Amor e acaso escrita por Madame Pontmercy


Capítulo 10
A calmaria antes da tempestade


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus queridos, espero que estejam todos saudáveis
Tá demorando, mas estou postando haha



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Georgiana estava bastante satisfeita com sua vida em Sanditon, ela já não fazia pressão negativa sob si mesma, se sentia livre para falar abertamente sem medo de ser julgada e leve por não estar sufocada pelo marasmo no qual havia se prendido em Pemberley.

As últimas manhãs eram aproveitadas na praia diante das falésias que finalmente começara a desenhar com a companhia agradável de Charlotte, ao passo que os almoços contavam com a participação não apenas de Miss Heywood, mas também de Mr. Stringer que passava parte da manhã com Edward para tratar sobre a construção de seu palacete, principalmente agora que já havia comprado o terreno e Mr. Parker organizava o início da obra.

Suas tardes eram acompanhadas por James que a ensinava sobre arquitetura, além deles conversarem sobre amenidades até panorama político internacional, eles se tratavam como velhos amigos que implicam e repreendem um ao outro. Georgiana concluiu que mantinham uma excelente amizade peculiar ante a formalidade exigida entre homens e mulheres que não eram parentes ou amigos da família.

Enquanto a moça refletia sobre sua felicidade, Rose arrumava a cascata de cabelos dourados que careciam de um penteado especial para chegada do irmão, todavia, o semblante triste da criada despertou Miss Darcy da contemplação de sua própria rotina, mas não teve coragem de perturbá-la ainda mais ao questionar seu estado,  sabia bem que Rose não revelaria nada como todas as vezes anteriores que tentou ser descobrir algo de seu passado.

Um falatório atípico emanava no andar inferior chamou a atenção de Georgiana que assim que estava pronta rapidamente se dirigiu já imaginando quem era o motivo do alvoroço. Do alto da escada avistou o irmão com sorriso discreto rodeado pela esposa e pelos primos, sem nem mesmo ter conseguido tirar seu chapéu.

— Will! – exclamou a jovem correndo para alcançá-lo e abraçou com o irmão que sorriu amplamente.

— Como está minha irmãzinha?

— Apesar de ter vindo cumprimentá-lo de maneira despreocupada, sabe bem que não sou mais criança – fingiu ofendida – estou muito bem e ansiosa para saber as novidades.

— Assim que eu me repor descerei para os acompanhar, mas já te adianto a carta de Catherine certamente poderá te informar as novidades melhor que eu jamais conseguiria fazer – brincou Mr. Darcy provocando risada em todos que conheciam bem a capacidade de Lady Crawley em obter informações.

Logo após Mr. Darcy entregar as cartas, as três mulheres seguiram para a sala de estar interessadíssimas nas fofocas e novidades de Londres contadas por Kitty de forma adaptada para cada destinatária, apesar de Georgiana receber a narrativa bem mais longa, não continha os detalhes sórdidos que estavam nas demais para preservar sua inocência.

— Sempre tem uma moça indo passar a temporada na Itália – comentou Eloise com malícia.

— Ora, Eloise, nós mesmas deveríamos conhecer a beleza do lugar, aproveitar o calor e admirar a arquitetura – censurou Elizabeth, revirando os olhos diante do olhar inquisitivo da Mrs. Fitzwilliam – mas devo concordar com Kitty que está claro que esta senhorita foi despachada para evitar consequências sociais dos boatos indecorosos.

— Não quer dizer que os boatos são verdadeiros para Miss King ser linchada socialmente e afastada de seu lar – retrucou Georgiana.

— Infelizmente, vivemos numa realidade onde a aparência que molda nossa reputação e a situação é ainda mais drástica para nosso sexo, claro que algum desafeto pode ter inventado para lhe causar mal, mas também ela é crescida o suficiente para entender as implicações de sua conduta – lamentou Elizabeth.

Miss King tornou os boatos verdadeiros assim que desapareceu do baile com um rapaz bonito e solteiro que nem sequer era do círculo de convivência familiar, enquanto aquele noivo idiota perguntava para todos convidados se tinham a visto – completou Eloise com desdém – Eu sentia pena por ela estar comprometida com um homem tolo, mas se provou ser ainda mais tola por agir de forma tão desleixada na frente de todos. Me resta rir da coincidência de todas as jovens descuidadas passarem uma temporada no continente.

— Mais um motivo para não suportar a sociedade londrina – Georgiana deu ombros.

— Nem tudo é falso na capital, apenas depende de seu interesse e suas atitudes. Agora vamos, porque Lizzie precisa comer e eu preciso insistir que coma bastante antes que Mr. Darcy apareça.

O almoço se resumiu a dar informações sobre Sanditon que não foram completamente esmiuçadas nas cartas de Elizabeth e coronel Fitzwilliam, especialmente satisfazer a curiosidade de Mr. Darcy sobre o local da futura residência de Edward e Eloise.

— Agora estou bastante ansioso para conhecer James Stringer. Em contrapartida, lamento em dizer que a única novidade que trago é a presença dos Blackwood por tempo indeterminado.

— Estou impressionada por Lady Blackwood não ter se convidado para vir ao chá da tarde hoje mesmo – debochou Eloise.

— Também lamento dizer que ela me encurralou a convidá-los para o jantar de hoje.

— Ora, não é possível que ela não tenha limites – reclamou Georgiana junto com um coro de resmungo dos outros indivíduos.

— Não temos motivos palpáveis para cortar relação com os Blackwood, sinto muito, mas temos que suportar a presença de Lady Blackwood – justificou Elizabeth de forma complacente.

— Infelizmente, temos concordar – comentou coronel Blackwood resignado.

— Eu farei o possível para estar longe das vistas daquela mulher insuportável, torço para que John se case o mais rápido possível e ela esqueça de mim.

— Estou abismado com seu comportamento, minha irmã, jamais a vi tão descomposta – observou Mr. Darcy assustado com a postura diferente da doçura habitual de Georgiana.

— Minha paciência está desgastada pela perseguição desenfreada de Lady Blackwood, já que nos resta aceitá-la eu me manterei indisponível para suas tentativas descabidas e humilhantes de ser minha sogra – explicou com olhar furioso para o irmão.

— Meu querido, ela não está errada de se comportar dessa maneira com Lady Blackwood que não retribui a cortesia, na verdade, fico feliz de ver que finalmente você está expondo sua opinião, Georgiana – amenizou Elizabeth.

— Impossível me manter em silêncio vendo a bela temporada que imaginei ter aqui ser abalada pela falta de bom senso alheio.

— Eu não irei censurá-la se conseguir esquivar de Lady Blackwood com sutileza, confesso que desejo que um de dois se case apenas para evitar a dor de cabeça que ela me causa – desabafou Mr. Darcy.

— Então devemos torcer para que Lord Blackwood encontre uma noiva o mais rápido possível – desdenhou Georgiana reforçando a falta de vontade de contrair matrimônio, cansada de ser o assunto da mesa.

— Vejo que Sanditon te concedeu inspirou não mais guardar seus pensamentos, minha irmã, talvez eu devesse me preocupar, mas concordo com Elizabeth e gosto muito de te ver descontraída.

— Agradeço o carinho, mas falamos demais sobre mim e continuo me constrangendo pela atenção excessiva – falou Georgiana em tom baixo, recebendo o sorriso complacente de Mr. Darcy.

— Bom, gostaria de saber quando serei convidado para conhecer o local da futura casa dos meus primos.

— Podemos ir essa tarde mesmo – respondeu Edward com bom humor.

— Podemos ir todos nós, o tempo está excelente para caminhamos um pouco e respirarmos a maresia – complementou Mrs. Darcy.

Após passarem do leve burburinho do centro da cidade e seguirem na orla da praia por poucos minutos até dobrarem numa rua calçada com brita que seguia a baixa colina acima até a estrada para Londres. Eles caminharam um pouco menos 10 minutos antes de começar a ladeira e se deparam com um palacete em construção a alguns metros de distância com três pessoas na frente da estrutura, Georgiana reconheceu apenas Tom Parker e James Stringer, o terceiro era um homem bem alto com cabelos escuros e vestes refinadas como as de Mr. Parker.

— Bem-vindo à minha futura casa, Darcy – celebrou coronel Fitzwilliam – Apesar dos protestos de Georgiana, escolhemos este terreno por não tão longe do comércio, mas não é tão perto do povoado ao ponto de não termos sossego.

— Em minha defesa, não tenho nada contra este local – justificou a moça diante do olhar curioso do irmão e a risada abafada dos demais – Mas o próximo terreno está na colina e tem uma vista mais ampla do litoral, além de não ser tão distante da estrada principal e do bosque encantador.

— E ficaríamos bem mais perto da Lady Denham, seríamos vizinhos e não estou disposta a sempre ouvir suas opiniões fortes. Além disso, aqui temos uma estrutura quase pronta, tem belas árvores ao fundo e o tempo de entrega será muito menor – ressaltou Eloise, já acenando de volta para Mr. Parker que notou suas presenças.

Georgiana preferiu não continuar o debate que havia perdido e continuou andando, a visão de James a fez sorrir involuntariamente porque hoje não teria a companhia do amigo por ser domingo, o dia de folga do tutor, e agora poderia ao menos vê-lo.

— É um prazer revê-los, meus amigos – disse Tom Parker com sua usual voz afetada para dar impressão de respeito – Finalmente posso apresentar meu irmão, Sidney Parker, agora já temos tudo para iniciar a empreitada.

— Me alegra ouvir isso, Mr. Parker. É um prazer conhecê-lo, Mr. Sidney – saudou Coronel Fitzwilliam – Este é meu primo, Mr. Darcy, e estes são Tom Parker e James Stringer.

— É uma imensa alegria ter o senhor em nossa cidade, Mr. Darcy – comemorou Mr. Parker ainda de maneira afetada ao apertar as mãos do recém-chegado enquanto James apenas acenou com cabeça – venham que irei mostrar o andamento da obra.

James sabia que não seria adequado cumprimentar calorosamente Georgiana, contudo, não queria ignorá-la ainda mais quando ela estava sorrindo para ele e aquilo acelerava seu coração, resolveu apenas acenar com a cabeça e um leve sorriso, manter a compostura diante de sua família e prestar atenção em Mr. Parker.

Em seguida, as mulheres os deixaram para continuar sua caminhada pelo terreno, inclusive Georgiana que gostaria de ter ficado se não lhe parecesse inapropriado, a moça andava com olhos prestando atenção nos homens, ao passo que James explicava brevemente a planta da residência seguido por Mr. Parker que falava sobre o planejamento da construção.

— Georgiana, está me ouvindo? – perguntou Elizabeth.

— Desculpe, Lizzie, estava distraída.

— Pelo jeito está com a cabeça naquela reunião, você podia ter ficado, ninguém ousaria questioná-la diante de Will e Edward e eles não a censurariam pois sabem sobre seu interesse em desenho.

— Não sei, Elizabeth, receio que seria um pouco estranho – retrucou Eloise – Talvez fosse melhor que nos pedisse para ficar lá, querida.

— De forma alguma, eu não iria privá-las de seu passeio. E concordo com Eloise, minha presença não seria adequada.

— Podemos voltar, não me importo de ouvir mais uma vez como ficará minha casa.

— Não, não tem problema. Na verdade, gostaria muito de encontrar com Charlotte – declarou Georgiana ao processar a chegada de Sidney Parker.

— Então vamos, andar me ajuda muito a espairecer – respondeu Elizabeth e seguiu levemente ansiosa em direção à cidade.

— Como está, Lizzie?

— Fisicamente estou bem, mas emocionalmente estou afetada, achei que seria fácil esconder a gravidez, só que sinto um nó na garganta toda vez que falo com Will, não sei quanto tempo vou aguentar manter esse segredo – desabafou Mrs. Darcy cabisbaixa.

— Ah Lizzie, sinto muito, não é melhor contar logo a verdade?

— Não, não quero passar pelo estresse da última vez.

— Eu nem imagino sua dificuldade, Elizabeth, por isso não saberia te aconselhar, melhor fazer o que seu coração achar o certo – disse Eloise.

— Vou me fortalecer pensando que meu bebê está crescendo bem e logo isso vai passar.

Georgiana e Eloise engancharam em cada braço de Elizabeth transmitindo todo afeto e seguiram falando bobeiras sobre o encontro com Lady Blackwood para distraí-la das preocupações. Em pouco tempo elas chegaram em Trafalgar House, deixaram Georgiana e seguiram para o comércio.

— Boa tarde, Miss Darcy – disse o mordomo em seguida a levou para a sala de estar – Chamarei Miss Heywood.

— Na verdade, acredito que ela esteja indisposta, poderia me anunciar em seu quarto?

O mordomo ficou surpreso com o pedido da moça, mas assentiu e se dirigiu ao quarto de Miss Heywood, logo após ele voltou para acompanhar Georgiana.

— Já deve saber a novidade – falou Charlotte sem ânimo.

Charlotte estava sentada em sua cama encarando o vazio com os olhos bem vermelhos rodeados por olheiras e os cabelos levemente bagunçados de quem estava deitada, a visão assustou Georgiana que só viu algo parecido quando Elizabeth havia perdido o bebê.

— Eu o conheci na obra dos meus primos – respondeu sem saber o que dizer.

— Tive que cumprimentá-lo, bem como sua noiva, senti como se meu coração estivesse sendo esmagado, mas tive que fingir que não havia nada de errado e ainda sorrir.

Georgiana abraçou a amiga porque nada que pudesse dizer que amenizaria a tristeza dela enquanto Charlotte solucionava compulsivamente.

— Eu sinto muito, você não merece tanta infelicidade.

— Eu não vou conseguir ficar em Sanditon, porque ver Sidney e saber que ele me ama tanto quanto eu o amo dói bastante já que não existe a possibilidade de ficarmos juntos.

— Não vou insistir para que fique e darei um jeito de te distrair, talvez devamos ir a Londres quando voltar da casa de seus pais, apesar dos meus receios a capital tem muita coisa para se fazer.

— Obrigada pelo afeto, Georgiana, eu só ficarei para o casamento amanhã e no dia seguinte partirei, me desculpe não poder te ajudar a fugir de Lady Blackwood.

 — Eu darei meu jeito de lidar com ela, talvez consiga usar as aulas de Mr. Stringer nos dias de semana para fugir – disse com sorriso fraco – Vou te deixar descansar para suportar o casamento de Miss Denham.

— Agradeço muito o carinho em me visitar.

Miss Darcy seguiu para Sea House ainda abalada pelo sofrimento de Charlotte, ao chegar percebeu que ninguém havia chegado e se alegrou ao ser informada de que Lady Blackwood apareceu logo após saírem, esperou até pouco antes dela chegar e foi embora sem receber a atenção que buscava. Entrou em seu quarto e se deparou com Rose arrumando as coisas chorando bastante.

— Rose, o que houve?

A moça se assustou, logo se empertigou e escondeu as lágrimas.

— Nada, senhorita.

— Não tente me enganar, não quero ser intrometida, mas agora não se trata mais da minha curiosidade e sim do seu bem-estar.

— Agradeço a preocupação, mas não é algo que precise se preocupar.

— Rose, nesse estado você não pode trabalhar, terei que informar Mr. Brown sobre suas condições para que ao menos descanse.

— Por favor, não diga nada, eu preciso muito desse emprego, te conto tudo, mas não diga nada ao Mr. Brown – implorou Rose se ajoelhando perante Georgiana – Estou aqui em período de avaliação, não posso cometer nenhum erro, preciso muito do meu salário.

— Fique tranquila, não direi nada. Sente aqui e me diga o que está acontecendo, quem sabe eu posso ajudar.

— Não acredito que consiga – respirou fundo e continuou – Eu me entreguei para um homem pensando que ele me amava, mas ele me largou por meio de uma carta como se eu não significasse nada. Te imploro para que não conte nada a ninguém ou estarei arruinada e desempregada sem nenhuma perspectiva de sustento.

— Eu jamais exporia uma mulher enganada ao julgamento impiedoso da sociedade – falou com firmeza encarando a jovem chorosa – Você me parece ter instrução suficiente para conseguir salário melhor como preceptora ou governanta, por que está aqui?

— É um emprego mais fácil de conseguir, nem precisei uma carta de recomendação, só por ter estudado num internato para moças e ser órfã Mr. Brown me deu um voto de confiança para trabalhar aqui.

— Não podia continuar no internato trabalhando?

— Eu tive que me afastar, o caso amoroso resultou num bebê que consegui que ficasse lá, não podia abusar da boa vontade da diretora.

Georgiana não disfarçou ao colocar as mãos de surpresa com o desfecho da história trágica, agora fazia sentido ser tão fechada e trabalhar num cargo inferior ao que estava habilitada, uma mulher solteira com uma filha bastarda não podia se dar ao luxo de ser descoberta.

— Eu sei que me acha uma mulher perdida e desonrada, mas não diga nada, minha filha só tem um ano e só tem a mim para assegurar seu futuro, quase tudo que recebo vai para a poupança dela – implorou novamente em lágrimas.

— Não te julgo mal, você foi enganada, eu julgo mal o homem que te deixou sozinha grávida – retribui Georgiana percebendo que a expressão de Rose mudou para tentar conter algo – O que foi?

— Nada.

— Terei que insistir?

— Na verdade, a senhorita não julga o homem que me fez isso.

— Claro que julgo, como é possível não pensar mal de alguém faça algo assim?

— Eu ouvi como a senhorita estima John Blackwood.


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Notas finais do capítulo

Boa Páscoa!



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