Hermanos Continuação escrita por Leh Linhares


Capítulo 4
Capítulo 6 - Reencontros


Notas iniciais do capítulo

Segue mais um capitulo pra vocês!! Espero que vocês gostem...



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Pov. Lucrecia

Eu recobrei consciência algumas vezes antes de realmente conseguir ficar acordada e entender o que tinha acontecido. Eu estava viva, tinha sido socorrida a tempo, sei que deveria estar feliz, mas não conseguia não me sentir decepcionada. Nada tinha mudado, ainda me sentia sozinha e presa num vazio tão intenso que me fazia querer chorar compulsivamente e gritar por socorro.

Não fiz nada disso, não adiantaria, não me surpreendi de perceber que estava sozinha no que parecia ser uma UTI, estava com uma máscara de oxigênio no rosto, que eu logo tirei, e outros aparelhos registrando meus batimentos e um soro na minha veia. Meu instinto era tirar tudo aquilo de mim e fugir, correr para qualquer lugar onde eu pudesse me esconder tempo suficiente para ser esquecida.

Antes que eu tivesse tempo de fazer qualquer uma dessas coisas uma enfermeira se aproximou recolocando a máscara no meu rosto e me explicando pausadamente, como se eu fosse uma retardada o que tinha acontecido.

— Lucrecia, meu nome é Martina! Sou uma das enfermeiras da UTI, que tem cuidado de você. Você está no Hospital Universitário de Madrid, porque teve uma overdose. Seus pais já estão a caminho para ficar com você, sei que a máscara é incômoda, mas sem ela seu nível de oxigênio fica muito abaixo do ideal. Vamos mantê-la então, certo? — Acenei simplesmente porque não queria ouvir nem falar com ninguém. Fechei meus olhos ciente de que fugir dali não seria nem um pouco fácil então se eu queria realmente acabar com tudo de uma vez teria que esperar um pouco mais. Segurei minhas lágrimas nos olhos e tentei dormir, não queria encarar meus pais depois que eu fiz, se eles soubessem ficariam tão envergonhados.

Senti a mão da minha mãe antes dela falar qualquer coisa, acho que tinham anos que ela não me tocava e confesso que me surpreendi ao perceber que não desgostava do toque, mas era estranho, parecia algo falso e por isso não abri meus olhos, não queria falar e se ela souber o que eu fiz?

— Filha, minha pequena, imagino que você deva estar cansada. Os médicos disseram que sua recuperação vai ser longa, mas que teve sorte, não deve ter sequelas graves, caso tenha alguma e é possível que nem tenha sequelas. Por que fez isso? Sempre achei que era você que instigava seu irmão a ser uma pessoa melhor, mas aparentemente não, acho que é um pouco minha culpa, nunca fui muito presente na sua vida, mas prometo que isso vai mudar. Você sempre foi uma menina muito boa e madura, mas ainda é uma menina e precisa dos pais por perto pra te ajudar nas escolhas e para te afastar das más companhias. Foi difícil para nós dois, mas a verdade é que Valério sempre foi um mau exemplo pra você e de agora em diante Valério nunca mais pisa na nossa casa, deixamos ele na sua vida tempo demais, e olha os estragos que ele fez... — Foi difícil, mas eu abri meus olhos. Precisava responder aquilo, tinha passado a vida inteira calada enquanto maltratavam o Val, e dessa vez não ficaria calada. Se tudo desse certo ele seria o filho que restaria, eles precisariam dele. Tinha uma frase pronta na cabeça, mas no fim só consegui soltar um sussurro baixo.

— Valério? ... está aqui? — Disse lutando contra uma sede terrível.

— Não, nós o avisamos, mas ele está ocupado no internato. — Respirei fundo segurando as lágrimas, quem eu estava querendo enganar? O fato de eu quase morrer não mudava a babaca que eu era e que ele tinha me superado. O tempo onde ele viria atrás de mim a qualquer custo tinha acabado. Eu sabia disso, por que é tão difícil ter certeza disso?

— Por favor água... — Minha voz ainda era fraca e irreconhecível. Ela me deu água de um copo com canudo do lado da cama, e tocou minha mão suavemente.

— Filha, eles querem saber como tudo aconteceu, quer me contar? — Não, eu não queria e conhecendo essa mulher ela também não queria. Uma overdose é uma coisa, agora uma tentativa de suicídio é demais para qualquer um deles. Montesinos são corajosos demais para fazer algo assim, isso é coisa de maluco, é o que ouvi minha vida toda. No fim sentia que não pertencia a essa família.

—Não me lembro... — Falei pausadamente, era mentira, mas duvido que alguém desconfiaria. 

— Pobrezinha... com o tempo as lembranças devem voltar...

— Senhora Montesinos, o horário de visitas acabou tem cinco minutos, Lucrecia precisa descansar. — Disse Martina me salvando, minha mãe saiu, e eu fechei meus olhos caindo no sono de novo. Sonhei com Valério e Samuel, no sonho os dois vinham me visitar, se preocupavam comigo, acordei com um sorriso no rosto, por um segundo pensei que fosse real. A realidade na verdade era triste continuava sozinha e pelo visto continuaria assim até ter a coragem de tentar de novo. Os únicos que me visitavam eram meus pais, que só falavam em como meu irmão era um mau exemplo e como me afastar dele era solução o suficiente. Minha vontade era gritar que era tudo minha culpa, que eu apresentei as drogas ao Valério, que eu comecei nosso caso e que eu fiz isso comigo mesma, mas não disse nada, ainda me sentia muito cansada tanto fisicamente quanto psicologicamente. Não me importava o suficiente para entrar numa discussão, mas o defendia quando podia.

— Aquele garoto nunca mais entra na minha casa.

— Ele também é seu filho. — Disse depois de mais de dez minutos de monólogo, o que pegou meu pai de surpresa.

— Vejo que já está melhorando, voltou a defendê-lo.

— Valério é uma boa pessoa, pai. Dá mais uma chance a ele. — Meu pai não disse mais nada só foi embora. Queria dar um sermão, mas eu não tinha forças pra isso. Eu só queria ter certeza que Valério não estava sozinho quando eu me fosse. E eu iria, depois que eu voltasse para casa eu daria um jeito de acabar com tudo.

Cinco dias depois eu fui transferida para um quarto particular, não precisava mais usar a máscara de oxigênio o que era um alívio, mas de resto quase nada mudou. Eu permanecia em silêncio a maior parte do tempo, fingindo que estava vendo tv ou lendo as revistas que minha mãe trazia para mim, a verdade é que minha cabeça continuava muito distante, pensando em tudo que tinha acontecido e em como eu só queria fugir de tudo isso.

Era normal eu chorar desesperadamente quando não tinha ninguém por perto e foi em um desses momentos que eles vieram, eu quase não acreditei no que estava vendo: Valério e Samuel, juntos como no meu sonho. Eu não sabia o que dizer, eu não sabia sequer se era real, minha mente vinha me pregando peças há algum tempo, então eu não disse nada esperei que eles dissessem algo primeiro. Samuel se manteve mais distante, mas mesmo de longe sua preocupação era nítida, Valério se aproximou. Seus olhos estavam vermelhos e cheios de olheira, ele parecia não dormir a semanas.

— Lu... — Ele disse segurando minha mão com força, eu sorri sem saber como reagir e mais do que tudo feliz de saber que ele tinha vindo me ver, isso quer dizer que ele ainda se preocupa, certo?

— Como você está? Papai não me deixou te visitar, tivemos que pedir ajuda da Carla para estar aqui. - Ele beijou meu rosto delicadamente, o que fez com que eu me arrepiasse toda. 

— Eles disseram que você estava ocupado no internato. — Ele beijou minha mão com força e passou sua mão delicadamente no meu rosto.

—Quando é que eu estou ocupado demais pra você?

— Nos últimos meses, pensei que nunca mais fosse te ver. — Eu não queria chorar na frente dele, mas não consegui, vê-lo depois de tudo era intenso demais.

— Nunca esqueci de você, bonita. Fui um idiota de não ligar ou mandar mensagem para você, era o que eu mais queria fazer, mas fui orgulhoso demais. Não devia ter te deixado sozinha, nunca mais vou fazer isso, Lu. Você vai ter que me aguentar de agora em diante. Sei que eu sou chato, mas prometo tentar não pegar tanto no seu pé. — Falou me abraçando, só Deus sabe o quanto eu sentia que precisava disso. Do toque dele.

— Você não me odeia mais?

— Nem se eu quisesse eu poderia te odiar, bonita.

— Me perdoa por nunca te defender com o nosso pai e nossa família? Pelo o que eu fiz com a Nádia e com você? Eu me arrependo tanto de tudo que eu fiz, mas é tarde demais... — Eu só conseguia pensar em tudo que eu queria ter dito a ele antes da tentativa, era hora de dizer tudo para a próxima vez não ter nenhum arrependimento.

— Eu já te perdoei por tudo. Eu te amo de todos os jeitos e não me importo mais com o que vão dizer. Vou estar aqui para tudo e o que você precisar de mim. Posso ser seu irmão, namorado, amigo, amante, só me diz o que você precisa e eu sou para você.

— Isso não é justo. Você tem que ir embora. — Eu não queria continuar sendo um estorvo, ele merecia mais do que isso.

— O que não é justo?

— Você não merece ficar de stand by pra mim pra sempre, você precisa e merece ter sua própria vida, eu só te atrapalho e você sabe disso. Me perdoa? Chegou a hora de nós dois seguirmos em frente.

—O que você quer dizer com isso? Você pretende tentar de novo, não é? — Até agora eu pensei que ele não soubesse o que eu tinha feito, mas aparentemente ele sabe mais do que os meus pais.

— O que?

— Eu sei que não foi um acidente.

— Como você...?

— Eu encontrei sua carta, mas mesmo se eu não tivesse achado, eu te conheço, Lu, você nunca perderia o controle desse jeito.

— Eu só precisava ir embora, Val... Ainda preciso, você me perdoa por isso?

— Se é isso que você quer, eu te levo daqui para qualquer lugar. Me diz onde e nós vamos.

— Você está se ouvindo? Eu não quero que você abandone sua vida para salvar a minha, eu só quero ficar em paz. Foi bom te ver, mas será que você pode só ir embora? Quero ficar sozinha.

— Lu... por favor.

— Valério... por favor.

— Eu te amo, Lu, não esquece disso... Eu vou voltar. — Ele passou a mão no cabelo nervoso, mas fez o que eu pedi, ele sempre fazia. Valério saiu, mas Samuel não. Fiquei encarando esperando que ele dissesse algo.

— E você o que tá esperando? — Perguntei um pouco sem paciência.

— Eu vim aqui ver se você estava bem, não sei se você lembra, mas fui eu que te socorri no dia, e desde então eu não consigo esquecer do som que a máquina fez quando seu coração parou. E eu me preocupo com você, sei que não tem muita razão, você nunca foi legal comigo, mas eu me preocupo e fisicamente você parece recuperada, mas seu olhar está ainda pior do que antes. Valério está certo, né? Você vai tentar de novo?

— Eu não... - Sem dúvida não esperava que logo ele fosse se preocupar comigo, a verdade é que a vida dele seria bem mais tranquila sem a minha presença.

— Lucrecia não vou te julgar, nem contar pra ninguém, eu só quero que você tenha alguém com quem conversar. Fala comigo, talvez eu possa te ajudar.

— Não pode, ninguém pode...— Disse abaixando minha cabeça falar sobre isso olhando para ele só tornava tudo mais difícil.

— Engraçado quando você perdeu a consciência você devia ver a cara das pessoas, eles começaram a agir como se você já estivesse morta, ninguém sabia como te ajudar, mas eu sabia e te ajudei. Eu não sou psicólogo, mas sou um bom amigo, e posso te ajudar mais uma vez, se você deixar.

— Eu não consigo falar sobre nada disso agora.

— Tudo bem. E amanhã, você acha que consegue?

— Não sei. — Respondi sinceramente, não sei se um dia vou estar preparada para realmente falar sobre isso.

— Podemos tentar de novo amanhã, Lu?

— Prometo tentar. — E pela primeira vez não e uma mentira. De algum modo ele deve ter percebido minha reflexão, pois sem dizer nada Samuel se aproximou e me abraçou. Nos braços dele as lágrimas vieram com tudo, por alguma razão que eu não entendia me sentia segura com ele.

— Desculpa te fazer passar por isso, eu só queria ir embora, não pensei em quem me encontraria.

— Fico feliz de ter te encontrado. Vai dar tudo certo, Lu, você não está mais sozinha. Eu e Valério estamos aqui agora.  Promete pelo menos tentar continuar de agora em diante?

— Prometo tentar.


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