A Bela e a Fera - Livro 1 escrita por Monique Rabello, Kyrion


Capítulo 17
Capítulo Final: O Baile - parte 1




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[P.O.V. Fera]

Os dias seguintes passaram com estranha rapidez, talvez porque estivesse com tantas coisas na cabeça.

Levei a sério as aulas de etiqueta real que Horloge me apresentava. Não foi difícil memorizar as informações, mas tivemos que adaptar algumas coisas – como a ordem, posição e uso de talheres. Com prática, fui descobrindo de que maneira conseguia comer que fosse segura e parecesse minimamente elegante.

As aulas que me tomaram mais tempo e mais me deram gosto foram as de dança, que tive com Chevet e Cadenza. Em alguns momentos, cheguei a me frustrar, mas logo achei o gosto, o prazer e a minha maneira de executar os passos. Mesmo ainda longe de dominar os movimentos, descobri que aprendia rápido e não era ruim naquilo; logo quis conhecer outros ritmos, que me foram apresentados pelo maestro, que parecia se divertir bastante.

Tais ocupações me privaram da companhia de Bela mais do que de hábito. Às vezes, dizia apenas que estava ajudando ou sendo consultado em relação a algum preparativo do baile. Não me pressionou com perguntas, e é provável que desconfiasse de alguma coisa, sendo delicada demais para questionar.

Vivi outro pequeno conflito com minha roupa. Quando estava pronta, chamaram-me para a última prova e ajustes finais. Indeciso, fiquei admirando as ricas peças de azul profundo e aveludado, os detalhes bordados em outro pálido e prata, o grande e fino lenço que estaria em meio peito, as rendas muito alvas nos punhos.

“Não gostou, amo?” Horloge perguntou-me, entristecido.

Sacudi o rosto. “Não é isso. Pelo contrário. É a roupa mais bonita que já vi. Nem sei se tanta riqueza poderia ficar bem em mim.”

“Não diga tais coisas, amo!” o relógio me respondeu. Era o mais próximo que chegava de me censurar. “É preciso experimentar para descobrir!”

Fui auxiliado e orientado para lidar com tantos botões e fitas para amarrar. O traje exigia que eu mantivesse uma boa postura para que ficasse perfeito, já que era a roupa mais ajustada que já experimentara até então; mas não era desconfortável, o que era surpreendente. Chevet conseguiu amarrar o meu lenço, mostrando cada passo para que eu aprendesse.

“E então, o que acha agora?” Horloge perguntou-me, com expressão satisfeita.

Olhei meu reflexo com o traje completo. Mesmo um tanto descabelado e visivelmente inseguro, não podia negar que me caía bem, e que as peças eram lindas. Criavam uma silhueta em meu corpo bem mais harmoniosa e menos bruta do que o habitual, talvez pela presença dos longos pelos escuros que me cobriam.

“Eu não poderia pedir nada para melhorá-lo.” Respondi.

“Então vai usá-las?”

Confirmei com a cabeça, e todos os presentes ficaram felizes. Tudo fora feito com tanto cuidado que quase não havia qualquer ajuste a fazer.

Quanto ao Castelo, não precisei de fato me preocupar. Sabendo da novidade, todos se animaram e cuidaram de seus afazeres com diligência. Notei que, em pouco tempo, foram tocando menos no assunto e pararam de dizer o que fariam no dia do evento. Demorei a entender o que aquilo significava, mas acabei descobrindo.

Fariam aquela noite apenas para Bela e para mim.

Os arranjos visavam apenas nos proporcionar um momento especial e a mais ninguém. Perceber isso despertou em mim uma porção de sentimentos, como insegurança, constrangimento, euforia, expectativa, gratidão. Um momento como aquele se tornaria a oportunidade para... o quê?

Até a primavera contribuiu à sua maneira. Nunca o jardim crescera e florescera tão rápido quanto naquele ano. Todos os canteiros se encheram de flores, bem como as paredes externas do Castelo, e qualquer lugar por onde as plantas pudessem subir. Mesmo as escadarias internas foram povoadas de cores e perfumes que pareciam um sonho, polvilhando pétalas nos cômodos e corredores, que flutuavam à menor brisa. Ninguém se aborreceu por precisar ter um pouco mais de trabalho na limpeza, pois o encantamento era maior.

Notei ainda que, diferente de antes, a invasão não tinha nada da aparência um tanto assustadora que podia assumir. Nada de cantos sombreados, raízes retorcidas, espinhos. Pairava um ar de “vida”, fizesse chuva ou sol.

A última providência que tomei, pouco antes do dia do baile, foi tentar melhorar meu próprio aspecto. Hesitei um bocado, mas acabei por pedir que aparassem um pouco meus pelos no corpo, acertei a mandíbula onde nascia minha “barba”, ajustei os cabelos, que ainda mantive longos. Tirei as pontas quebradas das garras e lixei as asperezas dos chifres. Foi engraçado me sentir tão “visível” com menor pelagem. Estava constrangido no primeiro jantar que tive com Bela depois da longa tarde de tratamentos estéticos, chegando sem saber qual seria sua reação, ou mesmo se notaria, já que estava vestido em quase todo o corpo.

***

[P.O.V. Bela]

Os dias que seguiram foram tranquilos. Aqueles objetos não paravam em qualquer momento e agiam de alguma maneira estranha quando eu passava. Horloge possuía uma maneira específica de mentir que acabava por não me incomodar. Ficava ainda mais nervoso do que o normal e ria várias vezes entre partículas de falas tentando me afastar dos lugares. Era fácil deduzir que eles e até mesmo Fera tramavam algo... Pois apenas dizia que iria ajudar a escolher os preparativos do baile, mas era apenas eu chegar perto do salão que alguém me puxava pela mão para outro lugar. Deixei-os imaginar que me enganavam, tentando não pensar no quanto deveriam me achar tola o suficiente para não notar.

Por mais que eu insistisse em não dar trabalho, as criadas faziam questão de costurar um vestido novo para mim, comentando acharem que eu merecia algo de fato especial desta vez, já que vestiam Fera com bastante elegância em seu cômodo particular. Acabei aceitando e aprendi aos poucos a me animar com a ideia de escolher a cor: amarelo.

Amaram a escolha e com o dia cada vez mais próximo, vieram ao meu quarto algumas vezes para ajustes e trocar ideias... até o momento em que chegaram com ele pronto como algo de contos de fadas. Alguns pedaços de pano até mesmo flutuando.

Vestiram-me delicadamente e Plumette junto com mais uma espanadora sem fizeram uma prévia de como estaria o meu cabelo. Olhei-me no espelho do novo guarda-roupa e suspirei por um segundo com um sorriso... pela primeira vez em muito tempo, senti-me como uma princesa. Passei a mão no gostoso tecido da saia... a cintura bem apertada e o véu nos braços dando ainda mais tom de realeza.

“Está... perfeito...” comentei feliz, sentindo a ausência de Madame de Garderobe neste momento. Como ela estaria alegre e esfuziante... Tive vontade de correr até onde ela estava, mas não estragaria o sigilo e o trabalho das outras moças por conta disso. Controlei-me, atenciosa à sua animação.

“Você está linda, querida...” Madame Samovar comentou, chegando mais perto com seu carrinho, dando-me seu sorriso acolhedor de mãe. “Vai ser um momento maravilhoso... vai estar esplêndida!”

“Acham que Fera vai gostar?” perguntei, um tanto insegura, passando a mão pela barriga, mordendo de leve os lábios. As moças entreolharam-se com um sorrisinho animado.

“Claro que vai! Por que está assim, princesa?” Plumette perguntou EME sentei na cama querendo conversar, mas também disfarçando para testar se o vestido era flexível o suficiente. As duas chegaram mais perto.

“Em algum momento percebi que comecei a gostar dele... deixei os meses passarem para saber se era real... poderia ser apenas carinho, gratidão, medo do externo. Mas havia algo bem mais forte. Sabem? Eu não quero viver fugindo... Em algum momento os guardas de meu pai vão me encontrar... e eu não sei o que será de mim. Mas até lá... eu queria poder ser feliz... e... se ele também quiser... eu quero ficar aqui... ser feliz com vocês, com ele. Poder amar ao menos uma vez.” Senti ter ficado mais emotiva do que o necessário, parando.

“Querida... vai ficar tudo bem. Como pode acreditar tanto que conseguiremos nos libertar e você não? Vamos ajudá-la se necessário. Faz tanto por nós.” Madame comentou, subindo em mim para me dar conforto. “Tome uma xícara de chá. Se sentirá melhor.” Uma xícara animada veio a mim e foi enchida. Levei-a aos lábios, agradecendo ao secar a lágrima que escorrera.

“Olha, eu acho que o mestre quer muito que você fique no castelo. Pegou sua mão na frente de todos nós naquele dia. Acho que ele pedirá que fique de alguma forma.” A espanador disse, doce. Sorri com a lembrança... Realmente havia sido a primeira vez que demonstrava aquele afeto perante todos. “Estamos aqui com você.”

“Eu acredito que esse baile vai ser importante. Sentindo, só não sei o quê. Estou ansiosa!” falei já um pouco mais feliz, acalentada por suas palavras.

Apenas paramos de conversar na hora do jantar. Um cheiro diferente vinha de Fera e comecei a reparar nele... o cheiro era bom e os pelos estavam diferentes. Estava constrangido demais para não ser nada. Sorri para ele quando notei o principal.

“Gostei. Dá para ver mais de você... e está cheiroso!” brindamos.

[P.O.V. Fera]

“Ah, obrigado!” respondi baixinho, baixando os olhos por um momento. Ela tinha reparado, e entre as coisas que senti estava a satisfação que tivesse gostado. “Vou tentar... me manter assim.”

Notei que parecia mais sensível e tive medo de ser indelicado perguntando diretamente; vínhamos conversando de maneira cada vez mais franca e já teria se aberto comigo se quisesse fazê-lo. Preferi aguardar e ver se viria a mim... ou se algo mudaria depois de nosso baile.

Segui o jantar da maneira mais natural. “Ainda não tive nenhum contato do feiticeiro. Desde aquele estranho incidente com a Rosa, quando ouvi o canto do corvo, não tive mais nenhum sinal. Parece que ainda não descobrimos o próximo teste.” Torci o lábio, cortando uma fatia de carne. “Espero que ninguém fique inquieto ou decepcionado...”

Depois, também lhe perguntei do que estava achando da primavera exuberante que o Castelo exibia, e se também estava se divertindo com os segredos dos servos em relação aos preparativos. “Já não me deixam entrar no salão e me apressam sempre que passo por aquele corredor.” Comentei, divertido.

[P.O.V. Bela]

Procurei não falar sobre meus problemas, afinal, não sabia se esperava que perguntasse ou dissesse algo. Como se agia sobre isso naquela cultura? Além de a festa estar mais próxima, e eu querer manter o clima bom. Foquei-me nos assuntos que narrava.

“Imagino que ele tenha, sim, ouvido seu chamado, mas não achou ser o momento de responder. Pode estar esperando alguma coisa acontecer ou sei lá...” dei-lhe um sorrisinho antes de beber um pouco de suco. Dei de ombros com a menção ao próximo teste. De fato, nunca sabíamos antes de passarem.

“A primavera é de fato tudo o que você disse, não é? Estou já no meu terceiro bouquet do quarto. É incrível!” ri levemente. “Já nem passo muito lá para não acharem que estou bisbilhotando. Estou ansiosa para ver o que prepararam.”

***

[P.O.V. Fera]

O dia chegou e dormi bem pouco. Gradativamente, o baile ocupou meus pensamentos me fazendo esquecer do feiticeiro, da Rosa, da maldição. Ninguém do Castelo parecia especialmente preocupado e tampouco eu fiquei.

Desde cedo de manhã, vivi momentos de nervosismo alternados com outros de paz. Saí para um passeio ainda antes de o Sol desfazer os véus de neblina no jardim e na floresta para além dos muros. Andava lentamente, respirando fundo, ouvindo o canto dos pássaros; atrevi-me a sair pelo portão e percorrer umas poucas trilhas da mata, sem sentir o cheiro ou perceber o ruído de qualquer perigo.

Sentei-me à mesa do café esperando um pouco por Bela, notando que já tiveram um cuidado especial com o ambiente desde cedo. As cortinas bem recuadas para a luz entrar, filtrada pelas folhas e ramos, mais velas do que de hábito, uma toalha de mesa perolada, os alimentos dispostos com carinho nos pratos, travessas e bandejas, acompanhados de flores. Agradeci por tantos cuidados e notei muitos sorrisos, o ar de expectativa e travessura.

Quando a princesa chegou, preferi conversar habitualmente, como se não fôssemos viver algo de especial naquele mesmo dia, algo que sentia muito mais do que podia explicar. Propus que passássemos a manhã juntos e gostei que tenha aceitado tão rápido. Pegamos algumas coisinhas e mais uma vez desci as escadas da entrada, acompanhado daquela vez.

Passeamos até encontrar o lugar perfeito, com uma mesa de pedra esculpida nas arestas com grande habilidade, junto a vários canteiros e de onde podíamos ouvir o som de uma das fontes. Não me lembrava daquele lugar como sendo tão bonito, intacto e agradável, mas podia estar enganado.

Continuamos conversando. Percebi, porém, que estava um pouco mais silencioso e várias vezes fiquei uns bons segundos quieto apenas olhando para ela, sentindo ternura e amor. Não sei quantas vezes sorri, apenas fazendo isso.

Quando pensei em me levantar para pedir que nos aprontassem o almoço, notei atrás de mim a aproximação cuidadosa de alguns carrinhos, que já nos traziam aos poucos a refeição e as louças e talheres. Comemos lá mesmo, com uma brisa deliciosa nos acariciando, som o som e as fagulhas brilhantes dos galhos que se agitavam.

O almoço terminado, lamentei termos de nos levantar daquele local tão confortável para o coração, demorando-me ainda um pouco, sem exagerar, por não saber quanto tempo Bela precisava da tarde para seus preparativos. Dei-lhe o braço para que me acompanhasse, como já vinha fazendo algumas vezes, até chegarmos juntos à beira da escada.

“Até hoje à noite...” falei-lhe baixo, sorrindo de leve, segurando sua mão em minha pata por um pouco mais de tempo.

Fui até meus aposentos para tomar meu banho, onde demorei além do necessário, mas que era relaxante. Sequei mais rápido com o clima mais ameno e menos úmido, e com os pelos mais curtos. Estes também se mostraram práticos quando a escova animada por magia me desembaraçou inteiro em muito menos tempo do que esperava.

Os objetos mágicos ainda poliram meus chifres, cuidaram de minhas unhas e dentes... e mesmo assim tinha tempo de sobra sem saber o que fazer com ele. Depois de ficar um bom tempo na cama apenas balançando as patas, procurei algo para ler. Foi assim que Horloge e Chevet me encontraram, trazendo as roupas que me ajudariam a vestir: apenas matando o tempo com um livro de poemas, recostado na cama ainda nu.

“O senhor assim faz uma bela figura...” ouvi a voz brincalhona de Lumière, que aproveitara um momento livre de suas ocupações no salão para vir ver se precisávamos de alguma coisa. “Acho que sei de alguém que iria gostar...”

“Lumière!” Horloge estava escandalizado. Ri, um pouco sem jeito, do candelabro com sua eterna postura de garanhão. Algo em mim queria muito que estivesse certo.

As roupas foram colocadas e ajustadas com o cuidado que só eles tinham, sem qualquer pressa. Os brincos e a corrente do casaco foram discretos, pela quantidade de detalhes nas vestes. Parte do meu cabelo foi trançado, e então preso para trás em um rabo de cavalo baixo e um pouco frouxo, dando um ligeiro toque tribal que não desaprovei.

Olhei-me novamente no espelho, todo pronto. Os servos cobriam-me de conselhos, principalmente Horloge, relembrando as aulas que tivemos; o quanto precisava ser cavalheiro, cortês, polido, sem arrogância, com boa postura, fineza, elegância, confiante, prudente, com um toque de charme e virilidade, mas, sobretudo, ser natural e ser eu mesmo.

Deixaram-me a sós apenas por instantes para conferir se podíamos descer. Não encontrei Bela no caminho até o salão. As portas abriram-se sozinhas quando me aproximei.

O lugar estava de tirar o fôlego. Iluminado por incontáveis velas no lustre deslumbrante e nos castiçais das paredes, polidos até parecer ouro puro, com correntes de cristais que multiplicavam os pontos de luz, o salão estava impecável até reluzir, com sua mesa enorme decorada de tal forma que, mesmo sendo um jantar para dois, não parecia vazia ou exagerada. Todas as colunas estavam trançadas com flores, que salpicavam algumas pétalas no piso. Até a pintura no teto estava mais vívida e retocada, bela como um quadro feito por anjos.

“Bem vindo, meu amigo. Por sua expressão, vejo que acertamos em cheio.” A voz de Cadenza me trouxe de volta à realidade, e sua figura também me foi uma surpresa. Estava repintado, todo de branco com frisos dourados, flores pousadas onde ficariam as velas junto às partituras. Tinha um ar sereno e satisfeito ainda mais acentuados que o normal.

“Você está... lindo.” Não encontrei outra palavra. “A vida a dois tem lhe feito bem.” Acrescentei discretamente, com um sorriso sincero.

“Já pensava em mudanças. O baile foi apenas um bom pretexto. Também estou impressionado. Dê uma volta.” Ele me indicou e obedeci. Ele soltou um assovio. “Faço minhas as suas palavras. Todas elas.”

Estava para lhe responder quando ouvi passos se aproximando, e o som das portas se abrindo novamente.

***

[P.O.V. Bela]

Nem acreditei como consegui dormir naquela noite. Estava tão ansiosa e animada... mas a leitura do livro de cabeceira foi infalível para me ajudar em um sono mais rápido e profundo. Acordei como se passarinhos cantassem para mim em uma euforia sem limites. Quase rodopiava pelo quarto por ser o dia, enfim!

A primavera, além de tudo, trazia a brisa gostosa da manhã ao meu rosto e coloquei um dos vestidos mais simples do armário (mesmo que floridinho) para descer e tomar café, chegando à mesa quase em saltitares.

Estava tudo mais arrumado e ri feliz com a ideia. Poderia até mesmo cantar de alegria e me senti novamente, e finalmente, uma princesa. Acompanhei a conversa normal que Fera começou, mesmo não estando preocupada em conter o entusiasmo. Sempre que algum dos servos se aproximava, eu elogiava algo com bastante veemência. Aceitei passar a manhã com ele acabando por diverti-lo com toda a minha felicidade. Dei-lhe o braço e fomos andando até o jardim, que naquele dia também parecia estar alegre de alguma maneira.

Acabei por me sentir bastante tagarela naquela mesa de pedra, enquanto ele respondia pouco. Às vezes até dava uns rodopios comentando meu envolvimento com personagens dos livros que eu já me alegava ler bem mais rápido. Seus sorrisos sinceros me agradavam.

Ao reparar que carrinhos chegavam com comida para que continuássemos aquele momento gostoso, agradeci alto para Madame Samovar e sentei-me mais uma vez ao seu lado para desfrutar do que haviam preparado de delicioso, como sempre. Consegui me acalmar um pouco comendo, a euforia acompanhando a comida e restando apenas a felicidade.

Saímos dali com tranquilidade e dei-lhe o braço mais uma vez, um pouco mais quieta então, mas fazendo uma pose feliz para que desse alguma risadinhas comigo. “Até.” Despedi-me sorridente e deixei-o ir para seus aposentos, voltando para o jardim por um momento.

Passei as mãos pelas plantas em um canto baixinho de alegria. Fui até Philippe para saber se estava bem e cavalguei um pouco com ele para descarregar a adrenalina. Pulava por alguns galhos maiores e até fazia algumas gracinhas para mim. Saí dali um pouco mais pronta para voltar ao quarto e me arrumar.

Foi bem gostoso o processo. Sozinha no quarto, ainda cantarolando baixinho, tomei um gostoso banho de banheira que levou mais ou menos uma hora, com esponjas e um chazinho gostoso. Passei a maior parte do tempo da arrumação nua em meu banheiro. Maquiei-me devagar no espelho que ali havia, prendendo o cabelo para dar uma finalização melhor com alguns cachos.

Pintei as unhas dos pés e das mãos sentada na cama e quando falta apenas uma hora para o baile acontecer, vesti as roupas de baixo e finalmente chamei alguém da porta para ajudar com o vestido.

Plumette foi quem respondeu e fiquei internamente alegre por apenas tê-la em meu quarto junto com um objeto ajudante sem voz. Acertou meu espartilho, alinhamos o vestido e fizemos o cabelo. Ambos fizeram um elegante penteado de meio coque no alto da cabeça com detalhes em dourado de que gostei muito.

Agradeci os elogios baixos da moça com alegria. Estava mais tranquila agora que já pronta... olhando-me ainda algumas vezes para checar se estava tudo certo e por fim sorri.

Apenas cinco minutos antes da hora marcada saí pela porta de meu quarto, apenas correspondendo a alguns sorrisos pelo caminho até o salão onde tudo aconteceria. O ar de todo o castelo parecia diferente. Respirei fundo quando estava apenas a alguns passos e a porta do local se abriu jogando toda a sua beleza de uma vez em meus olhos.

Esforcei-me para andar devagar e olhar toda a magnitude do ambiente antes de fixar meus olhos em Cadenza, que já fazia uma leve trilha sonora para meus passos. Levei a mão ao peito com sua nova bela aparência e correspondeu-me com um baixar da fronte e umas notinhas alegres. Andei até Fera com as mãos unidas à frente, sem jeito e ainda muito feliz. Estava magnífico, mas ainda não era hora de comentar. Sorri um pouco corada fazendo uma reverência a ele bem clássica, abrindo a saia de forma que até brilhasse um pouco.

“Boa noite...” cumprimentei, mexendo um pouco no cabelo e olhando para baixo sem saber perfeitamente como agir.


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