Bastiel está em sua loja, organizando as coisas.

[Bastiel] - As coisas andam muito calmas ultimamente. A doce e velha paz nunca me desaponta.

Um delicado sino toca.

[Bastiel] - Um cliente ? Algo raro de se acontecer, e desprezível de se lidar.

Uma jovem mulher de cabelo longo castanho, olhos verdes, pele clara, vestindo um vestido verde, um par de sapatilhas azuis e usando uma flor branca na cabeça começa a vagar pela loja.

[Bastiel] - É só aquela mulher. Uma cliente, infelizmente, frequente na minha loja.

A mulher chega perto do balcão.

[Mulher] - C-Com licença !

[Bastiel] - Sigh. Sim, senhorita Hannah. Temos vasos para plantas. Eles estão naquela prateleira.

[Hannah] - O-Obrigada !

Ela vai para a prateleira.

[Bastiel] - Seria essa mulher algum tipo de karma ruim proporcionado pelo fato de eu odiar o contato com seres humanos ? Qual sentido em vir duas vezes por semana para comprar apenas potes para plantar flores ?

Hannah põe alguns potes no balcão.

[Hannah] - É-É-
[Bastiel] - Quer algum embrulho especial, ou ficará com o mesmo de sempre ?

[Hannah] - O mesmo de sempre, p-por favor.

[Bastiel] - Ela parece inquieta hoje. Na verdade, isso é normal para as pessoas.

Ele começa a colocar os potes em uma sacola.

[Hannah] - Como vai sua loja, senhor Bastiel ?

[Bastiel] - Nada de seu interesse acontece aqui.

[Hannah] - E-Então não está tendo muitos fregueses ?

[Bastiel] - Não mudo minha resposta.

Ele termina de guardar os potes. Hannah pega a sacola.

[Hannah] - S-Sabe, e-e-eu gostaria muito de falar uma coisa c-com o senhor ! E-Então, até mais tarde !

Ela sai correndo, desajeitada.

[Bastiel] - Hã ?

Em cima do balcão, há dinheiro e um pedaço de papel enrolado. Bastiel pega esse papel e o abre.

[Bastiel] - "Eu descobri tudo. Me encontre no parque ao meio dia para podermos conversar."

Ele amassa o papel.

[Bastiel] - …Descobriu tudo... ? Se isso for verdade, então essa mulher é perigosa. Mas como eu não fui capaz de sentir nada vindo dela ? Devo estar ficando fraco. Não… Continuo sadio como sempre fui. Então, ela deve ser uma entidade poderosa.

Ele olha para um relógio.

[Bastiel] - Já são quase meio dia. É melhor eu ir ao local marcado. Mas irei preparado.

Algum tempo depois. Hannah está sentada em um banco.

[Hannah] - Essa é sua única chance, Hannah ! Não desperdice ela de jeito nenhum ! Você consegue ! Você é forte !

Bastiel se senta ao lado dela.

[Hannah] - E-E-ELE VEIO !!! C-Claro que ele veio, sua idiota ! Você disse pra ele vir ! Verdade ! Mas por que ele continua com o robe ? Você gosta desse robe, s-senhor Bastiel ?

[Bastiel] - Vamos direto ao ponto. Se você realmente descobriu algo, creio que minhas opções sejam limitadas.

Ele pega seu livro.

[Hannah] - É-É isso mesmo ! Eu descobri tudo !

[Bastiel] - Então, você não deve mais andar por essas terras-
[Hannah] - Sua loja não está bem !

[Bastiel] - . . . Como ?

[Hannah] - Eu percebi isso há um tempo... Eu nunca vi o senhor sorrindo, então presumi que sua loja não anda indo bem. M-Mas não se preocupe ! Eu vou te ajudar a conseguir mais clientes !

[Bastiel] - Sigh. Sorrisos não são coisas importantes, senhorita Hannah. E sua ajuda é menos importante que sorrisos.

[Hannah] - Pode me chamar só de Hannah, por favor. E, como o senhor consegue dizer uma coisa dessas ?!

[Bastiel] - Com minhas cordas vocais.

[Hannah] - Não é isso ! Sorrisos são importantes ! Eles são o combustível da felicidade e da amizade !

[Bastiel] - Com todo respeito…

Ele se levanta.

[Bastiel] - Na verdade, sem respeito algum. Amizade e sorrisos são as coisas mais fúteis que a humanidade desenvolveu. Emoções também fazem parte desse grupo. Todas essas coisas são apenas distrações para a mente.

[Hannah] - Gasp !

[Bastiel] - Agora, se me der licença, tenho coisas verdadeiramente importantes para cuidar.

Ele começa a ir embora.

[Hannah] - M-Mas e o amor ?

Bastiel para.

[Hannah] - O amor é o melhor sentimento que existe. Claro, as vezes ele pode trazer tristeza. Mas sempre começa com a maior felicidade que alguém pode sentir na vida. Eu tenho certeza que até o senhor já se sentiu apaixonado por alguém !

[Bastiel] - O amor é...

Ele se interrompe.

[Hannah] - Hã ?

[Bastiel] - …O amor é só mais uma distração… Uma distração que não pode ser cometida mais do que uma vez...

Ele vai embora. Hannah se senta no banco novamente, cabisbaixa.

[Hannah] - Aw, droga ! Eu entreguei as coisas... Não... ! Eu vou fazer ele sorrir, custe o que custar !

Ela se levanta.

[Hannah] - Até porque eu já tenho um plano !

Na manhã seguinte. Bastiel está em sua loja. Ele se lembra do que Hannah disse.

[Hannah] - Eu tenho certeza de que o senhor já se sentiu apaixonado por alguém antes !

[Bastiel] - . . .

Ele olha para a bancada. Novamente ele se lembra de algo. Uma mulher de cabelo longo castanho, olhos pretos, pele clara, vestindo um vestido branco ensanguentado está na frente de Bastiel. Apesar de seu estado, ela parece feliz.

[Mulher] - …O amor… é uma coisa engraçada... não acha… ? Ele… é melhor do que… qualquer magia…

Bastiel balança sua cabeça.

[Bastiel] - ...Aqueles pensamentos voltaram novamente...

Ele pega um livro e começa a lê-lo.

[Bastiel] - Hora de ocupar minha mente com algo.

Alguém entra na loja.

[Bastiel] - Sigh. Se forem mais potes, eles estão-

Um homem adentrou o local.

[Bastiel] - Hã ? As pessoas por aqui não têm interesse em coisas mágicas. Não têm nenhum motivo para entrarem na minha loja.

[Homem] - Oi, cara ! Então, uh, você tem pólen de Rubrivira ?

Bastiel pega um frasco com pó vermelho e entrega a ele.

[Homem] - Woah ! Cara, eu procurei por isso aqui em todo lugar ! Valeu mesmo ! A propósito, bela fachada.

Ele paga Bastiel e vai embora.

[Bastiel] - Isso foi anormal. Muito anormal.

Algum tempo depois. Mais uma pessoa entra.

[Bastiel] - Mais ? Será que as outras lojas fecharam ?

Um grupo de pessoas adentrou a loja, dessa vez.

[Mulher] - Você tem seiva de Ent ?

[Homem] - Tem carvão de Uri ?

[Senhora] - Gosma de Smorg ?

[Bastiel] - Pessoas... demais...

Ele entrega os itens das pessoas, que o pagam e vão embora.

[Bastiel] - Há algo de errado... O máximo de visitantes que minha loja teve de uma só vez, foi o dia em que Mason e Arcene estavam aqui. Será uma maldição ?

Ele pega seu livro.

[Bastiel] - …Nada de errado... Então algo mudou. Mas não me lembro de ter feito nada... Espere um pouco… O que aquele homem disse ?

[Homem] - A propósito, bela fachada.

[Bastiel] - Eu não tenho uma fachada.

Ele sai da loja. Na frente dela, há alguns potes com rosas brancas plantadas neles.

[Bastiel] - Mas como essas coisas vieram parar… Sigh. Deixe-me adivinhar...

Hannah chega.

[Hannah] - Bom dia, senhor Bastiel !

[Bastiel] - Sigh. O que quer dessa vez ?

[Hannah] - Eu me senti mal por fazer você ir embora ontem. Então, decidi te ajudar !

[Bastiel] - Essa pergunta é de resposta óbvia, mas foi você quem plantou essas rosas ?

[Hannah] - Sim ! Dizem que elas são boas para atrair sorte e coisas boas para a vida das pessoas ! Pelo visto, funciona mesmo !

[Bastiel] - Por mais difícil que isso seja, pare de ser tola. Tal coisa, como sorte, não existe.

[Hannah] - Sigh. O senhor não está nem perto de sorrir um pouco, não é ?

[Bastiel] - Como adivinhou ?

[Hannah] - Não se preocupe, eu vou te ajudar !

Ela entra na loja.

[Bastiel] - Eu não lhe dei permissão para entrar.

[Hannah] - Quando se trata de fazer sorrisos, permissão não é necessária para nada !

[Bastiel] - Eu já lhe disse antes, e vou dizer novamente, sorrisos são perda de tempo.

[Hannah] - E eu digo que não são ! Por exemplo…

Um homem entra na loja. Ela o recebe sorrindo.

[Hannah] - Bem vindo ! O que gostaria ?

[Homem] - Vocês têm alguma raiz de Gravenus ?

[Hannah] - Hmm…

Ela pega um raiz e entrega para o homem, que paga e vai embora.

[Hannah] - Viu ? Sorrisos fazem bem !

[Bastiel] - Como sabe que a raiz está nesta prateleira ?

[Hannah] - Eu venho aqui toda hora, é normal saber onde ficam as coisas.

[Bastiel] - É um argumento válido. Mas isso não significa nada.

[Hannah] - Eu pretendo trabalhar aqui até você sorrir.

Bastiel força um sorriso.

[Bastiel] - Pronto.

[Hannah] - N… Não desse jeito… Isso é- Ahem ! Isso é meio nojento… e medonho...

[Bastiel] - Agora que recebeu o sorriso, vá embora da minha loja. E não volte nunca mais. Também tire suas flores daqui.

[Hannah] - Entendi ! Você não sabe lidar com as pessoas, não é ?

[Bastiel] - E me orgulho disso.

[Hannah] - Não se preocupe, eu vou te ensinar.

Ela pega Bastiel pelo braço e o puxa para dentro da loja.

[Hannah] - Vamos, é fácil ! Você só precisa olhar para mim e fingir que sou uma flor. Não é nem um pouco difícil, já que eu tenho esse nome.

Nota: Hannah = Flor.

[Bastiel] - Irei olhar para você e verei apenas alguém que realmente não sabe os limites.

[Hannah] - Por acaso, você… não confia em mim… ?

Bastiel se lembra da mulher novamente, mas, dessa vez, sem o sangue. Os dois estão em um grande jardim de rosas brancas.

[Mulher] - Por acaso, você... não confia em mim… ?

[Bastiel] - Ugh !

[Hannah] - O-O que foi ?

[Bastiel] - Apenas… me deixe em paz...

[Hannah] - Tem alguma coisa errada ? Você está machucado ?

Bastiel se lembra da mulher novamente. Agora, os dois estão em um quarto.

[Mulher] - Tem alguma coisa errada ? Você está machucado ?

[Bastiel] - Ugh- Gah !

[Hannah] - S-Senhor Bastiel !?

[Bastiel] - V… Vá embora…

[Hannah] - Não ! Você não está bem, e isso não é bom !

[Bastiel] - …Vá... embora...

[Hannah] - Mas e você !? Se eu não fizer alguma coisa, pode ser que piore !

Bastiel se lembra da mulher novamente.

[Mulher] - Mas e você !? Se não fizer alguma coisa, pode ser que piore !

[Bastiel] - Ugh !

[Hannah] - É melhor eu arranjar alguma coisa que cure você ! Hmm… O que poderia ser útil ? Hmm… Eu não consigo pensar em nada ! Essa não ! Se eu não agir, isso pode piorar ! Você pode acabar se machucando mais ! Pior que tudo isso, você pode acabar-
[Bastiel] - Grr !! Cale a boca !!

[Hannah] - …Hã... ?

[Bastiel] - Por que você tem que ser tão parecia com ela ?! Mas que droga !!

[Hannah] - . . . Me… desculpe...

[Bastiel] - Huff Huff Huff. Essa não... Eu demonstrei emoções...

[Hannah] - …Escuta... Eu vou me retirar daqui, e você nunca mais vai me ver… Mas eu posso saber de quem você está falando... ?

[Bastiel] - . . .

[Hannah] - …Eu imaginei que você fosse ficar em silêncio...

Ela vai embora.

[Hannah] - …Prometo que nunca mais vou te irritar...

[Bastiel] - Huff Huff.

Uma cadeira é puxada para trás dele. Bastiel se senta nessa cadeira e encara o chão.

[Bastiel] - . . . Sigh.

Algum tempo depois. Hannah está sentada em um banco, encarando o chão.

[Hannah] - É, Hannah, você conseguiu... Todas suas chances agora são zero... Espero que você esteja feliz… Sigh. Quem eu quero enganar ? Minhas chances são menores do que zero agora…

Ela pega uma sacola com alguns potes com rosas brancas.

[Hannah] - Pelo menos, eu ainda tenho essas rosas… Bom, não custa nada… Ahem ! Rosas, por favor, se vocês realmente dão sorte, eu preciso muitíssimo dela ! Eu juro que planto vocês na melhor terra que eu conseguir ! Vou regar vocês todos os dias ! Prometo também que não vou deixa nenhum inseto ruim tocar em vocês !

Bastiel chega e se senta ao lado dela.

[Hannah] - É, pelo visto vocês não dão sorte... Eu já tirei todas as rosas de lá...

[Bastiel] - . . .

Ele entrega uma rosa branca para ela.

[Bastiel] - …Você esqueceu essa…

Hannah pega a rosa.

[Hannah] - Talvez vocês realmente sejam rosas dá sorte !

[Bastiel] - . . . Sigh. Airyth...

[Hannah] - Hã ?

[Bastiel] - O nome da pessoa que você perguntou. Airyth é o nome dela.

[Hannah] - Quem é Airyth ?

[Bastiel] - . . . M… Minha… Você é um exímio mago. Conversar com outras pessoas não é algo complicado. Sigh. Respondendo a uma coisa que você me disse ontem, Airyth é a pessoa que amei, uma vez.

[Hannah] - Eu sabia que até você já tinha encontrado o amor.

[Bastiel] - A vida com ela tinha significado, cor, tudo. Ela era minha razão de viver. Quando um de nós ficava doente, o outro não fazia nada, apenas para cuidar de quem estivesse com a enfermidade. Ela se parecia um pouco com você. As duas gostam até da mesma flor.

[Hannah] - Você parecia feliz… Posso perguntar como… Você sabe…

[Bastiel] - Eu a pedi em casamento…

Ele dá um leve sorriso.

[Bastiel] - Naquele dia, eu não sabia mais o que fazer. Os segundos que ela demorou ara responde pareciam infinitos. Mas no final, eu acabei recebendo um "Sim". Você não imagina o quão feliz eu fique. Airyth queria muito se casar aos pés de uma grande flor que desabrochava uma vez a cada três anos e soltava várias pétalas de diversas cores. Esse era o sonho dela.

[Hannah] - Eu imagino... Uma flor dessas deve ser extremamente linda…

[Bastiel] - E ela é. Mas… Depois de muito procurar, ela achou uma dessas flores. O problema é... o local era uma das rotas do exército de Ouroboros, o Rei Demônio... Eu tentei lutar, mas eram muitas tropas. E eu acabei sendo gravemente ferido pelos inimigos. Mas antes que conseguissem me matar, Airyth recebeu o golpe por mim...

Ele se lembra da mulher ensanguentada.

[Airyth] - …O amor… é uma coisa engraçada... não acha… ? Ele… é melhor do que… qualquer magia… E… eu fico feliz… por essa magia… ter acontecido conosco... A… deus… q... ue… ri… do…

[Bastiel] - Depois daquele dia, eu devotei minha existência a eliminar Ouroboros. Tranquei minhas emoções para não precisar sofrer por aquele momento nunca mais…

[Hannah] - Mas você acha que a Airyth ia querer isso ?

[Bastiel] - . . . Não... Mas nós precisamos abrir mão de algumas coisas para conseguir outras...

[Hannah] - Só que nem sempre isso é uma boa decisão a se tomar...

Ela se levanta.

[Hannah] - Eu realmente sinto muito por ter feito você se lembrar de algo tão terrível. Mas pelo menos, eu vi uma coisa que me fez acreditar que nem tudo está perdido.

[Bastiel] - Hã ?

[Hannah] - Você sorriu. Mesmo que tenha sido por segundos, eu pude ver o seu sorriso. Seu verdadeiro sorriso. E isso me fez saber que você não jogou suas emoções fora, como disse.

[Bastiel] - …Acho que não joguei...

[Hannah] - Me desculpe todo incômodo causado, senhor Bastiel.

Ela começa a ir embora.

[Bastiel] - Para onde vai ?

[Hannah] - Para casa... Como você mesmo já disse, eu sou uma péssima companhia.

[Bastiel] - . . . Sigh.

[Hannah] - Hã ?

[Bastiel] - Justo quando eu preciso de uma nova fachada...

Hannah para. Ela respira fundo e se vira animada.

[Hannah] - S-Sério !?

[Bastiel] - Minha fachada é um pouco cinza demais. Eu poderia aproveitar essas rosas.

[Hannah] - Eu faço a fachada em um instante !

[Bastiel] - Só que isso também vai ser um problema…

[Hannah] - Por quê ?

[Bastiel] - Eu vou atrair mais clientes do que dou conta. Acho que vou precisar de um ajudante. Mas onde será que vou encontrar um ?

[Hannah] - Eu ! Eu posso te ajudar !- I-Isso é, se o senhor quiser, é claro…

[Bastiel] - Você poderia ser de alguma ajuda. Bom, pelo menos, vai me evitar o trabalho de ensinar onde cada coisa fica nas prateleiras.

[Hannah] - Sim, senhor ! Eu prometo que não vou te desapontar, senhor !

[Bastiel] - Esteja lá em cinco minutos, nem mais, nem menos, estou quase abrindo.

Ele vai embora.

[Hannah] - *Gasp !* Eu preciso pegar minhas ferramentas !

Ela também vai embora.