A Amorosa Bizarra Aventura de Bucciarati escrita por Mayara Silva


Capítulo 4
Para meu querido chefe




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Nápoles – 15/12, 10:45.

 

No restaurante que costumavam se reunir, os meninos se juntaram para conversar um pouco antes do natal, a fim de discutirem a comemoração. Como não tinham família ou não queriam retornar a elas, resolveram comemorar juntos, afinal se consideravam uma.

Estavam na mesa Abbacchio, Mista, Fugo e Narancia. Bruno chegou logo em seguida.

— Ei, ei, ei... toma aí.

Mista jogou uma cartela de camisinhas na mesa. Eram de várias cores e sabores, mas todas masculinas.

— Vai saber como vai ser a noite de natal, né?

Ele deixou uma risada escapar. Os meninos logo foram em cima. O único mais afastado foi o Bruno, que observava o “presentinho”, com um olhar vago.

— Eu vou precisar...

Comentou Fugo. Abbacchio também pegou algumas.

— Vai ser útil.

— Eu vou pegar pra encher de água e jogar nos meus colegas da escola!

Disse Narancia. Bruno não pegou, apenas observou seus companheiros.

— Sou casado, Mista. Não preciso.

E sorriu, adorava a animação que aquele grupo trazia ao ambiente, ultimamente ele tem precisado espairecer a cabeça. Porém, aquele momento de convivência dissipou-se com a chegada de uma pessoa. Alguém que raramente saía de seus afazeres e de seu casulo protegido.

Giorno Giovanna.

Abriu a porta do estabelecimento e o sininho tilintou. Todos olharam e estagnaram. Giorno veio em suas direções, chegou ao local e os cumprimentou.

— Tem espaço para mais um?

E logo um garçom lhe trouxe uma cadeira. Bruno estava surpreso, fazia tempo que não via o loiro.

— Giorno... Você por aqui...

O loiro sorriu.

— Mas é claro. Ao menos perto do natal eu precisava ver vocês. Seria falta de consideração minha ignorá-los. Quero passar a data festiva com vocês.

— Isso é muito bom...

Comentou o moreno. Todos ficaram em silêncio por um tempo, mas o Mista sorria de animação, ver o rapaz depois de tanto tempo relembrava os velhos momentos.

— Não vai querer meu presente, Giorno? Tô distribuindo camisinha entre a gente. Só o Bucciarati não pegou.

Giorno deixou uma risada discreta escapar de seus lábios e negou em silêncio.

— Dispenso, obrigado. Eu já estou comprometido.

Disse, e por um segundo seu olhar pousou nos olhos violetas de Fugo. O ruivo desviou, olhou para outro ponto que não fosse Giorno, e ele entendeu que ainda não era a hora. O loiro estava começando a ficar impaciente, aquilo o incomodava.

Todos ali estagnaram com a novidade, até mesmo Bruno, que estava perplexo.

— Está? ...

O moreno indagou. Mista logo colocou lenha na fogueira.

— E com quem?? Não vai contar pra a gente?

— Bom...

Giorno não ia falar, não enquanto isso não fosse decisão mútua. Acontece que Fugo estava esperando que ele contasse, e por isso se levantou e se retirou, deixando todos ali. A princípio ninguém viu nada demais, não desconfiavam do Fugo, todavia o ruivo foi suficiente para retirar, também, Giorno daquele ambiente.

Agora as coisas estavam mais claras.

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Exterior do estabelecimento:

 

— Fugo!

Giorno correu pelas ruas, pacatas naquele momento. Era inverno e as chuvas assolavam a cidade, mas, nesse dia, apenas um vasto céu nublado podia ser observado. O loiro correu até o ruivo e o abordou.

— Por que foi embora?

O ruivo soltou um suspiro e pôs as mãos nos bolsos para falar.

— Já contou a eles?!

— Não... eu não faria isso se você não concorda. Acha mesmo que eu faria isso?

O ruivo negou. Giorno não sabia mais como reagir àquele problema, na verdade, nunca havia discutido com Fugo sobre aquele problema.

— Seja sincero comigo... você tem vergonha?

E o silêncio pairou entre eles. Fugo abaixou a cabeça, não sabia se de concordância ou submissão.

— Giorno... eu não quero assumir isso.

E aquela afirmação, por mais que fosse esperada, foi como uma apunhalada no peito do loiro. Todavia, ele não reagiu, sabia guardar bem seus sentimentos para lidar com os problemas da maneira mais racional possível.

— Então por que me enrolou durante todo esse tempo? ...

Foi uma pergunta que estava entalada na sua garganta, e que agora o aliviou ao sair. De todo jeito, sua voz era branda como de costume.

Fugo deu de ombros.

— Não posso falar por todos, mas por mais que as pessoas digam para não nos importarmos com a opinião alheia, no fundo, nos importamos. Nós sempre nos importamos. Eu tentei falar pra mim mesmo que a minha vida é só minha, mas eu não conseguiria conviver com isso. Eles iam comentar, iam falar merda, e eu ia acabar mandando alguém pro hospital.

Disse, dessa vez estavam dando início a uma conversa sincera.

— O que eles poderiam pensar sobre você é mais importante do que ter a mim, não é? ...

Indagou Giorno, enfatizando a palavra. Ele havia posto Fugo no canto mais quente de seu coração, lhe dado amor, carinho e compreensão, e estava consciente de que muito provavelmente sofreria com isso, mas sabia muito bem resolver um problema. Ele não estava interessado em adiar o inevitável. Se era para acabar assim, acabaria.

Fugo revirou os olhos.

— Eu te respeito, Giorno, você é meu chefe. Mas é algo meu... eu não quero continuar isso.

— Você tem vergonha do que é?

— Não importa, Giorno...

O loiro podia questionar outras coisas, mas preferiu terminar aquele diálogo, afinal, não levaria em nada. Ele suspirou e aquiesceu.

A chuva começou.

— Essa conversa é inútil. Se é assim que você quer, assim será. Mas não se preocupe, no nosso trabalho, nada mudará.

Foram suas últimas palavras para Fugo, naquele dia. E, por fim, Giorno se distanciou, com um olhar frio voltado para o horizonte, e tomou seu caminho em um rumo qualquer. A chuva chegou em bom momento, molhou o seu rosto e se envolveu em suas lágrimas, disfarçando a faísca de fraqueza que havia ali. Seu coração colecionava decepções desde a infância e, pelo visto, não havia mudado muito, recentemente. Normal, afinal, a vida é assim.

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Ristorante Alabardieri* – 24/12, 19:50.

* (lugar fictício não canônico)

 

Nove dias se passaram desde o término. Giorno ia comemorar as festas de fim de ano com o grupo, que era sua mais nova família, mas o desânimo dessa eventualidade o obrigou a se retrair. Pelo seu comportamento, os rapazes logo deduziram que aquele relacionamento havia acabado. Respeitaram o seu tempo e não perguntaram mais nada.

Naquela noite, ele havia ido a um restaurante de prestígio em Nápoles. Pelo seu poder aquisitivo e elevadíssimo grau de status, Giorno havia conseguido uma mesa vaga no melhor ambiente do local. Em época de fim de ano, as vagas costumam ser preenchidas rapidamente, mas isso não é problema para o chefe da máfia.

Concernente a todos que se encontravam naquele restaurante, olhar para ele era uma visão deprimente. Giorno estava sozinho, havia alugado uma mesa para si e somente para si. Tomou vinho acompanhado de uma belíssima massa à carbonara, mas nem o cheiro quente e delicioso da comida arrancava-lhe um sorriso. Seu ânimo para qualquer coisa que viesse acontecer era o mais imparcial possível, contudo, algo realmente lhe tirou uma expressão surpresa do rosto.

Bruno Bucciarati.

— Espero não estar atrapalhando nada...

Disse o moreno, com um sorriso no rosto. Ele puxou uma cadeira e se acomodou de frente para Giorno, que ainda estava visivelmente perplexo.

— C-como você...

— Eu disse ao dono que o conhecia. Ele não negaria nada para mim.

E, com essa frase, Bruno solicitou outra taça ao garçom e fez o seu pedido. Assim que o homem saiu, Bruno serviu vinho para si mesmo e encheu a taça do loiro.

— Não é bom estar sozinho no natal. Essa época definitivamente não foi feita para isso.

Giorno suspirou.

— Eu ia ver a missa depois...

— Está mesmo sem ideias em mente, não é? ...

O moreno elegantemente tomou um pouco da bebida e voltou a admirar os belos olhos turquesa do loiro.

— Venha ficar comigo.

Giorno o encarou.

— Pensei que tivesse planos para hoje. Os meninos... A Trish...

Bruno negava a cada nome proferido por Giorno. Nesse momento, o loiro foi instigado a admirar bem as mãos dele, não encontrando nenhuma aliança.

Será mesmo? ...

— Trish e eu nos divorciamos.

Aquela notícia pegou Giorno de um jeito que ele sequer conseguia explicar a sensação. Não era felicidade ou tristeza pelo ocorrido, era algo ainda mais profundo e complexo de nomear. Vendo que ele ficaria em silêncio, Bucciarati prosseguiu.

— Nos precipitamos ao casar tão rápido. Ela é uma boa pessoa...

As reações de Bruno, ao ver do loiro, diziam que aquele término havia ocorrido a alguns dias, talvez até no mesmo dia do término com Fugo. Bruno parecia anestesiado, recuperado, os ombros relaxados, não parecia querer desviar do assunto. Giorno aquiesceu e, enfim, resolveu provar da comida que havia pedido.

— Não queria que fosse assim... Eu... não queria que as coisas fossem assim...

Disse o loiro, em resposta. Términos... eles são essenciais. É com eles que descobrimos que há pessoas melhores que aquelas que estavam conosco. Pessoas que nos completam muito mais. Em contrapartida, ferem, machucam e estraçalham o coração até o último resquício, e só Deus sabe quando esses pedaços quebrados irão se unir novamente... e qual será a próxima pessoa que irá quebrá-los de novo.

— Também não queria, Giorno, mas não se preocupe. Está tudo bem, eu estou bem.

O rapaz assentiu. Aquela conversa amarga diminuía cada vez mais sua vontade de comemorar o natal. Era uma data de poucas lembranças boas suas, já que nunca havia comemorado devidamente. Notando que o pedido do moreno ainda não havia chegado, provavelmente devido à casa estar cheia, Giorno fez algo espontâneo e impensável: levou o garfo até o seu próprio prato e enrolou as pontas na massa. Logo após, levou aos lábios de Bruno, que sequer estava esperando aquilo. Sem pensar direito e seguindo o instinto, o moreno recebeu a comida. Era uma deliciosa massa, carro-chefe da casa. Giorno havia feito bem aquele pedido.

— H-humm...

— Gostou?

Bruno demorou a responder, mas após engolir, assentiu.

— É delicioso...

Giorno sorriu. Percebeu que o seu ex capo estava com fome e não o deixaria sofrendo com a espera de uma casa lotada. Não importando o que pensariam, dividiu sua comida com o seu melhor companheiro e amigo, talvez tenha sido a melhor e única ação de natal que fez naquele dia.

Finalmente o pedido do capo chegou. Eles jantaram e conversaram um pouco sobre assuntos mais animados ou corriqueiros, para esquecer as frustrações da vida pelo menos uma noite. Pagaram a conta e se retiraram, mas a chuva assolou aquele lugar segundos antes deles fazerem o pagamento. Giorno suspirou, teria que esperar um pouco. Não era um problema para Bruno, que tinha um guarda-chuva. Ele havia chegado de carro, mas imaginou que se espremer em um guarda-chuva com o loiro seria mais interessante.

— Vamos?

Abriu o guarda-chuva e convidou Giorno a acompanhá-lo. Não era lá muito grande, o que, de fato, os forçou a se espremerem um pouco para dividi-lo.

— Não tenha vergonha de me abraçar, hum?

Enfatizou o moreno. Ficou segurando o guarda-chuva enquanto o loiro unia o corpo ao dele e envolvia os braços em seu tronco. O coração de Giorno palpitava, não que ele estivesse alimentando esperanças falsas, mas todo aquele aprochego só o fazia se sentir mais estranho. Ele ainda não sabia se de um jeito bom ou ruim.

Caminharam por um tempo naquele frio insuportável quando, de repente, Giorno percebeu que estavam se aproximando daquele mesmo lugar em que havia contado a Bruno o seu sonho pela primeira vez.

Lentamente caminhou em direção ao guarda-corpos e Bruno o acompanhou, evitando que se molhasse. Giorno observou a paisagem ao longe, foi ali que ele passou a maior parte do tempo refletindo, desejando uma vida melhor para si.

— Bucciarati...

Ele murmurou, ainda com o olhar vago lá em cima. Bruno se aproximou, e então o loiro virou-se em sua direção.

— Você se lembra desse lugar? ...

Era óbvio que ele lembrava. Ali, Giorno havia contado algo do fundo do seu coração, havia revelado seus desejos, seus sonhos, havia descoberto a alma bondosa daquele criminoso disfarçado. Era um simplório lugar cheio de lembranças valiosas.

— É claro que me lembro...

Sussurrou o moreno. Giorno assentiu, satisfeito pela sua resposta. Ele levou as duas mãos até o rosto do moreno, afastou o lado esquerdo do seu Chanel até sua orelha, e então seus olhos turquesa caíram nos lábios do capo.

Seus narizes tocaram, agora era questão de centímetros até suas bocas fazerem o mesmo.

— G-Giorno...

— Eu sou o seu chefe..., mas eu peço que me permita...

Sussurrou em resposta. Bruno não pensou duas vezes. Seu coração palpitava e Giorno conseguia sentir as pulsações, que eram tão fortes quanto as próprias. No fundo, ambos estavam esperando aquilo, ambos queriam aquilo.

O guarda-chuva cedeu, caindo e deixando que aquela chuva encharcasse seus corpos, que ansiavam pelo calor um do outro. Bruno avançou e entrelaçou os braços no corpo de Giorno, que cedeu. A água em seus rostos deixou aquele beijo mais suculento, aquela sede mais insaciável, aquela vontade corpórea mais incontrolável.

Nenhum queria ceder contra, nenhum queria finalizar aquele beijo, mas os pulmões imploravam por aquilo, e então Giorno desvencilhou seus lábios dos dele, inspirando uma boa quantidade de ar.

Bruno encostou sua fronte à dele e assim ficaram por um tempo. Deixaram a chuva cair e fazer o que faz de melhor. Nenhum dos dois queria pôr um fim àquele momento.


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