terríveis.

— Sim, eu sei. – Admitiu envergonhado. – Ouvi ela dizer sobre querer controlar o Universo.

— E ela vai conseguir, se encontrar o que tanto tem procurado.

— E o que seria?

— O Vortéx negro. – A voz de Ayesha soa grave, respondendo à pergunta. Ambos se viram para a direção da porta e a encontram, sorrindo diabolicamente em sua direção. – E você, querida, é quem vai busca-lo para mim.

— De maneira alguma! – Harriet diz com a voz rouca, a ira tomando conta de cada célula sua gradativamente. – Não tenho mais aquele seu monstro dentro de mim, você não me controla mais.

— Todos nós temos trevas dentro de nós mesmos. E você, – ela aponta para a mulher – Harriet Annabel Walter Stark, principalmente. Não é nem necessária a Vênus para isso.

Harriet sente sua garganta secar, as palavras na ponta da língua, no entanto presas pela surpresa.

— Como? – solta engasgada, ela tinha plena certeza que não havia mencionado o seu nome inteiro para a mulher.

— Como se eu não fosse pesquisar quem de fato você realmente é. – Ayesha sorri – Você é herdeira de uma fortuna embasada na venda de armas para guerras. Você mais do que ninguém tem sangue de inocente nas mãos e vem me falar sobre moral. Quanta hipocrisia, Harriet.

Callisto franze o cenho ao mirar Harriet, mas esta ao menos percebera de tão confusa que estava.

— Como...você? – a sua mente rodopiava e colidia, cada vez que tentava buscar por conclusões sobre aquelas novas informações. – Se você tiver encostado um dedo no Howard...

— Não foi necessário. – Ayesha a interrompe com um sorriso crescente e amedrontador nos lábios. – Os museus têm muito a contar sobre a sua história, doutora Stark. Você é famosa entre os terráqueos.

Harriet sentiu um calafrio descer por sua espinha.

— Então se de fato pesquisou direito viu que somente me envolvi com projetos necessários para acabar com a guerra. Nunca, em hipótese alguma, teria colaborado para o sofrimento de inocentes como você fez. – Harriet umedece os lábios – Como procurar Vórtices para tornar meus poderes em proporções desastrosas para dominar o Universo.

Ayesha solta uma gargalhada escandalosamente diabólica.

— Não, não, não. Você, não! – ela olha fixamente para Harriet ao corrigi-la – Você quase acertou a sua suposição, mas já tem um tempo em que meus interesses deixaram de fazer com que você fique cada vez mais poderosa. Até há algum tempo funcionava perfeitamente, eu conseguia me nutrir de suas energias e sustentava os meus dons com base nos seus.

— O que? – Callisto questiona estupefato.

— O dispositivo me permitiu ter acesso a uma boa porcentagem de seu poder. Eu consequentemente fiquei cada vez mais poderosa. – ela revela. – Mas eu não me contento com migalhas, nunca me contentei. Você se tornou tudo o que o universo nunca permitiu que eu fosse e estava a cuspir na minha cara novamente cada vez que essa sua mente humana tentava recobrar a consciência. Eu pude sentir isso, sentir a transmissão cada vez menor... – ela sorriu doentia – E claro que não podia voltar a ser uma simples soberana, inferior à alguém como você. Com o Vórtex eu finalmente vou poder me tornar uma Eterna.

— Eterna? – Callisto indaga, a confusão expressa em cada ruga de seu rosto.

— Sim. – Ayesha cospe a afirmação – E eles finalmente vão ver que não preciso da máquina estúpida deles ou ela – aponta para Harriet – como uma bateria a quem me recarrega para ser tão poderosa quanto!

— Do que diabos ela está falando? – Harriet indaga, voltando-se para Callisto. – O que é uma Eterna?

— Os Eternos. – Callisto pronuncia – Existe uma lenda sobre uma raça derivada dos primeiros habitantes humanoides da Terra. Trata-se de um grupo de seres manipulados geneticamente pelos Celestiais durante a primeira visita dos deuses espaciais ao planeta. – Callisto explica à Harriet. – São os protetores da Terra e dos seres que lá habitam. Mas já tem milênios que não ouvimos sobre eles, dizem ser somente histórias inventadas para que a Terra permanecesse segura das criaturas do espaço. Não há comprovação que eles de fato existam!

— Os humanos certamente saberiam da existência desses seres. – Harriet rebate.

— Eles são tão iguais quanto os humanos, podem facilmente se infiltrar por entre eles e viverem uma vida completamente comum. – Callisto explica – No entanto são uns dos seres mais poderosos do cosmos.

— Que não seriam nada se não fosse pelos Celestiais. – Ayesha complementa. – Aquele bando de gigantes incompetentes.

— Então foi isso, eles não quiseram te tornar uma Eterna? - Callisto refletiu. – Mas é anatomicamente impossível, já que você não descende da raça humana.

O silêncio tomou conta do laboratório por alguns instantes.

— A não ser que ela seja. – Harriet mirou Ayesha – O que estava fazendo vagando pela Via Láctea quando me encontrou? Tão longe de Sovereign...

— Não sejam ridículos. – Ayesha cospe, notavelmente abalada.

— Espreitando a terra? Saudades de casa? – Harriet indaga audaciosa – Você é uma humana, ou, um dia foi. – Harriet conclui se aproximando ameaçadoramente de Ayesha. – E, pelo jeito, deve ter tentado de tudo para se tornar uma Eterna e eles te negaram isso.

— Calada. – Ayesha grunhe.

— Você foi uma das iniciadoras da Sovereign – Callisto afirma ultrajado, também aproximando-se da sacerdotisa. – Você fundou as leis do planeta, diminuindo e menosprezando cada criatura que não fosse como nós. Que não fosse como você. Só porque te renegaram?

— Foi isso, não foi Ayesha? – Harriet riu debochadamente – Eles te negaram e aí você decidiu brincar de Deus em outro planeta, não foi? Criar a sua própria raça. Mas, infelizmente, você não tinha o necessário para que eles fossem superdesenvolvidos geneticamente. Isso até eu aparecer.

Ayesha respira fundo, o descontrole a ponto de aflorar.

— Você não aguentou que eles te poupassem todo esse poder, - Harriet provocou – que fosse destinada a ser uma humana frágil e comum. Isso é patético. - diz a última frase pausadamente.

Ayesha explode de fúria e vai para cima de Harriet, lançando-a rajadas de energia cósmica das mãos como a própria Harriet podia lançar.

— Eu não sou frágil e comum!

Harriet empurra Callisto para longe antes que caísse no chão com Ayesha sobre o seu corpo. A sacerdotisa prensa os braços e as pernas da mulher contra o chão, com uma força sobre-humana. As faíscas da energia cósmica percorrendo por seus dedos.

— Você pode ser poderosa o quanto for, mas definitivamente não é imortal. – Ayesha encara Harriet nos olhos, aqueles transcendiam a maldade – Será que se eu cortar a sua cabeça, outra vai nascer no lugar?

Harriet engole em seco.


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Notas finais do capítulo

Se gostou deste capítulo, considere deixar o seu voto e comentário.

Estamos na reta final de Vênus e eu adoraria saber o que vocês têm achado.

Até a próxima sexta, beijos de luz XOXO



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