O Último Iluminado - O Mundo da Espada escrita por AOSantos


Capítulo 2
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Notas iniciais do capítulo

O livro possui transições, porém como o excelente escritor que sou, não sei fazer essas transições, ainda mais porquê essas transições tem a intenção de confundir mesmo, sou humano e caio nas minhas próprias artimanhas. Me processem.



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— Alan... Alan, acorde!

Uma criança aos poucos acordava a visão turva pela noite e pelo sono, o pai e mãe ao redor deste, o tomavam nos braços em beijos e abraços apertados mais cheios de pesar. A criança aos poucos pode entender o que aquilo significava, algo ruim acontecia, ele via nos olhos de seu pai, olhos tão afiados como qualquer outra espada já feita.

— Filho, você e sua mãe vão se esconder, quero que você seja forte e cuide dela, fique em silêncio, abaixe a cabeça. Tudo vai acabar bem e você e sua mãe vão poder sair e visitar o vovô.

—Sério?! Mas e o senhor? Não vem?

— Papai precisa consertar alguns erros do passado, você e a mamãe vão ficar bem. Prometo!

— Mas eu quero que você venha junto!

— Não dá tempo, Anne leve ele e se escondam.

— Mas pai!

—Vai logo!

A criança nem ao menos tentou responder, era a primeira vez que seu pai gritara com ele, sabia que não queria que aquelas fossem as últimas palavras, ele queria a palavra confortante do pai que o sempre amar, e que sempre admirava, tinha medo que a rispidez fossem as palavras de adeus de seu pai. Olhava para ele enquanto a mãe o levava nos braços para longe daquela pessoa envolta por uma aura pura mas revolta. Via uma espada velha e enferrujada ganhar brilho enquanto a ferrugem aos poucos evaporava, era a primeira vez vendo aquilo, tanto o pai empunhando uma espada, quanto aço morto ganhar vida.

A mãe o empurrava para dentro do esconderijo, um pequeno fundo falso na parede, com a entrada coberta por uma cômoda, abafada e cheia de mofo. A mãe o beijou uma vez na testa, e o trancou no buraco, selando a entrada com a cômoda.

—Te amo, meu menino, seja forte.

A criança indignada tenta implorar pela mãe, mas a voz não sai, o medo impede, a figura angelical de sua mãe nem rosto tinham para lhe oferecer a lembrança das últimas feições.

— Porque não se escondeu? – Perguntou o pai indignado

— Posso não ser o amor de sua vida, mas você é o meu, é assim que quero morrer, lutando seu lado.

Antes que qualquer resposta fosse dada a porta da casa foi arremessada, sombras negras que emanavam fumaça entravam uma atrás da outra, rompiam em assalto a sons de gritos e estalos, bocas abertas cheias de presas e olhos brilhantes buscando uma presa, sem distinção elas atacavam umas as outras para disputar a carne do casal, mas se chocaram de maneira abrupta contra uma barreira mágica que emanou do chão, a mulher proferia encantamentos e estendia as mãos a frente, enquanto o homem brandia a espada através de vários pescoços. As sombras tentavam romper a barreira, as que tinham sucesso ardiam em chamas, as que não eram golpeadas pela espada cintilante, o sangue nunca a manchava, ela sempre saia limpa enquanto uma borra negra era despejava de maneira convulsiva ao chão.

A criança olhava a cena horrorizada e ao mesmo tempo maravilhada, nunca soubera da capacidade de seus pais, e embora a situação parecesse perdida, eles lidavam com ela muito bem, dando-lhe esperança de que realmente tudo estaria bem. O assalto não durou mais que alguns minutos, a mancha negra escorria ao redor da barreira, e chamuscava aos poucos com o contato. Ambos permaneceram em posição, sentiam que não era somente aquilo, o homem sabia bem, a espada brilhava com uma luz mais intensa e ofuscante, a borra negra se recolhia, e em meio a isso surgia uma criatura com vários braços, várias cabeças e vários olhos, ela crescia a ponto de ficar pouco menos de dois palmos do teto.

— Recolha a barreira.

— Tem certeza?

— Alguma vez eu deixei de ter?

A mulher sorri e recolhe os braços entendidos ao peito, a barreira abaixou. A criatura tomou a forma de uma pessoa gigantesca, os vários rostos gritavam e choravam a substância negra, os vários braços estremeciam ao vento e os olhos giravam loucamente sobre suas órbitas. Nesse momento a criança havia perdido toda a esperança, aquilo era muito, de todas as histórias aquilo nunca lhe foi descrito, um monstro grotesco e pungido, tão colérico e vicioso quanto um animal. Mas no fim, de nada adiantou aquela criatura nascer, o homem proferia algumas palavras sobre um sorriso confiante, e aos poucos a sala se iluminava, pequenas bolas de luz tomavam a sala, a espada agora não parecia tão cintilante quanto antes. Seu brilho estendia e se misturava com o da sala, e aos poucos a criatura era queimada, pedaços de si caiam em pó, que desapareciam antes mesmo de tocar o chão. De maneira súbita toda a luz se concentrou num ponto pouco menor que a palma da mão, e um flash desintegrou de imediato o monstro.

— Incrível. – Disse a criança de maneira bastante tímida.

Nenhum resquício daqueles monstros remanesceram na casa. O homem suspirou e olhou para a escuridão através da porta proferindo alguns xingamentos, e convidando o que quer que seja a entrar.

— Não se acanhe, pode entrar. Vamos resolver logo nossos problemas.

— Achei que não ia me dar a honra.

Nisso um homem, do mesmo tamanho que o pai, de feições finas, pálidas e ao mesmo tempo bastante cruéis entrava pela porta, tinha o cabelo negro longo colado ao crânio, olhos dourados com a borda das íris vermelhas e pupilas verticais como os de uma cobra. Portava uma armadura negra e com detalhes em vermelho vivo, tão vivo que talvez estivessem se mexendo.

— Preto sempre combinou muito bem com você, irmão.

— A vida simples também sempre combinou muito bem com você. - Ele respondeu com um sorriso maroto mostrando um pouco dos dentes

— Ainda guardando sentimentos pelas coisas que houve.

O homem franziu o cenho e passou a mão sobre o peito da armadura, que de maneira muito orgânica se abriu expondo uma enorme cicatriz no meio do preto.

— Embora agora tenha bastante espaço no peito sobrando, só guardo sentimentos necessários.

— Ou seja, nenhum.

Ele soltou uma sutil gargalhada e os dois trocam um pequeno cortejo entre eles, seguido de um pequeno sorriso pelo pai.

— Antes de termos nos problemas resolvidos, gostaria de prestar meus pesares pelo marido morto à Anne e ao meu sobrinho, que não tive o prazer de conhecer ainda.

— Ele morreu a poucos meses, vítima de uma maldição que o adoeceu.

— Que fatídico. Deve ter sido doloroso, mas asseguro que não tenha sido eu. -Ele respondia de maneira irônica.

— Ele próprio conjurou, talvez tenha seguido os passos do tio.

— Então era muito sábio para idade, em saber que morrer antes de minha chegada seria melhor.

Rapidamente os dois colidem no meio da sala, a espada a poucos centímetros do pescoço do tio, e este, segurando-a com uma das mãos, sorria enquanto devolvia um soco forte o suficiente para ajoelhar o pai. Ele soltou a espada, que a deixava aquele brilho e voltava a velha ferrugem, levando as duas mãos ao chão tentou conseguir impulso para se levantar, mas o corpo estava entorpecido, tanto pelo golpe tomado quanto pela magia conjurada anteriormente.

— Sabe... Essa posição lhe coube bem. Por que não aproveita pra me dizer se gostou da minha greva nova e me conte onde escondeu as duas espadas?

— Maldito!

A mulher proferia palavras sobre uma pequena pedra talhada, o tio observava e a deixou lançar o feitiço, uma lança de gelo o empalou na parede, bem onde estaria a cicatriz. Enquanto isso ela correu em auxílio ao marido caído, tentou levantá-lo e apoiá-lo nos ombros, e por um instante conseguiu, porém outra lança voou pela sala e atingiu a mulher com força suficiente para resvalá-la até a parede, onde morreu na hora com o choque, e marido novamente foi derrubado ao chão. Ele não conseguia se mover, o corpo não respondia mais, sabia que fora golpeado com força e conjurara uma magia pesada, mas aquilo não explicava toda a incapacidade.

— Não consegue entender, irmão? Foi envenenado. – Enquanto mostrava um pequeno frasco roxo escondido dentro da manopla. – Depois de muitos anos, consegui um veneno que te derrubasse, mas não deve durar muito, pena que você não tem mais tempo.

A mãe levantava, e enquanto o tio observava, ela tentava se manter em pé, era possível ouvir os ossos quebrados rangendo, dando protuberância e perfurando a carne, uma voz rouca como de alguém sem ar algum nos pulmões perfurados saia baixa e acompanhada de sangue, ela se prostrava torta, o rosto desconfigurado e marcado, com pescoço inclinado, os olhos com os vasos estourados possuíam pupilas dilatadas e fundas sem qualquer expressão. O menino via aquela cena como o sacrifício de uma mãe pelo marido, como uma tentativa louca e desesperada de salvar a todos, cada passo arrastado daquela figura, arrastava uma lágrima de seus olhos, aquilo lhe doía muito, mas o que lhe doía mais ainda era a impotência de saber que os pais morriam em sua frente e era inútil fazer qualquer coisa, ele era incapaz de fazer qualquer coisa além de chorar. Ela foi andando até o tio que se mantivera em pé observando-a a todo momento, e parou a poucos passos dele. O marido, deitado no chão deixava escorrer lágrimas por seu rosto, num olhar de incredulidade, até que começou a gritar e proferir maldições, o olhar passou a ser puro ódio, desejo assassino.

— Maldito! Bastardo! Deus das Minhocas! – Até que foi calado quando seu rosto foi pisoteado no chão.

— Por mais que eu não tivesse desejos, por mais que eu não tivesse ambições, você era tudo pra mim, era a única luz que meus olhos enxergavam. Sempre te amei, e vou guarda a sua lembrança por toda minha eternidade. - Ele afastou a cabelo loiro embaraçado, sujo de sangue e poeira com uma das mãos, na qual levou à bochecha já pálida e lhe beijou de maneira singela.

Ela já estava morta não passava de mais um manequim de carne controlada pelo desejo atormentado daquele necromante. Ifryd, O Deus Necromante, para os seguidores, e Deus Minhoca, para os odiados.

— Nunca esperei ouvir esses xingamentos vindo de você meu irmão. Admito que senti uma pequena pontada no coração, seja onde ele estiver. -Disse calmamente, enquanto olhava por cima o irmão.

A armadura se remexia e o vermelho vívido escorreu por seu braço até que na mão se formasse uma lança feita de sangue enrijecido, ele a pegou e arremessou com força nas costas do homem caído, perfurando-o pulmão. Ele pode sentir o sangue vazando pelo furo causado pelo golpe e transbordando quente por sua garganta numa tosse quase que se afogando.

— Acho que arremessei com muita força. Não importa, não preciso que esteja vivo pra me contar onde escondeu os dois artefatos. Estou cansado, quero um banco.

E como uma ordem o zumbi da mulher ficou de quatro e ele sentou sobre suas costas, o menino olhava aquilo estupefato, com os olhos quase lacrimejando sangue e os dentes doendo de tanto ranger. Um sentimento de raiva subia por todo seu peito e ia até a garganta, onde quase desatou o nó desta em um grito de fúria. Suas palmas das mãos suadas, forçando a parede cheia de mofo, ficavam mais e mais impregnadas com o fungo e seus olhos nem incomodavam mais. O pai procurava força para levantar, mesmo com o golpe fatal que lhe tomara muito sangue, o rosto coberto com a poeira e com feridas do pisoteamento portavam a expressão da ira. O tio deleitava-se com tudo aquilo, mas se adiantou em uma explicação.

— Você deve se perguntar como... Bom já vou adiantar. Ganhei a aposta contra um demônio. -Disse de maneira muito direta, sem deixar escapar qualquer emoção.

— Você não faz apostas, nunca fez uma. Espera que eu acredite que ganhou uma aposta contra um demônio? -Respondeu o pai, enquanto se apoiava sobre os cotovelos.

— Sim, até porquê. Lucifer e Deus podem não ser tão justos, mas a Morte com certeza é.

— O que vocês apostaram?

— Eu apostei minha alma e ele todo seu poder.

— Acho que ele ganhou então. Qual a condição?

— De que eu nunca seria capaz de me sacrificar pelos outros.

— O demônio ganhou duas vezes então. -Riu dando curtas golfadas de sanguem.

— Depende a quem perguntar. Mas a Morte foi absoluta e Baltazar teve que cumprir com o prometido.

—Mentiroso! Você nunca se sacrificou por ninguém, seu bastardo filho da puta!

Mais um chute foi dado ao seu rosto. Dessa vez o nariz quebrou, ficando torto no rosto sujo e ensanguentado, mais ainda firme. Em nenhum momento o homem murmurou sobre a dor, simplesmente retornava silêncio com olhares cortantes.

— Me sacrifiquei, irmão! Isso é fato! Estou aqui como prova disso.

— E por quem você se sacrificou? Eu mesmo te matei! Eu mesmo estourei seu peito naquele golpe!

— Você já respondeu sua própria pergunta.

— Mentiroso!

O homem convulsionou no chão tentando se levantar, e ir em direção ao tio sentado sobre sua esposa, mas ele foi novamente empurrado com o pé pelo rosto.

— Olha! Estou gostando cada vez mais dessas grevas.

— Merda!

—Me sacrifiquei quando deixei você me matar, e ter uma vida feliz com Anne, ter uma vida com um filho! Eu teria te matado e outra mil pessoas, só pra ter o direito a um pouco de toda a benevolência que o mundo te deu. O amor do pai, amizade verdadeira, a mulher que EU AMAVA! Nunca tive nada, que não fosse abaixo das sombras. Por isso a Morte considerou sacrifício, me matar para que não me torna-se uma ameaça a humanidade.

—E agora, aqui está você.

— Eu me sacrifiquei pela humanidade, agora está na hora de reescrevê-la. De reescrever TODA a história do nosso mundo.

— Você está louco. Pensa que é Deus! Depois de anos na Guerra Santa, vendo o que aconteceu com os próprios demônios.

— Loucura, foi viver mais de 1000 anos, no reino da morte, absorvendo e dominado a magia de um demônio e mais um milênio no inferno para entender que Deus errou dando a sua criação livre-arbítrio, só vou consertar este erro, e acabar com toda a injustiça desse mundo por conta própria.

Ele levantou, a armadura parecia se alvoroçar, quanto mais irritado ele ficava.

— O pai deveria ter te afogado naquele poço quando soube da profecia.

—Basta!

E chutou a mulher que se chocou contra a mesma parede que se escondia o menino, arrebentando-a e o descobrindo. O tio olhou para o sobrinho, de maneira a não entender nada, e deu um sorriso maquiavélico enquanto olhou para o irmão que arqueava as sobrancelhas.

—Sobrinho!

— Não!

—Ah irmão, runas de camuflagem! Você sempre foi muito bom com elas! Desde que cheguei aqui procurei por elas, mas você me surpreende mesmo depois de 2000 anos.

O menino encarava o rosto torto e desconfigurado da mãe, pendurada na parede que arrebentara, aquele cheiro de morte tomava suas narinas, era tão marcante quanto o mofo da parede, um calafrio desceu de sua nuca até suas pernas, que começaram a tremer de maneira rígida e desgovernada. O tio fez um sinal com mão e aquela figura pálida pulou de maneira abrupta, rastejando pelo chão até que chegasse ao marido e começasse destroçar suas costas com mordidas e rasgar com as mãos.

— Vamos deixar seus pais discutirem um pouco, enquanto nos conhecemos! Irmão no pós-morte te pergunto sobre as duas espadas, Anne não seja tão dura com ele!

— Desgraçado!

O homem gritou o xingamento, e desmaiou enquanto suas costelas eram arrebentadas e arrancadas e coluna vertebral deslocada. O menino via aquele monstro chegando, o rosto de sorriso demoníaco e intenção maquiavélica, andava lentamente enquanto uma espada tomava forma em sua mão.

— Vou gostar de te matar, uma, duas, três, quantas vezes forem necessárias até que sua alma chegue deficiente e dilacerada no inferno. Tchau, sobrinho! Nos vemos de novo em alguns momentos.

O sorriso divertido e olhar excitado daquela figura perturbada se perdia no reflexo daqueles olhos aterrorizados. Ele não fez movimentos desnecessários com a espada em mãos, ela viajou direto ao pescoço do garoto, que simplesmente chorava, porém esta parou impedida por uma segunda barreira luminosa.

— O que?

O homem quase morto tinha suas entranhas sendo devoradas, mas, ainda assim, fizera um último esforço pra proteger o filho, ele levantou um segundo círculo com ele, o tio e a esposa dentro dele. “Te peguei” talvez fosse isso que ele tenha dito.

— Inútil não vai durar mais que alguns segundos. Desista de uma vez.

O tio olhou para a própria mão e viu que aos poucos ela parecia virar pó, ele sorriu e olhou para o irmão.

— Então a espada de Meridian está aqui. Quando eu ressuscitar vou pegá-la, seu bastardo.

Ele olhou para o sobrinho e deu um último sorriso malicioso.

— Vou pegar sua alma também sobrinho.

Um enorme flash surge dentro do círculo, sumindo com todos dentro dele. A onda de choque fora tanto que arrebentou toda a casa, o garoto foi arremessado para longe junto com as paredes, dentro daquela ofuscante branquidade.


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Notas finais do capítulo

O nome Alan, inicialmente era Alainer, e se pronuncia como em inglês. Anne era Auridia (Anne é um apelido, esse ainda é nome verdadeiro), Ifryd não tinha nome e Baltazar era chamado de Cotoco, pffffif. Desculpa. Eu mudei alguns nomes porque era muito ruim em escolher eles. Antes que me perguntem, Alan não conhecia o nome dos pais, ele os chamava por pai e mãe e tinha entre 8 e 9 anos.



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