A Bella Adormecida

Abri a porta e avancei para a cama de Nessie, começando a pular loucamente em cima dela.

– U-HUUUUUUU! É isso aí, garota! Vamos começar a sessão de historinhas superultramegapower melhores que as originais escritas pelo titio Emmett!

Renesmee, que estava em cima da cama, desandou a rir e meus pulos balançavam tanto aquele colchão mole que ela era jogada no ar junto comigo.

– AHAHAHAHA! Titio Emmett! IUPIIIIIII!

– Emmett! – Bella, que estava sentada numa cadeira posta ao lado da cama, reclamou. – É a sua primeira noite! Não vai me fazer voltar atrás tão cedo, não é?

Prontamente parei com os pulos e desci da cama, pondo a expressão mais séria que pude em meu rosto.

– Desculpe, Bella.

– Não faça nada do que eu vá me arrepender depois, ok?

– Claro que não! Serei um perfeito... adulto.

Nessie fez uma careta, deixando claro que não gostava quando seu tio Emmett agia como adulto e eu tive de segurar a risada.

– Muito bem – Bella suspirou e depois de alguns minutos saiu do quarto, deixando-me a sós com aquele projeto de gente.

Sentei-me na cadeira e observei melhor Renesmee. Ela parecia maior.

– Você cresceu mais um pouco hoje, não?

– Aham – ela confirmou com uma risada bonitinha de criança.

– Com quantos anos estaria agora se fosse uma criança comum? Oito?

– Vovô Carlisle disse que uns nove.

– Ah – eu ri. – Nove? Já é praticamente uma moça! Pode ouvir minhas histórias pesadas!

– Pesadas? – ela arregalou os olhos. – Como assim, tio Emmett?

– Não, nada de enrolation. Vamos começar. – eu limpei a garganta e estiquei o braço para pegar meu livro que tinha jogado em cima da cômoda. – Era uma vez, num reino muito distante, um rei e uma rainha que tiveram uma filha. A garota era muito bonita, e como eles nunca tinham tido filhos antes resolveram fazer uma grande festa de comemoração ao...

– Espera – interrompeu-me Nessie. – Qual era o nome da princesa?

– Até onde eu sei, acho que era princesa Aurora – minha ouvinte fez uma careta. – Você não gosta desse nome?

– Não.

– Tudo bem, então já que a história se chama “A Bela Adormecida”, vamos chamar a princesa de... Bella. – ela bateu palminhas em sinal de aprovação. – É, imaginei que fosse gostar. Bom, continuando... Eles deram uma grande festa em comemoração ao nascimento de sua primeira filha. Festa de arromba mesmo, a rave mais irada que já houve! O rei e a rainha convidaram todas as fadas do reino e todas elas deram muitos dons para a princesa Bella. Uma deu o dom da beleza, outra o dom do canto... Enfim, essas baboseiras aí. Só que eles tinham se esquecido de convidar uma fada.

– Por que eles se esqueceram de convidar a fada, coitada?

– Ah, é que fazia tempo que a fada não dava as caras no castelo, sabe? Todo mundo achou que ela estava morta. Então, só que ela não estava. No meio da festa a megera apareceu e jogou um feitiço sobre a princesa Bella. Disse: “antes do pôr-do-sol, no seu 16º aniversário, você espetará o dedo no fuso de uma roca e morrerá!”

Caprichei na voz assustadora e Nessie soltou uma exclamação de medo e se escondeu embaixo do lençol.

– Que horror! Jogaram uma praga na mamãe?!

– Não, né, Nessie! – surtei. – É só uma história! Sua mãe já passou dos 16 há muito tempo e ainda está viva, tá?

– Ah... – ela tirou o lençol da cara. – Então tudo bem! Continua, titio Emmett.

– Bom, acontece que uma das fadinhas ainda não tinha dado seu presente para a princesa quando a fada do mal fez isso. Então ela se adiantou e disse: “Ela não morrerá! Apenas vai dormir durante 100 anos, até que um príncipe a encontre e a beije!” – Renesmee fez cara de interesse.

– Oh. E o que aconteceu?

– Bem, acontece que quando a princesa fez quinze anos e descobriu que ia dormir pra caramba quando fizesse 16, ela desandou a chorar. Porque a princesa Bella, além de não gostar de ficar parada, tinha muitos pesadelos de noite, sabe? – Isso sem dúvida, não era nenhuma mentira quando Bella era humana. – Imagine 100 anos aturando isso! – Nessie arregalou os olhos. – Pois é! Então, a princesa pediu a uma de suas fadas madrinhas asas, e foi morar junto com um bando de corvos em cima das árvores!

– HÃ?

– É, a princesa Bella era meio ruim da cabeça e ainda por cima, suicida. E ela passou um ano inteirinho morando com os corvos, voando com eles, arrumou até um corvinho bonito pra pegar... Digo, pra casar. A princesa Bella achou que estaria sempre segura lá porque corvos não usam rocas de fiar, certo? ERRADO! Acontece que quando ela fez 16 anos, um membro do bando dos corvos tinha acabado de aprender a fiar com um humano. Ela viu ele lá, fiando, não resistiu à tentação de tocar no fuso da roca por causa da praga da fada do mal, então, pou! Espetou o dedo e dormiu.

– AIMEUDEUS!

– Pois é. Quando as fadas viram ela lá, caída no chão, tiraram-lhe as asas e levaram para uma cama lá no castelo. Mas nem precisaram esperar cem anos. O príncipe Edward, que vivia no reino vizinho e sempre fora encantado com a beleza da princesa Bella, assim que soube do incidente, correu lá no castelo e a beijou. E a nossa princesa Bella acordou!

– Aaaaaah! – Nessie pôs as mãozinhas nas bochechas. – Que bom que ela não precisou esperar cem anos! O príncipe Edward foi um fofo.

– Calma, que ainda não acabou! Lembra do corvo com que a Bella era casada? Pois então. Acontece que o corvão pegador não gostou nada disso. Ele ainda amava a esposa e queria que a princesa Bella voltasse a trepar com ele em cima das árvores e...

– Tio Emmett, o quê que é trepar? – Oooooooops!

– Ahm... Você pode olhar no dicionário se quiser, mas tem um outro contexto para essa palavra que você só vai poder aprender quando for mais velha – BEM mais velha, acrescentei mentalmente.

Renesmee bufou.

– Que saco! Tudo é “quando você for mais velha”!

– Podemos voltar à história, por favor? – pedi. – Então, como eu ia dizendo, depois disso, eles mandaram a princesa Bella escolher quem ela queria: o príncipe Edward ou o corvo. E ela não conseguia se decidir porque, apesar de ter se apaixonado instantaneamente pelo bravo, forte e bonito príncipe Edward, ela era casada com o corvo e não queria parecer uma piriguete...

– Piriguete? – indagou Nessie.

– Quê?! Piriguete? Não, você me entendeu mal, eu nunca disse piriguete, que palavra feia! Vai lavar essa boca com sabão, Renesmee! Nunca mais repita essa palavra! – Qualé! Edward, Bella, Alice, Esme, todo mundo ia me matar se soubesse que eu andava ensinando essas palavras para Renesmee.

– Mas eu...

– Continuando! – interrompi. – Pois bem, então Edward e o corvão resolveram duelar. A batalha foi dura, intensa, a maior que o reino já tinha visto! Durou sete dias e sete noites – Renesmee arregalou os olhos novamente. – E aí, quando os dois já estavam cansados, o príncipe Edward disse: “Cruscão! DÁ UM TEMPO! Estou cansado, pausa para um cafezinho, que tal?”.

– Sério que ele disse isso? – Nessie parecia incrédula.

– Sério. Mas foi um golpe de mestre! Acontece que corvos adoram cafezinho e se você oferecer um a eles, eles nunca recusam! Então o corvo se aproximou de Edward para seguir ele e tomar lá o café, mas quando chegou perto, POW! Edward degolou ele com um só golpe de espada e o matou. Depois disso, o príncipe casou com a princesa Bella e viveram...

Eu parei ao perceber que Renesmee já estava dormindo. Poxa, que rápida! Não deu nem tempo de ver o final!

Desanimado, murmurei o fim:

– E viveram felizes para sempre.

Nessie se remexeu no colchão e abriu parcialmente os olhos.

– Essa foi a melhor história que já ouvi, tio Emmett – e bocejou. – Obrigada.

Eu sorri para mim mesmo. Ela não estava dormindo completamente, afinal. Mesmo morrendo de sono ficou para ouvir o final da história.

Eu me levantei da cadeira e beijei suavemente o alto da cabeça de Renesmee, antes de sair do quarto.

Era oficial: eu PRECISAVA continuar.