A Bruxa Forasteira escrita por Lilien


Capítulo 5
5 — Kyomu




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Era um novo amanhecer de um dia quente de verão. Mesmo tão cedo, o sol batia fortemente contra tudo o que atingisse, aquecendo o solo duro de asfalto e das calçadas, e as paredes exteriores dos prédios.
Por estar de férias, Tahine não acordou cedo para ir à escola, mas sim para viajar pela linda cidade.
Enquanto as rodas giravam e transportavam sua cadeira pelas ruas, a garota sentada olhava para anúncios e para as lojas, procurando algo ou algum lugar que a ajudasse a aprender magia.

 

Mais tarde, já estava de frente com uma garota tão jovem quanto ela atrás de uma mesa, que colocava várias cartas na mesa e embaralhava-as. Por fim, a garota revelou a carta para Tahine: O Eremita.
— O Eremita...? O que significa?
— O Eremita é um homem que tem muito conhecimento, mas ainda busca mais conhecimento. O conhecimento que ele tem é o que guia ele e o ajuda a tomar as decisões de sua vida. Você é uma pessoa solitária que usa a si mesma como referência para resolver os seus problemas...
E ela continuou falando. Será que ela acredita nesse poder que ela afirma ter? O de ler o futuro através das cartas? Será que ela tem mesmo? Tahine estava um pouco distraída em sua mente para entender o que a outra garota estava dizendo. Alguns minutos se passaram, de ela explicando.
— ...E lembre-se de ter cuidado para não confundir as coisas em seu julgamento. Suas atitudes egoístas podem levar você ao seu fim. — Ela havia dito.
E se isso o que ela afirma for verdade, devo dar ouvidos? Ela não me conhece direito...
Mais alguns minutos se passaram, e ela terminou de dar o último pedaço de informação.
— Ah, sim... Muito obrigada! Eu achei incrível essa habilidade de que você tem, me identifiquei tanto... — Tahine estava sendo falsa. Ela apenas estava ali por um motivo: — E, como é que você faz essas coisas?
A cartomante sorriu, agradecendo pelos elogios. — Você tem celular? Eu posso te enviar o link de uma playlist que ensina a fazer. Mas pode levar tempo para você se aperfeiçoar nisso.
— Claro que sim, eu agradeceria. — Tahine exibiu um sorriso falso, e depois entregou o número de telefone para a outra jovem. No fundo, estava um pouco decepcionada, pois esperava que conseguisse algo que a ajudasse mais.

Em seguida, foi a um vidente. Era um homem adulto, mas dessa vez Tahine não pediu o serviço dele. Ela apenas tinha ido lá para perguntar como ele fazia para ver o futuro, e ele respondeu que possui contato com espíritos divinos que a auxiliam nas atividades. No fim das contas, não conseguiu obter respostas precisas.

Mais tarde, se dirigiu a uma praça próximo à prefeitura municipal, para ver um homem elegante mascarado fazendo “truques de mágica” para surpreender as pessoas que estavam ao redor dele. Depois, Tahine ficou ali para perder um pouco de tempo observando de longe um grupo de jovens desenhando um círculo de tinta vermelha no chão e se sentarem para rezarem. Aparentava ser um ritual.

Quando o suposto ritual terminou, ela saiu perguntando às pessoas se haviam aprendido magia através da família do prefeito, até que encontrou um adolescente de óculos sentado em um banco que disse que aprendeu magia, sim, e ele lhe apresentou uma orbe brilhante que surgiu de sua mão.

A partir do momento em que a cadeirante viu isso, ela estava entrando em um mundo novo e distante do natural, e não haveria mais volta: — Incrível! Como você faz isso?

— Ah…? Eu não acho que sou a melhor pessoa para ensinar, pois estou apenas começando a praticar, ainda. O que eu aprendi é que há um conceito denominado mana, que está presente em todas as pessoas e em muitas criaturas vivas, e é a energia permite uma pessoa realizar alterações sobrenaturais ao seu favor no plano físico. Cada pessoa possui um limite de mana, mas esse limite se expande com a prática. Para que a magia aconteça, é necessário que você acredite nela. — Para Tahine, parecia que ele apenas estava enrolando, mas, uma vez que ele apresentou magia, talvez dê alguma informação útil. E ele continuou dizendo: — É impossível que a magia surja do nada em você, ela deve ser ensinada de pessoa para pessoa. E a magia que você pode lançar é relativa aos seus desejos e suas vontades, e também ao seu conhecimento.
Tahine estava confusa, se esforçando para entender as coisas.
— Eu, por exemplo, estou praticando a criar um brilho de minha mão, pois é um feitiço simples, e o meu objetivo é compreender a magia. Espero ter sido útil.
— Ah… Ah, sim, obrigada. — Tahine ainda estava organizando as suas ideias.
— Oh, eu tenho que ir. Boa sorte. — Disse o garoto, que se levantou e foi se juntar a um grupo de pessoas. E Tahine ficou ainda pensando, com cara de paisagem, encarando as nuvens do céu.

De repente, uma mulher surgiu de trás dela. Ela se mostrou na frente da cadeirante. Tinha olhos cinzas-roxos e o cabelo preto-azulado preso atrás sob um enfeite de espigões dourados, mas o que chamou a atenção de Tahine foi a forma como estava vestida: seu vestido azul com estampas de flores como um kimono, que era lindo e longo, cobria os braços e as pernas dela. Aquilo era um contraste ao vestido de verão leve que Tahine estava vestindo.
Ela começou a falar com a garota sentada: — Você… Está procurando alguma coisa, não está?
Tahine levantou a cabeça e encarou os olhos dela. Foi honesta, apesar de querer muito perguntar para ela porque ela estava vestindo daquele jeito: — A senhora entende alguma coisa de magia?
A mulher riu baixinho, a mão sobre a parte inferior do rosto. — Me surpreende que tenha perguntado isso logo tão diretamente. Eu esperava que você fosse responder, por exemplo… E se eu estiver, qual o problema?, ou talvez, Isso não é da sua conta!. — Ela se sentou no banco, para ficar quase à altura da adolescente, e continuou dizendo: — Para vir com essa, você provavelmente está muito determinada… Ou então, muito desesperada. Poderia me contar por qual motivo deseja aprender magia?
— ...Não, eu não posso. Me desculpe. — Respondeu séria.
— Oh, tudo bem. Mas, poderia, pelo menos, me dizer se é para você entrar na moda? Quando uma pessoa aprende a magia, geralmente é porque o prefeito quis ensinar para ela, não ela que quis aprender.
— Não, não é. Eu apenas… Tenho um motivo pessoal e forte. — Seu rosto pareceu triste, e sua cabeça se abaixou. Tahine percebeu que seu rosto suava por conta do intenso calor de 27 graus celsius.
— Você é interessante. Parece se esforçar para conseguir o que realmente quer, não é? Pois estou fazendo a mesma coisa. Agora, antes de tudo... — Ela cruzou os braços. — Você acredita em magia?
— Se eu acredito?! É claro que eu acredito! Mais cedo eu vi um garoto fazer um brilho surgir da mão dele!
A mulher sorriu um pouco. — Ah é? E se aquilo for apenas um Diodo emissor de luz escondido na mão dele?
Tahine ficou calada, sem responder, e a mulher de vestido continuou dizendo: — Você não pode aprender magia sem aprender magia. Como você julga cartomancia? E se eu lhe dissesse que até mesmo cartomancia — visualizar o interior de uma pessoa e o futuro delas por meio das cartas — é uma forma de magia?
Enfim, Tahine respondeu: — Ah, é...? Tudo bem, eu entendi. Eu acredito em cartomancia, sim.
Sem reagir ao que ela disse, a mais velha respondeu: — ...Não. Crença é algo de dentro de você. Você não pode se forçar a acreditar em algo de repente, acreditar em algo pode levar muito tempo e necessitar de experiências. — Suspirou. — E não foi bem isso o que eu quis dizer. Você pode não acreditar em cartomancia, mas pode acreditar que existem formas de magia ou de cartomancia que são legítimas. Me responda, o que você sabe sobre magia?
— Eu sei que… — Tahine tentava lembrar o que aquele garoto disse. Não conseguiu muito bem, mas sabia o que responder. — Há em você. — Ela encarava o rosto da mulher de vestido.
— Como?! — Ela parecia um pouco surpresa.
— A senhora está usando magia agora.
— Ah, é? E como é que você sabe? — Seu rosto parecia confiante.
— O calor  de matar. — Tahine esfregou a mão no rosto para limpar seu suor. — Mas a senhora não parece estar sendo afetada por isso. — Ao dizer isso, moveu a mão rapidamente em direção à pessoa em sua frente. As gotas de suor de Tahine pularam de sua mão em direção à outra pessoa, que, apesar de ser atacada, não se moveu.
Assim que o suor se aproximou de seu alvo, as gotas desapareceram, foram evaporadas. — Isso aí é uma barreira mágica, em volta de você, que a protege contra o calor, não é?
— Correto. ...Na verdade, é quase isso, mas você está certa em maior parte. Só lhe peço que tome cuidado ao atacar as pessoas de repente. Elas podem não gostar, e eu mesmo não gostaria se eu não tivesse essa barreira me protegendo. — Suspirou. — O meu nome é Skye Mystikrayon. E o seu?
Mystikrayon…? Como seria possível? Esse é o sobrenome da família do prefeito da cidade. O homem que é referido por esse sobrenome foi o responsável por começar a ensinar magia para as pessoas da cidade. Estaria Tahine na frente de uma pessoa realmente tão importante? De qualquer modo, pensava que a pessoa poderia vir a ser útil para ajudá-la a aprender magia.
— Meu nome é Fuchihana… Tahine Fuchihana.
— Senhorita Fuchihana… Você está disposta a me ajudar em uma tarefa à longo prazo?
— Eu… Já tenho um trabalho. E escola. Não sei se daria tempo.
Skye riu um pouco alto. — Ara ara… Você não precisa me ajudar em horários fixos, mas apenas quando quiser, desde que me ajude. Afinal, você quer aprender magia, não quer? Mais que isso, eu posso fazer de você uma excelente bruxa.
— Então… Eu aceito. — O olhar em seu rosto estava sério, fitando o rosto de Skye. — Onde está o contrato definitivamente-não-suspeito que eu devo assinar?
— Você não precisa assinar contrato nenhum, pois você já irá me ajudar de qualquer jeito, não é?
— ...Sim, eu vou.
— Me siga, então.
E ela levou a garota a um beco entre dois prédios. O objetivo era ir para algum lugar onde não estivesse ninguém passando, e ninguém pudesse vê-las se escondendo. Com algum objeto dourado em sua mão direita, Skye riscou o ar, e aquele objeto abria um buraco oval roxo-escuro com a sua ponta dura. O buraco era definitivamente um portal, com uma coloração preta em seu interior. Skye entrou no portal, seguida por Tahine, que estava com uma expressão surpresa, os olhos bem abertos… E o portal de trás se fechou.
Agora, Tahine não poderia voltar para casa se de repente quisesse. E se aquela mulher em quem Tahine confiou fosse uma pessoa má que quisesse prendê-la para matá-la sem que ninguém soubesse? Estaria ela sendo punida por seus desejos ambiciosos?
Talvez apenas estivesse se desesperando demais. Estavam dentro de uma sala escura e vazia onde nem mesmo havia chão, mas as duas conseguiam pisar e permanecerem verticalmente fixas, as pernas e rodas apoiadas sobre alguma coisa sólida invisível. Apesar da ausência de luz, elas conseguiam se ver. Skye parou por alguns segundos, pensando, até que novamente abriu um outro portal, no qual ela entrou e Tahine foi atrás dela.

 

Do outro lado do portal, de que elas surgiram, era uma sala espaçosa redonda e simples. Era um ambiente limpo e agradável, como se fosse adequado para receber pessoas que chegassem. A sala era um pouco fria, a iluminação estava difusa e o rádio tocava um jazz suave. Ao redor, haviam algumas mesas, e cadeiras, mas apenas duas jovens garotas estavam sentadas juntas, comendo doces. Haviam sofás nas extremidades das salas, muitos acompanhados de vasos de lindas plantas e flores. Em um dos sofás estavam duas pessoas adultas conversando e tomando uma xícara de café. Nas paredes estavam suspensos um quadro de avisos e anúncios, pinturas bonitas de pessoas ou personagens que Tahine não reconhecia e um painel eletrônico com alguns botões, aparentemente de tecnologia touch screen. Em frente àquele painel, não havia nada, até que surgiram do nada e de repente dois adolescentes em um passe de mágica. Segurando lanches nas mãos, eles foram se sentar a uma mesa daquela sala, conversando.
Em um outro canto da sala havia um balcão, com uma cafeteira sobre este e embalagens de doces e guloseimas expostas na parede atrás. Assim como os dois adolescentes que estavam sentados comendo fizeram, de trás do balcão apareceu instantaneamente uma mulher adulta jovem de cabelos médios lilás-escuros, de franja reta, olhos azuis-celestes. Ela vestia um moletom e saia roxos-escuros, combinando, e meias até os joelhos pretas, em um tênis preto de listras cinzas.
Ela saiu de trás do balcão, apareceu de frente para a senhora Skye, curvou-se e lhe disse: — Seja bem-vinda de volta, princesa Mystikrayon! E me desculpe a demora!
Será que ela tratava todo mundo assim, igual como Tahine fazia no maid café? Ou somente Skye estava sendo tratada de forma especial? Se fosse esse caso, isso significaria que Skye realmente é alguém importante para as pessoas deste lugar. Além disso, ela foi chamada de princesa...
— Obrigada. — Sorriu levemente. — Alguém procurou por mim?
— Não, tudo parece estar bem. — A bruxa olhou para Tahine. — Não querendo parecer preconceituosa, mas quem é essa garota aí? Não me lembro de ter visto ela antes.
No momento, Tahine estava assustada, o rosto pensativo e ao mesmo tempo surpreso. Sabia que magia existia, mas nunca tinha visto pessoas se teletransportando tão facilmente e comumente. Se ela não estivesse sentada em uma cadeira agora, cairia ao chão de espanto.
— Ah, ela? Então, você sabe o que os meus pais estão fazendo lá na Terra, não é? — Fez uma pequena pausa e cruzou os braços. — Essa menina é uma das pessoas interessadas em magia, então posso dizer que ela é uma aprendiz minha.
— Que estranho, não parece algo que a princesa Mystikrayon faria… Então acredito que o potencial mágico dela é altíssimo!
— Acredito que sim, também. — A referida princesa esboçou um sorriso. E ela olhou para a garota na cadeira. — Olhe para atrás de você. — Apontou para o portal meio-circular de que saíram, e Tahine olhou de imediato. — Esse portal não foi aberto agora, ele está aqui faz muito tempo. Não estamos mais no planeta Terra e, na verdade, acreditamos que nem estamos mais no mesmo universo que antes. Se você voltar por esse portal, você sairá em uma caverna. Siga o túnel da frente através de um caminho reto, e você estará em um bosque. A partir daí, você só precisa caminhar reto por vários metros, até que você voltará para a cidade de Nagoya.
— E-e, então… Que lugar é esse? — A aprendiz falou gaguejando.
— Este mundo que estamos, nós chamamos de Kyomu*. Estamos em uma sala de recepção da Torre dos Dois Mundos, localizada no centro da vila Kyomu e no centro do planeta. Essa torre é um ponto de encontro popular para os bruxos, e se chama assim porque, obviamente, conecta os mundos que conhecemos. Uma terráquea moderna como você poderia comparar esse lugar a um aeroporto. E… Nos outros andares da torre há recursos públicos úteis para os bruxos, áreas de alimentação, algumas lojas de produtos importados e algumas salas ainda vazias. Para ir aos outros andares, você só precisa canalizar um pouco de sua mana na ponta dos dedos e tocar no botão correspondente ao andar que você deseja ir naquela tela touch screen ali, e o teletransporte funcionará ao seu favor.
— Incrível…! Entendi! — Apesar de ter dito isso, Tahine ainda tinha dúvidas sobre o uso da magia mesclada com a tecnologia, e sobre o próprio sistema de magia. — E o que é a vila Kyomu?
— A vila Kyomu é o lugar onde as bruxas moram e realizam atividades cotidianas. Fora da vila não há quase nada além de natureza.
— Então… Deixa eu pensar… — Tahine começou, fazendo pausas para ter tempo de processar as informações que recebia. — Se o seu pai é dono do mundo lá fora, então você é dona deste mundo?
Skye começou sua resposta com uma risada. — Não, mas eu bem que gostaria ser dona deste mundo. Na verdade, eu serei dona deste mundo, e você está aqui para me ajudar com isso. Eu quero ser útil para meus pais, e ajudá-los a continuarem no poder. Meu pai quer que eu seja a próxima prefeita, e para isso eu estou estudando sobre leis. É bem chato, eu admito. Mas enquanto eu não puder ser a governante de Nagoya, serei governante de Kyomu, e meus pais terão orgulho de mim.
Tahine entendeu isso mais rápido do que deveria. Não disse nada, e estava pensativa. Sentia coisas ruins ao ouvir a palavra pai, mas apenas precisava entender que as pessoas têm noções e experiências diferentes dela. Ela ainda teria respeito pelos pais dos outros, como respeita o pai de seus primos. Ele é uma pessoa muito boa, e já ajudou bastante Tahine em tantas coisas.
Skye viu que Tahine não respondeu, e continuou dizendo: — Venha comigo.
E a mais jovem a obedeceu, e a seguiu. Saindo da torre através da porta de entrada que automaticamente deslizou para cima quando elas se aproximaram, como as portas de um shopping, e se viram sob um céu azul, com uma coloração alaranjada sendo derramada pelo resto do céu, pois já era fim de tarde, assim como no mundo de que Tahine veio. O céu parecia como o da Terra, mas o sol parecia estar mais perto do que deveria. Abaixando um pouco a cabeça, viu que estavam em uma grande área plana, com o chão branco feito de pedra, algumas áreas de gramado com árvores, bancos em que as pessoas podiam sentar, fontes e estátuas de pessoas. Era a praça que rodeava a torre, e as pessoas caminhavam por ela para irem a outros lugares.
Não tão longe, já se podia ver várias casas. Cada uma era diferente da outra, para atender aos gostos pessoais dos moradores, mas a maioria tinha uma aparência fortemente inspirada em diversos estilos arquitetônicos antigos (ecletismo), dando um visual atraente para a vila.
Tahine viu o sol que era maior que o da Terra, mas não estava fazendo tanto calor. Na verdade, era o contrário: — ...Está tão frio aqui! — No Japão estava um tempo quente, e por isso ela veio com um simples vestido de verão branco-azulado, o que fazia ela sentir mais frio do que outras pessoas, agora. Não é à toa que a recepcionista estava com o corpo todo coberto.
Skye estendeu a mão direita sobre Tahine, apontando os dedos ao corpo dela, e por um segundo, a garota na cadeira sentiu a temperatura externa de seu corpo aumentar em algumas partes. Definitivamente era magia. — Aqui está frio porque… — Ela olhou para o alto da torre. — Aquele cristal produz frio para a região central de Kyomu, para proteger a cidade contra o calor do sol.
Tahine olhou para trás e viu a torre de que saiu. Era uma torre redonda de cor cinza-escura, de aproximadamente cinquenta metros de altura. Era bonita, bem decorada em estilo gótico, e no topo dela os seis espinhos rodeavam um cristal azul-gelo no formato de um octaedro alto que flutuava entre eles.
Skye tinha continuado a andar, e Tahine voltou a segui-la através das ruas, cujos caminhos eram revestidos de pedra ao invés de asfalto. Pararam em frente a uma grande casa branca além de um pequeno gramado dividido por um caminho de pedra que levava até a porta de entrada.
Elas entraram em casa. Na primeira sala em que entraram, estava bem iluminada por um lustre de cristal no teto e, no centro do chão, havia uma mesa de jantar. Atrás dela, estava uma garota de cabelos curtos e volumosos vermelhos, a cor e o formato parecendo um tomate, e ela estava vestida de empregada francesa, similarmente a como Tahine se vestia no trabalho. Porém, a vestimenta dela era mais customizada. Haviam pequenas listras coloridas de vermelho, verde e azul em algumas partes de seu vestido preto, suas longas meias e seu acessório de cabelo eram de coloração arco-íris.
— Bem-vinda de volta, irmãzinha Skye. — Ela disse.
Irmãzinha? Por que a empregada dela seria a própria irmã mais velha?
— Olá, Clover.
— E essa aí com você, quem é essa aí com você?
— Eu sou uma empregada, também, como você! — Tahine disse, pois é o que passava em sua mente ao vê-la. Mas por que ela estava vestida assim fora de um maid café?
— Uma empregada…? Então você vai me substituir, agora? Eu já imaginava que eu não era tão boa no serviço… — Suspirou.
Tahine ficou sem o que responder, até que Skye respondeu por ela: — Ela não vai trabalhar como empregada. Na verdade, eu nem sabia que ela era uma. E você sabe bem que eu não irei abandonar você… Mas enfim, se lembra daquela ilhota que nós colonizamos e que estávamos construindo uma casinha nela?
— Ah! Eu sei, sim! Vamos voltar a trabalhar naquilo? — Clover parecia animada. Ela chegou mais perto, e Tahine percebeu que os dois olhos dela eram de cores diferentes. O direito era verde, e o esquerdo era azul. Era estranho, mas ao mesmo tempo bonito. Será que eram lentes de contato ou será que ela nasceu assim mesmo? — Você já decidiu o que vai ser aquela casa?
— Eu acho que… Uma biblioteca mágica! — Respondeu confiante a mulher de vestido de princesa.
— Ótima ideia! ...Mas por quê?
— Essa garota que está comigo quer aprender magia. E ela prometeu que trabalharia para mim se eu ensinasse magia para ela.
— Oh, tudo bem, então. Gostaria que eu providenciasse os materiais de construção, para continuarmos? — A empregada da casa ofereceu por ajuda.
— Sim, por favor. Enquanto isso, eu irei à casa dos meus pais e à casa da senhorita Aeris para procurar por grimórios e livros de magia. E a senhorita Fuchihana ficará aqui esperando, certo?
— Tudo bem. — Disse Tahine. Mas acho que isso significa que talvez eu me atrase para trabalhar no período noturno ou falte, hoje, pensou.
— Sim, senhora! — Assim que Clover respondeu, ela estendeu a mão para Tahine e drenou a cor do vestido leve dela. — Não leve isso ao pessoal. Estou apenas checando a sua vibe. — Agora, na mão de Clover estava um brilho branco-azulado, e o vestido de Tahine havia se tornado absolutamente preto, sem cor.
A jovem cadeirante se assustou com isso, mas Skye disse para acalmá-la: — Não se preocupe. Seu vestido vai voltar à cor normal em alguns minutos. Ela apenas fez isso porque pode melhorar seus atributos físicos através das cores. Esse é o domínio dela, 「Quick and Blue」.
O brilho branco-azulado que estava na mão de Clover diminuiu bastante e mudou de cor, se tornando verde, e foi jogado fora, se dispersando no ar até desaparecer. Em seguida, ela saiu correndo mais rápido que um carro.
— Enfim, descanse um pouco, jovem garota. — Assim que Skye disse, ela estava com aquele mesmo objeto dourado que abriu o portal. Dessa vez, Tahine conseguiu ver o que era: uma chave. Daquela chave, gotas escuras surgiram e pingavam de sua ponta, caindo no chão e abrindo um portal, no qual Skye pulou dentro e desapareceu. ...E o portal se desfez, também.

Agora, sozinha, em um lugar onde ela não sabia onde era, Tahine apenas teve que esperar. Tentou ligar para o seu primo Shirou, para avisá-lo que está ocupada e que poderia se atrasar para o trabalho, mas o telefone lhe disse: Não foi possível completar essa ligação. Verifique o sinal de sua área e tente novamente.

E nessa situação, só lhe restava esperar.


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