Olhei para a minha pintura e concluí que estava fazendo um ótimo progresso pintando a paisagem que a professora instruiu.

— Não é justo! Por que a sua tá linda e o minha não? – Adrien protestou e eu olhei para o quadro dele, que estava uma total bagunça. No entanto, estava longe de ser feio.

— Porque a obra de arte na verdade é você. – ele sorriu largo.

Estávamos em um curso de pintura, o que era parte do nosso quatro encontro. Honestamente, eu não esperava nada parecido com isso, mas eu com certeza amei. Meu melhor amigo sabia mesmo como me agradar.

— Ultimamente você anda me dizendo coisas tão bonitas quanto eu, Bugaboo. – balancei a cabeça em negação e voltei a pintar. – Espero que a minha carta tenha coisas tão belas quanto.

— Se você ler ela, vai saber. – ironizei e ele fez careta.

— Eu já disse que...

— É, eu sei. Almoço, diversão, Kagami. – dei de ombros – Tudo bem. – forcei um sorriso. Sim, eu estava um pouquinho magoada, não vou negar. Porém, eu sabia que não era culpa dele.

— Vamos ver como estão as coisas aqui. – a professora, cujo nome eu já não me lembro mais, parou atrás de nós antes que Adrien pudesse dizer algo. – Srta. Dupain-Cheng... Impressionante. – ela elogiou surpresa – A maneira como você mescla as cores dá vida à sua pintura. Sem contar a leveza das pinceladas, que deixam a obra delicada.

— Obrigada. – agradeci e ela foi para ver a do meu melhor amigo.

— E Sr. Agreste... Bom trabalho. – deu tapinhas no ombro dele e saiu. Ele fez careta e eu ri, indo até ele. Escorei o meu queixo no ombro dele, encarando a pintura.

— Eu gostei.

— Não precisa falar isso só pra me agradar.

— Mas eu não estou falando só pra te agradar. Eu gostei da sua bagunça no cenário, diz muito sobre você e deixa a pintura única. Você não se preocupa em reproduzir a obra e sim em criar a sua versão. – obviamente eu tinha a intenção de fazer ele se sentir melhor, mas tudo que eu disse era verdade. Sorrimos um para o outro.

— Isso pareceu sincero mesmo. Então vou acreditar.

— Mas é sincero. Você devia achar isso também. – parei ao lado dele. – Receber um elogio sobre o seu trabalho é ótimo, mas nada se compara à você mesmo estar satisfeito e contente com o resultado.

— Tem razão, my lady. Como sempre. – Adrien passou o dedo sujo de tinta na minha bochecha e eu arregalei os olhos.

— Você não fez isso...

— Pode acreditar que sim. – sorriu orgulhoso e eu fiz o mesmo com ele, só que sujando seu nariz.

— Ei! – protestou, passando o pano e limpando – Ok, eu admito que mereci essa. – nós rimos e ele se aproximou, passando o pano na minha bochecha e limpando o que ele tinha sujado.

Nosso olhar se encontrou rapidamente enquanto ele limpava a minha bochecha e nós sorrimos um para o outro. Por um momento fiquei perdida nos seus olhos verdes e brilhantes.

— Mais dez minutos, pessoal. – anunciou a professora, fazendo o nosso contato visual ser quebrado – Estou ansiosa para os resultados finais.

***

Depois de terminarmos o curso de pintura, Adrien me levou em uma cafeteria bonita e cara que eu dizia sempre ter vontade de ir, mas nunca tinha dinheiro.

Eu disse que eu pagaria ao menos o que eu fosse gastar – por mais que ainda fosse ruim para o meu bolso –, mas ele quase me bateu. Então eu aceitei que ele pagasse tudo no final.

— O que está achando do nosso quarto encontro?

— É o melhor, com certeza. – sorrimos.

— Eu disse que estava guardando o melhor para esse.

— E eu admito que o meu julgamento sobre você está mudando Sr. Agreste. – ajeitei a postura, falando em um tom formal.

— Ah é? Em que sentido? – se inclinou.

— Bem, você continua sendo o mesmo Adrien. Mas eu estou conhecendo aspectos da sua personalidade que antes eu não sabia que existiam. – e eu admito que estava adorando conhecer esse lado dele.

— E isso é bom, não é?

— É claro.

— Fico feliz em ouvir isso, Bugaboo. E aproveitando, eu tenho um pedido pra fazer pra você. – fiz uma careta confusa e ele riu – Calma, não é nada demais. Meu pai vai dar um jantar no final de semana que vem para os amigos mais próximos. Quer ir comigo?

— É formal? – Adrien assentiu – Você acha que é uma boa ideia levar o desastre em pessoa para o jantar formal do seu pai?

— O desastre em pessoa é a minha namorada, mesmo que de mentirinha. – apontou pra mim – Não quero cobrar nada, mas você me deve essa. – suspirei. Eu até gostaria de ir, mas eu literalmente sou um desastre e eu não queria correr o risco de tropeçar e acabar derrubando a mesa no jantar – Vai ser legal. A Chloé vai estar lá, a Kagami também. – encarei Adrien.

— Eu vou.

— Que rápido, achei que iria precisar usar mais argumentos pra te convencer. – ri nervosa. – Mas que alívio.

— É. – bati meus dedos de leve na caneca de porcelana – Só não sei o que posso usar.

— Um vestido? – o encarei com um olhar de “Jura?”. – O que foi?

— Não é tão simples. Não é só “um vestido”. Tem que ser um vestido bonito, confortável, chique e que não faça o seu pai querer colocar fogo nele. – Gabriel Agreste é um estilista renomado. Não podia chegar lá usando qualquer vestido, precisava causar uma boa impressão.

— Você não tem um que se encaixe em todos esses... Requisitos?

— Preciso verificar. – Adrien sorriu e colocou sua mão por cima da minha que estava estendida na mesa.

— Tenho certeza que vai encontrar algo. – me encarou e eu senti as minhas bochechas esquentarem levemente. Puxei a minha mão de volta e desviei o olhar para a janela.

— Espero que sim. – limpei a garganta e olhei para ele – Já está ficando tarde.

— Verdade. Nem tinha percebido. – disse ao olhar pela janela e ver os últimos raios de sol iluminarem as ruas. – Vamos então, temos que fazer a nossa última parada.

— Mais um lugar?

— Claro. Você acha que eu disse que esse seria o melhor encontro à toa?

***

Adrien me levou no parque por último, aonde estava ocorrendo um evento comunitário e haviam várias pessoas fazendo piquenique.

Eles vendiam a comida nas barraquinhas e nós montávamos a nossa própria cesta. O dinheiro da venda era para o centro comunitário de Paris. Adrien e eu compramos algumas coisas e também uma tolha para comer em cima.

Encontramos um lugar bom e meio afastado do resto do pessoal – mas mesmo assim não muito longe. Eu estendi a toalha e Adrien colocou a cesta no chão. Sentamos um de frente para o outro e tiramos as coisas para cima da toalha.

Por mais que já estivesse quase noite, as luzes dos postes iluminavam o local, o que acabava dando um ar quase que romântico.

— Como você planeja essas coisas? – perguntei.

— Como assim?

— É que quando a gente saía antes, íamos sempre nos mesmos lugares. Eu não estou reclamando, mas de repente você começou a planejar outros lugares, tipo o museu, o curso de pintura e aqui. – apontei – Não me imaginava nesses lugares com você. – ele riu.

— É que antes éramos só amigos. Agora somos namorados.

— Ah sim, me esqueci desse detalhe. – ironizei – Mas falando sério, eu queria agradecer por todas essas saídas. Eu sempre me diverti com você e não imaginei que fosse possível me divertir mais ainda. Mas você me mostrou que sim.

— Eu fico muito feliz em saber disso, Bugaboo. – sorrimos. Adrien desviou o olhar e pareceu pensar em algo, em seguida virou para mim novamente – Falando em encontros, eu posso te perguntar uma coisa?

— Sim.

— Quando esse nosso namoro de mentira acabar, você vai continuar indo à encontros comigo?

— Se você quiser ir comigo, eu ficarei honrada.

— É claro que eu vou.

— Então, sim. Você não vai se livrar de mim tão fácil. – rimos.

Pra falar a verdade, nem tinha pensado na parte que o nosso namoro teria que acabar algum dia. Afinal, tudo que eu deveria me preocupar, era em fugir de Luka. O tempo que eu passava com Adrien, era pra ser um bônus. No entanto, não posso negar que estava se tornando mais do que isso.

Eu tenho a consciência de que eu e Adrien não somos um casal de verdade, mas eu estava amando nossos momentos como se fôssemos.

***

— Passou o dia fora com o namorado, hein. – ouvi a voz de Kim e olhei na sua direção. Meu irmão estava escorado no batente da porta, com um olhar desconfiado.

— O que você quer?

— Nada. Só estou curioso sobre o relacionamento de vocês.

— Eu vou fingir que eu você não disse isso. – ele suspirou, entrou no quarto e sentou na minha cama.

— Só estou preocupado com você, irmãzinha. – pude notar sinceridade na sua voz – Eu sei que você é crescida, o Adrien é um cara confiável e tal, mas eu não posso deixar de me preocupar um pouco. E eu estou por fora. Quero saber como estão as coisas, se vocês estão se dando bem, se está tudo certo. – sorri e sentei ao seu lado.

— É muito fofo da sua parte se preocupar. – beijei sua bochecha – E eu e o Adrien estamos bem. Nós estamos saindo, indo há lugares legais. Hoje fizemos um curso de pintura. – Kim riu – É sério, foi incrível.

— Que bom que se divertiram.

— Sim. O Adrien realmente é maravilhoso. Ele me conhece perfeitamente. – sorri.

— Dá pra ver que você está mesmo apaixonada.

— O quê? Como assim?

— O jeito que você fala dele e o brilho no seu olhar. – Kim ficou de pé, se preparando para sair – Admito que fiquei um pouco em dúvida sobre o namoro de vocês no começo. Sei que você não é assim, mas tive medo que você estivesse saindo com ele por medo de ficar sozinha, ou algo do tipo. Mas agora, dá pra ver que você realmente o ama. – beijou a minha testa – E eu estou muito feliz por vocês. – sorriu e saiu, me deixando paralisada no mesmo lugar.

As palavras de Kim me atingiram de um jeito e fizeram a minha mente ser tomada por inúmeros pensamentos, e eu já soube na hora que aquela seria uma longa noite.