Pov Anna

Quando a quarta-feira chegou eu já estava com os nervos à flor da pele e quanto mais as horas passavam mais parecia que o coração iria sair pela boca. “Ela tem namorada, tudo bem que ela é gostosa pra caralho, mas ela é fruto proibido.... Não se dá em cima de alguém que namora e é comprometida... sim, eu sei que ela é um pedaço de mal caminho e que quando ela olha nos meus olhos parece que eu vou derreter ou vou perder a minha sanidade, mas o que eu posso fazer se os olhos dela são tão.... PARA!!! Ela é comprometida”

A minha cabeça não entendia que ela era inalcançável e que eu não daria em cima de alguém que é comprometida. Eu cheguei na sala rezando para que ela facilitasse e usasse umas roupas mais compridas, tipo uma calça e uma camiseta, afinal não custava nada facilitar a minha vida.  “Ela realmente não me ajuda” pensei observando a professora sentada em um canto dormindo de short curto e top.

Ela estava dormindo tão tranquila que eu não tive coragem de acorda-la para o começo da aula, então eu me sentei ao lado dela e aproveitei para tirar uma foto e guardar o momento. Ok, talvez eu seja muito gay, mas o que eu posso fazer se ela estava linda dormindo. Quando estava quase dando 20h da noite percebi que precisaria acorda-la pra fechar a sala e ir embora.

—- Lu?? – Perguntei suavizando a voz enquanto passava a mão pelo rosto dela e afastava seu cabelo para trás da orelha. “Ela é linda demais e a pele dela é macia...”

—- Humm – resmungou me ignorando

—- Ta na hora de acordar

—- Nãoo – Respondeu manhosa dormindo ainda

—- Tá sim querida, já são quase 20h. – A cada minuto eu me arrependia de estar acordando ela, devia ser um crime acordar alguém tão linda.

—- Que horas?? – Perguntou ainda de olhos fechados, mas agora ela franzia as sobrancelhas um pouco, como se estivesse confusa, mas ainda dormindo. Aquilo era fofo demais!!

—- São 20h.

—- PUTA QUE PARIU!!! – Levantou em um pulo extremamente alerta – A nossa aula, porque você não me acordou??

—- Eu não consegui.... Você parecia... cansada. – Respondi preferindo ocultar que ela estava linda demais dormindo pra ser acordada sem necessidade e que eu havia ficado uma hora observando enquanto ela dormia. Isso era loucura demais, até pra mim.

—- Mas o que você ficou fazendo... Meu Deus, eu devia ter colocado um despertador... Desculpa Anna, isso não vai acontecer de novo, onde eu estava com a cabeça. – Ela estava bem agitada e nervosa, claramente incomodada de ter perdido a hora e aula.

—- Ta tudo bem!! De verdade, eu que não te acordei. Calma... não tem problema, Lu

—- Não, isso nunca aconteceu e justo hoje que era só você na aula... isso não acontecer de novo. Eu te devo uma aula... Como eu fui fazer isso...

—- Heyy, ta tudo bem – Respondi segurando o rosto dela para que ela conseguisse focalizar no meu rosto e entender. – Eu que não te acordei, podia ter acordado, mas preferi te deixar dormir. Mas ta tudo bem, você não fez nada demais e não me deve nenhuma aula.

—- Desculpa!! – Ela disse olhando nos meus olhos e respirando junto comigo, finalmente entendendo que estava tudo bem.

—- Eu desculpo, mas agora nós temos que ir. Já se passou das 20h

—- É verdade... Mas eu fico te devendo uma ok?

—- Ok. Eu vou cobrar!!

—- E eu vou ficar feliz em pagar

—- Eu não falaria isso antes da hora. Você vai pra casa como, a Julia vem te buscar? – Talvez eu tenha deixado a curiosidade me levar, mas eu sou filha de Deus.

—- Na verdade eu vou andando mesmo... Eu e a Julia terminamos... – Ela falhou por um momento e dava pra ver que estava triste. E eu juro que me senti extremamente culpada pela mini pontada de felicidade que surgiu no meu estomago.  – Eu estou ficando no apartamento do Felipe por enquanto.

—- Haa sim, eu sinto muito pelo seu termino... Mas você quer uma carona? Eu to de carro aqui e posso te deixar lá. – Eu fui sincera ta bom?? Apesar de estar desejando ela dos pés à cabeça, é sempre triste ver um casal chegar ao fim.

—- Não precisa... Você já me deixou dormir durante a aula, não precisa fazer isso. – Ela corou um pouco.

—- Sem desculpas... Eu vou te deixar. Bora, o meu carro está logo ali. – Era impressão minha ou ela estava nervosa? Talvez fosse impressão, afinal quem estava nervosa era eu. E muito para ser sincera. Antes que ela pudesse recusar eu peguei a bolsa dela e já fui andando em direção ao carro.

—- Você não vai aceitar um não né?

—- Você já sabe a resposta.

Ela se rendeu e entrou no carro logo depois de mim.

—- Onde fica o apartamento? – Perguntei ligando o carro, porém a resposta não veio – Lu, onde fica o apartamento do Felipe?

—- He... fica... – Ela estava travada e claramente lutando com as lagrimas

—- Tudo bem, eu entendo

Comecei a dirigir e fui para o meu apartamento que sabia que estaria vazio, afinal o Vini não estava. Puts... O Felipe também não estava...

—- Você não quer ir pra uma casa vazia né? – Perguntei rezando para não invadir o espaço pessoal dela. A resposta veio como uma negação leve com a cabeça. – Tudo bem.

Cheguei no prédio e estacionei na garagem. Ela ainda estava chorando quando desceu do carro meio confusa.

—- Onde a gente tá?

—- No meu prédio. Vem, vamos subir. – Peguei na mão dela e a senti quente e macia junto a minha enquanto guiava a lutadora para o meu apartamento. – Chegamos.

Então, assim que eu fechei a porta ela me puxou me beijou. Foi sem jeito, contido, molhado e salgado, as lagrimas continuavam correndo.

—- PARA – Eu a empurrei e me deparei com o seu olhar assustado

—- Anna... me desculpa... eu não... me desculpa – Ela voltou a chorar desesperadamente desabando no sofá e afundando o rosto nas mãos com vergonha

Eu queria aquele beijo... Deus sabe como eu queria e mesmo conhecendo ela a pouco tempo, já havia imaginado o gosto daqueles lábios várias vezes. Mas não assim, queria que ela me beijasse por desejo, por querer e quem sabe até por amor, mas no lugar disso eu ganhava um beijo regado de lagrimas que ela estava derrubando por uma outra mulher. Dor não estava na lista de sensações que eu imaginei sentir quando finalmente encostasse os meus lábios nos dela, mas ainda assim doeu.

A imagem dela completamente destruída no meu sofá fez com que eu colocasse toda a minha dor no bolço e me ajoelhasse na frente dela, tirando a sua mão do rosto e secando as suas lagrimas. Novamente coloquei o seu cabelo atrás da orelha e pude contemplar a beleza dela bem de perto, mas perceber aquilo doeu mais ainda.

—- Olha pra mim, por favor.

—- Você deve me odiar... me desculpa, eu já vou embora...

—- Me escuta, eu não te odeio. Eu gosto de ti, de verdade, eu realmente gosto e desde quando eu te conheci eu queria aquele beijo. – Dava pra ver a completa surpresa nos olhos dela, na verdade eu mesma estava surpresa com as coisas que estava falando. – Mas eu não quero assim, não quero um beijo regado me lagrimas, muito menos lagrimas que você esta derramando por outra pessoa. Eu sei que nós nos conhecemos a pouco tempo, mas eu acho que isso é uma oportunidade, nós não precisamos apressar nada e temos tempo de desenvolver uma amizade e talvez até alguma coisa a mais.... Você ta me entendendo? – Precisei perguntar quando vi que ela me olhava extremamente surpresa com a minha sinceridade.

—- Sim... Anna...

—- Deixa eu terminar. Você acabou de terminar um relacionamento importante, eu não sei exatamente as circunstâncias do fim do seu namoro, mas é visível que você está destruída por dentro e eu acredito que tenha me beijado pra tentar sentir alguma coisa e provar pra si mesma que ainda está viva, certo?

—- Sim. – Respondeu baixando o rosto envergonhada

—- Eu entendo, de verdade. Já estive no seu lugar e eu sei como é se sentir morta por dentro tentando a todo custo sentir o coração voltar a bater, mas eu não sou um backup e nem uma reserva. Nós acabamos de nos conhecer e eu realmente espero que nós tenhamos um futuro ou como amigas ou como algo mais, então isso que eu só vou te falar isso uma única vez, tudo bem?

—- Tudo – Era visível que ela estava gravando aquelas palavras na memoria

—- Da próxima vez que você me beijar, eu espero que seja porque você ta apaixonada por mim. Porque se você me beijar pra preencher um vazio deixado por outra pessoa, esse vai ser o último contato que nós vamos ter.