Shut Up! escrita por Daniela Mota


Capítulo 30
2ª Fase: Cápitulo 15 - Paixão e outras drogas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Jasper PDV



–Ei, acordem, aqui não é abrigo pra sem teto não!


O berro que parecia mais masculino que feminino me fez acordar assustado. Forcei minhas pálpebras a se abrirem e encarei a moça com a vassoura na mão, ela era gorda e seu cabelo preto estava preso num coque ao alto da cabeça. Seu rosto redondo estava vermelho e entupido de buraquinhos que devem ter sido causados por cravos e espinhas, suas sobrancelhas eram grossas e sua expressão indicava impaciência.


–Que horas são? – sussurrei buscando forças pra me erguer, em vão.


–Ah, deixe-me ver no meu relógio invisível.


A mulher deu um sorriso amarelo, é, amarelado era o tom dos poucos dentes que tinha na boca, logo após olhou no braço que não tinha nenhum relógio.


– Que tal hora de você levantar daí e acordar seu amigo de ressaca? Poxa vida, eu preciso limpar essa droga desse chão. E essa mula aí do seu lado acha que eu sou a mamãe dele. – ela parecia esperar por uma atitude da minha parte, mas não a fiz – Pelo amor de Deus, eu já tenho 7 filhos, dispenso mais uma boca pra alimentar, falar disso meus filhos estão com minha irmã e se eu não chegar lá na hora ela vai acabar mandando todo mundo pra FEBEM. Além do mais eu tenho hora marcada no salão a tarde pra manter a minha beleza natural – ela tirou uma mecha de cabelo do rosto vermelho – Talvez minha promoção de dançarina venha mais rápido e aí eu não precisarei acordar os vagabundos, transarei com eles antes que durmam. Mas eu não sei quando me enxergarão, colocaram até uma ruiva azeda, mas o meu talento nato e o meu corpão ninguém enxerga.


–Há quanto tempo a ruiva é stripper?


Mesmo sendo a namorada do Emmett e isso não ser nem um pouco da minha conta, a curiosidade falava mais alto do que o resto, ela parecia uma garota tão pura e inocente e era muito difícil imaginar porque ela fazia isso.


–Ah, ela é um pouco novata, ainda nem fez um ano aqui. Mas porque quer saber? – ela uniu as sobrancelhas grossas.


–E a... Rosalie? – um pouco de tensão tomou conta da minha voz.


–Quem é Rosalie?


–A loira.


Parece que ela só conhecia as strippers pela cor de cabelo.


–Hm... Há quase dois anos, um dia quero ser como ela, ela é considerada a mais profissional aqui, costuma treinar as mais novatas e é a que dorme com mais caras. – um nó se formou na minha garganta – Aqui elas não têm identificação, cada uma escolhe um apelido. O da loira é Kate.


Engoli em seco, Katrina era o nome da nossa mãe, mas porque ela desonraria tanto assim a memória da nossa falecida mãe? Mas podia ser uma coincidência.


–E como são selecionadas? – ergui uma sobrancelha.


–Cada uma passa por um teste com o nosso diretor, uma noite com ele. Eles transam e se no dia seguinte o diretor aprova, você está no emprego. – ela riu maliciosa – Dizem que é mágico, pelo menos no começo. Pétalas, champagne, mas na hora do vamos ver todas elas são tratadas como putas. Não precisa ser maior de idade pra entrar, ela só precisa saber enlouquecer um homem na cama e ter um corpo aceitável. A Rosalie é a preferida do diretor, mesmo no emprego eu soube que eles continuam se encontrando. E algo me diz que não é pra falar sobre negócios, várias foram as vezes que fui limpar a sala do diretor e ouvi gemidos.


–Qual é o nome desse diretor? – não pude esconder a irritação em minha voz.


– Como disse aqui ninguém é chamado pelo nome, ele é um cara nem um pouco bonito e arrogante, mesmo assim muitos dariam tudo pra repetir a dose. Chamam ele de Mi Lorde, pelo menos é como as garotas gritam na sala dele “Ai, mi Lorde!”, “Mais, mi Lorde!”, nunca falei com ele diretamente, tenho uma chefa.


–Mi Lorde? – debochei – É tudo que eu precisava saber, mas já que sabe tudo isso, talvez saiba por que a loira ingressou aqui. – ergui uma sobrancelha.


–Eu não sei, mas a maioria das que ingressam aqui é porque são muito pobres, infiéis, cansadas da vida, viciadas em prazer exagerado. E eu acho que a loira não tem cara de pobre, talvez seja infiel, esteja cansada da sua vidinha ou é uma garota viciada em prazer exagerado, acho que ela me parece infiel.


–Ela não tem namorado. – argumentei e ela me encarou.


–Você a conhece? – uniu as sobrancelhas grossas.


–Um pouco. – dei de ombros.


Não deixava de ser verdade, a partir de agora eu sabia que não conhecia quase nada da minha irmã, da garota que carregava o mesmo sangue que eu.


–Quem sabe ela não é viciada em prazer exagerado? – ela ergueu uma sobrancelha.


–Prazer exagerado? – me exaltei.


– Esse seria o emprego ideal pra quem é viciado em sexo. – ela riu.


–Já entendi. – revirei os olhos, descrente - Quantos filhos disse que tinha?


–7, os outros 2 eu não sei de onde saíram, eu achei que estava grávida de novo mas fui no médico e descobri que só tinha comido além da conta. Ele ousou dizer que o meu suposto filho não era nada mais, nada menos que uma bola de gordura, mas eu já acabei com a vida dele.


Cansado e grato por algumas informações e ao mesmo tempo aflito, eu coloquei a mão no bolso e tirei uma nota de cem reais esticando o braço para lhe entregar.


–Se eu soubesse que pagaria tanto teria dado mais detalhes. – os olhos dela brilhavam.


–Pode falar.


–A loira só vem pra cá dia de sexta e domingo, sempre a noite. Ela está treinando a ruiva há muito tempo, parece que a garota nunca aprende a tirar tudo pra agradar a platéia. Eu não entendo, parece que ela não gosta, ela costuma se ofender com qualquer comentário maldoso que fazem em voz alta, então porque continua no emprego? Bem, já a loira adora os comentários e adora mais ainda safadezas depois do espetáculo dela, ela sempre costuma descer e pegar vários da platéia, o primeiro que a puxar pra dançar, não importa como seja, desde que seja bruto e grosso, ganha uma parte da noite com ela. Ela tem prazer pelo o que faz. – ela pôs a mão na cintura e suspirou – Um dia serei como ela.


–Por que não me contou esses detalhes antes? – a encarei.


–A palavra “ricaço” não estava escrita na sua testa, amor. E a respeito, meu nome é Gertrudes.


Ela soltou o cabelo ressecado e o balançou pra todo lado num completo desastre, acabou com vários fios na boca e não acabou por aí, ela colocou o dedo na boca achando que estava seduzindo, soltou-me uma piscadela e depois pegou os cem reais da minha mãe e pôs no decote nada discreto.


Pus a mão na cabeça, ela doía um pouco e eu não sabia se era pelo fato de saber tantas barbaridades sobre minha irmã ou se teria sido pelo resto da noite, eu havia bebido demais, no inicio da festa biquei só um copo, mas depois que eu resolvi me soltar, eu bebi com umas 5 garotas no bar. Eu me lembrava de toda noite e eu saí pegando todas.

Onde estava meu troféu por ter pegado geral? Não existia um troféu, não existia nada.

Talvez eu só precisasse amadurecer e encarar o mundo real, mas acontece que o mundo real era horrível e me deixava mais deprimido do que escutar as minhas músicas de depressão. Eu queria fazer isso sozinho sem álcool pra me encorajar. Queria não ter visto minha irmã dançar nua num palco de stripptease por alguns trocados, quando nada lhe falta. Queria descobrir outro mundo sozinho, beijar pela primeira vez uma garota que eu conhecesse e talvez, como dizem músicas e filmes, uma garota que eu gostasse. Talvez descobrir quem eu sempre fui não fosse uma prioridade, eu sempre soube. Eu só queria fazer de tudo pra voltar no tempo e riscar a noite da minha memória. Queria que nunca tivesse existido.


–Não me encara assim que eu coro. – ela riu.


Virei-me e encarei Orlindo, seu rosto por inteiro estava cheio de marcas de beijos de batom vermelho, inclusive a boca. A camisa que vestia estava um pouco rasgada, e carregava marcas de batom da mesma cor, ele não usava mais o cinto com que foi para a festa. Peraí, marcas de beijo? A primeira pessoa que eu novamente encarei foi a Gertrudes, mas nem batom ela estava usando.

Mas não seria possível, o Orlindo sempre foi 100% gay. O que acontece era que ele era o único homossexual da boate, mas isso também não tinha nexo, ele não mudaria sua sexualidade mesmo depois de tantas doses de wisch.


–Orlindo! – toquei seu braço, o sacudindo.


–Me solta despacho do inferno. – ele pôs os braços abaixo da cabeça os fazendo de travesseiro.


–Pelo menos a mim ele chamou de mãe. – Gertrudes zombou.


–Levanta logo. – berrei.


Ele se remexeu um pouco e levantou coçando os olhos, logo após colocou a mão na cabeça e abriu os olhos bem devagar.


–Lembra de alguma coisa? – perguntei.


Ele negou com a cabeça.


– Tenho que limpar essa joça! – a mulher reclamou.


–Quem é essa? – ele continuou com a mão na cabeça.


–Gertrudes. – falei.


–Oi Trudinha. – Orlindo sorriu cordialmente – Tem algum problema se ficarmos aqui por mais um tempo?


–TEM! – ela berrou furiosa.


–Ah, tudo bem. – Orlindo disse sem graça – Vadia gorda dos infernos, o que custava? Você vai morrer com essa tua vassoura entalada na garganta Jabucréia de quinta.


–Como disse? – a mulher uniu as duas sobrancelhas grossas.


–Falei pra ouvir, não pra repetir. Macaca! – Orlindo deu língua como uma criança.


Era como ver um vulcão entrando em erupção.


–Repete se você é homem.


E então Orlindo se calou, um silêncio profundo. E a mulher achava que ele não havia repetido por medo e não por não ser mesmo homem.


–Foi o que eu pensei... Você não ia gostar do que ia vim a seguir. – ela riu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.


–Vai ter o que? – ele desafiou.


–Vou enfiar essa vassoura onde o sol não bate e o galo não canta. Falou? Não pense que só porque você é gato que eu não vou enfiar em você. – a mulher aumentou ainda mais seu tom de voz.


Isso foi um elogio?


– Olha amor, estresse é falta de sexo. Eu não ligo, já estou acostumado a ser comido por trás, seria uma honra huahuahaua. Enfia, enfia que eu gosto. Vai, vai, vai, vai, ui, ui, ui lascou tudo amor! Calma que é mais apertadinho. Huahua! Ih, onde está o leite? – Orlindo gargalhou incansavelmente.


Tiro e queda, a mulher o encarou, perplexa. Botei a mão na frente da boca pra reprimir o riso.


–Eu vou vomitar! – ela largou a vassoura no chão e saiu correndo.


–Parece que a mocinha não quer beber leite, huahuahua. Eu não ia dar mesmo. – Orlindo gargalhou.


–Teremos que censurar essa coisa por sua causa.


–Pode censurar honey, você sabe que eu sempre fui pra maiores de 18 anos.


–Eu ainda vou fazer 17.


–You’re the only exception. – ele riu.


–A tiazinha vai te bater muito quando perceber que é ela que vai sobrar pra limpar o próprio vômito. – revirei os olhos – Vamos pro necrotério e se tivermos sorte, pro hospital.


–Vamos é pra casa, honey.


Ele se levantou cambaleando e eu levantei, em seguida saímos do estabelecimento e fomos até o carro. Tive que pôr o seu cinto de segurança, pois nem isso ele conseguiu. Em seguida sentei no banco do motorista e dei a partida. Do retrovisor, observei a mulher atravessar a rua com as banhas balançando, ela segurava uma vassoura em cada mão, e berrava alguma coisa que não consegui ouvir, parecia que seu estado físico não atrapalhava em nada pois ela corria como uma digna atleta.


–Ela não é humana. – Orlindo murmurou enquanto observava pela janela a mulher nos perseguir já no segundo quarteirão.


–Você tinha que procurar confusão com a mulher maravilha. – revirei os olhos.


E então ela parou de correr e colocou as mãos nos joelhos arfantes.


–Vai despacho de macumba! – Orlindo zombou pondo a cabeça pro lado de fora, quando já estávamos longe ele pôs a cabeça pra dentro do carro de novo e fechou o vidro ligando o ar condicionado.


–Se aventurou muito ontem a noite? – encarei o estado deplorável dele.


–Concerteza eu devo ter achado um gatão na boate.


–Algo me diz que não foi um gatão e sim uma gatona. – abaixei o espelho do seu lado e ele o encarou perplexo e em seguida começou a rir – É, você aceitou melhor do que eu imaginava.


–Pode ter sido uma transformista. – ele deu de ombros.


– Não que eu tenha visto. – revirei os olhos.


–Que engraçado você, eu nunca ficaria com uma Jabucréia. Gosto de salsichas, não de ostras.


–Algo me diz que provou uma ostra ontem. – dei de ombros.


–Que gozado – ele encostou a cabeça no encosto do banco do passageiro – Sabe que essa não é minha fruta.


–Então o que acha que aconteceu com a sua camisa, seu rosto e sua calça? E olha, eu me lembro muito bem da hora que um soutien caiu na sua cabeça e você ficou vibrante pedindo por mais na stripptease. – ergui uma sobrancelha.


–Essa camisa custou duzentos. – ele choramingou olhando pra camisa que concerteza havia sido rasgada com muita força –Ah, minha camisa! Esse trapo não serve mais pra nada, duzentos reais... – ele choramingou de novo.


Ele tirou a camisa. Observei os arranhões de unhas enormes nas suas costas.


–Você ainda tem dúvidas?


–Dúvidas do que amor? – ele continuou sorrindo que nem um idiota.


–Suas costas. – ri baixo demais pra ele perceber.


–Homens também deixam unhas crescerem. Meu Deus, arrumei um cara selvagem! – ele deu de ombros e mostrou suas unhas um tanto grandes.


–Tá, eu também não acredito tanto que foi uma garota, apesar de todas as provas indicarem que se trata de uma.


–Claro até porque sou 100% gay. – ele bagunçou o cabelo.


–Às vezes quando relaxamos as coisas vêm a nossa cabeça, mesmo depois de bebermos tanto. Ainda temos um bom tempo de viagem, tenta descansar um pouco. – sugeri.


E então ele fechou os olhos, permaneceu assim por boa parte de viagem, parecia estar forçando sua mente a se lembrar de algo e eu parei de observá-lo e prestei mais atenção na estrada, que estava um pouco mais movimentada. Aos poucos ele começou a se concentrar mais, pôs a mão na cabeça e em seguida começou a se agonizar.


–AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – me assustei com seu grito ensurdecedor e histérico, mas não foi o bastante pra uma freada brusca.


Ele deu muitas batidas na cabeça, coçou os olhos, se agonizou mais, bateu a cabeça no porta treco, no vidro, se agonizou mais e gritou de novo.


–Não, não, não! – alarmou.


–O que foi? – berrei sem paciência pra chilique.


Ele abriu os olhos devagar e começou a piscar rápido, observei sua pele arrepiar enquanto ele tremia no banco do carona. Ele tentou até me responder o que se passava, mas parecia que sua língua havia travado.


–Vamos, me diga! – continuei falando alto a fim que ele atendesse aos comandos.


–Noite. Wisch. Loira. Dança. Beijo. Sacanagem. – ele sussurrou pausadamente.


–Você...? – tentei supor, mais sua aflição não me deixou terminar.


–Eu... A loira... Na verdade eu soube depois, mas eu parei, não, eu não parei. Mas é que eu já estava... Quando eu vi quem... Nós já estávamos... E eu... Eu estava... Eu queria... Eu subi a saia e... Tudo é tão confuso, nós... Ela... Não me drogou... ela me incendiou... Nem fomos pra lugares reservados, fizemos quase tudo na pista... Eu... Eu me lembro... Ela nem se assustou em me ver... Ela... – ele deu uma tapa na sua própria cabeça.


–Fala sério! - escancarei a boca em espanto - E lembra quem é a vadia? Transou com ela mesmo?


–Sim – ele engoliu em seco – mas o pior não foi o que eu fiz e sim com quem eu fiz.


–E com quem você fez? – o encarei já irritado.


Quem se importava com quem ele fez?


–Com a... Eu fiz com... Com... – ele começou a tossir e depois a se abanar com a palma da mão – Eu fiz com a sua... Com a Rosangela... Romaria... Roselena... Rosalie... Isso, acertei! Mas, olha cara, você sabe que eu...


Apertei o freio bruscamente enquanto tentava digerir o que eu acabara de ouvir, já o cinto de Orlindo estava folgado, o que fez bater a cabeça com força no porta treco. Um nó formou-se na minha garganta e eu quase gritei. Orlindo tentou pegar no meu ombro, mas eu tirei sua mão na base do tapa. A raiva que eu sentia era tão grande que não cabia mais dentro de mim, sentia meu corpo todo queimar, meu melhor amigo “passou o rodo” literalmente na minha irmã mais nova, passei a segurar o volante com toda força que eu tinha.


–Por que você fez isso comigo? – quase cuspi de raiva na sua cara – Por quê? Eu achei que éramos amigos, eu te trago pra morar na minha casa e o que você faz? Transa com minha irmã? QUE TIPO DE AMIGO É VOCÊ PORRA? – me surpreendi com o que havia xingado, mas isso não me abalou no meu discurso – Minha irmã caralho? Com tantos travestis pra você comer, logo a minha irmã? Onde você estava com a cabeça hein porra?


–Onde eu estava com a cabeça? Estava na ostra. – ele riu nervoso – Eu não sabia que era sua irmã e quando percebi, já estava longe demais pra parar – ele colocou a mão na cabeça vendo que eu não cedia as suas desculpas ridículas – ACHA QUE A CULPA É MINHA? FOI ELE! FOI ELE! AQUELE FILHO DA PUTA! A culpa disso tudo é dele, não minha. Ele que me indicou a boate, ele que queria ferrar com nós dois de uma só vez. CULPE A ELE!


–Foi o Ed-ward? – previ, gaguejando horrivelmente.


–Foi tudo uma armação dele, se ele não tivesse recomendado a boate, nos pouparia tanto sofrimento. – sua voz estava entupida de irritação.


–Claro que foi ele. – rosnei – Quem teria essa idéia? A única coisa que se preocupa é ter um irmão homem pra não envergonhá-lo. Mesmo que tivesse tanto trabalho pra isso acontecer, ele é o mesmo egoísta que sempre foi durante toda sua vidinha de merda.


–O que vai fazer? – ergueu as sobrancelhas em expectativa.


–Eu não sei, eu só não vou ser o mesmo otário que sempre fui na vida, e também não quero seu conselho pra uma punição, quero fazer isso sozinho, já é uma questão pessoal, eu sempre aturei que ele entrasse e bagunçasse tudo na minha vida, mas agora é a minha vez de bagunçar tudo e depois sair sem dá nenhuma satisfação. – fui frio e indiferente.


–Não fala como homem que eu me arrepio! – Orlindo me interrompeu tentando forçar uma voz afeminadíssima.


–Cala essa boca bicha do inferno. – berrei pisando fundo no acelerador.


E essa etapa da minha vida chama-se... Transformação.


Edward PDV




Músicas: Versão em inglês: [Skyscraper – Demi Lovato]

Versão em espanhol: [Rascacielo - Demi Lovato]


Eu de fato não devia ler mais páginas do diário, mas quando eu saí de uma ducha, a primeira coisa que me chamou atenção no quarto, não foi o relógio que mostrava que eu havia perdido a escola e sim, um pedaço dela, no meu quarto, na minha cômoda, implorando pra ser lida. E assim eu o folheei com as mãos trêmulas o seu diário, mas aquele diário ajudou na minha mudança, porque só assim eu consegui entender uma parte do que eu fiz alguém passar, eu me sentia um masoquista nesse momento. Mas isso não importava, eu precisava saber tudo do inicio ao fim. E então cheguei a página em que havia parado, recostei minha cabeça no travesseiro e me concentrei naquela página que me chamava tanta atenção por estar escrita com letras trêmulas e um pouco manchada, como se a água se misturasse com a tinta da caneta.


“Estou pegando as lágrimas em minhas mãos, apenas silêncio, como se nunca houvesse uma chance. Mas ele pode quebrar tudo o que tenho, pode rasgar tudo o que sou como se eu fosse feita de vidro, como se eu fosse feita de papel. Será que assistir eu sangrar faz ele se sentir melhor? Ele se sente melhor fazendo com que eu sinta que não restou nada de mim. E não restou.”


Sabe a água? Eram lágrimas. E então era assim que ela conseguia continuar, ela chorava no quarto escondida pra conseguir passar o dia todo ouvindo aquelas coisas e olhando pra mim sem chorar. Era do tipo que sofria mais em silêncio.

Folheei o diário e observei a página seguinte.


“O que acontecesse se pregar uma lousa? Ela fura. E se tirar o prego? Ela continua furada. Não importa o que você faça, não vai conseguir consertar pra que fique em seu estado perfeito. É esse o efeito que as palavras dele têm sobre mim, elas furam, mas elas machucam mais que um mero prego. Hoje eu não sei direito o que escrever, só sei que um tiro doeria menos. E se um dia ele tentasse tirar esse prego, ou essa bala de mim, ele podia até conseguir, mas as marcas ali existentes permaneceriam pra sempre.”


Era incrível um poder de uma palavra, como ela podia ficar registrada na memória de alguém e se eu tivesse noção disso pensaria 3.000 vezes antes de dizer algo. Porque depois seria tarde demais pra tentar consertar a lousa, e era. Ela podia até me perdoar, mas ela nunca ia esquecer tudo que fiz e agora eu entendia.

Observei a página seguinte.

“Muitos já foram magoados, mas eu sou magoada toda dia e pelo mesmo garoto. Chega uma hora que o sofrimento é tão grande que fica inevitável não querer fazer algo pra amenizá-lo, sei que eu não sou assim, nunca gostei de ser assim, mas eu tenho que pelo menos cortá-lo quando ele pisar em mim, como um vidro. Eu queria assistir ele desaparecer, queria vê-lo sendo apagado como um rabisco da minha vida. Eu queria sentir raiva, desprezo, ódio, tudo, menos amor. Eu só queria que ele se calasse, calasse a boca da onde saíram estúpidas palavras, palavras imundas, palavras inúteis. Talvez o silêncio machuque menos.”


E a cada página desse diário eu me surpreendia mais com o que eu havia me tornado. Um nada.


“Eu queria bater nele só pra ver se ele chora. Continuo aguentando firme esperando que tenha um garoto de verdade ali dentro. Porque ele não é um homem, ele é um manequim, não consigo achar o seu coração. Eu sou uma tola porque isso está fora das minhas mãos. Eu não posso nem me juntar novamente. Eu poderia dá-lo vida se ele me deixasse encontrar e entrar.”


Oco, vazio. Manequim talvez fosse a palavra certa que eu procurava pra me definir, apenas um enfeite que admiram pela beleza, mas que não há nada por dentro.

Folheei mais uma página.


“Nós não somos o que vestimos, nem mesmo o que parecemos. Somos o que fazemos. São nossas atitudes que determinam o quão belos somos. ’Acorde, reaja e lute. Não há um caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho. ’”


Ela então estava mais feliz? Isso gradativamente me fez bem, e não só isso, a frase em si. A verdade era mesmo essa, não somos o que vestimos, nem o que parecemos. São nossas atitudes que determinam o quão belo somos e as minhas atitudes eram sujas, horríveis, quanto às delas eram incríveis, lindas, conscientes. Ela sempre foi bela.


Folheei e observei a última folha do diário em branco, ela havia parado por ali. Mas o que havia levado ela a pôr o diário na caminhonete? Para que fizesse parte só do seu passado? Pra ser esquecido? Ela estava trancando suas antigas lembranças?

Talvez sim, talvez não. Sem me perguntar mais nada e sem nenhuma explicação ou vontade eu saí do meu quarto e observei Bella sair na mesma hora que eu.


–Oi. - ela sussurrou.


Antes que eu pudesse dizer algo seu celular tocou e ela o atendeu de imediato. Observei o vestido floral em tons claros e doces, ela usava um cinto marrom na cintura que dava um certo charme, nos pés um delicado sapato, mas com um enorme salto. Seu cabelo estava partido no meio, com o franjão caindo no rosto e o resto do cabelo caía em cascata nas costas. Usava uma maquiagem clara.


–Oi Jake! – ela sorriu – É, eu liguei... É que eu estava pensando em dar uma passadinha no shopping e queria saber se quer me acompanhar. – ela ergueu uma sobrancelha – Sério que vai seguir meu conselho? Nada, eu só não to acostumada a ter seguidores. – ela riu – Aproveite pra conversar algumas coisas com ele, mas não deixe esses assuntos pra dentro do barco, pelo que eu sei, falar demais assusta os peixes – ela riu novamente – Eu chamo a Alice, tenho certeza que ela vai adorar ir pro shopping, já sabe como ela é né? Tchau Jake, beijo.


Era uma falta de educação tamanha ouvir a conversa dos outros, mas essa lição de ser tão educado a esse ponto eu ainda não havia aprendido e pra falar a verdade eu não queria aprender.


–Oi. – sussurrei.


–Não foi pra escola hoje. Aconteceu alguma coisa? – ela me encarou.


–Perdi boa parte da noite. – dei de ombros.


–Mas parece bem. – ela sorriu.


–Você parece ótima... Vai dar uma volta no shopping com o Jacob? – sutileza não era comigo.


–Não, eu o aconselhei passar um tempo com um pai e ele foi pescar, eu vou sozinha porque eu sei que a Alice não está aqui. Mas se não tiver nada melhor pra fazer pode vir comigo, talvez seja uma boa oportunidade já que estamos nos dando melhor agora, não acha? – assenti – Pode largar a marra um pouquinho de lado e tentar se divertir com sua ex arqui inimiga? – ri.


–Eu ainda não te intitulei assim. – ela revirou os olhos de um jeito divertido.


–Até o fim do dia eu vou mudar isso, considerarei isso como um desafio.


Eu nunca havia notado o quanto ela era divertida. Eu nunca havia notado muitas coisas, como por exemplo, a sua revirada de olhos engraçada.


–Mas eu só estava brincando. – ri.


–Eu também, sou péssima com desafios. – rimos – Vamos?


Descemos a escada e saímos da casa, indo pro estacionamento, ela parou na frente do seu carrão.


–E então, você ou eu dirijo? Sei que homens odeiam mulheres no volante, nem o Jake me deixou dirigir o carro novo que lhe dei de presente. – ela deu de ombros.


–Você deu um carro a ele de presente? – ergui uma sobrancelha.


Ela bateu na cabeça, como se estivesse arrependida por ter deixado essa escapar.


–Às vezes palavras não são o suficiente. – ela sorriu.


–E 50 mil são? – ergui uma sobrancelha.


–Vai muito além do dinheiro, é a satisfação de ver alguém tão importante pra você sorrir. Nem que isso te custe como você disse “50 mil” – ela fez aspas com os dedos – meu pai sempre teve essa herança milionária, mas ele trabalhava sabia? Como um homem normal, todos os dias, de manhã cedo. Ele nunca nos contou sobre essa herança, nos criou humildes, sem ambição, felizes sem muita grana. Ele dava muito valor a uma família unida e sabia que o dinheiro talvez desunisse tudo. Porque eu deixaria de ser assim só porque agora tenho uma vida instável? – ela me encarou.


O pai dela vivia como um pobre sendo que era podre de rico pra ensinar os filhos o valor da humildade?


–Seu pai era um bom homem. – comentei.


–É, ele era. – ela sorriu largo e então olhou pro céu.


–Ele deve se orgulhar de você, porque o dinheiro não te cegou e nem apagou a lição que ele ensinou. Valorizar quem amamos e nos ama mais do que qualquer quantia. – ela me encarou.


–Do que qualquer coisa. – completou.


–Você dirige. – pisquei.


Ela sorriu e eu entrei no carro, no banco do carona. Ela entrou em seguida e se embolou toda ao tentar tirar o sapato altíssimo que usava, mas enfim conseguiu o colocando do lado, era incrível que até o sapato ela tirava com certo charme. Ela pisou fundo no acelerador, dirigindo bem mais rápido do que eu costumava dirigir, por precaução lembrei de colocar o cinto e ela riu do meu lado.


–Acha que o estrago seria feio se eu batesse o carro nessa velocidade? – ela brincou.


–Parece que aprendeu algo comigo. – ri.


– Eu também aprendi a ser cabeça dura e deixar de ser careta. – ela riu.


–Achei que só eu tinha aprendido alguma coisa.


–Você também me ensinou muito sabia? – neguei com a cabeça – Me ensinou que mesmo não querendo, fazemos aquilo só porque agrada a alguém que nos viu crescer e nos ajudou a isso. Me ensinou que a vida não é como um filme de conto de fadas em que um príncipe vai descer do seu cavalo incrível e vim te buscar. Que sinceridade é muito importante. Que nem todos os conselhos devem ser seguidos. Que se pode deixar alguém furioso só de ignorá-lo. Que escutar o coração o tempo todo pode ferrar com sua vida.


E aquela lista enorme de fato me surpreendeu, ela queria mesmo que eu parasse de me sentir um monstro. Eu não a contestei, sabia que ela não se renderia tão fácil.


E então descemos uma ladeira e só assim percebi que estávamos no estacionamento do shopping, eu nunca havia chegado tão rápido. O estacionamento estava lotado, o que era estranho já que era dia de semana.


–Gosta de ser surpreendido? – ela sorriu de um jeito diferente, como nunca havia sorrido antes.


–Sim. – ri de nervoso.


Ela deu um meio sorriso e acelerou mais ainda o carro no estacionamento, aquilo era tão arriscado e ao mesmo tempo tão estimulante. Ela subiu três andares sem reduzir a velocidade fazendo curvas fechadas com uma facilidade incrivel, o engraçado era que ela mordia o lábio a cada curva. E então chegamos ao andar de cima, o último.


–Está lotado também. – ela disse, sorrindo.


E de fato estava, mas havia duas vagas, um pouco ao longe. E então ela pisou fundo no acelerador, sem se preocupar com nada, e na hora certa girou o volante fazendo uma manobra completamente perfeita que encaixou o carro perfeitamente na vaga. Impossível era tentar esconder a minha surpresa.


–Uau! – sussurrei.


Ela apenas sorriu e desligou o carro, calçou o salto e sem dizer nenhuma palavra saiu do carro. Seguiu andando direto enquanto algumas pessoas que haviam visto a manobra e outras que também não haviam visto a encaravam. Na verdade por quase todos os lugares que passava a encaravam.


–O que quer fazer primeiro?


–O que quer fazer?


–Eu queria passar numa loja de roupas e talvez pegar um cineminha com um filme que está causando todo esse alvoroço, quero assisti-lo. Mas se tiver preferência a outro filme, podemos assistir o que quiser. – deu de ombros.


–E qual é o filme?


–Harry Potter 7, parte 2. – ela mordeu o lábio na expectativa que eu não negasse.


–Tudo bem.


–Mas você nunca deve ter assistido. – assenti.


–Já assisti o um e o dois. Eu, o Sam e umas garotas saímos num encontro duplo. Sei que o Sam não assistiu nada, ficou se pegando com a garota, mas eu e a outra garota estávamos mais interessados no filme. No ano seguinte, foi a mesma coisa, mas ele chamou outra garota e eu a mesma. Mas com o tempo eu perdi o interesse, me adaptei demais ao ambiente e comecei a vim pro cinema só por causa do escuro bom pra dar uns amassos.


–Eu achei que o Sam havia te influenciado em menos tempo. – ela me fitava.


–Em algumas coisas, em outras no começo eu não queria mudar, mas o tempo se encarregou de aceitar a proposta.


Encarei a bilheteria um pouco longe de nós.


–É... Eu compro os ingressos. – ela pegou a carteira na pequena bolsa.


–Eu compro o lanche. – peguei minha carteira no meu bolso.


–Me parece justo. – ela piscou pra mim – Trouxe sua identidade?


Abri minha carteira e a entreguei. Ela a examinou e em seguida começou a rir e eu sabia por que, eu havia tirado a foto no dia seguinte de uma festa que só acabou de madrugada.


–O meu pai me arrastou de casa – ri – Eu tava péssimo, uma lavada de rosto não ajudou.


–Se você conhecesse a Alice nessa época talvez um corretivo resolvesse isso. – ela riu.


–É, talvez.


E então ela foi comprar os ingressos, ainda estava cedo pra comprar a pipoca e o refrigerante, já que a sessão só começaria a 25 minutos, bem, era o que mostrava a telona das sessões. Bella voltou e enquanto se aproximava de mim guardou os ingressos na bolsa.


–Temos 25 minutos. Quer ir agora a loja? – sugeri.


–Não.


Ela encarou a cabine de fotos e sorriu, neguei com a cabeça e isso não foi o suficiente, ela me puxou até a cabine e esperamos as pessoas que estavam lá dentro saírem, havia um casal jovem lá dentro.


–Ah vai, sempre quis entrar numa dessas. – ela fez manha e eu acabei assentindo.


Mesmo assim parecia que ela adorava sair me puxando por aí, porque ela me puxou pra dentro da cabine onde sentamos. E então ela sorriu e eu a encarei. Por que ela tinha que sorrir tão bonito? E então o flash bateu antes que eu pudesse fazer minha pose, dei de ombros e dessa vez fiquei concentrado esperando o outro flash, ela sorriu sem mostrar os dentes e eu a imitei. Na outra eu apoiei meu braço no seu ombro, ela fez com os dedos o sinal de “paz e amor”, eu apenas encostei minha cabeça um pouco na dela e sorri enquanto assistia ela fazer uma careta. Na outra eu assisti ela fez biquinho e eu apenas ri de canto tentando olhar pra frente e não pra ela, havia sido a última, pelo o que eu presumia, então dessa vez eu puxei pra fora, o que eu não esperava era que outro flash seria batido.


Enquanto ela pegava e pagava as fotos eu fui comprar a pipoca e o refrigerante, peguei a maior pipoca e duas latinhas de refrigerante. Ela me esperava já na entrada do cinema com as fotos nas mãos as encarando. Tentei observar as fotos, mas enquanto ela via não me deixou ver, mas depois ela me entregou as seis, observei a foto que eu havia puxado ela pra sairmos da cabine achando que já tinha acabado, ela fez questão de deixar nessa ordem. Na segunda foto, ela estava rindo enquanto eu a olhava que nem um idiota. Na terceira sorriamos sem mostrar os dentes e nessa eu não a olhava. Na quarta, sua careta estava super engraçada e na quinta, ah, a quinta! Por que ela tinha que fazer um bico tão... Lindo? E por que eu dei um riso de canto involuntário enquanto admirava?


–Eu gostei de quatro, mas em especial... Eu gostei dessa última. – ela apontou pra quinta foto.


–Eu gostei dessa que eu to te tirando da cabine. – ri.


–Ah, fala sério! – ela riu.


–Eu também gostei da quinta.


–Viu? Já avançamos, descobrimos algo que gostamos em comum. – ela riu – Olha, mandei tirar cópias, essas que estão em suas mãos são as suas, se você quiser.


–Claro que quero. – sorri.


Como as fotos não eram muito grandes, as coloquei no bolso grande lateral da minha calça, couberam perfeitamente, e ali elas não amassariam.

Segurei todo o lanche enquanto ela andava sem segurar nada, não por escolha dela, mas por escolha minha. Ela era tão graciosa andando.

Ainda não estava na hora da sessão, então, as luzes ainda estavam ligadas e os trailers não haviam começado, também não havia ninguém na sala. Sentamos em poltronas na última fileira lá de cima. Coloquei os refrigerantes em seus lugares depois de abrir os dois e segurei a pipoca.


–Nesse último filme Harry tá procurando as relíquias da morte que são os pedaços do Voldemort, a única maneira, até então, de destruí-lo. – ela comentou enquanto encarava a tela.


–Ele... Vai se matar? – concluí.


–Quem?


–Harry Potter. – expliquei.


–E por quê? – ela ergueu uma sobrancelha em tremenda confusão.


–Que eu me lembre, Voldemort tentou matar ele quando criança, mas ele não morreu, isso causou a divisão dos poderes. Então devo concluir que Harry Potter é uma relíquia da morte. – expliquei.


–Você me assusta. – ela riu.


–Ele é?


–Eu não li todo o livro, na verdade, ultimamente eu não tenho lido livro nenhum. Gostaria de ter lido até o final. – ela encarou a tela.


–Se tem uma coisa que eu apoio é a idéia de não criar expectativas. É bem mais divertido assistir um filme sem saber o que vai acontecer do que ter expectativas sobre o filme, não tem surpresa, só a contestação do que já é óbvio pra você, já que leu o livro. É ótimo se surpreender. – sorrir.


–Ah, é bom sim. – ela sorriu largo.


E então as luzes se apagaram e as luzes fraquinhas das laterais e dos degraus da grande escada se acenderam, não demorou muito e começou a entrar pessoas, um bolo delas subindo as escadas e tentando garantir seu lugar na fileira de cima onde eu e Bella estávamos, os trailers de filmes que ainda lançariam começaram a passar, coloquei a pipoca mais próxima de Bella para que ela também pudesse pegá-la. E então o filme começou.


E foi a primeira vez que eu prestei atenção num filme que eu diria ser “chato e monótono”, mas que agora podia ver o quanto era misterioso e surpreendente, como Bella. E foi completamente surpreendente, tanto que eu até esqueci do lanche que havia comprado. As pessoas que estavam na sessão ficaram em êxtase com o beijo do Rony e da Hermione. Assobiaram, gritaram, vibraram. Ah, qual é! Só por causa de um beijo?


–Isso levou 7 filmes pra acontecer. – ela comentou ao meu lado, como se respondesse a minha pergunta, isso me assustou um pouco – Ele levou 7 filmes pra descobrir que gostava dela e beijá-la, porém, ela já sabia que gostava dele, pra ele demorou muito pra cair a ficha.


–Sério? – ergui uma sobrancelha.


–É, sério. – ela riu.



Jasper PDV


Bati incansavelmente na porta do quarto de Rosalie. Depois de muitos minutos ela resolveu abrir, ela vestia um roupão e estava com os olhos vermelhos, não parecia muito feliz.


–Qual é o problema? – ela não economizou na arrogância.


–Acho que não sou eu quem precisa responder isso. – fui breve e frio.


–Não me amola, o que você quer Jasper? Depois eu te ensino a usar o troninho. – ela cambaleou e teve que se segurar na maçaneta da porta pra não cair.


–Lembra quando éramos oitava série? – ela me encarava furiosa - O professor desenhou um boneco que no caso seria a gente, quatro tracinhos e escreveu com letra cursiva “Futuros sonhos” e então ele te perguntou onde estava e você disse que já havia realizado seu sonho... Ele então escreveu o seu nome em cima dessa palavra. Eram sonhos de profissão, não tinha como você ter realizado, eu lembro como o professor era brincalhão, ele disse: “Tá gente, sabem que é muito difícil realizar o sonho de uma profissão, você são muitos jovens. Não tem como um de vocês terem realizado seu sonho, ah não ser que seu sonho seja ser uma puta e você já deu pela primeira vez e cobrou por isso, ou que seja ser um cafetão e já tem garotas trabalhando pra você.” Foi uma trilha de risadas, mas você não riu. Eu não sei o que está no topo, ou o que está abaixo... Stripper ou puta, eis a questão.


Sua expressão era de assustada, mas logo se transformou numa de raiva intensa, ela fechou suas mãos em punho e me puxou pelo colarinho me forçando a entrar no quarto, em seguida fechou a porta.


–Repete essa porra que acabou de dizer! – ela rosnou.


–Moramos numa mansão luxuosa, temos uma mesada gorda que não para de aumentar, carro, tecnologia de diversos tipos, vários irmãos, uma família... Eu não entendo o que te faz ser assim, falta de bom senso ou falta de vergonha na cara.


A essa altura nem eu me reconhecia, minha voz se tornara agressiva demais.


–Eu não sou uma puta, valeu? O que acha que eu sou pra falar assim de mim? – ela rosnou.


–Ah não é uma puta? Mil desculpas, acho que existem duas Rosalie’s e uma delas dança nua pra um monte de caras na Sexy Tips. – zombei.


–Eu não cobro pra fazer sexo, eu adoro fazer isso, mas não pelo dinheiro. Está feliz agora? – ela foi indiferente, como se falássemos das coisas mais normais do mundo.


–Você tem tudo, você é a queridinha do papai e não é feliz? – ergui uma sobrancelha.


–Não, eu não era feliz.


Ela se afastou me dando as costas, passava as mãos incansavelmente nos cabelos, uma mania estranha da nossa família quando ficamos nervosos, muito nervosos.


– Com o que não se satisfaz? – abaixei meu tom de voz.


–Porque eu tenho que atuar o tempo inteiro, porque eu tenho que pôr uma máscara toda vez que eu entro nessa maldita casa só pra agradar as pessoas.


Ela se virou novamente e seus olhos já estavam inundados.


–E quem você realmente é?


–Eu odeio andar na linha, gosto de errar e pegar o rumo errado na vida, gosto de ser tratada mal, xingada de coisas horríveis, dormir com quem eu não conheço, gosto de danças sensuais, usar roupas que os outros consideram imorais, fazer coisas que os outros consideram imorais. Sabe? – sua expressão era sofrida.


–Só pode estar brincando. – bufei.


–É por isso que não sou feliz, ninguém considera legal o jeito que eu gosto de viver, tenho que enganar quase todo mundo. Acha que não dói esconder quem eu sou da minha própria família? – ela encarou o chão.


–Você é a minha irmã mais nova e a minha única irmã de sangue, como quer que eu me sinta em relação a você? – minha voz ficava mais calma conforme a conversa se prolongava.


–Como descobriu?


–Eu e o Orlindo marcamos de ir numa boate e então tivemos essa surpresa horrível. Sabe, eu faria de tudo pra não ter visto aquilo. – passei a mão no cabelo.


Ela fechou os olhos e deixou uma lágrima cair.


–Eu devia ter pensado nisso. É claro que você estava com ele! – ela bateu na sua própria cabeça.


–É, eu estava... Droga Rosalie! Se você sabia que era o Orlindo porque não parou? – a encarei.


–Nós já... Estávamos, é... Como eu posso dizer isso pra você... – ela passou a mão no cabelo com mais calma.


–Por que todos aqui têm que me tratar como uma criança boba que não sabe de nada? – me indignei.


–É só você não agir como tal. – ela foi curta, mas não grossa.


–ROSALIE CULLEN! VOCÊ ME DEVE UMA MERDA DE UMA EXPLICAÇÃO DESCENTE SÓ PRA COMEÇAR! O QUE VOCÊ ACHA QUE EU SOU? UM BANANA QUE NÃO PODE TE DEDURAR PRO CARLISLE?


–Ué, já estávamos excitados. Aí já sabe né? – ela riu baixinho.


–Não, não sei! – ironizei.


–Era muito fogo, estávamos incendiados. Além do mais o Orlindo é uma coisa louca. Meu Deus! – ela se abanou – Aquele homem é um vulcão.


–Ele não é homem, ele é gay. E... Não estava lúcido. – expliquei-a.


Era inútil ela ter esperanças, ou idéia erradas sobre ele.


–Parecia bem lúcido, muito mesmo. E ele é tão arrogante e... Gostoso que... Enfim, ele é o meu tipo.


Revirei os olhos.


–Que parte do “Ele é gay.” você não entendeu?


–Todas, porque se ele fosse gay ele não me comia da maneira que me comeu ontem, porque gay que é gay tem nojo de uma garota até drogado. – ela fez marra.


–Eu não sei o que aconteceu com ele ontem e nem to a fim de discutir isso, tenho muitas outras coisas pra fazer.


Virei as costas.


–Vai me dedurar? – a voz dela saiu mais como um gemido.


Nem me preocupei em virar.


–Eu sei que no fundo você não me leva a sério e acha que eu não vou te dedurar pro Carlisle, mas eu te deduraria sabia? Rosalie, você é minha irmã e se você é feliz assim, não sou eu que vou te interromper em nada. Mas às vezes não somos o que achamos – revirei os olhos – Sei que é contraditório, mas eu sempre soube quem eu era. Um dia você vai ser descoberta sem precisar da minha ajuda, e nesse dia vai desejar nunca ter feito isso na sua vida, porque você vai ver nos olhos do seu pai o quanto está decepcionado com você e ele é a pessoa que mais quer seu bem, mas se você desvaloriza isso, não sou eu que vou valorizar pra você.


Talvez eu tenha sido um pouco duro. Rosalie não disse nada, apenas continuei andando em direção a porta, pronto pra sair do quarto.


–Olha, não sou preconceituoso, sei que pessoas que não tem dinheiro arrumam essa carreira pra conseguir viver, mas você tem tudo, só precisa de... Alguém que faça se sentir a suficiente sendo quem você seja. Eu acho você suficiente, mas não dançando nua pra um monte de cara broxado. Sabe, eu odeio a máscara que usa, todo mundo odeia essa maldita máscara, você é tão arrogante e mandona que dá nos nervos, acho que só o Carlisle gosta. Não se deve ser perfeita, deve-se passar dos limites e dar um pouco de dor de cabeça pro Carlisle quando arrumar alguém e trazê-lo pra seu quarto e em seguida trancar a porta e não atender aos seus gritos mandando abri-la, tomar notas ruins de vez em quando, chegar mais tarde que o marcado em casa. Você dança muito bem, deveria se encaixar nas garotas de torcida, montar uma coreografia bem sensual porque da última vez que assisti aquelas garotas dançavam que nem cabos de vassoura. Já pensou que pode ser líder delas? As inscrições estão abertas, sempre estiveram. Você seria popular, muitos gostariam de você e seria desejada por todos os garotos da escola. Sei que as garotas gostam disso. Você já pensou que pode ser feliz de outro jeito?


Ela deu a volta e ficou cara a cara comigo.


–Você é o cara mais descente que eu conheço. – sorriu.


–Sou? – ergui uma sobrancelha.


–É. – ela sorriu de novo.


Abri os braços e então ela avançou e me deu um abraço apertado.


–Por favor, encontre outra maneira de ser feliz. Tá bom? – afaguei seus cabelos.


–Desculpa fazer você assistir uma cena medíocre, não queria que visse. – ela respirou forte.


–A culpa não foi sua.


Emmett PDV


–Eu só queria alguém que fosse minha, foi pedir demais? Eu amo você Victoria, amo muito. Bem, eu amo a Victoria que eu conheci e não a que eu presenciei ontem dançando em troca de esmolas de broxados. Então quero dizer que eu estou terminando definitivamente com você por ser tão vadia e por quebrar a droga do meu coração, eu descobri que nem cola maluca é capaz de juntar os pedaços que você chutou. Só desapareça da minha frente se você tiver um pingo de descência, por favor, eu não quero mais ver você na minha vida sua vagabunda, medíocre. Que droga! Tá doendo sabia? E não há remédio que faça parar de doer, eu só penso em você com aquela roupa e... Eu fico louco, devo admitir que fico louco de duas maneiras, louco porque você é muito sexy e louco porque eu fico louco por tá mostrando tanta sensualidade a homens que nem conhece. Estamos terminados, mas antes eu quero te ver sem roupa, vamos, pode tirar tudo, eu pago quanto você quiser.


Mostrei o dinheiro pro meu Barney que estava até atuando bem, primeiro eu tinha que treinar o que eu falaria, espero que ele não se ofenda, porque ele é muito macho. Mas pra deixar tudo mais realista eu tive que maquiar ele e pôr uma peruca ruiva. A Alice me mataria por ter mexido nas coisas dela, mas ela não estava presente pra eu pedir emprestado.

Parecia fácil dizer tudo isso pro meu Barney, mas uma coisa completamente diferente seria dizer isso pra garota que eu amo, eu não conseguiria xingá-la e tratá-la como uma puta, porque pra mim ela não era uma.


–Eu nunca sofri tanto na minha vida, há uma coisa que me faz engasgar quando eu penso em como seria continuar sem você. A gente se conhece há tão pouco tempo, mas pra mim, é como se eu te conhecesse por toda uma eternidade. Eu tive uma idéia diferente sobre você, não achei que saíria botando chifre em mim enquanto eu pensava em você cada momento da minha vida. Você me fez de idiota só porque eu estava cego de amor por você e não conseguia enxergar o que os outros viam, você sempre quis a minha grana, eu também fui muito tolo achando que seu interesse era outro. Eu sinto desprezo por você, acabamos.


–Eu te amo você me ama somos uma família feliz. – o Barney atuou.


–Não chegue perto de mim, não quero ouvir sua voz. Não, não me peça pra ficar, eu vou embora e nunca mais vai me ver na vida.


Observei o olhar depressivo de cortar o coração.


–Não, não me olhe assim, isso não funciona mais comigo. Para, já falei que eu não quero mais você... Tá bom, só mais um beijo.


Por que eu tinha que fraquejar até na frente do Barney? Mas quem mandou ficar tão parecido com a Victoria?


Desci as escadas chacoalhando a chave do meu carro, saindo de casa com passos largos e adentrei meu carro. Tentei manter a calma ao dirigir, mas cada segundo era uma tortura pra mim, eu queria estar num foguete só pra chegar rápido, eu queria estar mais calmo, mas aquela grande vontade de pisar no acelerador foi maior do que eu.

Cheguei a casa de Victoria e bati incansavelmente na porta até ela abrir, ela estava com uma roupa básica e o cabelo já estava ondulado novamente, não usava maquiagem. Era como se não fosse a mesma pessoa, mas era apenas uma personagem do teatro, mas eu não conseguia parar de encará-la. Seus olhos lindos e profundos me fitavam.


–Aconteceu alguma coisa?


Sua expressão era preocupada e sua voz era tão doce, tão calma. Como era possível?

E então essa onda de emoções me arrastou pro fundo do mar onde eu me perdi, e então eu amarelei e me engasguei com as palavras que tanto ensaiei.


Victoria se jogou em mim me dando um abraço apertado e eu lutei pra não correspondê-lo.


–Por favor – solucei – Me diz que não era você.


–Do que está falando Emm? – ela afagou meus cabelos.


–Me diz que não era você dançando quase nua naquele palco. – repeti com a voz ainda um pouco engasgada e rouca.


E então ela me soltou, com o olhar apreensivo me fitou por vários segundos, até que uma lágrima rolou de um dos seus olhos.


– Eu não queria te ver assim. – ela sussurrou.


–Por que fez isso comigo? – gemi.


–Eu fiz, eu errei. Mas eu sinto muito, se você quiser, eu... Eu desapareço da sua vida e nunca mais vai ter que olhar pra essa minha cara. – ela soluçou.


– Eu não ia perguntar, mas eu vou me arrepender se não souber o porquê de tudo.


–Pra quê? Isso não vai mudar nada. – ela passou a mão no rosto limpando as lágrimas acumuladas, sua voz havia se tornado mais alta – Você vai sair por essa porta seja qual for a minha resposta.


–Eu vou sofrer mais se não me contar o que te fez ser tão... Medíocre. – fui frio.


–Eu te amo Emmett. – ela fechou os olhos.


–Eu não quero saber, não quero saber disso! – berrei – Quem ama não mente, não fere, não ilude. Você não me ama Victoria, você me enganou todo esse tempo e eu nem sei por que aceitou namorar comigo, eu não sei mais o que pensar de você. Talvez todos sempre estiveram certos sobre você. Era bom pôr corno em mim?


–Eu não te traí! – ela gritou.


Mais lágrimas rolavam dos seus olhos e aquilo doeu ainda mais.


–Por que continua brincando comigo? – berrei.


–Eu não estou brincando! – ela gritou.


Ela sentou-se no sofá.


–E porque não tem a descência de se justificar em vez de ficar falando mentira? – berrei.


–Eu sou órfã, meus pais morreram quando eu era um bebê e ninguém da minha família quis assumir a responsabilidade, na verdade ninguém me queria, eu era filha de gente pobre. Fui mandada pra um orfanato onde morei até fazer 18 anos, eu... Não tinha ninguém com que contar, eu... Procurei emprego assim que saí, infelizmente não conseguia nenhum, até procurar na sua escola, onde tinha uma vaga pra zeladora, eu não importava, eu nunca me importei, sempre aprendi a viver com pouco, mas aqui fora as coisas eram diferentes, o pouco não dava pra nada. – ela soluçou – O dinheiro que eu ganhava aqui na escola só era o suficiente pra manter esse aluguel aqui, eu estava perdida, me alimentava de comida barata na lanchonete, às vezes nem tinha dinheiro pra comer. E então, numa noite eu fui pro bar e resolvi beber pra ver se esquecia a tonelada de problemas que eu carregava e como minha vida era horrível e não valia a pena pra ninguém, nem pra mim. E então eu conheci a Rosalie, ela era tão bonita e legal, puxou conversa comigo no bar e no final da noite já éramos amigas, eu bebi demais e acabei contando pra ela todo o meu drama e então ela me ofereceu o emprego, no começo eu estranhei, evitei, disse que ia pensar, que era loucura. Mas do que eu viveria? Pedindo esmola nas ruas?


–Foi a Rosalie? – minha voz se tornou furiosa.


–Não, eu quis. Ela só me ajudou, já estava há mais tempo no negócio, mas... Pra entrar eu tinha que...


–Dormir com o dono? – completei.


Parecia clichê, mas nos filmes as coisas funcionavam assim.


–Como?... – ela parecia confusa.


– E então você dormiu com o cara só pra conseguir o emprego e no dia seguinte ele te selecionou pra dançar no palco e dormir com outros caras – concluí.


–Eu desisti do emprego, disse a Rosalie que se esse era o teste pra entrar, eu preferia passar fome e então ela fez isso por mim, dormiu com o cara, sendo que tudo aconteceu no escuro. Ela foi a única disposta a me ajudar. Eu comecei a ganhar mais e mais dinheiro, claro que ela teve que me dar muitas aulas, mas... Eu conseguir arrumar a minha vida. – ela mexeu no cabelo.


–E bagunçar a minha. – completei.


–Eu não devia nem ter entrado na sua vida. – ela encarou o chão.


–Pensando bem, eu entraria em depressão se recusasse namorar comigo, e eu não ia desistir de você.


–Escolheu a garota errada.


–Mas quando me conheceu deveria ter largado essa vida, eu te daria tudo que você precisa. – minha voz havia se tornado mais calma.


–Stripper não foi um caminho que eu escolhi, foi o único. – ela soluçou.


–Eu te julguei.


–Eu mereço o seu julgamento e não a você.


–O Edward estava certo, não é só porque você é uma stripper que tinha que sair dando por aí. Eu sinto muito. – me aproximei dela.


–Eu também sinto muito. – ela fechou os olhos.


–Você deixaria de ser stripper por mim?


–Eu faria qualquer coisa e seria qualquer coisa pra que não fosse embora. – ela tentou sorrir.


–Vem cá.


Ela se levantou e veio até a mim, me fitou por alguns segundos. E então eu segurei seu queixo e lhe dei um selinho demorado.


–Me diz que é só minha.


–Eu sou só sua.


–Fala de novo, mas fala sorrindo.


–Eu sou só sua! Só sua. – ela sorriu enlaçando as mãos no meu pescoço.


Jasper PDV


Enfim levantei da cama com um pouco mais de energia, a cama de Orlindo estava vazia e o quarto como um todo também. Como eu já havia tomado banho quando cheguei, apenas troquei a camisa. Observei a maçaneta da minha porta girar e Orlindo entrar eufórico no quarto, ele já estava vestido, seus olhos brilhavam e ele carregava um sorriso que dava pra ver até de costas, nas mãos ele segurava um envelope branco fechado.


–Jas do céu, se eu te contar o que achei no lixo tu não acredita. – ele quase gritou de euforia.


–Lixo? – ergui uma sobrancelha.


–Eu estava com o seu tocador de música fashion ouvindo a música da Katy Perry que diz “I Kissed a girl, and I liked it.” E aí eu...


–Você não gostava de Peacock? Agora é “I kissed a girl, and I liked it.”? Por um acaso sabe que a tradução é “Eu beijei uma garota e eu gostei disso.”?


– Não vamos falar de música. – ele revirou os olhos – Eu estava ouvindo a música, daí eu abri a geladeira porque estava com muita fome, tinha uma torta de chocolate, então a peguei.


–Minha torta? – o encarei incrédulo.


–Ih amor, tava amarga! Tive que jogar no lixo. – ele fez careta.


–Será que não era por que era de chocolate amargo? – ironizei.


–De qualquer jeito eu não gosto de chocolate amargo mesmo – ele deu de ombros – Sim... Eu vi esse envelope, do jeito que eu sou curioso nem me preocupei que havia acabado de passar hidratante nas mãos, meti a mão lá dentro e tirei o envelope. – ele riu sorrateiro.


–E...? – ergui uma sobrancelha completamente confuso com sua aventura.


–Veja você mesmo.


Ele me entregou o envelope e eu o abri a contra gosto, quase cair pra trás ao notar que o que tinha no envelope, de fato era... Bombástico.

As lendárias e inexistentes - pelo o que eu achava antes - fotos de Edward vestido de fada estavam em minhas mãos, no meu controle. Ali, em ordem, tirada de diversos ângulos diferentes. Um sorriso surgiu automaticamente no meu rosto.

Quem as havia tirado? Era óbvio que havia sido a Isabella... Mas, por que motivo ela as jogou simplesmente no lixo? Isso não me importava, o que importava era que a idéia de uma vingança veio correndo até mim, eu não precisei me preocupar em pensar e em ir atrás dela, como se o tempo houvesse me dado isso de presente.

Ele tinha um preconceito, pessoas têm preconceitos, mas e se fosse ele que passasse por isso? E se fosse ele que sentisse na pele? Se ele experimentasse toda essa hipocrisia? Talvez não fosse só uma vingança, talvez fosse uma lição que ele nunca esqueceria.


–Quer dizer que de dia ele é Edward e de noite Edwarda? Huahua, quem diria! Eu sabia que esse cavalo era égua. – Orlindo riu.


–Sabe quando eu disse que não sabia o que fazer com o Edward? Pois é, agora eu sei. – ri.


Edward PDV


Fomos a loja que a Bella queria e ela não demorou quase nada porque nem experimentou as roupas, na verdade ela só comprou moletons.


–Você não vai doar isso pra um monte de velhinhas, vai? – ela revirou os olhos enquanto digitava na maquininha a senha do cartão que passou pra pagar as roupas.


–Nem pensar, nunca pensei que seria tão difícil. – ri.


Peguei as sacolas, que eram três, ela insistiu um pouco pra carregar pelo menos uma, mas eu não cedi. Disse que carregar a bolsa dela já era muito mais que o suficiente. Em seguida fomos tomar um sorvete e sem perguntar a ela nem nada, pedi um sorvete de morango pra ela e um de chocolate pra mim, ela pareceu um pouco feliz por eu ter acertado o seu sabor preferido.

Depois do sorvete, andamos um pouco pelo shopping e depois fomos pro estacionamento de onde eu pus as roupas no porta-malas e depois o adentrei. Havia muito mais vagas agora, o motivo da quantidade de gente havia sido nada mais, nada menos que o filme.

Ela arrancou o carro, e, na mesma velocidade que fomos, voltamos pra casa. Dessa vez eu fiquei calado encarando a rua durante a curta viagem, ela também não se prontificou a quebrar o silêncio, só se preocupou em acelerar o máximo. Eu ate ia falar, mas quando mexi os lábios as palavras não saíram. Talvez fosse pelo o que eu li no diário, toda a coisa de medir palavras, de não falar estupidez mexeu comigo fazendo com que eu me calasse e apenas só falasse com ela se ela falasse comigo.

E então chegamos ao estacionamento da nossa casa, mas ao parar o carro ela não saiu dele, ficou parada intacta enquanto eu a observava.


–Foi um dia incrível. – ela sorriu.


–Tem razão. – sorri.


–Obrigada, eu me sinto muito mais feliz por estarmos bem. – ela deu uma batidinha no meu ombro.


Seus olhos de fato brilhavam e eram de felicidade e aquilo de alguma forma me deixou mais feliz. E mais... Mais alguma coisa.


–Eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer um dia. Você é quase a pessoa que eu imaginava que era. – ela deu um meio sorriso.


–E como me imaginava? – ergui uma sobrancelha.


–Divertido, esperto, legal, cavaleiro, surpreendente, misterioso...


Faltava alguma coisa que ela sempre dizia que eu não tinha, e saber que eu continuava não tendo me deixava frustrado. Eu sabia o que ela não havia citado: Caráter.


–Eu juro que tento, mas eu não consigo mais encontrar defeitos em você. – deu um meio sorriso.


Música: [Demi Lovato: Catch me]


E então ela sorriu junto, os olhos brilhavam de uma maneira incrível, como uma pedra preciosa, ela fitava meus olhos também e então aquilo começou. Minha respiração ficou desesperada e mesmo que eu tentasse controlar já havia sido tarde porque ela já havia percebido. E todo aquele magnetismo e força de atração fizeram eu me aproximar pra fitar seus olhos mais de perto, seus olhos agora estavam numa grande confusão e a sua respiração estava mais forte, como a minha. Ela então deu um sorriso que não deixou dúvidas que se eu tentasse beijá-la, eu conseguiria.

Mesmo assim, algo muito real me dizia que o certo não era eu me jogar e beijar ela, como eu queria há muito tempo. Não era o certo a fazer, porque toda ação gera uma reação, podia não ser agora, mas e depois? Ela se culparia por ter beijado outro cara enquanto estava namorando. Eu sabia que ela era assim, gostava de se culpar e quando sofria, tentava fazer isso calada. Mas o que aquele beijo podia causar? Tudo e nada.

Tudo que queríamos e nada que precisávamos, pelo menos pra ela.

Inesperadamente ela aproximou mais o rosto de mim e em uma fração de segundos eu virei o rosto encarando o teto do carro. Mas então eu a olhei, ela parecia tão decepcionada e podia estar se sentido rejeitada e achando que eu estava brincando com ela, mas antes que uma idéia se formasse e ela saísse do carro triste, resolvi argumentar.


–Você me disse que o Jacob era especial pra você e por pouco não beijou outro cara. – ela riu nervosa.


E então ela enlaçou o braço no meu pescoço tentando me beijar de novo, recuei novamente.


–Mas o que deu em você? – ela alarmou.


–Eu não sei. – fui sincero.


E de fato eu não sabia. E também não sabia por que sua irritação havia se transformado num sorriso tão bonito em tão pouco tempo.


–Eu sei o que é, é caráter.


–Que seja. – dei de ombros.


–Você não... Você não queria? – ela me fitou.


–Talvez a pergunta não seja “Você queria?”, talvez seja “Eu queria?”.


Encarei o teto do carro novamente e diante daquele silêncio sufocante e dos olhos vazios, eu tirei o cinto de segurança enquanto ela continuava intacta, aquilo era demais pra mim. Entendia agora o quanto um silêncio doía. Diante disso abri a porta do carro, saindo sem dar mais nenhuma palavra e sem receber mais nenhuma resposta.


Antes que eu me apaixone

Rápido demais

Me beije rápido,

Mas faça durar


Bella PDV


Com a garganta seca, não fui incapaz de sair do carro e correr por Edward. Demorei pra ordenar as minhas idéias, em compensação, antes que ele deixasse os limites do estacionamento, algo o fez, enfim, olhar para trás. Continuei correndo com a pulsação a mil. Vi Edward pronunciar vagarosamente meu nome para si mesmo ao se apressar um pouco para me alcançar. Ele veio pra mim com expressão um pouco torturada. Quase perto da entrada da casa, choquei-me contra ele, sendo imediatamente acolhida com um abraço apertado.


Precisei de alguns segundos para fixar bem meus olhos nos dele e finalmente dizer:


–Eu queria, eu quero.


Ainda que sua respiração desregular denunciasse um conflito interior, nada falou por alguns segundos.


–Eu queria, muito. – ele sorriu como idiota.


E então, os braços que me abraçavam me soltaram.

Achei que ele me daria as costas e entraria em casa, mas uma dessas mãos tocaram a minha nuca devagar, enquanto a outra segurou a minha cintura me aproximando ainda mais, seus lábios quentes roçaram no meu pescoço, me causando arrepios. Continuaram roçando no meu rosto até, com leveza, encontrar os meus lábios, onde finalmente beijou, mas os leves selinhos logo aumentaram de ritmo e então colamos nossos lábios. Aquilo era diferente, diferente de todas as vezes, esse tinha um sabor único, uma mágica que eu não havia sentido antes, uma leveza, um frio na barriga, pulsação forte, respiração acelerada e um toque de desespero, como se já quiséssemos isso há muito tempo. Passei levemente os dedos no seu cabelo macio enquanto ele sugava meus lábios com mais intensidade. Era como um brinquedo do parque que começava devagar quase parando e o ritmo ia aumentando. O mais incrível era o tamanho do desejo de ambos.

Eu conseguia sentir o que ele sentia de fato por mim, eu podia ver em cada palavra, olhar e toque. E eu sentia absolutamente tudo, desde a forte respiração e o roçar da barba por fazer de Edward em meu queixo ao meu coração quase saindo pela boca só pra ser entregado pra ele. No entanto, a maior constatação era que ele não só havia mudado como também estava apaixonado por mim.


Edward PDV


É incrível quando você pensa que já passou por tudo, então um dia alguém surge e modifica sua forma de enxergar o mundo. Ainda que essa pessoa te largue de mão, sua visão permanece clara, até para enxergar melhor a si mesmo.


Bella se afastou de mim e continuei de olhos fechados. Sentir então a ponta de seus dedos deslizarem lentamente pelos meus, até que se distanciaram definitivamente.

Depois de um tempo parado que nem um idiota feliz depois de ter conseguido o que queria, resolvi sair do estacionamento e entrei em casa, subi as escadas e observei Orlindo passar por mim rindo da minha cara, pouco me importava do que ele ria e talvez até fosse de uma coisa engraçada, eu só sentia a felicidade crescer dentro de mim como nunca senti antes. Abri a porta do meu quarto e depois de fechar a porta corri até a minha cama sem conseguir esconder o êxtase, e, como uma criança me joguei na cama.

Bella nunca mudou completamente, sempre teve algo que me lembrava a garota que me encarava no corredor, o olhar profundo dela que já haviam presenciado tantas cenas ruins, por onde já haviam saído tantas lágrimas, já haviam brilhado, se fechado em delírio. Eu não sabia por que esse ponto nela agora me chamava tanta atenção, os caramelos nunca haviam me atraído antes, pelo contrário, antes eu não era atraído por nada, depois eu me sentia atraído pelo seu corpo, pelos seus lábios, pelo seu sorriso, pelos seus olhos, pelo seu jeito. Atraído por tudo. Era a lei da atração entre dois corpos e eu não achava nenhuma explicação lógica pra tudo isso.

Mas no fundo, eu sabia e me lembrava de uma explicação.

“Acho que redefinir meus conceitos sobre isso, diante de todas as circunstâncias. Mas... Eu não sei explicar, na verdade sei, mas não estava preparada pra tal pergunta ainda mais vinda de você. Eu acho que amor é você encontrar a perfeição. É esquecer que tem uma vida, e passar a aprender sobre a vida de outra pessoa. É pensar nela todo momento. É olhar nos olhos dessa pessoa e ver tudo o que precisa saber. Falar besteira só pra ser xingado. Desejar ela com você o tempo inteiro. Amar os defeitos e fazer deles qualidades. Sensações, choques, lágrimas, sorrisos automáticos e idiotas. Você começa a valorizar mais seus olhos do que qualquer outra parte do corpo. E em milhões de pessoas a sua volta, só ela vai chamar a sua atenção.”


Peguei uma caneta na cômoda pronto pra escrever na última página do seu diário. Não faltava motivação, talvez fosse uma forma de libertar tudo o que eu sentia em palavras, já que eu tinha um gênio terrível pra admitir as coisas, mesmo sendo pra mim mesmo. E na caligrafia de fôrma eu comecei a escrever.


“Edward Cullen. Alguma data, alguma hora, em algum lugar.

Posso fazer uma lista de quantos machuquei, mas não posso fazer uma lista de quantos ajudei. Posso fazer uma lista de quantos eu fiz chorar, mas não posso fazer uma lista de quantos fiz sorrir. Posso fazer uma lista de quantas pessoas afastei por ser quem não sou, mas não posso fazer uma lista de quantas pessoas aproximei por ser quem eu sou. Sei que não pude fazer as boas listas no passado, sei que perdi muito tempo da minha vida, sei que eu sou um grande idiota, mas eu também sei que há uma garota muito melhor que eu, e se me perguntassem o que eu mudaria no passado, eu escolheria me apaixonar por ela da maneira certa, porque isso aconteceu de um jeito muito errado, completamente errado. Eu escolheria fazer uma lista das garotas que fui apaixonado e ela seria a primeira e a última. E sabe por quê? Porque ela é a única. Demorou um pouco pra cair a ficha, demorou muito pra cair a ficha, na verdade eu estou me sentindo um Rony. Mas se hoje perguntassem quem eu sou e quem eu quero, saberia a resposta, porque ela é a resposta. Ela sempre foi a resposta.”



Continua...



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Notas finais do capítulo

N/A:
Por favor, não xinguem minha mãe só porque rolou um beijo nesse cápitulo. Sério, eu não tenho culpa, meus personagens têm vida própria e eles queriam fazer isso.
Eu não vou mesmo puder agradar a todos, até porque ninguém consegue fazer essa proeza. Alguns tiram conclusões precipitadas demais e não sabem nem o que vai acontecer no final, o que terá que ser o mais perfeito que eu conseguir (Eu sei, pessoas valorizam muito o final das coisas e acabam esquecendo-se de dar valor ao resto). Ultimamente tá meio complicado fazer uma coisa que todos digam "Uau".
Todo esforço que faço é pra ver um comentário que me faça sorrir, pois sei que vocês são os únicos que acreditam em mim, e isso me deixa feliz. Sabe? Tem alguém em tal lugar do mundo que acredita em mim, que acha que eu tenho um pouco de talento, que acha que um dia posso escrever um livro. Isso me faz acreditar em mim e na minha capacidade. Não, minha vida não é uma droga. Até porque eu sempre digo "Eu não nasci pra viver um drama, talvez pra escrever um.".
Vamos falar sobre a terceira temporada. Eu acabei decidindo que ela será a última e terá 15 cápitulos, se possível. Ela será bem recheada, terá concursos, enquetes, mutirão de divulgações e tudo pra interagirem comigo. Eu queria começar e propor a vocês um pequeno concurso, eu ainda estou decidindo o que o(a) ganhador(a) ganhará, começando com spoilers do próximo cápitulo e tendo o próximo cápitulo uma semana antes dos outros e ainda vai ter uma nota exclusiva no final do cápitulo (N/L: Nota do leitor), se desejar.
Tendo as seguintes regrinhas:
-A capa não poderá ser feita no paint porque o nyah não aceita.
-A capa terá que ter o Edward, a Bella (loira) e o Jacob.
-A capa terá que ser mandada pro meu e-mail: dany_cat_8@hotmail.com (Não liguem pro e-mail, eu fiz quando tinha 10 anos, rs.)
-Usem a criatividade, sei que são capazes.
-Por favor, sabem como as minhas capas são uma tragédia, não me façam fazer mais uma porcaria pra fic.
Aproveitando pra dizer que é o último cápitulo da temporada e o maior cápitulo que já fiz em toda minha vida, (eu nunca fiz um cápitulo tão grande em nenhuma fic.) digo que esse também é meu maior N/A (palmas). Eu também justifico tanta demora com uma nova fic, na verdade uma short fic que não estava me deixando escrever Shut up! Invadindo-me com tantas idéias. O nome é Jogo da paixão e eu já havia postado ela a 2 semanas se o nyah não tivesse implicado com minha capa que dessa vez estava um charme, postarei ela hoje, se possível. Sei que isso não chega nem perto de recompensar todo esse tempo sem postar não é mesmo? Perdoem-me =/
Escrevi mais de 10.000 palavras, e quase 1.000 palavras de nota da autora, será que pode escrever 50 palavras num review? :D Beijão e até breve. Sério, se você leu até aqui você é um leitor de ouro, rs.