A Flor de Cerejeira do Mar escrita por BellatrixOrion


Capítulo 1
Capítulo 1 - Um Encontro Entre Dois Corações


Notas iniciais do capítulo

[AVISOS]

Olá! Como a resposta foi extremamente positiva, decidi publicar o primeiro capitulo dessa coletânea dos Contos de Fadas com Sasusaku! ^^

Antes de começarmos, gostaria de deixar alguns pontos ressaltados:
* A história se passará no Japão.
* Está será uma coletânea de histórias, feita de fã para fã, sem fins lucrativos
* A ideia do projeto é reimaginar nosso casal SS dentro dos contos de fadas, ou seja, a essência da história original está lá, mas eu seguirei me utilizando dos filmes já feitos, do conto, de releituras e outros afins.
* Cada história está sendo escrita seguindo a forma do modelo de conto. Em outras palavras, haverá mais descrição das situações do que longos diálogos. Caso contrario, se eu fosse escrever no modelo convencional, levaria mais de vinte capítulos para cada conto, principalmente pelo fato de eu amar escrever capítulos gigantes, Riddare Drakar que o diga. kkk
* Deixarei o link do conto original para depois vocês lerem caso tenham interesse, não encontrei o que eu li para fazer a finc, mas caso vcs o encontrem, acho que será uma experiencia legal para quem realmente gosta.
* Os trechos que estiverem em NEGRITO foram trechos que eu retirei diretamente do conto ou escrevi adaptando diretamente daquele trecho, verão que são justamente as partes que descrevem o reino do fundo do mar ou as paisagens que as sereias avistarão quando puderam ir para a superfície, que eu achei tão bem explicado que preferi mantê-los para que vcs sentissem um pouco do que eu senti quando li pela primeira vez.
* Outros detalhes que referenciam o conto original também foram mantidos, mas a partir de próximo capítulo o rumo das coisas começara a mudar.
* Todos os direitos da ideia de todos os contos que sejam direcionados aos seus devidos escritores.
* E por ultimo, estou escrevendo essa finc com o intuito de me divertir, acima de tudo. Tenho consciência de que a ideia original não é minha, mas eu sempre desejei encontrar algo que fizesse isso, incluir Sasuke e Sakura dentro do mundo dos Contos de fadas, que é algo que eu amo muito. Por isso, peço que não entendam como plágio. Eu estou me dedicando de mais a esse projeto e quero que vcs o enxerguem como eu o enxergo: Um ótimo passa-tempo para reviver nossa infância com o nosso casal favorito protagonizando essas histórias.

Obrigada pela atenção! E espero que gostem e se divirtam!
^^

~Bellatrix ♥



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Capítulo 1- Um Encontro Entre Dois Corações

Conto de Hans Christian Andersen, Den lille havfrue,1837

A Pequena Sereia

~*~

Nas ondas da praia

Nas ondas do mar

Quero ser feliz

Quero me afogar.

Nas ondas da praia

Quem vem me beijar?

Quero a estrela-d'alva

Rainha do mar.

Quero ser feliz

Nas ondas do mar

Quero esquecer tudo

Quero descansar.

(Estrela da Manhã - Manuel Bandeira)

~*~

O som interrupto das ondas a se quebrar, inundam os corações da terra, céu e mar.

O ar se torna salgado e indubitavelmente límpido.

A areia move-se ao bel prazer das vontades das poderosas e inevitáveis águas.

E ali, bem no fundo, a água é azul como as pétalas das mais bonitas centáureas e pura como o cristal mais transparente.

Mas, é profundo.

Muito profundo.

Tão profundo que nem mesmo a mais longa âncora pode alcançar.

Incalculável, se diz.

E é lá, nas profundezas do infinito azul, a morada do povo do mar.

Entretanto, não pense nem por um instante que não há nada lá além de areia nua e branca a mover-se conforme o movimento das águas. Oh, não, por favor! As mais admiráveis árvores e plantas crescem no fundo do mar. Seus caules e folhas são tão leves que o menor movimento da água faz com que eles pulsem, como se estivessem vivos.

Não.

Não “Como se estivessem”, pois realmente estão.

Todos os peixes, grandes e pequenos, resvalam por entre seus galhos, assim como os pássaros o fazem no céu. Cada ser vivente coopera entre si, proporcionando a mais bela vida ao profundo que nenhum ser humano jamais seria capaz de alcançar.

E é lá, neste lugar tão profundo, que está o castelo do Rei do Mar, Kizashi, cujos muros são feitos de coral, e as janelas compridas e pontudas são feitas do mais claro âmbar. O teto é formado de conchas que se abrem e fecham com a correnteza e as luzes lumiantes provinham das algas espalhadas ao redor.

É uma visão linda e mágica.

Há muitos anos que o Rei do Mar estava viúvo, uma tragédia terrível arrancou-lhe sua amada Mebuki. Ela se fora sem poder despedir-se de suas preciosas filhas, deixando para trás apenas suas seis ostras, que adornavam sua bela e cintilante cauda cor de carmesim, uma representatividade da sua alta patente. A estas, o rei deu-lhes de presente a cada uma das jovens sereias, suas filhas, uma maneira de todas manterem em suas lembranças uma pequena parte de sua mãe, junto de seus corações.

Eram seis lindas crianças, seus nomes, respectivamente de acordo com suas idades, são: Karin, Ino, Temari, Tenten, Hinata e Sakura, porem destas, a mais moça era a mais fascinante. Sua pele era clara e delicada como uma pétala de da mais perfeita flor de cerejeira. Seus olhos eram verdes como a relva do campo. E seus cabelos longos, num rosa tão claro que quase tornava-se translucido nos movimentos da água. Todavia, como todas as outras, não tinha pés e seu corpo terminava numa longa, e esverdeada, cauda de peixe.

Durante o dia inteiro, as princesas brincavam nos grandes salões do castelo, onde flores viçosas cresciam direto das paredes. As grandes janelas de âmbar ficavam abertas e os peixes entravam por elas nadando, assim como as andorinhas entram voando em nossas casas quando abrimos as janelas. Os peixes deslizavam até as princesinhas, comiam em suas mãos e aguardavam um afago.

Fora do castelo havia um belo jardim com árvores de um azul penetrante e de um vermelho flamejante. Seus frutos cintilavam como ouro e suas flores, agitando sem cessar seus talos e suas folhas, assemelhavam-se a labaredas. O próprio solo era da mais fina areia, porém azul como uma chama de enxofre. Um singular fulgor azulado envolvia tudo que estava à vista. Se você estivesse lá embaixo, não saberia que estava no fundo do mar, sem nada além do céu acima e abaixo de você. Quando havia calmaria, era possível vislumbrar o sol, que parecia uma flor púrpura de cujo cálice jorrava luz.

Cada uma das princesas tinha seu próprio terreno no jardim, no qual podia cavar e plantar aquilo que bem entendesse. Hinata, uma jovem de longos cabelos negros, olhos perolados e uma calda num tom quase tão escuro como o azul marinho, arrumou seu canteiro de flores na forma de uma baleia; enquanto Ino, com seus longos cabelos loiros quase brancos, olhos azuis e calda de cor purpura, achou mais interessante moldar o seu como uma sereiazinha; Temari, também loira, porém com as madeixas em tons mais dourados que os de sua irmã, possuía olhos verdes e uma calda amarela reluzente, preferira uma forma abstrata, pois não tinha paciência para coisas como organização; Tentem, com seus longos cabelos cor de chocolate, que combinavam perfeitamente com seus olhos, e que possuía a calda de cor vermelha, preferiu organizar suas lindas flores em fileiras simples; Karin, a mais velha entre todas, possuía os cabelos vermelhos como o fogo, combinando com os próprios olhos, sua calda era laranja, e trazia um aspecto de maturidade em toda a sua postura, ela gostava do difícil e desafiou-se a plantar todas as suas flores em uma quase infinita espiral;

Porém, Sakura, a caçula, fez o seu canteiro bem redondo como o sol e só quis flores rubras como o brilho dele ali. Sakura era uma criança curiosa, sossegada e pensativa. Enquanto as irmãs adornavam seus jardins com as coisas maravilhosas que obtinham de navios naufragados, ela não admitia nada além de flores rosa-avermelhadas e uma estátua de mármore.

A estátua era de um encantador rapaz, esculpida em pura pedra branca, que havia descido ao fundo do mar depois de um naufrágio. O Rapaz, que provavelmente tinha a mesma idade que ela quando a estátua fora feita, possuía características marcantes, os olhos pareciam profundos e levemente puxados, muito diferentes de todos os habitantes do Reino do Mar, seus cabelos semelhavam esvoaçantes mesmo marmorizados naquela estatua impenetrável, enquanto suas roupas pareciam estar em constante movimento, acompanhando o vai e vem das águas.  Perto dela, a princesinha havia plantado um salgueiro cor-de-rosa, que cresceu esplendidamente e deixava sua fresca folhagem cobrir a estátua. E, como os ramos nunca ficavam parados, as raízes e a copa da árvore pareciam estar sempre brincando, tentando beijar um ao outro.

Mas, além de seus jardins, não havia nada de que as pequenas sereias gostassem mais do que ouvir sobre o mundo dos seres humanos, acima do mar. Sua vovozinha, Tsunade, uma sereia já muito experiente em seus anos de vida, mas que mantinha a beleza de sua juventude muito bem conservada, possuía cabelos longos e loiros, os olhos de um castanho brilhante eram encantadores e sua calda esverdeada, como a de Sakura, era adornada por várias ostras,  mostrando toda a sua importância. Ela contava para as jovens garotas tudo o que sabia sobre os navios e as cidades, as pessoas e os animais.

Uma coisa em especial as impressionava: saber que as flores exalavam fragrância, cheiros – não havia nenhuma no fundo do mar – e também que as árvores na floresta eram verdes e que os peixes que voavam nas árvores sabiam cantar tão docemente que era um prazer ouvi-los. A avó chamava os passarinhos de peixes. De outro modo, as jovens sereias, que nunca tinham visto um pássaro, não a teriam compreendido.

— Quando vocês completarem quinze anos – disse a avó certa vez –, vamos deixá-las subir até a superfície e se sentar nos rochedos à luz do luar, para ver os grandes navios passarem. Verão florestas e também cidades! Assim conseguiram entender todas as histórias que vivo a lhes contar.

No ano seguinte, uma das irmãs completaria quinze anos, mas as outras… bem, cada uma era um ano mais nova que a outra, de modo que a mais nova teria de esperar nada menos que cincos anos para subir das profundezas do mar para a superfície e ver como são as coisas do lado de cima. Mas cada uma prometia contar às outras tudo que visse e o que lhe parecia mais interessante naquela primeira visita, pois nunca estavam satisfeitas com o que a avó contava. Havia uma infinidade de coisas sobre as quais ansiavam ouvir.

Nenhuma das sereias, porém, era mais curiosa do que a caçula, e era também ela, tão quieta e pensativa, a que tinha de suportar a mais longa espera. Em muitas noites ela se postava à janela aberta e fitava, através das águas azul-escuras, a lua e as estrelas, ou ao menos, a imagem distorcida que ela podia vislumbrar através das águas do mar. Mas, não somente isso, se uma nuvem escura passava acima dela, sabia que era uma baleia ou um navio cheio de passageiros que sobrepujava a sua cabeça. Aquelas pessoas nem sonhavam que uma sereiazinha estendia suas mãos brancas para o casco do navio que fendia as águas almejando, em vão, alcança-las.

Enfim, assim que fez quinze anos, a mais velha das princesas foi autorizada a subir à superfície e, quando voltou, tinha dezenas de coisas para contar.

— O mais prazeroso – Karin disse – foi ficar deitada em um banco de areia perto da praia, numa noite de lua cheia. O mar estava tranquilo, e era muito bom sentir o vai e vem das ondas sobre meu corpo. De onde eu estava, pude ver as luzes de uma cidade que estava próxima da costa, pareciam estrelas que tinham vindo do céu direto para a terra! — Os grandes olhos vermelhos dela brilhavam com cada lembrança — Também foi possível ouvir músicas melodiosas e o ruído das pessoas. Ao longe, os telhados pontudos emergiam acima de todas as outras construções! Tenho certeza que ouvi sinos tocarem! 

Como Sakura absorvia cada uma das palavras proferidas pela irmã! E, mais tarde, à noite, ficou junto à janela aberta de seu quarto, fitando através das águas azul-escuras, e pensando na cidade grande com seus ruídos e luzes, e até imaginou ouvir os sinos dos templos tocando para ela. O sorriso de ansiedade de almejar ver todas essas coisas, acalentava seu coração jubiloso por este tão sonhado momento.

No ano seguinte, a segunda irmã teve permissão para subir mar acima e nadar onde quisesse. Ino, sortudamente, chegou à superfície bem na hora do pôr do sol.

— Foi a visão mais linda que já vi em toda a minha vida – ela contou. — Todo o céu parecia ter sido banhado por ouro e as nuvens… – bem, ela simplesmente não conseguia descrever como eram lindas ao passar, em tons de carmesim e violeta, sobre sua cabeça. — Mais veloz ainda que as nuvens, um bando de cisnes selvagens voou como um longo e branco véu sobre a água, rumo ao sol poente. Eu nadei nessa mesma direção, mas o sol se pôs e sua luz rósea foi engolida pelo mar e pela nuvem. — Suspirou recostando-se sobre um dos tantos amontoados de corais que existiam no castelo — Nunca me esquecerei daquela visão.

Depois chegou a vez da terceira irmã. Era a mais ousada de todas e nadou até um largo rio que desaguava no mar. Temari avistou admiráveis colinas verdes cobertas com videiras; castelos exuberantes e fazendas situados no meio de florestas; ouviu o canto dos pássaros; e o sol era tão quente que teve de mergulhar muitas vezes na água para refrescar o rosto ardente. Numa pequena enseada, topou com um bando de criancinhas humanas, divertindo-se, completamente nuas, na água.

— Eu quis brincar com elas — Contava Temari — Mas ficaram aterrorizadas e fugiram assim que me viram. Depois um animalzinho preto foi até a água. O animal latiu tanto que me assustei e voltei nadando para o mar aberto — Expressava-se exageradamente — Nunca vi um animal tão estranho! Ele tinha cabelos! Cabelos! 

A quarta irmã não foi tão ousada. Preferiu ficar no meio do mar selvagem, onde a vista se perdia ao longe no horizonte, mas foi exatamente isso, segundo a própria Tenten, que tornou sua visita tão maravilhosa.

— Eu podia ver por milhas e milhas ao meu redor, e o céu se arredondava em volta da água, me dando a sensação de infinito — Usava os finos braços para fazer movimentos excessivos para tentar demonstrar o que vira — Vi também muitos navios, mas a uma distância tão grande que mais me pareciam gaivotas. Brinquei com golfinhos nas ondas, e me aventurei perto das baleias gigantes, era tão divertido, Parecia que eu estava cercada por diversos chafarizes! Foi tão refrescante!

E agora era a vez da quinta irmã. Como seu aniversário caia no inverno, ela viu coisas que as outras não tinham visto da primeira vez. O mar perdera sua cor azul e adquirira um tom esverdeado e sobre ele flutuavam enormes icebergs.

— Cada um parecia uma pérola – Hinata disse – Apareciam nas formas mais fantásticas e brilhavam... Como diamantes! — A voz melodiosa da menina era tão doce que fazia suas palavras derreterem — Sentei-me num dos maiores icebergs, mas os navios pareciam ter medo dele, pois passavam navegando rapidamente e muito distante do lugar onde eu estava. Mais tarde naquela noite — Continuou — uma tempestade cobriu o céu de nuvens. Trovões estrondeavam, relâmpagos chispavam e as ondas escuras elevavam os enormes blocos de gelo tão alto que os tiravam da água, fazendo-os reluzir na intensa luz vermelha. Todos os navios recolheram as velas e em meio ao horror e ao alarme geral, eu, porém, permaneci sentada tranquilamente no iceberg flutuante, vendo os relâmpagos azuis ziguezaguearem no mar resplandecente.

Nas primeiras vezes que as irmãs subiram à superfície, ficaram encantadas de ver tantas coisas novas e bonitas. Porém, quando ficaram mais velhas e podiam emergir sempre que queriam, mostravam-se menos entusiasmadas. Sentiam saudade do fundo do mar. E depois de alguns meses diziam que, afinal de contas, era muito mais agradável lá embaixo. No entanto, muitas vezes, ao entardecer, as cinco irmãs davam-se os braços e flutuavam juntas até a superfície. Suas vozes eram encantadoras, como nenhuma criatura humana poderia possuir, e ali, sentadas sobre grandes rochas que recebiam as ondas revoltas, cantavam livremente, forçando suas cordas vocais com alegria, misturando a sua belíssima melodia com os sons do mar.

Quando as irmãs subiam pela água de braços dados, a caçula sempre ficava para trás, sozinha, acompanhando-as com os olhos. Teria chorado, mas as sereias não têm lágrimas e sofrem muito mais que nós.

Então, finalmente, num dia belíssimo de primavera, ela fez quinze anos.

— Bem, agora você logo escapará das nossas mãos – disse a velha senhora Tsunade para a jovem sereia — Venha, deixe-me vesti-la como suas outras irmãs.

Elas estavam no quarto da rosada, a senhora pôs sobre a cabeça da garota uma coroa de lírios brancos em que cada pétala de flor era metade de uma pérola. Depois, mandou trazer oito grandes ostras para prender firmemente na cauda da princesa e mostrar sua alta posição, mas claro, mantendo aquela que pertencia a sua mãe.

— Ai! Isso doi! – Sakura exclamou.

— Sim, a beleza tem seu preço – respondeu a avó.

Como a jovem de longos cabelos róseos teria gostado de se livrar de todos aqueles adornos e pôr de lado aquela pesada coroa! As flores vermelhas de seu jardim assentavam-lhe muito melhor, mas não ousou fazer nenhuma alteração.  Sabia o quão assustadora Tsunade poderia se tornar caso fosse contrariada.

— Adeus! – despediu-se entusiasmadamente, subindo água tão suavemente que assemelhava-se as bolhas que se elevam à superfície.

— Até... minha pequena — A outra lhe respondeu, acenando pela janela do quarto da garota enquanto a via se afastar cada vez mais. Porém, ela sentia em seu coração algo diferente, quase como se a estivesse avisando do que, em breve, iria acontecer.

O sol acabara de se pôr quando Sakura ergueu a cabeça sobre as ondas, mas as nuvens ainda estavam tingidas de carmesim e ouro. No alto do céu pálido e rosado, a estrela vespertina iluminava clara e vívida. O ar estava ameno e fresco, e o mar aprazível. Um grande navio de três mastros estava à deriva na água, com apenas uma vela içada porque o vento estava brando. Havia música e canto a bordo, e quando escureceu uma centena de lanternas foi acesa.

Sakura nadou até a escotilha da cabine e, cada vez que uma onda a levantava, podia ver através do vidro transparente uma quantidade de homens magnificamente trajados, roupas longas, quase pareciam vestidos, de cores distintas e com diversas estampas, tão delicadas quanto aparentavam os seus tecidos.

O mais belo deles, porém, parecia-lhe ser também o mais importante.

“Um príncipe!” ela pensou.

O jovem era admirabilíssimo, com olhos escuros, cabelos cor de ébano e apele claríssima, como a porcelana. Não tinha mais de dezesseis anos. Era seu aniversário e era por isso que havia tanto alvoroço. Quando o príncipe saiu para o convés, onde os marinheiros estavam dançando, mais de uma centena de foguetes zuniram rumo ao céu num esplendor, tornando o céu tão brilhante quanto o dia.

Sakura ficou tão assustada que mergulhou, se escondendo sob a água. Mas rapidamente pôs a cabeça para fora de novo, afinal, a curiosidade era a sua característica mais marcante. Parecia que as estrelas lá do céu estavam caindo sobre ela. Nunca vira fogos de artifícios, por isso sua imaginação a levava a fazer as mais distintas comparações.

 — É um pouco assustador no começo, mas... Agora se parecem com milhares de sois — Disse a si mesma. Aquela constatação fez o sorriso já existente em sua face alargar-se ainda mais.

Continuou a observar o grande navio, o próprio estava tão deslumbrantemente iluminado que se podiam ver todas as pessoas que lá estavam, e também, o quão elegante parecia o jovem príncipe quando apertava as mãos dos marinheiros. A garota gostaria de poder ver mais de perto, mas ali, de onde se encontrava, pode notar que o príncipe não parecia tão feliz quanto ela estava por presenciar tantas coisas belas. Poucas foram as vezes que ela o viu sorrir, somente acontecia quando um garoto loiro, que provavelmente tinha mesma idade que ele, o chamava para conversar. Mas, mesmo nesses momentos, os sorrisos do menino de cabelos negros eram contidos, rígido, como se não pudesse se permitir diante de todas aquelas pessoas.

Já era muito tarde, mas Sakura não conseguia tirar os olhos do navio ou do garoto, ele parecia-lhe estranhamente familiar. E não era porquê todos ali tinham aqueles estranhos olhos puxados ou as roupas largas e presas a cintos distintos. Havia algo mais, algo além da sua própria compreensão.

 As lanternas coloridas, enfim, se apagaram; os foguetes não mais subiam no ar; e o canhão cessara de dar tiros. Provavelmente estavam preparando-se para descansar. Mas o mar estava inquieto e era possível ouvir um som queixoso sob as ondas. Estas cresciam, nuvens negras se agrupavam no céu e relâmpagos faiscavam a distância.

Uma terrível tempestade estava se formando. Que terrível sorte para um dia de aniversário.

Por isso os marinheiros recolheram as velas, enquanto o vento sacudia o grande navio e o arrastava pelo mar impetuoso. As ondas subiam mais e mais altas, até se assemelharem a enormes montanhas, ameaçando derrubar o mastro. O barco gemia e rangia; suas pranchas sólidas rompiam-se sob as violentas pancadas do mar e por fim o mastro partiu-se ruidosamente em dois.

Naquele momento, Sakura entendeu que o navio estava em perigo.

Ela mesma tinha de ter cuidado com as vigas e os destroços à deriva. Em certos momentos ficava tão escuro que não conseguia enxergar nada, mas, então, o clarão de um relâmpago iluminou todos a bordo. O pandemônio era brutal, com homens desesperados correndo de um lado ao outro, por vez até lançando-se ao mar. Sakura procurava preocupada o jovem príncipe e, no momento em que o navio estava se partindo, viu-o despencar do grande barco, desaparecendo nas profundezas do mar.

Um assombro e um medo que ela nunca antes sentira atingiu com força seu coração, por um momento ela até mesmo esqueceu-se de como respirar, a visão daquele garoto que tanto lhe encantara sendo engolido pelas ondas a devastou.

Não, não, ele não podia morrer.

Assim, Sakura nadou entre os destroços que o mar arrastava, indiferente ao perigo de ser esmagada no processo. Mergulhava profundamente e emergia das ondas, repetidas vezes, até que finalmente encontrou o jovem príncipe. Ele mal conseguia nadar no mar tempestuoso. Seus membros fraquejavam; seus belos olhos estavam fechados; e certamente teria se afogado se Sakura não tivesse ido a seu socorro. Ela segurou-lhe a cabeça acima da água e abandonou-se com ele aos caprichos das ondas.

Quando amanheceu a tempestade cessara e não havia rastro do navio. O sol despontou da água, vermelho e resplandecente, e pareceu devolver a cor às faces do garoto; mas os olhos dele permaneciam fechados. Ambos, o príncipe e a sereia, estavam a deriva no mar. Sakura permita-se enfim vislumbras de perto o rosto do jovem homem que encatara-lhe durante toda a noite, mas agora encontrava-se desfalecido sobre os seus braços. Depositou um beijo casto sobre sua fronte e ajeitou-lhe para trás o cabelo molhado. Aos seus olhos, ele parecia a estátua de mármore que tinha em seu jardinzinho. Os mesmos olhos, os mesmos tipos de roupas, os mesmos cabelos esvoaçantes... Seria possível algo assim?

Afastou suas suposições e beijou-o novamente, no entanto, corajosamente, desta vez se dirigiu aos frios lábios do rapaz.

— Por favor...Viva!

Depois de mais algum tempo nadando pela imensidão azul, Sakura viu enfim terra firme, com suas majestosas montanhas azuis, no alto das quais brilhava a branca neve. Perto da costa havia adoráveis florestas verdes. A pequena baía se formava nesse ponto e a água era plenamente calma, embora muito profunda. A sereia nadou com o belo príncipe até a praia, coberta de fina areia branca. Ali colocou o homem sob o sol quente, fazendo um travesseiro de areia para sua cabeça.

Acariciou docemente o rosto do rapaz. Não sabia o que fazer, mas tinha medo dele nunca mais abrir suas profundas ônix’s. Num ímpeto, com o breve pensamento que inundou sua mente, ela mais uma vez o beijou, soprando profundamente o ar em seus pulmões.

Humanos precisavam de ar, e ela daria o ar para ele.

Depois de mais algumas tentativas, o homem começou a tossir. Não sabendo como um milagre como aquele havia acontecido, afinal já havia se passado muito tempo desde que tudo ocorrera.  A Pequena Sereia afastou-se surpresa, mas ao lembrar do que sua irmã lhe contou quando encontrou com as crianças, sentiu medo de como o príncipe poderia reagir, o que a levou a nadar  para bem longe da praia, escondendo-se atrás de uma pedra grande que se elevava acima da água. E depois, se pôs a apenas observar.

O príncipe já estava sentado, terminando de expelir os últimos resquícios de água que ainda existia dentro de si. Olhou ao redor, buscando recobrar a consciência e as lembranças. Afinal, a última coisa da qual se lembrava era do barco partindo-se ao meio e logo em seguida ser engolido pela imensidão negra. Forçava a mente em busca do menor detalhe que fosse possível, mas a única coisa que conseguiu foi um som.

Não, não um som.

Uma voz.

“Viva”

Ou algo muito próximo disso.

Seria talvez um sinal dos céus? Mas, porque a voz pareceria tão feminina?

Ainda perdido, esforçou-se para pôr-se de pé. Reconhecia aquela praia, não era longe de onde morava. Decidido, caminhou a passos largos em direção a floresta, mas parou inesperadamente, sentindo algo em seu coração. Virou-se mais uma vez para o infinito mar, encarando-o profundamente...

E suspirou.

Voltando ao seu caminho.

Sakura, igualmente se permitiu suspirar. Sentia-se tão infeliz com a partida do garoto que mergulhou de volta para o palácio de seu pai com o coração aos pinotes. O medo e a dor atingiam-lhe o peito.

E se ela nunca mais pudesse encontra-lo?

~*~

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! E caso não tenham lido os aviso no começo do capítulo, por favor voltem lá e leiam! É de suma importância que façam isso!Enfim, logo trarei o próximo! Não deixem de comentar o que estão achando e sobre qual rumo a história vai tomar!
~Bellatrix ♥

https://pt.wikisource.org/wiki/Contos_de_Andersen/A_pequena_sereia



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