— NÃO PODE SER!

— O que foi? O que houve? – Kim surgiu no meu quarto quase caindo e segurando uma vassoura, provavelmente preocupado com o grito que eu tinha dado.

— A Alya ficou de fazer o meu cabelo, mas ela teve que ir ao hospital porque o pai dela foi mordido por um dos animais do zoológico que ele trabalha. – falei rápido.

— Coitado!

— Felizmente não é tão sério. Mas e o meu cabelo? – choraminguei – Isso é um desastre total! Eu vou ficar horrível no jantar aí o pai do Adrien vai me ver e pensar “ah, é com isso que meu filho namora?” e depois ele vai me expulsar e eu vou chorar pro resto da vida!

— Acho que você está exagerando. – ele riu.

— Não estou não! – eu estava praticamente pronta, só faltava fazer o cabelo e colocar o sapato. Sem contar que já era quase a hora que o motorista de Adrien viria me buscar. Estava ficando sem tempo e desesperada.

— Por que você mesma não faz o seu cabelo?

— Porque eu não faço ideia do que fazer nele. – meu irmão largou a vassoura na porta e veio até mim.

— Ok, Kim ao resgate. Vou fazer o seu cabelo.

— Você o quê? – o encarei incrédula. – Eu lembro de quando você fazia penteados em mim quando éramos crianças e eles não eram muito bons.

— Pra sua informação, semana passada eu estava vendo televisão e perdi o controle dela. Fiquei com preguiça de levantar pra trocar de canal e acabei assistindo um programa bem interessante sobre penteados de festa femininos. – pisquei os olhos, assimilando as informações.

— Só vou aceitar porque estou desesperada.

— Já vou avisando que não vai ser nada demais.

— Tá bom, só arruma logo. – virei de frente para o espelho e encarava cada movimento que Kim fazia com medo que ele estragasse o meu cabelo. Não que eu não confiasse nele, só que como ele não tinha muita experiência, eu ficava com receio.

Superando as minhas expectativas, Kim fez um coque médio, meio desfiado e penteou a minha franja do jeito que eu sempre uso. Ficou simples, mas com certeza muito lindo.

— O que achou?

— Por incrível que pareça, eu amei.

— Vou ignorar a parte que você me subestima e focar no elogio. De nada. – ri e me levantei.

— Desculpa. Você me salvou, obrigada. – depositei um beijo na sua bochecha – Agora eu preciso colocar os meus sapatos.

— Aqui. – ele me entregou e eu sentei novamente, calçando os saltos não tão altos. Não podiam usar um salto tão grande e arriscar cair de cara do meio do jantar.

— Como eu estou? – levantei e encarei o meu reflexo no espelho.

— Você está linda, irmãzinha. – sorri para o meu irmão – Certeza que o seu sogrão vai amar. – Kim fez sinais positivos com os polegares, me fazendo rir.

— Obrigada novamente. – o abracei, cuidando para não estragar o penteado.

— Não precisa me agradecer. Agora vai lá e acaba com eles. Quer dizer... Não literalmente. A não ser que precise.

***

Gorila, como é conhecido o grande e silencioso motorista de Adrien, abriu a porta do carro e eu desci.

— Obrigada. – agradeci e o homem apenas assentiu.

— Você está perfeita! – Adrien exclamou assim que me avistou da porta. Senti minhas bochechas esquentarem, enquanto meu namorado vinha até mim. Ele com um terno era mais irresistível do que o normal.

— Você também.

— Eu sei. – nós rimos e ele se aproximou, me beijando em seguida. – Vamos? – estendeu o braço e eu entrelacei.

— Vamos.

— Chloé já está lá. A Kagami também. – engoli em seco ao ouvir o último nome. Sei que não tinha motivos para me preocupar com ela, até porque nem a conhecia, mas mesmo assim me deixava apreensiva. – Antes de tudo vou te apresentar ao meu pai.

— Tá. – isso me deixou ainda mais nervosa. Porém tentei relaxar. – Acredita que foi o Kim que fez o meu cabelo?

— Sério? – Adrien riu – Ficou muito lindo.

— Pois é. Quem diria?

— Seu irmão é muito mais do que músculos e topete. – foi a minha vez de rir.

— Diz isso pra ele.

— Não. Não quero apanhar. E falando em apanhar... – apontou para Félix, que estava mais adiante falando com uma pessoa que eu não conhecia. Aliás, tinham muitas pessoas que eu não conhecia ali. Não que fosse surpreendente, era apenas uma observação.

— Vocês já voltaram a se falar?

— Não até ele pedir desculpas pelo que fez.

— Tem razão.

— Mas não vamos pensar nele agora. Ali está o meu pai. – encarei Gabriel Agreste, que observava as pessoas, enquanto sua assistente dizia algo para ele. – Preparada?

— Mais ou menos. – Adrien entrelaçou sua mão na minha.

— Vai dar tudo certo. Só seja você mesma.

— Pra você é fácil falar. – ele riu.

— Você é incrível. Eu te amo, Marinette.

— Eu também te amo. – sorrimos um para o outro e Adrien me conduziu até aonde o seu pai estava.

— Pai? Essa é a Marinette, a minha namorada. – o homem me encarava com uma expressão indecifrável, me deixando aflita. Em seguida ele estendeu a mão e o canto dos seus lábios se moveram um pouco para cima. Acho que era um sorriso.

— É um prazer finalmente conhece-la, Marinette. – apertei a mão dele.

— Digo o mesmo, Sr. Agreste.

— Adrien fala muito bem de você.

— Falo mesmo, inclusive, sabia que foi ela que fez o próprio vestido sozinha? – Gabriel demostrou levemente surpresa e eu senti as minhas bochechas esquentarem.

— É um trabalho interessante. – disse ele, analisando – Claro que existem ajustes a serem feitos. Contudo, é impressionante para alguém da sua idade. Pretende trabalhar com moda?

— Sim, é o meu sonho.

— Então com certeza está no caminho certo. – Adrien sorriu para mim e eu me senti incrível ouvindo aquilo.

— Obrigada, Sr. Agreste. – ele apenas assentiu.

— Se me derem licença, preciso cumprimentar alguns convidados. – assim que ele saiu, Adrien se aproximou mais.

— Você viu o que ele disse? – indaguei empolgada. – Jurei que ele iria querer colocar fogo, mas foi muito melhor do que eu pensei. – ele riu.

— Ele seria louco de dizer isso. Está perfeito.

— Sua opinião como meu namorado é meio tendenciosa.

— Que nada. Fico feliz por você, Bugaboo! – o loiro colocou a mão sobre o meu rosto e estava prestes a me beijar.

— Adrien? – alguém o chamou e nos viramos para ver quem era.

— Kagami. Oi. – engoli em seco ao ver a garota ali atrás. Ela parecia ser meio séria e tinha uma postura invejável. Também era muito bonita, o que certamente me deixava insegura. – Essa é a Marinette, a minha namorada.

— Oi. – acenei timidamente.

— E Marinette, essa é a Kagami. A minha amiga. – ela fez um cumprimento rápido com a cabeça.

— Seu pai pediu que eu te chamasse, ele e minha mãe estão conversando sobre algum assunto e queriam nós dois presentes. – Adrien me encarou.

— Vai lá, pode ir.

— Certeza?

— Sim. Eu vou ficar bem.

— Ok, então eu já volto. – ele depositou um beijo na minha bochecha e saiu ao lado de Kagami. A cena dos dois saindo juntos não tinha nada demais, mas me deixou mal.

Eu e a minha maldita insegurança.

— Marinette? – me virei para ver quem era e dei de cara com Félix. Um arrepio percorreu o meu corpo, só ao lembrar o que tinha acontecido entre a gente. Respirei fundo, preparada para qualquer coisa.

— O que é?

— Eu queria... Pedir desculpas.

— Como é que é? – ok, com certeza não estava preparada para isso.

— Tá surda?

— Ei!

— Desculpa, força do hábito. – pigarreou – Eu queria pedir desculpas pelo que eu fiz com você. Desde aquele dia até hoje, tenho refletido que errei ao abordar você daquela maneira. – estava em dúvida se acreditava ou não. Ao menos ele parecia estar sendo sincero – Então... Você me perdoa?

— Hã... É claro. – tudo bem que não acreditava nele cem por cento. Só o tempo diria se ele realmente estava se desculpando. Mas eu não deixaria de aceitar as suas desculpas.

— Podemos voltar a nos odiar como antes? – nós rimos.

— Podemos. – Félix recobrou a postura.

— Ótimo. Agora vou sair daqui, não quero que achem que eu conheço você.

— É um favor que me faz. – dito isso ele saiu e eu não pude evitar de sorrir. E tenho certeza de que ele também tinha um sorriso discreto no rosto.

Félix ter vindo até mim e pedir desculpas, foi inesperado, porém muito bom. Espero de coração que seu arrependimento tenha sido verdadeiro.

Depois que ele sumiu de vista, meu olhar encontrou Adrien conversando com Kagami, ao lado de aonde estavam os seus pais. Os dois estavam rindo e se divertindo com o assunto, o que me deixou para baixo.

Eu sei que Adrien tem o direito de conversar com ela e jamais o proibiria de algo. Só que eu nem me comparava à ela e o fato de Kagami ser mais bonita, mais chique e mais rica, me deixava um pouco assustada.

E se Adrien algum dia cansasse de mim? Ela faz esgrima. O Adrien ama esgrima. Ela com certeza deveria ser bem mais interessante do que eu.

Esperei mais alguns minutos e ele continuou lá. Então para não ficar plantada no meio do salão com uma expressão triste, fui pegar alguns petiscos na mesa. Comida deveria me deixar um pouco mais animada.

Deixei meus ombros caírem quando vi que eu não conhecia nenhuma daquelas comidas. Definitivamente não sirvo para ser rica.

Aposto que se fosse a Kagami, ela saberia cada ingrediente dali.

— Marinette, para com isso! – me repreendi baixo.  

— Falando sozinha, Dupain-Cheng? – Chloé parou ao meu lado.

— Ah, oi Chloé. É estou sim.

— Ciúmes porque o seu namorado não para de falar com a garota japonesa?

— O quê? Não, eu não... – ela me encarava com aquela expressão de que não adiantava eu negar, pois ela já tinha entendido tudo. Deixei meus ombros caírem e dei um suspiro derrotado – Sim, estou sim. Mas eu sei que não deveria.

— Deveria sim. Ela está de olho no seu homem.

— Como assim?

— Falei com ela antes da festa e ela usava um tom bem sugestivo para falar do Adrien. – Chloé se aproximou e falou baixo, encarando os dois de canto. Em seguida ela me olhou e possivelmente notou o meu desespero – Ah não, eu te deixei pior. Me desculpe, ainda sou nova nisso de amizade.

— Tudo bem, eu só... – me virei de costas para o salão e engoli em seco. Precisava limpar a minha mente desses pensamentos paranoicos. Mas não faço ideia de como.

— Olha, só disse pra você tomar cuidado com a Kagami. – ela colocou a mão no meu ombro – Mas quanto ao Adrien, dá pra ver que ele te ama. – sorri com as palavras dela.

— Obrigada, mas o Adrien parece se divertir bastante com ela. – apontei discretamente.

— Ele só está emocionado. Daqui a pouco vai vir correndo pra você. – Chloé balançou a mão – Enquanto isso vem comigo, vou te mostrar o jardim da casa. – encarei Chloé e em seguida Adrien e Kagami. Não queria interromper a conversa dos dois, mas também não queria ficar ali até que finalmente terminasse de falar.

— Tá bem.