Hermanos Continuação escrita por Leh Linhares


Capítulo 3
Capítulo 5 - A Visita Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Segue novo cap. pra vocês, espero que gostem!!!



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Pov. Valério

Não sei explicar o que passou pela minha cabeça quando escutei o que Samuel tinha para me contar, os últimos meses passaram como um filme na minha cabeça. A forma como eu fingi que não sentia mais nada, como ignorei os sentimentos que eu ainda tinha e tenho pela Lu chegava a doer. 

Eu passei todo esse tempo pensando nela, evitando ligar e mandar mensagem todos os dias, apesar da vontade de falar com ela, de saber se Lu estava bem. Agora sabendo o que aconteceu não consigo parar de me arrepender. Deveria ter ligado todas as vezes que acordei de madrugada com saudade da voz dela, queria ter enviado aquela mensagem dizendo que estava com saudades que guardei para mim mesmo.

Me sentia extremamente culpado e confuso, sempre achei que seria eu a parar num hospital a beira da morte. A parte bizarra é que desde que me afastei vinha usando cada vez menos drogas, queria ser uma pessoa melhor e vinha tentando meu máximo. Me inscrevi num tratamento, próximo ao internato que estou estudando, e há dois meses não uso praticamente nada. Tenho feito trabalho voluntário e evitando festas, ás vezes sequer reconheço essa nova versão minha. 

E pensar numa nova versão da Lu que eu não conheço capaz de usar tanta droga a ponto de ter uma overdose não faz sentido e me dá vontade de gritar e chorar. Quando eu fui embora eu sabia que ela estava sozinha, que não tinha amigos, e eu fui mesmo assim, fui egoísta a ponto de simplesmente ir embora e agora talvez eu nunca mais a veja com vida. 

Talvez eu a tenha perdido para sempre, era a única coisa que passava pela minha cabeça, nossos últimos momentos viam na minha cabeça: nossas brigas, eu nos relevando para toda nossa família e o silêncio dos últimos dias. Peguei o carro desesperado, dirigi acima da velocidade permitida na estrada, a ideia de chegar tarde demais me fazia perder o medo do que poderia acontecer comigo, naquele momento nada mais importava só ela, meus olhos estavam marejados, eu precisava estar no hospital o quanto antes. Que diabos Lu tinha feito?

Cheguei no hospital correndo, já tinha chorado demais, gritado sozinho no carro e fumado uma porção de cigarros. Nada era capaz de aliviar o desespero e a dor que pensar em perdê-la me causava, era minha culpa, só podia ser, Lu nunca teria perdido o controle desse jeito se eu estivesse por perto. 

Queria poder culpar outra pessoa, jogar a culpa para seus outros amigos, mas duvido que algo tenha mudado nesses últimos meses, Lu estava completamente sozinha quando eu fui embora e assim deve ter ficado. Ver todas aquelas pessoas na sala de espera me deixou mais irritado, todos estavam ali naquela hora, mas duvido que estivessem por perto antes disso acontecer. 

Controlei meus pensamentos, quem era eu para julgá-los? Tinha feito pior que eles, Lu não esperava nada diferente deles, agora eu, a única pessoa que sempre jurou que estaria por perto ir embora deve ter sido mais que determinante para tudo isso. 

Mas mesmo assim não fazia sentido, Lucrecia sabia o que podia ser usado junto, as quantidades, e mais do que isso ela sempre foi o tipo de pessoa controlada demais para cometer um deslize como esse. Lu não misturaria tudo aquilo por acidente, uma ideia passou pela minha cabeça, mas logo descartei. Lucrecia nunca faria isso consigo mesma.

Samuel foi a única pessoa que me fez companhia, ele sabia vagamente sobre o que eu e a Lu tínhamos, mas não nos julgou, parecia quase ter compaixão de tudo que estávamos passando. Ele me consolou e parecia realmente se preocupar com a Lu, ao contrário dos outros.

Não quero dizer que eles não estavam preocupados, mas não parecia genuíno e a minha vontade era expulsar a todos, principalmente o Guzmán, que foi o maior babaca com a minha irmã. Mas honestamente não tinha forças para reagir ou brigar, na realidade só conseguia pensar em uma Lucrecia perdendo a vida tão próxima a mim e eu não podendo fazer nada. Precisava que ela ficasse bem, era o único pensamento linear que eu tinha. Rezava sem parar para um Deus que eu nem acreditava para salvá-la, faria qualquer coisa para garantir isso.  

Quando os Montesinos chegaram não me surpreendi com a reação do meu pai, desde que nos revelei ele não fala comigo, as poucas vezes que me dirigiu a palavra foram em gritos com palavras que nunca pensei que ouviria do meu pai. Ele me expulsou de lá e falou as verdades que eu já sabia, tudo aquilo era minha culpa. Não reagi, não o respondi, porque sabia que era verdade e que eu merecia sofrer por aquilo. 

Samuel me arrastou dali antes das coisas se tornarem mais quentes, depois disso precisei sair dali antes de enlouquecer, fui para casa precisava me sentir perto dela, e ali na nossa casa , principalmente no seu quarto a ficha caiu de tudo de tudo que estava acontecendo, talvez Lu nunca mais voltasse, e se voltasse talvez nunca mais fosse a Lu que eu tinha conhecido.

No meio dessa constatação Samuel encontrou a carta que Lu fez para mim, só de olhar para ela sei que o conteúdo não é algo bom, sua letra é um garrancho quase irreconhecível, bem diferente da letra dela que eu conheço dela, a carta inteira está manchada do que parecem ser lágrimas. Ler tudo aquilo é difícil, a carta inteira é um desabafo, um pedido de desculpas e acima de tudo uma despedida. Ela fez de propósito, Lu tentou se matar.

A possibilidade remota que eu tinha pensando era realidade, pior do que um acidente é perceber que ela fez de propósito, ela tentou se matar, porque viver doía demais. Ela estava sozinha, eu a deixei sozinha, dizendo que a superei quando na verdade ainda a amava mais do que tudo. Ainda a queria do meu lado, mas orgulhoso demais, tinha me convencido que era melhor sem ela, quando na verdade eu poderia fingir o quanto quisesse no fundo sem ela eu seria para sempre esse garoto miserável. 

Não conseguia tirar a frase é minha culpa e a pergunta e se ela não sobrevivesse da minha cabeça. Não sabia como continuaria vivendo, ainda que eu tivesse me afastado dela, nunca tinha pensado em uma realidade onde ela pudesse não existir. 

O contrário sim, nas inúmeras vezes que me excedi nas drogas eu pensei se seria aquela noite que eu teria uma overdose e nunca mais voltaria a vê-la. Nunca aconteceu comigo e nunca pensei que o contrário pudesse um dia vir a acontecer.

Evitei meu pai o tempo todo, não porque estivesse pensando nisso, mas porque Samuel foi inteligente o suficiente para garantir isso. Eu não precisei nem pedir, Samuel só de me olhar sabia que eu precisava vê-la e o modo como ele lutou para que eu tivesse como conseguir isso me deixou mais que agradecido, é claro que ter que pedir para Guzmán me deixar vê-la foi humilhante, mas eu não liguei, eu faria qualquer coisa para ter certeza que ela estava bem. 

Segundo Guzmán ela estava estável, mas será que estava mesmo? E o que estável significava? 

A única certeza que eu tinha é que só acreditaria em qualquer melhora quando a visse, quando pudesse enfim falar com ela.

O único momento que eu abri minha boca foi para isso, o resto do tempo passei calado pensando em tudo que eu e Lu eramos um para o outro. Irmãos, meio irmãos, amantes, amigos, eramos tudo, por muito tempo eu e ela eramos a única coisa que tínhamos. Eu não podia tê-la deixado, não podia ter nos revelado, não ficar com ela como ela queria teria sido lição o suficiente. Quando me chamaram para entrar eu não entendi muita coisa não estava acompanhando nada, Samuel foi comigo, mas me deixou livre para ficar com Lu. 

Me aproximei e peguei sua mão, estava tão fria, toquei suavemente o seu rosto e a mesma coisa, ela estava gelada. E comecei a falar tudo que vinha na minha cabeça, vê-la com tantos aparelhos era uma mistura de alívio e desespero. Por um lado eles davam a certeza que ela estava viva, mas por outro mostravam que ainda tinha muito a percorrer para ela ficar boa. Só de pensar em como ela tinha chegado até aqui a angústia e aflição que me tocavam eram absurdas.

— Bonita, você me perdoa por ter te deixado sozinha? Eu nunca pensei que você pudesse chegar a esse ponto, eu te amo tanto, Lu, te amo tanto, nunca deixei de te amar e não teve um único dia que não sentisse sua falta, que eu não segurasse a vontade de te ligar ou te mandar uma mensagem. Eu te amo desse jeito louco e errado que eu sempre te disse, nada mudou, e eu nunca mais vou te deixar sozinha. Serei o que sempre fui, sua rocha, sua companhia, ainda que o papai me odeie, ainda que ele nos odeie. Eu não ligo para o que vão falar de nós, desde que você esteja sorrindo com os lábios e os olhos. Não somos perfeitos, eu cometi muitos erros, você também, mas podemos aprender a ser pessoas melhores juntos. Eu posso ser uma pessoa melhor e você também, sei disso, porque conheci um lado seu que ninguém conhece. Você não merece ser traída, não merece nada disso, ainda que tenha feitos coisas bem ruins. Ainda dá tempo de ser uma pessoa melhor, eu te entendo, te amo e estou disposto a te ajudar, e mais do que isso, Lu, eu preciso de você, não sei viver num mundo que você não exista. Por favor, volta pra mim, volta o quanto antes, você não é só minha irmã, é meu tudo... — Disse apertando forte sua mão e tocando seu cabelo. Trocaria todo dinheiro do mundo para não ter que viver nada disso. Antes que eu pudesse perceber Samuel já estava me chamando para ir embora, o tempo tinha acabado.

Dei um beijo na sua testa e mentalmente fiz mais uma oração, pedi a Deus que a trouxesse de volta logo, mesmo que nunca mais ficássemos juntos. Do lado de fora desabei de novo nos braços do Samuel, não conseguia dizer nada, mas eu não precisava Samuel entendia tudo.

Não sei dizer quanto tempo fiquei ali, se foram horas ou minutos, mas me lembro perfeitamente de uma Carla ofegante chegando na entrada da sala de espera infantil.

—Lu acordou...— Levantei sobressaltado.

— Ela tá bem? — Eu e Samuel perguntamos juntos.

— Está fora de perigo, mas não sabem ainda se vai ter alguma sequela. Os pais estão com ela agora.

— Alguma chance de eu entrar de novo, Carla? — Disse desesperado. Eu só conseguia pensar em vê-la, falar com Lucrecia e fazer ela perceber que não estava mais sozinha, que nunca mais estaria.

— Podemos tentar.

 

 


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