Ponto de Fusão escrita por Mony Celis


Capítulo 10
Capítulo 9




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09

Connor

 

 

Juliet dispensou Lena e o soldado para conversar a sós com os recém chegados. Apesar da pequena briguinha que tiveram, Lia e Jimmy se reconciliaram quase que imediatamente quando a comandante lhes perguntou como era a vida no Reino do Sol.

Ambos trabalhavam em uma confeitaria, aberta por Marine Noher. Juliet ficou surpresa por sua velha amiga ter abandonado a vida como curandeira, mas compreendeu que o serviço poderia estar lhe trazendo más recordações.

— Além de ser dama de companhia da falecida rainha, Marine também era chefe das curandeiras do reino — explicou a comandante. — Foi assim que ela conheceu o seu pai, certo?

Ela encarou Lia, que fitou o chão com o rosto ruborizado. Connor se deu conta de que não sabia como Ariel e Marine haviam se conhecido, mas provavelmente não ficaria sabendo por Lia.

— Alteza, Jimmy, será que poderiam nos deixar a sós? — perguntou Juliet.

O primo de Lia relutou.

— Minha tia pediu para que eu não saísse de perto dela.

A ruiva fuzilou o garoto com o olhar, parecia que estava prestes a socá-lo.

— Não se preocupe — interviu o príncipe antes que uma tragédia acontecesse na sua frente. — A biblioteca da comandante fica aqui do lado, você não vai estar desobedecendo sua tia.

— Isso mesmo! — concordou Lia. — Vá, você sempre gostou de ler.

Jimmy ainda parecia contrariado, mas seguiu Connor até a biblioteca. Os dois ficaram impressionados com a quantidade de livros que Juliet possuía, desde os que falavam sobre o antigo mundo até receitas de poções mágicas.

O príncipe observou o garoto folheando um livro, apesar do parentesco, ele não se parecia em nada com Lia quando o assunto era personalidade. Jimmy era medroso, os ombros sempre encolhidos, as mãos sempre procurando por algo para mexer.

— Ei! — O louro exclamou, despertando o príncipe de seus pensamentos. — Como assim a poção para descobrir as habilidades de alguém é um simples chá de camomila?

Ele mostrou a página do livro onde continha a receita e, de fato, ela ensinava apenas a fazer um chá de camomila e jogar pétalas de flores azuis sobre o líquido.

— Jimmy, a magia não é como nossos antepassados acreditavam — explicou o príncipe. — Os seres humanos a desenvolveram para que a espécie sobrevivesse.

— Então, ninguém aqui usa língua de sapo, asa de morcego e pernas de aranha para fazer poções?

— Você está lendo muitas histórias infantis.

Os dois sorriram, o comentário sarcástico trouxe a Connor algumas lembranças de seu pai. Ele era tão bem-humorado, será que havia uma parte de si que herdara essa característica?

Seus olhos percorreram as pilhas de livros pelo chão até encontrarem uma lombada de couro e um arrepio percorreu o corpo do príncipe. Ele reconheceria aquele livro até mesmo de olhos fechados.

— Meu Deus, é o livro das pesquisas do Rei Georgie! — exclamou Jimmy ao seguir o olhar do príncipe. — Eu e Lia sempre sonhamos em lê-lo! Ela vai ficar tão feliz!

Connor encarou Jimmy com sua expressão tão alegre e sentiu um contraste estranho de temperatura: seu sangue fervia, enquanto o frio preenchia a caverna. Ele respirou fundo e tentou se concentrar. Não era culpa de Jimmy, não era culpa de ninguém. Aven quem armara a emboscada e ele caíra sem saber.

— Está tudo bem? — perguntou Jimmy, provavelmente preocupado com a queda repentina de temperatura.

— Desculpe, Jimmy — disse Connor, ordenando a si próprio que parasse o gelo —, é que...eu fui expulso do palácio por causa desse livro.

O garoto arqueou as sobrancelhas e apertou os lábios, mas permaneceu calado, o que foi um alívio. Connor não estava preparado para reviver aquele dia.

*

Juliet os chamou de volta para seu escritório improvisado um tempo depois e explicou para Lia e Jimmy como funcionaria a aliança com o Reino de Júpiter.

— Eu quero ir! — exclamou a ruiva, seu primo a encarou assustado. — Meu pai nasceu lá, posso encontrar as respostas que preciso.

— Que tipos de respostas? — perguntou a comandante.

Lia não a respondeu, mas a determinação em seu olhar indicava que ela não aceitaria um “não” como resposta.

— Eu não vejo problema algum — disse Connor, encarando Juliet. Ele sabia que a comandante não faria nenhuma objeção.

Jimmy cruzou os braços e bufou.

— Eu vejo! Essa menina não está facilitando o meu trabalho de guarda-costas!

Juliet sorriu e arqueou as sobrancelhas, aquilo espantou os mais jovens, raramente alguém conseguia fazer tamanha proeza.

— Fique alguns dias treinando com a Coronel Tel’Aviv e você será o melhor guarda-costas do reino.

Isso pareceu convencer o garoto.

Quando os dois primos foram embora, Connor parou para pensar no que acontecera momentos antes, quando a inocência de Jimmy quase o fizera perder o controle de seus poderes. Ele sabia que o garoto não tinha culpa, mas por que suas atitudes o incomodaram tanto?

— Alteza, tem algo que preciso lhe dizer — disse-lhe Juliet. — Aquela garota que salvou a sua vida mal te conhece, mas já acredita tanto no senhor. É... extraordinário.

O príncipe lutou para manter sua expressão neutra. A comandante prosseguiu:

— Eu não posso mudar o que eu sinto, para mim, a democracia que o senhor defende levou a destruição do velho mundo. Mas se Lia, que não tem nenhum cargo no governo acredita no senhor, quem sou eu para não acreditar?

Ela colocou a mão em seu ombro, Connor não conseguia se lembrar da última vez que recebera um gesto de carinho como aquele.

— Meu príncipe, me prometa que o senhor também vai acreditar em si próprio.

Milhões de lembranças preencheram sua mente, a maioria eram lembranças de Aven e Ariel cuspindo em seu rosto dizendo que ele nunca seria um rei. Eles estavam tão longe do príncipe, mas por que insistiam em assombrá-lo?

As palavras custaram a sair da garganta.

— Eu prometo, comandante.

Os olhos de Juliet perderam o brilho, ela sabia que Connor estava prometendo algo que não sabia se conseguiria cumprir.

— Então, que a guerra comece.


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