Parfois, la fin n'est que le début escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Lançar antes da terceira temporada chegar, e eu desistir rs



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“(...)Sometimes the end is just the start, hold on

Stay strong, this where we find out who we are(...)”



As lágrimas vinham como vertente de um rio. Sentia-as cair em cascata sobre a face e encontrar jazigo nas peças de roupa; naquele momento à calça que vestia, sentindo as pernas ensopadas pelo líquido cristalino que parecia eternizar a dor de estar sozinho. 

O antigo lar, aquele viajante onde outrora por décadas seu pai viveu sozinho na imensidão do silêncio, este que fora quebrado por Lisa, sua doce e falecida mãe. Silêncio que agora Adrian precisava suportar, o silêncio que fazia pressão em seus ouvidos e fazia-o transbordar de dentro para fora, vazando solidão em meio à solidão. O silêncio que era quebrado apenas por suas lágrimas que por vezes encontravam o chão, e ecoava um baixo, mas audível som agonizante. 

Enxugou-as, não que temesse que alguém fosse vê-lo em deplorável estado. Não havia restado mais ninguém. Por fim passava a entender o que ser basicamente imortal significava a um vampiro, ou a um meio vampiro. 

Caminhou por tempos de cômodo em cômodo, pondo ordem àquilo que havia quebrado, ajeitando o que chamaria de seu eterno lar, fosse na luz do dia, ou por fim à calada de sua eternidade quando encontrasse finalmente a paz e o descanso. 

Redecorou, à imagem e semelhança conforme sua boa memória o instruía. Tal como aquelas vívidas recordações, recorrentes as que via sua família ainda unida e feliz, sua mãe correndo atrás daquele pequenino que havia crescido e agora teria a eternidade para ficar só. 

Os dias arrastavam-se em tal proporção, que Adrian chegou até mesmo a perder-se nas datas, por um tempo chegou também a perder-se entre dia e noite. Tão trancafiado havia ficado nas entranhas de um castelo que seria seu mausoléu, seu túmulo, seu fim. Quando voltou a diferenciar de de noite, fora quando por fim deixou que a reconstrução do castelo esperasse. Saiu em busca de ar, vendo as ruínas do lar de uma pessoa que cresceu só, e achou no mundo um coração tão valente quanto o seu; Trevor. Ali, em meio às ruínas de duas construções tão distintas, encontrava-se em casa. 

A curiosidade em achar mais sobre sua espécie em livros tão bem detalhados, a curiosidade em novos dialetos há muito perdidos e naqueles livros eternizados. A magia que o cativou pelas mãos habilidosas de Sypha, que agora ele também podia ler em meio aos livros ritualísticos. 

Distraía-se com os estudos, tornava-se um autodidata. Letrado em tantas outras línguas, magia e conhecimentos gerais. Adrian Tepes achou ali um recomeço solitário à uma vida de tormenta. 

Arou a terra, fez nela plantio de flores e frutos. Alimentou-se de carne e sangue de animais que se perdiam do bando. Aprendeu a lidar com tudo, e com o nada. Com o silêncio e com os berros noturnos que o acometiam quando por fim tentava descansar as pálpebras cansadas pelos inúmeros livros que lia. Era a solidão tomando conta do corpo e do peito vazio. Era a tristeza enraizando-se na alma que muitos diriam que ele sequer teria. 

Aquela era mais uma daquelas noites, quando a insônia fazia tormenta, quando a dor fazia-o chorar de modo silencioso e discreto, mas de forma constante, molhando o lençol que o cobria na cama, estando sentado olhando para o quadro pintado de sua família falecida. 

 



Não muito longe, ao menos não mais, estava Trevor. De volta ao lugar de onde soube depois que não deveria ter partido. A aventura ao lado de Sypha não era algo que o preencheria, como achou que faria. Não negava ter passado bons momentos ao lado da oradora, mas não mentiria e diria também que era a vida que almejava manter. Era uma aventura, isso era, mas ainda lhe faltava algo. Algo que numa noite fria e chuvosa, descobriu não achar nos braços da bela mulher. Nem em suas palavras. 

 

“Tirei você daquilo que estava bem diante dos seus olhos por todo o tempo em que ficamos juntos. A sua tristeza combina com a que ele carrega na alma, Trevor.”

Você acha que ele tem uma?”

“Talvez uma melhor do que a minha, e a sua.” 

 

Era a conversa que ele agora passava em mente, enquanto cavalgava não à esmo, pois sabia como voltar ao lar. Mal tirava tempo para descanso, quando sabia que outra pessoa, sofria em meio à solidão. Aquela mesma que por anos ele cultivou com amargura.  Seguia com a certeza de que, ao chegar em casa, seria recepcionado por um sorriso esnobe e um dedo do meio em riste. 

Pouco se importava para a hostilidade, na verdade uma parte de si esperava por aquilo, porque seria como de fato reencontrar aquilo que jamais deveria ter deixado para trás. 

O trote do cavalo parecia até mesmo lento em comparação à sua saudade, e isso, ah!, não teria compreendido tão cedo se estivesse sozinho. Precisou um empurrão, um beliscão e uma água jogada de forma mágica contra sua cara, mas era um detalhe pequeno, algo que ele claramente deixaria de lado ao reencontrar Alucard. 

Quando ao longe avistou as ruínas de sua casa, sorriu contra sua vontade, sequer notando o largo sorriso que afastava sua tradicional carranca. A lua era a iluminação perfeita para as ruínas de seu antigo lar, de seu futuro lar, se tudo corresse como o esperado. Ou era se corresse conforme o que não era esperado? Sypha havia falado tanto que aquela altura até Trevor estava confuso, e sem uma gota de álcool no organismo para por a culpa! 

Era tão tarde, a neblina e o escuro do céu entregavam o avançar da noite. O vento frio parecia um açoite contra o rosto desprotegido. Forçou os sapatos nas ancas do cavalo, forçando-o a galopar ainda mais veloz na noite fria, rumo àquele vazio até que chegasse próximo ao castelo viajante que não mais sairia do lugar.

Deixou-o naquilo que futuramente poderia ser um estábulo, por enquanto era apenas um improvisado refúgio. Uma tapagem próxima ao poço d’água. Por sorte havia algumas folhas que serviria de alimento, e um balde fora puxado para dar água ao cavalo, e claro, o devido descanso. Amarrou-o ali, para que não fugisse e se perdesse em meio ao nada, ao vasto e poderoso terreno que poderia muito bem ser perigoso. 

Qual não foi sua surpresa, as portas não estavam trancadas. Alucard não precisaria daquilo, tamanha proteção num lugar como aquele onde quase ninguém teria coragem de pisar. Sorriu convencido achando que seria tudo moleza, que achá-lo em meio aqueles inúmeros cômodos seria a coisa mais fácil da viagem. Andar por andar, buscou nos cômodos esquecendo-se momentaneamente que até mesmo ele deveria dormir e descansar, dando-se conta disso, algo que deveria ter notado assim que colocou os pés naquele castelo. Correu até o quarto, mas parou à porta. A última vez que esteve naquele cômodo, fora na morte de Drácula. Talvez não fosse bem-vindo ali. Então respirou fundo e posicionou a mão para que batesse na porta. Teria batido, teria esperado por um aval ou uma renúncia à seu pedido. Mas o grito em lamúria o despertou e fez com que o corpo agisse sem que sua mente de fato compreendesse o que estava fazendo ao girar a maçaneta e forçar o corpo para dentro do cômodo. Não reparou se estava ou não refeito, se ainda tinha a marca de onde Drácula queimou até a morte, não notou nada que não Alucard sentado na cama, as lágrimas molhando o rosto suave e de pele alva. Não notou muito do molhado de lágrimas no colo que era coberto por um lençol fino. Trevor só notou que ele chorava, e notou o quanto isso o desconcertava e machucava. 

Indo contra qualquer lógica, ou até mesmo modos, correu até ele subindo à cama da forma como ainda estava, roupa e sapatos sujos, pouco se importando, que não para certificar-se de que tudo estava bem. 

—  Trevor? —  a voz baixa e os olhos dourados perdidos em meio às lágrimas de uma dor que o Belmont reconheceu como genuína. Logo puxou para si o lençol, cobrindo o torso, não desnudo, não se importava com isso, mas cobrindo o rosto banhado em lágrimas, inclinando o rosto para que os fios louros cobrissem também a face. 

Aterrorizante, era essa a sensação que acometera-o ao ver a cena. Queria tocá-lo, levar sua mão aquele rosto que parecia esculpido. Queria trazê-lo para perto de seu peito e lhe prometer que nada de mal o alcançaria ali, tampouco pesadelos. Mesmo sabendo que seria aquela uma promessa leviana, quase impossível de ser cumprida. Faltava também o tato, aquele mesmo que Sypha reclamou não uma, mas várias vezes. À Trevor Belmont faltava o tato de saber como lidar, e o que falar em situações como aquelas. 

Pigarreou então, levando a mão ao ombro de Alucard, puxando o lençol para que não mais o cobrisse. Vendo como eram cristalinas as lágrimas, o modo como ele evitava olhar de volta. Talvez estivessem errados ao pensar que ele se daria bem estando ali sozinho. Ele e Sypha erraram ao cogitar que Alucard, não!, que Adrian Tepes ficaria melhor sem eles, em meio às ruínas de sua vida. No mausoléu de seus maiores pesadelos, de uma vida que não mais poderia ter, vivendo como fora outrora sentenciado ao Drácula; uma eternidade de solidão. 

—  Adrian? —  chamou com a voz falha, sem saber se seria bem-vindo em meio à um momento de dor tão íntima. 

—  Alucard —  corrigiu-o, como se para afirmar que daquele meio humano nada havia restado, era apenas o espelho inverso do Drácula, aquele que havia conseguido detê-lo.

—  Adrian —  forçou, recusando-se a chamá-lo por um nome que o afastaria ainda mais. Não era o intento no fim das contas, afastá-lo. Pelo contrário, queria trazê-lo para perto, do momento atual quando ambos naquela cama em meio à lágrimas, quanto à realidade restante de que Adrian tinha escolhas, que poderia ser um meio vampiro e um meio humano, que teria nome próprio e que não precisaria ser o espelho de seu pai, ou a imagem quase copiada de sua mãe. Chamava-o assim para que fosse aquele que ele conheceu, aquele por quem se afeiçoou, mesmo contra todas as expectativas, contra suas próprias apostas de que aquele convívio nunca daria certo. Estava pagando a língua e as apostas eram perdidas para ninguém além dele mesmo —,  não sabia que estava sentindo tanto a minha falta. — Claro, não seria Trevor Belmont se ele não dissesse alguma asneira na intenção de deixar o clima mais leve.

E funcionou, ao menos para deixar Alucard um tanto confuso, e então com a típica cara de quem tentava mostrar que em nada sentia falta do outro. 

—  O que faz aqui? —  a voz austera se fez presente, mesmo que até o momento o choro fosse recorrente. 

Ele sabia, por mais que não quisesse enxergar; Trevor Belmont ali significava apenas uma coisa, que ele queria voltar. Que queria ficar ao seu lado. Mas ainda assim buscou as informações completas:

—  Sypha o mandou de volta? Não aguentou seu mau humor e a sede por uma cerveja? 

Trevor deixou que falasse, sorriu involuntário enquanto Adrian arrumava-se, alinhando a postura enquanto sentado naquela cama, para então se colocar de pé. Os fios dourados como o sol caíam em cascata pelas costas e ombros largos. Era o momento perfeito para enxugar o rosto, mantendo uma parcela de sua dignidade ao fazer isso de costas à Trevor. 

Não fora o bastante para impor qualquer distância, não quando o Belmont se pôs de pé, tocando o ombro de Adrian com certa força na ponta dos dedos, forçando-o a virar e encará-lo. 

Olho no olho, a destra de Trevor sobre o rosto maculado por lágrimas. O toque tão suave quanto nenhum dos dois pensou ser capaz, o polegar a resvalar na bochecha, secando de vez as lágrimas que ainda insistiam em seguir o caminho ao chão. 

—  Vim por vontade própria, pensei que você não saberia o que fazer com tantos livros e tanto espaço. Estava certo! —  o tom era de uma implicância já familiar. Custava talvez admitir que havia voltado porque sentiu-se sozinho, mesmo com a amizade de Sypha. Era complicado admitir que sua tristeza cabia perfeitamente com a de Adrian. 

Os olhos avermelhados, a humanidade latente nas íris douradas. Tudo em Alucard clamava por atenção e carinho. E fora o que Trevor lhe deu, da maneira que sabia. Parecendo abrupto, indelicado o modo como os lábios prensaram-se aos de Adrian. E teria se afastado, se as mãos dele não o tomasse às costas, fazendo o tecido esgarçar pelo esforço exercido sobre ele, pelas falanges que puxavam-no. 

Às vezes, bem, às vezes o final era apenas o começo. E precisou que se distanciassem para que notassem isso. A certeza no momento era que Adrian não mais se sentiria só.


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Notas finais do capítulo

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