Hermanos Continuação escrita por Leh Linhares


Capítulo 12
Um tempo depois




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783372/chapter/12

Pov. Valério

Nos acostumar com a casa do Samuel foi mais difícil do que pensei que seria, agora eu e Lu temos que arrumar a casa e dar um jeito nas nossas próprias roupas. Para duas pessoas que sempre tiveram tudo na mão foi uma mudança e tanto, mas estamos nos adaptando bem. Em parte, é bom ter uma rotina para seguir e atividades para fazer. Principalmente para Lu que passa quase todo o tempo em casa.

Consegui um trabalho no restaurante onde Samuel trabalha, pela minha pouca experiência acabei como lavador de louças. Nunca me imaginei nessa posição, porém no fim não é tão ruim. Confesso que é extremamente cansativo, mas no fim me permite ter o meu próprio dinheiro. O que faz valer a pena todo o trabalho.

Com isso tenho pagado todo o tratamento da Lu e ajudado nas compras da casa, porém não sobra para muito mais que isso. Queria ter dinheiro para ativamente pagar pelo quarto, mas com o dinheiro que eu ganho não consigo. E apesar de Samuel não ligar eu me importo.

Azucena me ofereceu uma bolsa na escola, mas recusei sem nem contar a Lu. Por mais que eu queira voltar a estudar na realidade que estamos precisamos do máximo dinheiro possível. Lu voltará a escola essa semana por recomendação da terapeuta com uma bolsa da diretora. Ela tem estado bem nervosa com isso e espero que essa volta não regrida seu progresso.

Ela tem dias bons e dias ruins, mas no geral parece bem. Tem ido a psicóloga toda semana e estou bem feliz mesmo sabendo que nem sempre vai ser assim. Não contei a ela sobre os papéis de emancipação já tem um mês que os recebi e quanto mais tempo passa parece pior trazer isso à tona. Porque quando ela está bem não quero deixá-la triste e quando não está tenho medo de tudo piorar...

Como lavador de louças, tenho muito tempo para pensar sobre tudo isso e às vezes a pressão é tão grande que posso sentir minhas mãos tremendo pedindo pelas drogas. Ainda que eu não use há meses sempre serei um viciado e queria conseguir falar isso para Lu, mas não sei como. Não quero ser um peso para ela

Minha cabeça está a mil com essas preocupações quando meu telefone toca. Estranho ninguém costuma me ligar esse horário, peço um intervalo e no lado de fora atendo:

— Alô?

— Oi, Val aqui é o Samuel. Não estaria te ligando se não estivesse preocupado, uma mulher apareceu aqui e a Lu surtou. – Samuel fala rápido, parece realmente preocupado.

— Como assim? – Começo a pensar se existe alguma chance de sair mais cedo sem ser demitido.

— Bem, ela bateu à porta na cara da mulher e começou a revirar suas coisas xingando todo tipo de palavrão. Eu perguntei o que foi e ela só me disse que não acredita que você ter feito isso. Não acho que ela vá fazer nada, mas to de olho nela, to te ligando só para te avisar, assim que acabar vem direto para casa.

— Obrigada Samu. Vou tentar sair mais cedo.

Trabalhei as próximas horas com a cabeça em casa, será que alguém tinha vindo buscar os papéis? É a única coisa que explica essa atitude dela...

Por sorte meu chefe me libera mais cedo e enfim vou para a casa. Minhas mãos tremem mais ainda e se eu pudesse já teria usado qualquer coisa.

Quando entro em casa a encontro no sofá me esperando, parece extremamente irritada. Samuel só olha para mim e me deseja sorte enquanto volta para seu quarto nos deixando a sós.

— Quando você pretendia me contar sobre isso? – Lu diz enquanto joga um papel em mim. Mesmo sem lê-lo já sei do que se trata são os papéis de emancipação. E por mais que eu não queira que ela fique assim sei que tem razão. Já deveria ter contado sobre isso há muito tempo.

— Eu... bem... – Mexo no cabelo nervoso, o que vou dizer? Não tenho uma desculpa. Minhas mãos parecem tremer mais ainda.

— Vai dizer alguma coisa ou só balbuciar? – Lu continua me olhando com raiva e eu só quero que isso acabe logo.

— Desculpa... Eu só... só não queria te deixar triste, você tem estado tão bem...

— E me fez super bem receber a notícia com a assistente do papai batendo na porta me cobrando esses papéis assinados. Você não pode esconder essas coisas de mim, Val. – Chorando ela se levanta e começa a andar pela sala.

— Eu sei, eu sei que te fiz passar por muita coisa, mas não vou quebrar se receber uma notícia. Não sou uma boneca de porcelana, tenho o direito de saber desse tipo de coisa. Além do mais você não pode me proteger do mundo, não é sua responsabilidade.

— É sim, Lu...E não tem problema eu gosto.

— Não quero que seja, Val. Não faz bem a nenhum de nós dois. E não me entenda mal não estou dizendo que não quero você perto de mim. Eu só não sou uma criança, você não pode me tratar assim.

— Eu sei e não to te tratando assim...

— Val, já tem tempo que to cansada disso e eu sei que você faz com a melhor das intenções, mas atrapalha mais que ajuda. Preciso me sentir responsável pela minha própria vida, preciso de espaço, preciso poder decidir minha vida. Quero trabalhar, me sustentar...

— Não sei, Lu...

— É isso que tem que parar! A gente pode conversar sobre as coisas, mas ultimamente parece que você decide tudo por mim. Você não é meu pai, Valério, eu posso suportar decisões e responsabilidades. Se não puder vou te dizer.

— Como você disse antes de tudo? – Não sei de onde isso veio, ela disse tanta coisa e eu só quis rebater. Me arrependi em seguida.

— Não, você não tem o direito de jogar isso pra cima de mim. Eu já te pedi desculpas e você disse que tinha me perdoado, não pode me fazer sentir culpada por estar doente. Não vou fazer isso de novo, Valério. Já te disse, já te prometi. O que você quer mais que eu faça?

— Não sei, Lu... Tento não pensar nisso, mas ainda tenho pesadelos. Tenho tanto medo de te perder... E sei que não justifica devia ter te contato sobre os papéis, mas o tempo foi passando e nunca parecia um momento perfeito...

— Porque isso não existe, Val. Mas eu te juro estou bem e posso suportar essas coisas. Mais do que isso preciso que você seja honesto comigo de agora em diante. Posso te consolar também, Val, você não me conta mais nada da sua vida. Tenho certeza de que você deve ter problemas também, percebo os tremores, as mudanças de humor, mas você nunca diz nada. Não preciso ficar nessa bolha, não quero mais... Por favor, Val, seja honesto comigo! – Ela segura a minha mão e me abraça.

— Prometo, Lu, vou te contar tudo de agora em diante. – Digo isso e dou um selinho nos seus lábios.

— Obrigada, Val.– Lu sorri, respira fundo e continua. – Não posso te prometer que vou ficar bem para sempre, mas posso prometer que vou estar aqui e que sempre vou dar meu melhor. Não vou embora, Val, vai ter que se acostumar com isso tá bom. – Apenas aceno minha cabeça no meio de um monte de lágrimas, amo essa garota mais do que tudo, como é possível amar alguém com tanta intensidade? 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hermanos Continuação" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.