Filho, Meu Filho escrita por unalternagi


Capítulo 1
Capítulo I. O peso é único


Notas iniciais do capítulo

Primeiro, desculpa a demora.

Fiquei pensando muito em como fazer isso de uma forma diferente e legal, algo que mantenha o mistério, espero que gostem de como decidi tratar e tenham em mente que, o ponto de vista de Edward é apenas um ponto de vista, ainda não será a história completa, mas vão entendendo melhor conforme o acontecer das coisas.

Hoje, a história dele nos é mostrada de uma forma amena.

Espero mesmo que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783090/chapter/1

Capítulo I. O peso é único

Abri os olhos para uma claridade que não era a habitual dentro de meu quarto escuro. O cheiro parecia igualmente raro. Era fresco de mais. Revirei-me com cuidado, já acostumado com a cama estreita e vi as paredes brancas de mais.

Lembrei-me da escuridão, do grito de mamãe e do sangue nas pernas. Ele chegou embriagado de novo e estava a machucando, mas eu já era grande e o homem da casa, as meninas precisavam de mim e, por isso, abri a janela da cozinha e corri como mamãe mandou que eu o fizesse caso algo desse errado. Aquilo era errado, a gente não poderia bater em meninas. Gritei o mais alto que pude e continuei correndo. Em qual porta eu deveria bater? Daquilo não me lembrava e senti medo ao perceber que mamãe precisava de mim e eu estava fazendo errado.

—SOCORRO! – gritei novamente e a porta da cozinha foi aberta.

A silhueta era enorme, ele parecia crescer ainda mais quando eu sentia medo dele, então tentei não sentir, corri mais, gritei mais.

Alguns vizinhos começaram a sair das casas, ele alcançou-me já fora do jardim de casa, segurou meu braço com força de mais.

Olhei para o meu braço já agora na segurança daquele quarto branco e vi que estava machucado, então levantei o rosto para olhar que mamãe estava muito pior, então eu não reclamaria.

Levantei da cama e andei até o leito dela. Não conseguia ter uma boa visão, mas acho que dormia, porque ela não estava falando comigo e ela sempre falava.

—Bom dia – escutei o sussurro atrás de mim e senti medo, porque era um homem e eu não o conhecia, os homens eram maus e ainda mais os mais velhos.

Senti medo e sentei embaixo da cama de mamãe, não queria acordá-la, tinha medo que ela sentisse dor, então apenas encolhi-me ali, esperando que o moço percebesse que mamãe estava comigo e ele não poderia machucar-me.

—Desculpe se o assustei – o moço sussurrou se sentando no chão, depois de fechar a porta, ele ficou longe de mim.

—Não sinto medo – falei rapidamente para que ele pensasse que eu já era mais velho.

—Ora, eu tenho a certeza que não mesmo, o que fez ontem por sua mãe foi muito corajoso. É um rapaz muito inteligente, Edward, você a salvou – o moço com o cabelo amarelo disse e eu percebi que realmente não sentia medo dele.

Deixei o ar entrar nos pulmões como mamãe tinha me ensinado, para acalmar o coração quando ele corria muito.

—Como sabe o meu nome? – perguntei.

—Está na ficha, sua mãe me contou ontem.

—E onde está o monstro?

Ele pareceu confuso por um tempo, até que seu rosto atingiu um tom sério e ele suspirou se arrastando um pouco mais para perto de mim. Mamãe não gostaria daquilo, que ele estivesse se arrastando pelo chão com aquelas roupas branquinhas. Quem as lavaria depois? Pensei se ele tinha uma esposa para fazer aquilo, ou se ainda vivia com a mamãe dele. Eu viveria com a minha até eu ficar velho, porque ela cuidava de mim e eu cuidaria dela quando precisasse, como agora, mas eu não queria que o monstro nos encontrasse, não queria mais viver com ele.

—Edward, ele faleceu ontem à noite – o moço disse e eu fiquei confuso.

Fiquei pensando naquilo por um tempo, mas não me lembrava do que aquela palavra significava. Arrastei-me só um pouquinho para mais perto dele, suspirei e sussurrei com certa vergonha por não saber.

—O que é “falecer”? – perguntei e o moço suspirou.

—Morrer – ele falou.

Ainda estava confuso, mas escolhi fingir que eu sabia o que era, para falar a verdade, apenas uma coisa estava preocupando a minha cabeça, então resolvi perguntar a ele.

—Significa que eu não vou vê-lo mais? Já não vamos morar com ele? – perguntei baixinho e o moço assentiu, concordando com o que eu havia dito.

Então era uma coisa boa, não entendi porque ele parecia chateado com aquilo. O homem mau era apenas isso: mau, nunca tinha cuidado de mim ou de mamãe e então não precisávamos dele, ficaríamos bem.

Sorri ao lembrar-me que a neném na barriga da mamãe não o conheceria. Seria por isso que o moço parecia chateado? Ele pensava que as meninas estariam sozinhas?

—Eu cuidarei das meninas. A mamãe e a bebê... Eu serei o homem da casa – contei a ele que arregalou os olhos como eu fazia quando algo me assustava – Não precisa ter medo, moço. Eu já sou grande – falei e ele suspirou.

—Edward, a neném também morreu – ele contou ainda baixinho, como um segredo.

.

Acordei para o dia prateado ao lado de fora da janela. Era um clima pouco habitual para Londres, mas a animação que cresceu em meu peito era gritante. Hoje o dia seria bom, receberíamos o certificado de conclusão da middle school e, finalmente, ano que vem eu seria um adolescente, com catorze anos e no ensino médio e tudo seria muito mais legal do que era agora.

Levantei estranhando não ver minha mãe em lugar algum. Nossa casa não era grande então não foi muito difícil a procurar por todos os cantos. Fui fazer a minha higiene matinal e então abri a geladeira, vi um bilhete em cima de um pato com tampa.

Coma mais tarde. No almoço.

O café da manhã será por sua conta.

Volto a noite.

A confusão tomou minha mente e tentei fazer as contas. Se a entrega do meu certificado era às duas da tarde, aquilo avisou-me que ela não iria.

Fiquei chateado por alguns minutos, mas logo pensei que estaria sendo injusto com ela. Ela estava ocupada, tinha que trabalhar. Peguei o leite e o cereal e comi antes de ir brincar na rua, meus amigos todos estavam animados para a nossa formatura, falavam dos parentes que vieram para vê-los, ou os pais que tiraram a folga para aquilo, compraram roupas e câmeras fotográficas e eu não queria mais ficar lá.

Garrett pediu-me uma garantia de que eu iria na formatura, disse que sua mãe iria me dar uma carona. Assim como eu, ele só tinha mãe, então dava-me melhor com ele do que com os outros garotos da rua. Concordei com ele e entrei para casa, combinando de nos encontrar na garagem dele quinze para às duas, já que o colégio não era muito longe de casa.

Esquentei minha comida e pensei no que se deveria usar para ir a uma coisa como essas. Nunca tinha estado em uma formatura antes. Tomei banho e tentei dar um jeito no meu cabelo rebelde, usei a pomada que mamãe usava para prender seu cabelo e ir trabalhar, ficou mais ajeitado então dei-me por satisfeito.

Sentei perto da minha mala de roupas e peguei a bermuda que comprei no bazar da igreja, era nova e estava calor, então parecia uma boa escolha – ao menos para mim, então coloquei os tênis que usava todos os dias e a camiseta do David Beckham que o doutor Cullen tinha me dado no último natal, parecia bom. Eu me sentia bonito.

Esperei pacientemente até o horário que Garrett tinha dito, então andei apressado para a casa dele, entramos no carro antes da mãe dele, então ela só me cumprimentou com uma olhada pelo retrovisor.

Achei que Garrett tinha exagerado. Ele usava roupas e sapatos sociais, estava bem cheiroso e o cabelo bem penteado, tentei ajeitar os fios que eu sentia saírem do lugar, mas não esforcei-me muito quando reparei que a mãe de Garrett encarava-me.

—Edward, e sua mãe? – ela perguntou e eu neguei com a cabeça.

—Ela não poderá vir, senhora Lewis – falei simplesmente.

A mãe de Garrett não falou comigo de novo.

No ginásio, reparei que todos se vestiam como Garrett e não como eu. Senti-me mal, queria ir para casa, as pessoas me olhavam estranho, mas Garrett disse que gostou mais da minha roupa, então sorri para meu amigo e pensei que queria levar o certificado para mamãe ver.

Toda a cerimônia foi comprida e maçante, subimos no palco para pegar o certificado, corei fortemente ao ver os olhares debochadores dos adultos, pais de alguns alunos. O diretor cumprimentou-me depois de um olhar confuso para meus trajes e, depois da foto, desci do palco sem esperar mais nada, o certificado era o que eu queria, então fui embora contra todos os chamados de meus amigos.

Como eu poderia saber que todos tinham combinado uma roupa? Eu teria usado o uniforme do colégio se soubesse, mas ninguém havia me dito nada.

Cheguei em casa apressado e encontrei Carlisle sentado na porta.

—Edward! Que bom, que horas é a sua... – olhei para ele quando ele parou de falar, percebi que ele olhava meu certificado.

—Já foi?

—Era às duas – contei entrando em casa e jogando o certificado no sofá-cama que mamãe dormia.

Baguncei o cabelo do jeito que ele queria ficar e tirei os tênis chutando-o dos meus pés.

—Desculpa, Edward, eu queria estar lá.

—Não sei por que, não é meu pai ou minha mãe – falei sério e Carlisle abaixou a cabeça.

—Sou namorado de sua mãe e eu gostaria de ser como uma figura de pai para você...

—O pai que me espancava? Ou o que abusava da minha mãe antes de deixa-la desacordada com pancadas? – perguntei bravo e entrei no banheiro batendo a porta.

Sabia que não era culpa de Carlisle, mas eu não gostava da aproximação dele. Eu tinha medo que ele machucasse minha mãe, que machucasse a mim. As batidas na porta foram incessantes, ele não desistiu de mim.

.

Cheguei em casa escutando as risadas importunas, eu não aguentava aquela falsa felicidade, a hipocrisia que enxergava todas as vezes que olhava para Esme.

Entrei na sala encontrando ela no chão com os gêmeos.

Gêmeos não sei a onde, imaginei que todos fossem idênticos, mas Victoria e Laurent quebravam padrões. Se ignorasse que ambos tivessem o mesmo sorriso, textura do cabelo e cor dos olhos, ninguém chutaria que eram, ao menos, irmãos. Victoria tinha cabelos ruivos bem chamativos, em cachos que o tornava volumoso e a pele era translúcida. Já Laurent tinha a pele negra, o cabelo era castanho escuro, mas ambos tinham os olhos de uma cor bem clara de castanho, quase puxado para o amarelo.

Eu não os suportava. Chegaram há dois anos, e tinham tornado a casa numa felicidade que era aporrinhadora para mim, que estava acostumado com as meias palavras e sorrisos eventuais.

—Olá – falei secamente subindo para o meu quarto.

Desde que Esme casou com Carlisle eu tinha um quarto, com uma cama espaçosa e confortável e todos os móveis que um estudante precisaria para morar no quarto, como era o meu caso. A nossa nova casa era espaçosa e arejada, o jardim era imenso e até uma cama elástica Carlisle tinha colocado no jardim para mim e foi o início de toda a discussão.

Esme e Carlisle tinham saído para trabalhar e eu estava concentrado estudando para os testes finais e foi quando escutei as risadas no jardim. Levantei o olhar vendo que Victoria e Laurent estavam usando a minha cama elástica sob a supervisão da babá deles e aquilo tirou-me do eixo. Levantei apressado e desci até o local.

—Ei, não é para eles, é para mim. A cama elástica é minha – eu falei irritado com a babá sem noção, ela nem ligou.

—Eles são pequenos – ela disse e eu bufei.

—Já têm sete anos, sabem que não devem pegar o que não é deles – falei possesso.

—Não seja assim, senhor Masen, Vic e Lau estavam entediados dentro de casa e o dia está tão bonito – ela disse simplesmente.

Senhor Masen.

Afastei-me dela quando ela chamou-me daquela forma. As lembranças que irromperam em meu cérebro foram de noites escuras, solidão, medo, frio. Fui para o meu quarto apressado, não queria pensar aquilo, mas as ideias já não saiam da minha mente.

À noite, a cozinheira trouxe meu jantar no quarto como eram todos os dias, mas neguei e pedi que colocasse na mesa. Eu preferia sentir o repúdio de minha mãe do que ficar sozinho de novo aquela noite, eu já não conseguia focar nas tarefas de casa então resolvi que hoje seria a minha noite de folga.

Entrei na sala de jantar após soltar uma longa respiração, tentando manter a calma e imparcialidade.

—Edward, que prazer – Carlisle disse assim que me fiz presente, como sempre, ele era muito educado e bem humorado comigo.

—Obrigado – murmurei e sentei perto de Laurent.

Victoria tagarelava sobre seu dia e então senti a mão de Laurent bater em minha perna oferecendo-me um papelzinho.

Desculpe por usar suas coisas sem pedir permissão.

Era o que estava escrito no papel rasgado. Olhei para ele que me olhava amedrontado e eu odiei-me. Odiei que ele sentisse medo de mim, que eu causasse, em uma criança, o que um adulto tinha causado em mim e aquilo foi o que me deu uma crise de choro descontrolada.

Os gêmeos ficaram assustados e eu odiei-me mais, corri para o meu quarto para ficar isolado, como deveria, um idiota como eu deveria estar sempre sozinho, sem conhecer o amor ou carinho da família que a vida tinha me dado, eu não os merecia, era sempre rude e mal humorado e eles eram felizes, até mesmo Esme o era, eu não fazia parte daquele meio.

Os meses seguintes foram entre o meu foco em estudar para conseguir a bolsa na faculdade que eu tinha escolhido e o amor crescente que eu sentia pelos gêmeos.

Aos poucos, tentei mostrar que eu não era mal e que eles não tinham o que temer, nunca teriam. Eu era o irmão mais velho deles e os protegeria como não consegui com a bebê que meu pai, o biológico, matou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Eu gosto sempre de introduzir, mais ou menos, sob que perspectiva de ideias e passado estaremos entrando agora.

Assim que conseguir finalizar o próximo eu posto, com certeza já será com a Bella ali, ou pelo menos, o pós-ajuda que ele dá a ela já nos EUA.

Estarei aguardando as opiniões!