Quando deu a hora do intervalo, segurei o braço de Adrien antes de sair da sala e ele me lançou um olhar confuso.

— O que houve?

— Luka marcou de conversar comigo hoje de novo. Não me deixe sozinha. – ele riu. Eu ainda precisava de tempo para criar a coragem necessária e falar com Luka. Então, eu planejava andar pra lá e pra cá com Adrien e quem sabe assim, passar despercebida. Ou quem sabe os “músculos incríveis” de Adrien, possam assustá-lo. Acredito que a primeira opção é a mais provável.

— Vamos comer então, Bugaboo.

— Tá bem.

Passei o intervalo toda rodeada pelos meus amigos. Até Nathaniel estava com nós – com esse negócio da carta acabamos nos reaproximando, o que foi ótimo. Sentia falta de conversar com ele.  

— Eu não acredito que você trouxe isso pra aula mesmo! – o ruivo exclamou, vendo garrafinha que Nino tinha usado pra espirrar água em mim e em Adrien.

— É claro, preciso começar a educar o Adrien. – nós rimos, enquanto meu melhor amigo atirava uma bolinha de papel em Nino – Ei! Gato mau! – espirrou água nele, nos fazendo rir ainda mais.

— Para de me molhar que a minha camiseta é branca. – reclamou, secando os pingos do rosto.

— O que foi, está com medo de ficar molhada, mostrar o tanquinho e todas as garotas virem atrás de você?

— Pensando bem... Não é uma má ideia.

— Ei! – protestei – Eu sou sua namorada.

— Não de verdade. – Alya relembrou.

— Eu sei, mas ele não pode ficar falando de outras garotas assim. – cruzei os braços e Adrien se aproximou com um sorriso.

— Ciúmes, Bugaboo?

— Eu admito que sim. – resolvi entrar na brincadeira e o loiro abriu a boca surpreso.

— Isso foi uma das coisas mais bonitas que eu já ouvi você dizer. – disse fingindo estar emocionado e eu revirei os olhos.

— Superou o pôr do sol? – brinquei.

— Não. Mas quase. – empurrei ele de leve e começamos a rir como dois idiotas que éramos. – Ué, cadê todo mundo? – olhamos em volta e percebemos que Alya, Nino e Nathaniel não estavam mais ali.

— Não sei. Sequer notei eles saindo.

— Pois é. Eu também não vi. – demos de ombros e rumos novamente – Então, quarto encontro hoje, depois que eu terminar de ler a sua carta?

— Pensei em começar o vestido da Chloé.

— Posso te ajudar se quiser.

— Você? – Adrien assentiu.

— Eu sou perfeitamente capaz de fazer isso. Meu pai é estilista, esqueceu?

— A última vez que eu pedi pra você costurar uma fita na blusa, você costurou na sua própria. – ele riu.

— Eu achei que você estivesse me dando uma dica de moda.

— Ok, sem comentários. – levantei – Mas você pode me ajudar se quiser. Vou te dar as tarefas mais fáceis possíveis.

— Certo. – Adrien ficou de pé também e passou o braço por cima dos meus ombros – E depois podemos ir para o quarto encontro. Esse era o melhor, lembra?

— Verdade. Como pude esquecer? – ri de leve – Ok, você me convenceu.

— Ótimo. – estávamos chegando na sala de aula, quando Adrien para repentinamente na minha frente, me fazendo ficar confusa – Desculpa, mas você vai me agradecer depois.

— O quê? O que você... – Adrien segurou o meu rosto e me beijou. Fechei os meus olhos instantaneamente e segurei os seus ombros. A postura dele se tornou mais relaxada e ele se aproximou mais, me segurando de uma forma menos desajeitada.

Nos separamos brevemente pra respirar e em seguida juntamos os nossos lábios novamente.

Não faço ideia do porque fizemos isso.

Eu poderia facilmente atribuir a culpa a Adrien. Mas eu mentiria se dissesse isso.

Adrien se afastou. O sinal indicando o fim do intervalo soou, fazendo a gente saltar para trás com o susto.

— O Luka... Ele estava passando por nós. – explicou, ainda ofegante pelo beijo.

— Aham, tudo bem.

— Hã... Vamos...                                  

— Pra aula. – eu completei e entramos para dentro da sala.

Sentei no meu lugar e não demorou muito para a professora chegar.

Não consegui prestar muita atenção na aula. Fiquei rabiscando no meu caderno enquanto tinha vários pensamentos na minha mente. Como por exemplo, será que Adrien gostaria da carta? Quando eu teria coragem de finalmente falar com Luka? Por que eu estava sentindo um friozinho esquisito na barriga? Será que o Kim comeu o último pedaço de torta ontem?

Tentei de todas as formas me concentrar na aula, mas infelizmente não consegui. Cada vez mais dúvidas estavam surgindo na minha mente e eu já não conseguia mais saber o que estava acontecendo. Basicamente, eu estou totalmente confusa.

***

— Hey, Marinette? – Adrien chamou a minha atenção antes que eu saísse da sala. – Que horas você quer que eu vá até a sua casa? – estava tão distraída que até me esqueci disso.

— A-Ah... Você pode ir almoçar lá de novo? O que acha? Prometo que o Kim não vai perguntar sobre empregos ou falar sobre vacas. – ele riu.

— Eu adoraria, mas eu tenho um compromisso. Meu pai e eu vamos almoçar com a Sra. Tsurugi e a filha dela. – deu de ombros. – Eles são parceiros de negócios.

— Entendi. Nesse caso você pode ir a hora que estiver liberado.

— Tá bom. Eu mando uma mensagem.

— Certo.

— Até mais, Bugaboo.

— Até. – Adrien depositou um beijo na minha bochecha e saiu. Sorri instantaneamente e coloquei a mão sobre o local.

Avistei Kim passar pela porta da sala e corri na sua direção, pulando nas suas costas.

— Marinette! – me repreendeu.

— Ué, como sabe que sou eu?

— Quem mais faria algo tão estúpido? – nós rimos – Não vai descer?

— Não pretendo.

— Ótimo. – Kim ironizou e foi me carregando nas costas até em casa, enquanto resmungava. Eu com certeza tinha o melhor irmão do mundo.

***

Costurar é uma das coisas que mais me traz paz. E mesmo que eu estivesse acompanhada por alguém, isso não era um problema. Eu ainda conseguia fazer tudo certo e com a maior vontade do mundo. Só que agora, eu não conseguia me concentrar direito e estava lutando comigo mesma para não mandar Adrien calar a boca.

Eu amo o meu melhor amigo, mas desde que ele chegou, ele só sabe falar da tal de Kagami, a filha da sócia do pai dele.

— E eu nem tive tempo de ler a sua carta, porque o almoço acabou mais tarde do que a gente planejava e eu vim direto. Eu e Kagami conversamos bastante e nossos pais também. – explicou – Mas eu vou ler a carta assim que chegar em casa.

— Sem problemas. – confesso que estava um pouco magoada por ele não ter lido ainda. Mas tudo bem, não era culpa dele.

— Então, voltando ao assunto... Ela também faz esgrima, acredita?

— Nossa! – fingi estar impressionada, enquanto me concentrava em costurar. Já não estava muito focada, se prestasse total atenção nele, poderia errar alguma coisa. E um vestido para Chloé Bourgeois, tem que ser perfeito.

— Não vejo a hora do Sr. D’Angencourt voltar das férias e eu voltar a frequentar as aulas de esgrima. – suspirou empolgado e eu respirei fundo, mantendo a calma – Talvez a Kagami faça esgrima lá também. Como é uma academia renomada e pelo que eu vi ela é boa, então...

— Será que você pode falar um pouco menos? – pedi com o máximo de educação possível. – Está complicado de me concentrar e você está me distraindo.

— Ah desculpa, Bugaboo. É que normalmente nós ficamos conversando enquanto você costura.

— Eu sei, mas... – suspirei e o encarei – Desde que você chegou, você só fica falando sem parar como foi o almoço e sobre essa tal de Kagami. – dei de ombros – Tudo bem se quiser falar dela, só que agora, eu preciso me concentrar no vestido. Então, podemos mudar de assunto e falar um pouco menos?

— Ok.

Adrien acabou ficando em silêncio e eu também. E diferente de todas as outras vezes que estávamos calados, aquela não era confortável. Não que fosse um momento constrangedor, contudo, parecia um pouco tenso.

Talvez seja o meu estresse pela busca do vestido perfeito.

Comecei a cortar uma parte que sobrou do tecido e olhei de relance para o meu melhor amigo. Nisso, sem querer acabei deixando a tesoura escapar da minha mão e fiz um pequeno corte no pulso.

— Ai! Que droga!

— O que aconteceu? – Adrien saltou na minha direção e segurou a minha mão – Quer que eu pegue um curativo?

— Não precisa, eu mesma pego. – fui até o banheiro para procurar o curativo e senti que ele veio atrás de mim.

— Consegue colocar sozinha? – assenti, lavando a mão para tirar o sangue. Logo, coloquei o curativo por cima e voltei para o quarto.

— Acho que vou parar um pouco. – sentei na cama e soltei um longo suspiro – Vou fazer mais tarde.

— Tudo bem. – Adrien sentou ao meu lado – E me desculpa por falar sem parar de assuntos que não te interessam. – me senti mal por isso. Não queria que ele pensasse que eu não me interessava, por mais que eu realmente não me interessasse.

— Não precisa se desculpar. Eu vivo tagarelando sobre assuntos que não te interessam. – segurei o seu ombro – Só que aquela hora eu precisava me concentrar. Mas de qualquer jeito, já passou. Podemos conversar agora.

— Vamos falar do nosso encontro então. Você ainda quer ter? – sinceramente, eu já não estava mais tão animada para ir. Só que eu não queria desmarcar em cima da hora e decepcionar o meu melhor amigo.

— Aonde você pretendia ir?

— Surpresa. – deixei meus ombros caírem.

— Ah, fala sério!

— É surpresa, mas posso garantir que você vai gostar. Afinal, esse é o nosso melhor encontro. – sorriu de um jeito fofo, o que fez o meu coração derreter.

— Tá bom.

— Podemos ir então?

— Pode ser. Mas é muito longe? – Adrien negou.

— Ok. Vou pegar a minha bolsa.