How in the world could it go so far? escrita por Corelli


Capítulo 1
Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas!

Depois de ter assistido a primeira temporada de Carmen Sandiego, eu não podia deixar esse casal sem nada. Espero que a segunda nos traga algo trabalhar hahah

Boa leitura! :)



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A primeira vez que Julia registra o azul cinzento dos olhos de Carmen depois da breve conversa no trem, ela não tem certeza do que está acontecendo. Tudo pareceu acontecer diante de si em um espaço menor do que um segundo.

 

Em um primeiro momento, Julia tem sua arma apontada para uma mulher que certamente fazia parte da VILE com seu papel afiado demais para a agente da ACME pensar que realmente se trata de papel e com sua figura muito destoante da equipe de segurança do Museu Nacional do Rio de Janeiro. 

 

"Você quer tentar a sua sorte, agente?" A mulher levanta as mãos na altura do peito revelando inúmeras estrelas de papel entre os dedos.

 

E no momento seguinte, a figura de Carmen aparece em sua frente empurrando-a para o chão para desviar dos origamis coloridos que voam na sua direção. 

 

O rosto da ladra paira um pouco acima do seu, os olhos dela se arregalam levemente e Julia consegue ver minúsculos pontos mais escuros se entrelaçando com o azul. Ela pensa no encontro do rio Sena com o céu azul de Paris, a mistura de tons da última vez que esteve na cidade francesa.

 

"Você está bem?" Carmen pergunta sem se afastar.

 

Julia não sabe o que responder, pois nesse mesmo momento o cheiro indistinguível de ferro alcança suas narinas e ela sente a pele acima de seu umbigo úmida. É sangue, ela reconhece. Mas não há como dizer exatamente se é seu ou da mulher que ainda está a segurando contra o chão. Sua dúvida desaparece quando a dor finalmente a atinge transformando sua expressão em uma careta. 

 

"Não. Acho que estou ferida", Julia diz em suas palavras trêmulas e a ladra desvia seu olhar para o rasgo aberto no abdômen da agente, antes de se levantar.

 

Carmen olha para algum lugar atrás de si e parece ponderar alguma decisão. Ela vê a ruiva apertar os lábios vermelhos enquanto a ajuda se levantar oferecendo seus ombros como apoio. 

 

"Não", Julia protesta tentando se apoiar contra a parede mais próxima. "Vá atrás dela."

 

"Eu não posso te deixar assim."

 

"Devineaux também está aqui", ela recua mais alguns passos cambaleando. Julia quer que Carmen siga seu caminho, persiga aquela mulher e prove mais uma vez que não está fazendo nada além do que é o certo. Mas a ladra se aproxima novamente e ela não consegue recusar a sua ajuda quando sua visão se escurece um pouco e a mão quente de Carmen surge sobre a sua pressionando o ferimento profundo.

 

"Então eu vou te levar até ele", Carmen diz olhando diretamente para o seu rosto. "Eu só preciso que você aguente mais um pouco."

 

"Ok", Julia tenta prometer, mas os seus sentidos escorregam e tudo o que é ela consegue registrar é o aperto mais firme de Carmen e sua voz muito perto de seus ouvidos. 

 

"Não, não, Jules, não. Fique comigo, por favor."

 

"Sinto muito por estragar sua roupa", Julia  consegue murmurar antes que tudo o resto se apague.

 

Algumas horas depois quando ela acorda, Devineaux está adormecido em um banco perto de seu leito, apoiando-se totalmente contra a parede atrás de si que Julia pensa ser de um hospital. Ela olha para sua pele enfaixada, mas não é isso que chama a sua atenção. Aos seus pés está um artefato arqueológico egípcio que ela reconhece ser do Museu Nacional.



—___




A segunda vez em que está no mesmo espaço que a dama em vermelho, Julia não espera por isso. Já se passaram duas semanas desde a missão no Brasil e a agente está em seu apartamento em Londres ainda se recuperando. Julia sai de sua cozinha segurando uma xícara de chá firme em seus dedos quando Carmen aparece sentada em seu sofá, seus longos cabelos ruivos soltos balançando no vento que invade a sala pela janela aberta atrás da ladra.  Ela olha para Julia com um sorriso torto em seus lábios e a sugestão de um desafio para se aproximar em seus olhos azuis. 

 

“O que você está fazendo aqui?” É o que ela consegue perguntar quando Carmen retira seu chapéu descansando ao seu lado no couro escuro do sofá. “Como você me encontrou?”

 

“Olá para você também, Jules”, Carmen se levanta. 

 

Julia não tem certeza de como se respira. O ar some de seus pulmões  quando a outra mulher se aproxima até pouco menos de um metro. Ela está com medo de Carmen? Não. Não é medo. Julia não sabe exatamente como se sentir sobre isso. A ladra internacional mais procurada ali em pé bem na sua frente, sorrindo. Mas também a única que realmente tem feito alguma coisa boa no circo internacional que se tornou a caçada pela VILE. Carmen é uma das mocinhas. Julia sabe disso, não há quem mude sua mente, não depois que ela também salvou sua vida. Não há razão para temê-la. 

 

Ainda sim Julia tem dificuldade para recuperar seu fôlego e parece ainda mais difícil quando a luz do sol de fim de tarde atinge o rosto de Carmen. Seu coração está fazendo um número no seu peito. 

 

“Eu só quis passar para ver como você está”, Carmen se aproxima um pouco mais. 

 

“Eu estou bem”, Julia segura a xícara em uma só mão para que a outra esteja livre para empurrar seus óculos para cima no nariz. “Ainda me recuperando, mas muito melhor do que na última vez que nos vimos."

 

"Fico feliz em ouvir isso.”

 

“Obrigada”, Julia diz de repente e sua voz soa muito mais suave. “Obrigada por me salvar e por recuperar a máscara dourada para o museu do Rio de Janeiro. Eu não tive a chance de dizer isso lá no Brasil. Na verdade nunca tive a chance de te agradecer por tudo o resto.”

 

“Você não precisa. É o tipo de coisa que eu faço. Meu trabalho.”

 

“Eu sei. Mas, de qualquer forma, obrigada Srta. Sandiego.”

 

“Eu gostaria de ouvir Devineaux dizendo isso”,  a ladra sorri para a agente. “Mas desde que imagino que isso seja impossível de obter como algo em troca do trabalho que tenho feito, eu gostaria que você me chamasse de Carmen.”

 

Julia sente o seu o rosto quente e ela imagina o rubor alcançando suas bochechas quando o sorriso da mulher a sua frente se alarga um pouco mais. Ela não consegue evitar sorrir também. 

 

A verdadeira razão pela qual Carmen está ali ainda cutuca suas costelas ainda que ela queira acreditar nas palavras de Carmen. Julia precisa ser cuidadosa mesmo que confie nela. Ela não deixou de ser uma agente da ACME e uma conexão com o outro lado pode ser significar algum avanço para finalmente rastrear o que sua chefe não conseguiu em vinte anos. Julia só espera que sua pergunta não ofenda sua visitante.

 

“Então, você realmente está aqui para ver como estou?” O sorriso de Carmen vacila imediatamente e ela se arrepende de ter perguntado. Mas ao contrário do que ela imagina, a ladra não recua. Carmen desvia seu olhar para o chão e solta uma risada estranha antes de olhar diretamente nos olhos de Julia outra vez. 

 

“Eu pensei que você fosse perguntar isso. Não te culpo, com todo esse jogo de gato e rato acontecendo. A verdade”, ela estuda a expressão da agente. “A verdade é que estive trabalhando por perto e pensei que uma visita não me mataria.” Carmen parece tímida pela primeira vez na conversa, mesmo que suas palavras não soem assim.

 

“Oh”, é a vez de Julia desviar o olhar. A intensidade de Carmen queima a sua linha de raciocínio. “Se é assim, você gostaria de uma xícara de chá?”

 

“Eu adoraria.”



 

 


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