W o l f escrita por Ellaria M Lamora


Capítulo 1
O n e s h o t — w o l f


Notas iniciais do capítulo

Uma ideia bizarra que surgiu depois que vi um vídeo no facebook, mostrando nosso lobinho sentado, esperando nossa volta, enquanto as estações passam.
um presente também para o Herói, o melhor cachorro do mundo.

boa leitura



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O FARFALHAR DAS ÁRVORES ANUNCIOU a chegada daquele que não tinha nenhuma cor banhando suas írises. Soltando um muxoxo, ele caminhou por entre os pinheiros-escuros e, aproximando-se da modesta construção de madeira, ignorou o quão lindo era o pôr-do-sol no alto daquela montanha ou os sons dos animais e aldeões recolhendo-se aos perigos da noite.

Eram apenas ilusões.

As chamas iluminaram seu rosto coberto por cicatrizes quando ele se aproximou da porta de ferro. Um sorriso de escarnio tomou conta de seus lábios e ele refletiu o quanto aquilo era desnecessário, tocando-a com as pontas dos dedos e assistindo pacientemente o objeto liberar a passagem que ele precisava.

Cruzou a entrada da porta, encontrando o que o trouxera até ali.

Olhos escuros o fitaram em confusão pura e um par de orelhas levantaram-se.

— Desista. — O dono de olhos brancos sussurrou — Ele não vai retornar.

O lobo, sentado em frente a uma cama vermelha, rosnou e ele suspirou, largando-se no chão, ao lado do animal.

— O que você está fazendo aqui?  

— Já se passaram quantas estações? — Perguntou, ignorando-o.

A criatura murchou, descansando a cabeça entre as pernas dele.

— Não sei. Só estou aqui... Sentado. Esperando.

A resposta, tão dolorosa, surgiu em algum lugar da mente do homem que, docilmente, pegou-se acariciando o pelo do lobo. O olhar cadavérico perdeu-se na pelugem desbotada, quando as imagens dos últimos tempos vividos por aquela criaturinha explodiram em seus pensamentos.

A dor o sufocou momentaneamente ao deparar-se com os resquícios das memórias do animal. A mais marcante, dentre elas, parecia socá-lo brutalmente, explodindo em cores, cheiros e sons. Ela era sólida e viva. E, por si só, trouxe tristeza ao coração do homem que não se deixava levar por sentimentos.

Nela o lobo lambia um homem de cabelos castanhos. Eles tinham acabado de sobreviver a uma noite tortuosa, explorando as ruínas de uma mina e o animal estava radiante, depois de ter defendido aquele que o salvara dos perigosos que levava numa vida anteriormente abandonado na floresta. O cheiro de um guisado preenchia o ar, enquanto o dono da pelugem tão clara saltitava, assistindo seu mestre contabilizar o lucro da exploração.

A fornalha estava ativa, aquecendo-os com a produção de carvão e, em seu êxtase, o animal não reparou o brilho desanimado que surgia nos olhos daquele que o presenteara com um abrigo e comidas tão saborosas. Na verdade, só o notou quando o homem suspirou e o arrastou para o lado de sua cama.

— Ei, amigão. — Sussurrou, sentando-se ao seu lado. O calor das tochas iluminou a coleira vermelha, quando um fio invisível aos olhos humanos surgiu do chão, prendendo o animal ali — Fique aqui, certo? Vou precisar resolver umas coisas, mas volto logo. — Declarou ao ficar em pé e caminhar na direção da porta, ativando o sistema de segurança dela.

O lobo choramingou e o dono olhou para trás, sorrindo tristemente e lhe dando as costas novamente, saindo para o mundo tão azul lá fora, dominado por um sol radiante. O cabelo tão castanho esvoaçou ao vento quando a porta automática se fechou e tudo que restou ao animal foi a imagem de seu sorriso e olhos claros, despedindo-se.

Ele chorou, é claro.

Num primeiro momento, sofreu pela ausência daquele que mais amava no mundo. Ele desejou sair para o lado de fora, imaginando-se pulando as janelas e correndo atrás de seu mestre. Ele rosnou, grunhiu, choramingou e contorceu-se todo quando o fio invisível o manteve grudado ao lugar que o homem tinha lhe deixado, o lembrando de que — enquanto fosse leal ao explorador de ruínas — precisaria servir todas as suas vontades.

E a vontade dele, naquele momento, era que o lobo ficasse sentado, o aguardando.

No início, lembrava-se de esperar ansiosamente pelo humano. Os olhos escuros fitavam as proximidades das janelas com esperança toda vez que algum barulho era captado por seu ouvido. No entanto, a tristeza logo dava lugar ao sentimento, quando o focinho não reconhecia o cheiro tão característico do mestre.

Ele lamentou, perguntando-se onde raios estarias aquele homem.

As noites tornaram-se torturantes com os sons dos inimigos da noite lá fora, sussurrando e rastejando, perdidos em sua própria loucura. As tochas acessas garantiam sua segurança, mas não tornavam seu medo menor. As aranhas rastejavam pelas janelas, deixando nítida sua vontade de devorá-lo e os esqueletos caminhavam ao redor da construção, murmurando ofensas, maldições e qualquer coisas que pudesse assustá-lo. O brilho púrpuro dos caminhantes negros sempre estava por ali, espreitando-o, causando mais tormento ao seu coração.

De dia, o calor do sol parecia queimar sua pele e ele desejava correr novamente pelos campos verdes, devorando margaridas e perseguindo os porcos, ajudando seu mestre a conseguir a próxima refeição. O fio invisível garantia que não sentisse fome, mas, mesmo assim, o lobo suplicava para sentir novamente o sabor das comidas que o humano preparava com tanto carinho.

Antes que percebesse, as estações começaram a mudar. O inverno veio e se foi. A madeira começou a apodrecer e a solidão foi tudo que restou quando as crianças aldeãs que sempre visitavam a entrada da casa e gritavam por ele, tornaram-se adultas e o abandonaram. O silêncio sufocante foi tudo que restou para aquele animal que — perdido na passagem das horas e dos dias — continuou a esperar pelo humano que tanto amava.

— Ele não vai retornar. — O homem de olhos cor de neve sussurrou, não percebendo as lágrimas que banhavam sua própria face. A tristeza do animal era quase palpável e o afetava demais.

— Algum dia... Eu sei que sim.

O homem fechou as pálpebras.

— Está na hora de descansar, Wolf. — Murmurou com carinho e, por um momento, ele pareceu como seu próprio dono.

— Espere! Eu sei que ele vai voltar. Só me dê mais uma estação e então...

A criatura de olhos brancos negou, movendo os cabelos castanho-escuros.

— Você o serviu com fé e amor. — Declarou, colocando-se em pé e desembainhando a espada de diamante que estava presa em suas costas. — E o que recebeu, Wolf? — O azul cadavérico banhou o aposento, sobrepondo-se as chamas das tochas esquecidas nas paredes — O abandono. A solidão. A tristeza.

— Não é bem assim!

— Estive te observando por tempo demais para saber que está mentindo. — Declarou e percebeu que aquilo surpreendeu o animal — Está na hora de ser livre novamente.

— Por favor, eu imploro...

No entanto, ignorando as súplicas do lobo, a criatura ergueu a espada e, em um movimento, cortou o fio invisível aos olhos humanos. Wolf, chocado demais, assistiu paralisado o fio tornar-se carmesim, quando foi partido ao meio, para logo em seguida desaparecer diante de seus olhos. Com ele, a coleira quebrou-se em pedaços, que sumiram no ar.

— O que você fez? — Murmurou, olhando assombrado para o chão — Se ele voltar... Se ele voltar... Vai achar que o abandonei! — Rosnou e lágrimas mancharam o chão de madeira branca.

— Ele não vai voltar, Wolf.

— Pare de dizer isso! Como pode ter tanta certeza?

O homem não respondeu, limitando-se a dirigir um olhar frio na direção da porta. Guardando a espada novamente, marchou naquela direção, sendo seguido do animal.

Do lado de fora, o sol nascia num céu azul, iluminando as montanhas 

— É lindo, não é? — Questionou e o lobo o ignorou — Muito bem então, olhe para o lado oposto, Wolf. Diga-me o que vê.

Perguntando-se o que haveria naquela direção, Wolf moveu a cabeça e os olhos escuros se arregalaram, quando encontrou o negro devorando tudo. Não havia nada lá, só o vazio.

— Não! — Ganiu, destinando a criatura seu desespero — Não!

— Ótimo, você sabe o que isso significa.

— Não pode ser. Por favor, me diga que isso é uma brincadeira.

— Seu mestre destruiu mais um mundo, Wolf.

— Nã...

— A montanha que você estava foi a única coisa que sobreviveu, pois o fio que representava sua lealdade é eterno, já que somente eu posso cortá-lo. Então você não podia simplesmente morrer e ficou preso em alguma parte dos fragmentos desse mundo, protegido pelo fio com algumas criaturas da noite. Preso em alguma ilusão de que estava tudo normal.

O silêncio do lobo o acompanhou quando as chamas das tochas morreram e a escuridão começou a devorar a casinha de madeira e tudo que havia ao seu redor.

— Ele fez isso há muito tempo, Wolf. — Um esqueleto surgiu de trás de uma árvore, que foi consumida pelo vazio no instante seguinte — Infelizmente estávamos limpando a sujeira que ele tinha feito em outro mundo, por isso não notamos. Mas se quer saber, um banho de sangue aconteceu entre os meus, só para o divertimento de seu mestre.

— Isso não importa. — Grunhiu aquele com aparência de humano — Wolf.

— Irei morrer? — Choramingou e ficou evidente o sofrimento pelo qual passava.

— Não. Não vai, Wolf. Você vai descansar.

— Nós só queríamos nos desculpar. — Acresceu o esqueleto, mostrando ao lobo um ovo pincelado com tons castanhos — Você vai descansar agora, Wolf.

Antes que o animal pudesse balbuciar algo, a criatura que se assemelhava a um humano, pegou o ovo dos dedos esqueléticos do companheiro. O dono dos cabelos claros sorriu tristemente para o animal, que fechou as próprias pálpebras e sussurrou um agradecimento.

— Descanse, Wolf. Nos vemos no próximo mundo. — Resmungou e a figura do animal transformou-se em um borrão de luz, que foi sugada para dentro do ovo.

— Está terminado, meu senhor. Mais uma vez.

O silêncio foi cortado pelo som dos soluços daquele que se assemelhava a um humano.

— Quantos universos ele vai criar e destruir até se contentar? — Trovejou quando a postura que impunha respeito foi quebrada pelo som de seu choro — Quantas vidas vai criar e tirar, até estar feliz por completo? Quantas versões do Wolf irá abandonar, até sentir-se satisfeito? — Cuspiu as palavras, caindo no chão de terra que ainda não havia desaparecido — Quantas vezes mais?

— Não sei dizer isso, meu senhor. O que sei... O que sei é que precisamos limpar a sujeira dele. Dar uma paz aos espíritos perturbados, libertando-os de todo o caos... É tudo o que podemos fazer, enquanto não conseguimos derrubar a proteção que o sonda.

— Ele ousou manter o Wolf preso aqui, depois de destruir mais um mundo, Skeleton. Ele sabia do laço que os unia, mas mesmo assim preferiu manter o lobo ligado a ele, enquanto simplesmente apagava mais um mundo. — Murmurou abalado e socando o chão, sujando suas mãos — Se nós não tivéssemos chegado, Wolf iria continuar aqui para sempre, preso em um looping de dor e sofrimento.

O esqueleto moveu-se como se estivesse respirando fundo.

— Mas nós chegamos e o salvamos. E é o que vamos fazer com outros, então levante a cabeça, meu senhor.

Ele limpou as lágrimas e assentiu, ficando em pé novamente.

— Um dia nós vamos derrubar a proteção que nos impede de nos aproximar dele. — Declarou, desembainhando novamente a espada de diamante, com seu anil cadavérico — Nesse dia, ele irá arrepender-se de todas as vezes que acordou no meio das árvores e começou a destruí-las, igual fez com todos os mundos que pisou anteriormente. Ele vai suplicar para que eu esqueça de todas as vidas que criou, só para destruir sem qualquer piedade. — Rosnou, olhando diretamente para o sol vermelho e quadrado que começava a desaparecer — E quando eu começar a infligir nele todo o sofrimento que causou nos meus... Nesse momento, ele conhecerá o poder do meu nome e o sussurrará, aterrorizado demais para conseguir falar qualquer coisa:









 

 




HEROBRINE. 

 


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Notas finais do capítulo

viram o que acontece quando vocês criam mundos a torto e os excluem? UNDERTALE VAI SER POUCO, SE COMPARADA A VINGANÇA DO HEROBRINE QUE NOS AGUARDA kkkjjj, ai que medo.

enfim, aqui foi um pequeno presente ao meu falecido cachorro. desculpe por todas às vezes que não pude chegar e te deixei no looping de esperar, Herói. Espero que você esteja descansando por aí e obrigada por tudo, meu amor ♥

feedback faz bem também, gente!
obrigada a quem leu!



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