Star Wars- Coração Rebelde escrita por Daniela Lopes


Capítulo 7
A garota que fugiu


Notas iniciais do capítulo

Shae Wendallis é recebida na Resistência e protegida por Leia Organa.
Ao lado do droid DIB, ela não se sente à vontade no meio daquela gente, mas espera saber o que levou a General a salvá-la das garras da Primeira Ordem e qual sua participação em tudo aquilo.
Enquanto isso, Rey está em Ahch-To tentando convencer um exilado Luke Skywalker a voltar com ela para D'Qar, sem saber que seus amigos estão na mira dos canhões da terrível frota de Lorde Snoke.



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Shae Wendallis segurava a caneca de chá quente entre as mãos. Sentada a alguns metros de distância da área comum dos soldados da Aliança Rebelde, ela tentava ignorar os olhares e cochichos entre eles, sendo ela o foco de interesse. Desde a sua chegada, já recebera uma porção de apelidos, uns mais ou menos engraçados, outros um tanto hostis. O que permaneceu entre aquela gente foi “a garota que fugiu da Primeira Ordem”. Diante disso, Shae não sabia se era um apelido bom ou ruim, mas estava fora de seu poder dominar a situação.

            A General Leia Organa resgatou-a de ser presa novamente por Kylo Ren. Acolheu-a com um carinho e cuidado que deixaram a jovem constrangida e desconfiada. Soube mais tarde que Leia era mãe do comandante da Primeira Ordem, também conhecido como Ben Solo, jovem padawan que se deixou levar pelo lado negro da Força, aliando-se ao Líder Supremo Snoke. Mais uma vez as palavras de seu líder em oposição à Força faziam tanto sentido agora quanto no começo de suas atividades.

          Ainda confusa com tudo que passou nos últimos dias, Shae era grata por estar ali, livre de interrogatórios, mas incerta quanto ao seu futuro.

            DIB aproximou-se e cumprimentou a jovem:

—Fugitiva Shae. Parece bem esta manhã.

        Ela sorriu. Apesar da voz metálica e sem emoção, a jovem sabia que tinha um amigo robô e isso a deixava mais tranquila. Sozinha entre estranhos, ela precisava de um apoio emocional para não cair em desânimo:

—Oi, DIB! Estou bem, sim. Obrigada. Soube que esse pessoal analisou seu banco de dados e retirou um chip de localização... Pegaram pesado com você?

—Na verdade, não. Os técnicos da Aliança Rebelde são muito competentes e não danificaram nenhum circuito do meu cérebro.

        Shae concordou. Enquanto esperava, analisou as atividades que aconteciam ao redor dela. A agitação demonstrava que tanto a Aliança Rebelde quanto a Primeira Ordem moviam suas peças naquele jogo de poder e Shae odiava isso. Seu desejo era roubar uma nave e fugir dali para tentar localizar os últimos aliados de sua causa. Eles conseguiram fugir em duas naves e provavelmente tentavam reerguer o grupo buscando mais adeptos nos confins da galáxia.

            O droid sentou-se ao lado dela e permaneceu em silêncio. Shae sabia que ele a analisava e falou:

—Acha que vão me deixar ir embora?

            Dib virou-se:

—A General Organa nos resgatou por alguma razão. Creio que tão logo nos dia o porquê, poderemos partir sem problemas.

            Shae suspira, desanimada:

—Essa gente parece nervosa. Alguma coisa está acontecendo...

           Nisso, um soldado da Resistência se aproximou:

—Shae Wendallis?

—Sim?

—Venha comigo. A General Organa quer ver você.

        Shae se levanta e segue o homem, atrás deles DIB seguiu também. Pouco depois, na sala de comando da Aliança, Leia sorriu ao ver Shae se aproximar:

—Olá! Espero que esteja se sentindo bem e confortável.

—A senhora me chamou...

—Sim, querida. Preciso falar com você em particular.

       Ela conduz a jovem até uma sala afastada e a convida a sentar-se. Leia senta-se ao lado da jovem e fala:

—Ainda não tive oportunidade de me apresentar corretamente. Sou Leia Organa, princesa de Alderaan e líder da Resistência contra o Império Galático e agora contra a Primeira Ordem.

            Shae se ergue da cadeira, surpresa, e diz:

—Oh! Sua alteza! Me desculpe! Eu não...

            Leia a faz se sentar novamente:

—Sem formalidades, menina! Meu planeta não existe mais e nunca me senti uma princesa de verdade, apesar do título abrir muitas portas e acordos importantes!

            Elas sorriem e Leia fala:

—Te resgatei por causa de uma mensagem...

            Shae analisa o rosto da General e fala:

—Eu... Sonhei com a senhora... Enquanto era prisioneira da Primeira Ordem.

—Também sonhei com você, Shae.

—Comigo? Por quê?

—Talvez alguém importante pra mim tenha colocado você no meu caminho e no de meu filho.

—Seu filho? Quem é ele? Onde está?

—O homem que você conheceu como Kylo Ren... É meu filho Ben Solo.

            Shae cobre a boca e lágrimas enchem seus olhos. Ela se levanta e caminha de um lado a outro:

—Então... Tudo que aconteceu foi... Você?

—Não! Uma força interferiu nas ações do droid que veio com você. Ele me contou que algo o controlou e falou com você através dele.

            A jovem volta à cadeira:

—Sim... Ele... Essa presença me pediu pra tomar uma decisão que poderia mudar o rumo dessa guerra.

—E você aceitou...

—Eu fiquei... Um pouco confusa. Desnorteada. Não sei dizer se fiz por vontade própria ou fui induzida por essa voz.

            Ela limpa as lágrimas do rosto que insistiam em cair, morde o lábio inferior e olha Leia:

—Eu... Nunca estive com ninguém antes e...  Me sinto estranha desde então. Acho que Kylo... Seu filho também estava lá sob alguma influência.

            Leia toca o ombro dela:

—Eu sei. E tem razão em estar confusa... Preciso te contar algo que vai fazer todo o sentido agora. Você vai...

            Nisso, alguém bate na porta e Leia diz:

—Entre!

            O soldado aparece na porta semiaberta:

—General! Fomos localizados! Precisamos evacuar a base!

            Leia se levanta rapidamente e olha para Shae:

—Vamos! Teremos essa conversa em outro momento! Precisamos salvar os nossos!

E saem dali rapidamente para iniciarem a evacuação da base em D’Qar.

            O Cruzador Raddus, as fragatas Anodyne, Vigília e a corveta Ninka seguiam à frente dos bombardeiros. Quando a última nave de transporte deixou o planeta, o encouraçado da Primeira Ordem mirou seus canhões orbitais e disparou vezes seguidas, destruindo tudo ao seu alcance.

            A frota de Leia Organa saiu às pressas, sem tempo para recarregar as naves de munição e combustível. Nesse tempo, precisava contar com a experiência e ousadia de Poe Dameron e seu esquadrão de caças X-Wing até que ficassem seguros.

            Dameron lançou-se num ataque quase suicida, destruindo os canhões do encouraçado, garantindo que seus companheiros tivessem chance de revidar, mas os planos da General Organa eram outros. Suas ordens pedem que o esquadrão retorne ao cruzador, porém Dameron se recusa, insistindo que era uma chance de destruir o inimigo e ganhar vantagem.

            Sem escolha, Leia envia os bombardeiros, protegidos pelos caças, para uma ofensiva contra a poderosa frota da Primeira Ordem. Diante do eminente ataque, General Hux ordena que o esquadrão de caças TIE ataquem os bombardeiros, enquanto o encouraçado seleciona a nave Raddus como próximo alvo de seus temíveis canhões.

            Numa sucessão de erros, durante a batalha, a sequência de ataques dos caças TIE atingiram tanto os bombardeiros quanto os X-Wings, tirando as chances da frota rebelde de contra-atacar e minando a esperança de fuga.

            O último bombardeiro, num ato heroico, se lança rumo ao encouraçado. Mesmo atingido, dentro dele, uma jovem artilheira rebelde, de nome Paige Tico, dá sua vida para que seus companheiros de luta se salvem, liberando as bombas, atraídas para o casco da gigantesca nave e explodindo violentamente, levando tudo ao seu redor. No Cruzador Raddus, uma técnica em mecânica chamada Rose Tico, chora sozinha e em silêncio pela perda da irmã mais velha.

            Leia Organa sente alívio, mas não pode comemorar a destruição do encouraçado à custa de tantas vidas. Furiosa, ela rebaixa Poe Dameron por sua insubordinação, mesmo ele tentando se justificar. Sem mais o que fazer ali, o que resta da Frota entra no salto hiperespacial, crendo que estariam seguros após a malfadada batalha.

            Shae estava em seu aposento ao lado do droid DIB. Ela viu pela escotilha as explosões e as naves destruídas e falou:

—Não tivemos a menor chance! Oh, DIB! Foram muitas mortes!

            O droid parece analisar o fato e responde:

—Estou procupado, fugitiva Shae. Mesmo a Resistência tendo desabilitado o chip de localização em mim... A Primeira Ordem nos localizou fácil demais.

            Ela o olha:

— O que quer dizer com isso?

            O droid toca o peito metálico:

—Talvez... Ainda possam me localizar.

            Ela cobre a boca com a mão:

—Então...

            Anos luz dali, no Destroyer de Hux, Lorde Snoke cobra do general a responsabilidade pela perda do encouraçado, humilhando o oficial diante de seus subordinados na ponte de comando. Constrangido e assustado, Hux garante que a Resistência não tinha mais como fugir deles, mesmo saltando para a dobra espacial, não teriam como se esconder. Snoke espera que o general estivesse correto e silencia. Hux ordena que a frota da Primeira Ordem avançasse para o salto, seguindo as coordenadas que apareciam na tela do monitor. Ele sabia era questão de tempo para dominar totalmente a situação e exterminar a última frota rebelde.

            Reduzidos a um cruzador, três fragatas e alguns caças, a Resistência saiu da dobra espacial para um quadrante desconhecido do espaço. Antes que tomassem fôlego, logo atrás deles, a Primeira Ordem surge do salto, levando Leia ao desespero:

—Eles podem nos seguir no salto espacial? Como sabiam onde nos encontrar?

            A ponte de comando rebelde discute as possibilidades do fato, quando Shae e DIB aparecem lá. Leia encara a jovem e percebe o rosto preocupado dela:

—Querida... Você está bem?

            Shae se aproxima:

—DIB me contou uma coisa, senhora...

            O droid toma a palavra:

—A Primeira Ordem conseguiu nos localizar por minha causa, General.

            Todos se voltam para ele e Leia coloca a mão no peito:

—Como?

—Seus técnicos desabilitaram o chip instalado em meu cérebro, mas... Há outros componentes em meu corpo que podem ter passado despercebidos pelos escâneres. De alguma forma, eles podem ter enviado algum sinal para a nave da Primeira Ordem.

            Leia fecha os olhos:

—Oh, céus! Isso não podia ser pior...

            Um dos tripulantes da ponte de comando falou, alterado:

—Vamos destruir esse droid ou lançá-lo no espaço e fugir! Temos combustível apenas para mais um salto e nosso tempo está se esgotando! Esse maldito robô trouxe a Primeira Ordem no nosso encalço!

            As vozes dos demais se juntam à do tripulante e logo todos estão pedindo o fim do problema. Shae se coloca à frente de DIB:

—Não! Ele salvou minha vida! É meu amigo! Ele não tem culpa do que está acontecendo! Deve haver algum jeito de cancelar isso!

            Leia suspira:

—Lamento, Shae. Não temos escolha. Nossa segurança está em risco com a presença dele na nave.

            Shae tem lágrimas nos olhos:

—Eu devia ter fugido! Nada disso teria acontecido e aquele pessoal que morreu poderia ter...

            Leia se aproxima:

—Não diga isso! Você é importante para nós e não pode ficar desprotegida!

            Então dois técnicos mecânicos são acionados por Leia e se aproximam do droid:

—Vamos, robô!_ Diz um deles, enquanto segura seu braço.

            Shae se aproxima:

—Não façam mal a ele! Por favor, General Organa!

            Leia acena para os homens e para a jovem:

— Eles vão tentar descobrir o que é e como podem anular esse sinal. Por favor, quero que entenda se não tiverem alternativa...

            DIB vira a cabeça na direção da amiga:

—Fugitiva Shae. Não se esqueça de que você é importante para essas pessoas. Fico grato por se importar comigo. Adeus.

            Shae esfrega as mãos, nervosa:

—Quero ir com eles! Quero ajudar.

            Leia sorri, pacientemente:

—Vá com eles.

            A moça corre na direção pra onde levavam o droid e logo desapareceu na curva do corredor. No trajeto, Eles passam pela baía das naves de fuga, onde Rose Tico estava vigilante, evitando que desertores fugissem nos transportes de emergência.

            Rose olhou o curioso grupo e perguntou:

—O que há com esse droid?

            Um dos técnicos responde:

— Ele é da Primeira Ordem. Os malditos estão no nosso calcanhar por causa dele. Tem algum tipo de sinal nessa lataria que os atrai direto pra nós, não importa se saltamos para a dobra espacial.

            Rose olha Shae, calada e nervosa:

—Vão desligar esse droid?

            Shae exclama:

—Não podem! Eles vão tentar inutilizar o sinal e...

            Rose suspira:

—Lamento, garota. Eles vão queimar esse robô.

            Shae corre na frente dos técnicos:

—Mas a General Organa disse que...

            Um dos homens olha a jovem com raiva e fala:

—Ela foi clara quanto a isso, menina. Nós não temos tempo! As vidas lá fora são mais preciosas que uma máquina e não vamos esperar até que aqueles miseráveis nos explodam também!

            Shae sai do caminho e fica quieta, vendo DIB ser levado. Rose se aproxima:

—Ouvi dizer que uma garota fugiu da Primeira Ordem... É você?

—Sim. Sou Shae Wendallis... E foi aquele droid quem me ajudou a sair do Destroyer deles... Não posso aceitar que vão destruí-lo. Ele não tem culpa.

            A jovem mecânica sente a tristeza de Shae. Também ela perdeu alguém importante em sua vida, então falou:

—Venha comigo! Talvez eu possa fazer algo por seu amigo droid!

            Um sorriso ilumina o rosto de Shae e ela corre ao lado de Rose rumo à oficina. Enquanto isso, a Raddus avança pelo espaço com os escudos ativos, evitando os disparos de longa distância do cruzador espacial de Hux. Nesse momento, Kylo Ren saía de uma audiência com o líder Snoke e seu sangue fervia de ódio e frustração. Havia dado tudo de si para provar que era digno de liderar como Darth Vader, mas seu tudo não era suficiente para Snoke.

            Dentro do turbolift, Ren olhou o capacete que usava para causar terror em seus inimigos e fechou os olhos. Snoke zombou dele, dizendo que era apenas um menino de máscara e atacou-o, quando Kylo perdeu a cabeça e intentou atingir seu líder com o sabre de luz. O capacete foi arremessado vezes seguidas contra a parede de metal e vidro do turbo elevador.

            Quando saiu dele, restavam apenas vidro quebrado, metal deformado e o temível capacete de Ren em cacos no chão. Kylo partia em seu caça TIE Silencer, seguido de outros caças, em direção ao cruzador da Resistência. Queria acabar logo com seus inimigos, mostrar a Snoke que não estava brincando de guerrear.

            Numa manobra perigosa e precisa, ele alcançou a Raddus e lançou-se contra o hangar onde caças X-wing se preparavam para partir sob as ordens de Leia Organa. No segundo fatal, quando Kylo acionou os torpedos e disparou, Poe Dameron seguia rumo ao hangar, para contra-atacar a Primeira Ordem que os seguia como chacais famintos no deserto.

            As explosões romperam todo o hangar, matando os pilotos que já se posicionavam para levantar vôo, destruindo os caças que recebiam combustível ou reparos e arremessando para longe Poe e seu droid BB-8, que escaparam do terrível destino dos outros rebeldes.

            Não satisfeito, Kylo Ren queria mais que naves e pilotos. Queria o alto comando rebelde destruído e partiu para a ponte de comando. Nesse segundo, sentiu a presença de sua mãe, Leia, através da Força e recuou do ataque. Apesar de tudo o que havia feito de mal até ali, ela o amava e oferecia perdão e isso o desarmou, mas não a seus companheiros de ataque, que lançaram seus torpedos contra a Raddus sem pestanejar.

            Rompendo-se em fogo, estilhaços de vidro e metal retorcido, a ponte de comando do cruzador rebelde tornou-se uma confusão. Seus ocupantes foram sugados para o frio espaço ou mortos na explosão e Kylo Ren não sentiu mais a presença cálida de sua mãe. Dentro dele, a voz suave calou-se e sua alma foi empurrada de vez para a escuridão.

            O frio do espaço chegou até Leia devagar, penetrando em suas roupas, pele, músculos e ossos. Ela concentrou toda a sua energia para manter os órgãos vitais protegidos, dominando a Força como havia treinado com seu irmão, Luke, mas ela tinha seus limites.

            Naqueles minutos recordou-se do irmão, desaparecido após o conflito com Ben e a destruição do templo Jedi. Recordou-se de ter perdido seu filho para o lado negro, da vida de seu amado esposo se esvaindo nas mãos de Kylo Ren. Foi tomada por uma profunda e dolorosa tristeza das milhares de preciosas vidas, perdidas nessa última batalha e em tantas outras.

            Desejou esquecer tudo, libertar-se desse sofrimento e deixar-se morrer finalmente. Abandonar uma vida de incertezas e constante fuga, para juntar-se a seu pai, sua mãe , Obi-Wan kenobi e todos que lutaram como ela.

            Então ouviu seu nome como um sussurro. Abriu os olhos e sentiu um calor suave envolver seu corpo, aquecendo seu coração e devolvendo sua coragem. Havia se esquecido de Shae e do precioso tesouro que ela carregava consigo. A luta pela vida ainda não tinha cessado. Ela não podia desistir de salvar sua família.

            Concentrou toda a energia que lhe restara e moveu-se rumo ao que sobrou da ponte de comando. Pela escotilha da Raddus, os rebeldes viram sua líder e se movimentaram para resgatá-la o quanto antes. Levada para a ala médica, Leia Organa lutava por sua vida, enquanto o que restava da Resistência tentava se salvar dos ataques da Primeira Ordem.

            Rose estava debruçada sobre DIB. Ela checava cada componente com um aparelho que detectava sinais de transmissão e Shae estava do lado dela, atenta e apreensiva. Elas tinham pouco tempo até a volta dos técnicos que desligariam o droid para sempre. Rose virou o robô de bruços e abriu as placas que protegiam os delicados engenhos que faziam o droid andar. Em meio a fios e placas de circuitos, ela localizou um pequeno dispositivo acoplado a um chip e analisou-o.

            Rose apanhou um tipo de chave de fenda e começou a desparafusar o que havia encontrado. Retirou um pequeno aparelho e falou:

—Ora! Há muito tempo não via algo como isso!

            Shae olhou o íten e falou:

—Que tipo de transmissor é esse? Parece antigo.

—E é antigo. Uma versão melhorada do sistema de Multiplexação espacial. Isso tem oferecido à Primeira Ordem nossa localização mesmo em salto de dobra. Acho que seu amigo aqui tem alguns pelo corpo. Temos que tirar todos eles e incinerar!

            Shae apanha outra ferramenta e fala:

—Me diga como faço!

—Certo! Vamos desmontar seu droid.

            DIB vira a cabeça na direção de Shae:

—Isso pode levar tempo, fugitiva sh...

            A jovem balança a cabeça:

—Cale a boca, DIB! Concentre-se em não desligar!

            Enquanto Leia lutava pela vida na Raddus, Luke Skywalker tentava se livrar de Rey, que por sua vez, tentava convencê-lo a voltar com ela para junto da Resistência, treiná-la na Força e lutar contra a Primeira Ordem ao lado da irmã.

            As recusas de Luke fizeram Rey insistir ainda mais, perseguindo o velho Jedi pelas ilhas, contando a ele tudo pelo que tinha passado até conhecer Han Solo e Leia Organa. Na noite seguinte à sua chegada em Ahch-To, Rey sonhou com o dia em que foi deixada em Jakku.

            Era apenas uma garotinha de quatro anos e ficou aos cuidados de um Crolute gigante de nome Unkar Plutt, que aos trancos ensinou-a a se virar naquele planeta quente, desértico e cheio de carcaças de naves enferrujadas da última batalha entre o Império Galáctico e a Resistência rebelde.

            Desde que havia deixado o planeta, o desejo de Rey de encontrar os pais foi se amainando, até se tornar algo secundário. Teve Han Solo como uma figura próxima, depois Leia e agora Luke, lendário Jedi e último da velha escola.

            Convencido por ela, Luke ensinou as lições que foram passadas a todos os Jedi e Rey queria entender porque tudo aquilo fazia eco dentro de si. Nesse tempo de aprendizado, teve contato com a Força e através dela, o primeiro contato mental com Kylo Ren.

            Também durante esse tempo, ela contactou o lado negro da Força, tentando seduzi-la com as respostas que ela buscava. Luke sentiu esse poder emanando da jovem e ficou temeroso, pois era a mesma força e fúria que havia levado seu sobrinho para o lado sombrio, tornando o jovem o braço direiro de Lorde Snoke e tão feroz quanto Darth Vader.

            Rey odiava que Kylo tivesse acesso à mente dela e acusava-o de ser um monstro e assassino. Ele não negava sua natureza e a chamava para dominarem juntos a galáxia, pois eram semelhantes na Força, mas a jovem se recusava a trair seus amigos. Então ele contou sobre traição. A Traição do tio e mestre, Luke, que tentou matá-lo ao sentir o ladro negro tomando conta do sobrinho. Nessa mesma noite, Ben Solo destruiu o templo jedi, crendo ter matado seu tio no processo.

            Incrédula, Rey confrontou Luke Skywalker e recebeu a verdade. O jedi pensou em matar o sobrinho e evitar que algo pior que Vader surgisse no garoto. Esse segundo de dúvida e medo foi suficiente para gerar o terrível mal-entendido e virar sobrinho contra tio, filho contra os pais. Luz tornou-se trevas e nasceu Kylo Ren.

            Furiosa, Rey decide salvar Bem Solo por ela mesma. Num último contato mental com o vilão, ela viu dúvida e medo. Ele ainda podia ser trazido de volta. O treinamento havia terminado e Rey entendeu que precisava conviver com a luz e trevas que existiam nela. O tão buscado “equilíbrio” na Ordem Jedi era um engano. Uma força nunca poderia ser equilibrada se apenas uma das partes reinasse absoluta.

            Luz e escuridão se alternavam e era uma regra imutável. Somente se um aprendiz conseguisse domar seus medos e desejos, raiva e passividade, poderia transformar a Força e alcançar harmonia.

            Rey partiu com Chewbacca na Milenium Falcon, deixando um pesaroso Luke Skywalker preso em arrependimentos do passado e incertezas do futuro. Ele sabia que a jovem tinha razão, mas era tarde demais para resgatar a alma de Ben Solo.   

            Chewbacca grunhia em desacordo quando percebeu os planos da jovem catadora de ferro velho. Ela ajustou as coordenadas da nave para o ponto na galáxia onde a frota da Primeira Ordem se fazia presente. Ela suspirou:

—Preciso fazer isso, Chewie. Eu senti bondade no interior de Kylo Ren. Há conflito ali e é nossa chance para resgatá-lo! Por Han e por Leia, eu preciso tentar!

            Rey entrou na cápsula de fuga da Milenium e acomodou-se, deixando instruções ao amigo Wookie para liberá-la quando estivessem ao alcance da frota inimiga. Quando a nave entrasse em fuga pelo salto de dobra, Rey estaria sozinha.

            Em Ahch-To, Luke sentiu o medo tomar conta de Rey e exclamou:

—Não, Rey! Não! Não!

            E naquele segundo, seus pensamentos se dirigiram para a irmã, inconsciente, a bordo de uma nave agonizante:

—Leia! Me mostre onde você está, irmã!

            Na enfermaria da Raddus, os aparelhos de monitoramento médico da General tiveram uma mudança. O corpo dela estremeceu e ela abriu os olhos. Sua boca murmurou um nome que esperava por contato havia muito tempo:

—Luke.

            Em Ahch-To, Luke correu até a beira do abismo e olhou o mar. O caça X-wing que o trouxe até ali estava imerso e coberto de algas e crustáceos. Com o coração acelerado, Luke ergueu uma mão e fechou os olhos. À princípio, sentiu que a energia vacilava através de seu corpo, mas aos poucos a nave começou a se mover no fundo da baía.

            A cada investida do velho jedi, a pesada nave ergueu-se no ar e flutuou até uma base plana de rocha. Luke sorriu:

—Nada mal para um velhote, hein?

            Olhou ao redor e suspirou. Um grupo de aves Porg olhava curiosa para toda aquela ação e o jedi coçou a cabeça:

—Preciso mesmo dar o fora daqui...

            Durante o resto do dia e quase até o meio da noite, Luke ocupou-se de limpar, secar e reparar o X-wing. Precisava improvisar , já que R2D2 não estaria com ele para ajudá-lo na navegação e outras funções.

            Luke tinha pressa. Rey estava nas mãos da Primeira Ordem e ele não podia perder outra alma para o lado sombrio. Foi teimoso e arrogante. Precisava concertar o seu erro.

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

Gente!
Que hiato!
Aconteceram tantas coisas desde o capítulo 06 que acabou me atrasando um bocado em postar.
Uma dessas coisas foi tentar inserir minhas ideias na trama original e, caraca! Com foi difícil!
A primeira coisa que me incomodou foi a batalha de D'Qar e como a Primeira Ordem ficou na cola da Resistência a cada salto na dobra espacial. A segunda coisa foi como eles decidiram resolver isso em Canto Bight e a invasão do cruzador inimigo. Estou com um material semi-pronto e ainda sendo revisado, mas gostaria muito de saber se consegui fazer alguma diferença. Essa pandemia está estressando todo mundo e manter a cabeça fria é um exercício espiritual. Quero manter o foco e não perder o fio da meada, então aqui está um capítulo fresquinho para continuar de onde parei.

PS* Esse capítulo está inserido no contexto do episódio 08 da trilogia e intercala eventos do filme com parte do que quero criar para minha versão da história. Por favor, quero saber se estou agindo incorretamente em resumir passagens do filme, com uma linguagem própria, não transcrevendo integralmente as cenas, mas mesclando os fatos para dar suporte ao que virá nos próximos. Caso isso seja ilegal, retirarei prontamente o capítulo e mudo tudo se for preciso.
Um abraço a todos!



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