A Volta da Raposa escrita por Claen


Capítulo 60
Boas Novas




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Quando Don Luíz deixou a capital e seguiu para o povoado de Los Angeles, ele jamais imaginou que seus assuntos a tratar naquele lugar terminariam de uma maneira tão inusitada, com os responsáveis por manter a lei, presos, e o bandido mais famoso de toda a região, livre e perdoado. Mas apesar dos momentos complicados e das revelações perturbadoras, ele estava satisfeito com os rumos que as coisas tinham tomado. Naquela noite agradável de céu estrelado, ele sentiu que finalmente deitaria a cabeça no travesseiro sem medo de um ataque traiçoeiro e descansaria com a consciência tranquila.

Ele sabia que a manhã seguinte ainda lhe reservaria um grande compromisso, mas naquele momento, tudo estava resolvido entre Zorro e ele. Sendo assim, os dois homens deixaram os aposentos do capitão, mas já não mais em lados opostos.

Curiosamente, assim que abriram a porta, eles se depararam com os rostos preocupados do Sargento Garcia e de Don Alejandro, que aguardavam ansiosamente por notícias.

Ao ver a expressão do pai, Diego sorriu, e isso foi o suficiente para acalentar o coração do velho fazendeiro. Don Alejandro ainda não sabia o que havia acontecido naquela reunião a portas fechadas, mas o sorriso do filho foi suficiente para lhe dizer que as coisas tinham corrido bem. O próprio Governador confirmou a suposição de Don Alejandro, quando logo depois, lhe revelou a decisão tomada durante a longa conversa.

— Fico muito feliz em saber que não estava enganado ao seu respeito, Sr. Governador! – disse Don Alejandro, já bastante animado e quase se esquecendo de toda dor que ainda sentia. – Tinha certeza de que o senhor tomaria a melhor decisão para todos. Como eu já havia lhe dito, não compactuo com bandidos, mas o Zorro sempre foi diferente. Nunca o considerei um fora da lei e sim um amigo do povo, e vê-lo sendo perdoado me enche de alegria. Não tenho dúvidas de que todos no povoado partilharão desse mesmo sentimento quando receberem a notícia. Atrevo-me a dizer que até mesmo os soldados ficarão felizes em saber que não precisarão mais correr atrás dele, não é mesmo, Sargento? – brincou o fazendeiro.

— É verdade, Don Alejandro. – respondeu Garcia, envergonhado. Ele já tinha perdido a conta de quantas vezes Zorro tinha feito o quartel inteiro de bobo, ao obrigá-los a sair em perseguições que nunca os levavam a nada, a não ser virar piada do povo. – Meu único pesar é saber que nunca receberei a recompensa pela captura dele...

Zorro, que permanecia calado, soltou uma gargalhada ao ouvir a resposta de Garcia, pois comprovou que realmente conhecia bem o soldado grandalhão, mas quando viu seu desalento, tratou logo de consolá-lo.

— Não se preocupe, Sargento, eu garanto que bandidos com a cabeça a prêmio não faltarão e, o melhor de tudo, é que não moverei um dedo sequer para ajudá-lo ou atrapalhá-lo em sua tarefa. – pontuou Zorro com um piscadela.

O Sargento ficou pensativo com o comentário do mascarado, mas depois se animou um pouco, mesmo não tendo ficado inteiramente satisfeito. “Se bem que não seria nada mal se ele quisesse me ajudar um pouquinho...” — pensou.

— Bem, Sargento, então deixe o Zorro ir, porque amanhã ele estará de volta, pela última vez, para que possamos tornar oficial a declaração de sua anistia para toda a população.

— Sim, senhor! – obedeceu o soldado, prestando continência e virando-se para Zorro em seguida. – Está livre, Sr. Zorro. Pode ir.

— Gracias, Sargento! – agradeceu Zorro com um sorriso e uma mesura.

— Você está em condições de ir embora sozinho, Zorro? Precisa de ajuda? – perguntou Don Alejandro, ainda preocupado com a saúde do filho, como todo bom pai.

— Eu estou bem, Don Alejandro. Obrigado pela preocupação, mas minha carona já vai chegar.

Assim que respondeu, Zorro deu um forte assovio e em questão de segundos, seu majestoso garanhão negro irrompeu galopando pelo portão do quartel até parar em frente ao seu dono. Mesmo com dores, Zorro montou rapidamente em Tornado e os dois saíram em disparada deixando apenas a poeira para trás. O Governador, que ainda não tinha sido apresentado a Tornado, ficou surpreso com a aparição do belo animal que parecia ser incrivelmente inteligente.

— Ele costuma fazer isso sempre? – perguntou Don Luíz, curioso.

— Sim, senhor. – respondeu Garcia, enquanto observava Zorro desaparecer à distância. – É por isso que ele sempre conseguiu escapar de nós. Eu acho que esse é o cavalo mais esperto que já vi na vida!

— Parece ser muito inteligente mesmo. – concordou Don Luíz, sem conseguir deixar de sorrir. - Mas eu deveria imaginar que Zorro teria uma montaria excepcional, afinal, o cavalo precisa fazer jus ao seu cavaleiro.

Após a saída apressada de Zorro, o Governador puxou o relógio do bolso de seu colete e constatou que já era bastante tarde e ele realmente precisava descansar. Aquele tinha sido um dia longo e cansativo para ele, que ainda estava em processo de recuperação. Pensando nos compromissos que o aguardavam no dia seguinte, Don Luíz, educadamente se despediu de Don Alejandro e de Garcia.

— Bem, senhores, peço que me deem licença, porque depois desse dia cheio de surpresas, eu preciso me recolher. Don Alejandro, acho bom que o senhor também vá descansar. – aconselhou o Governador. - Acredito que estes últimos dias não tenham sido muito fáceis para o senhor também.

— O senhor nem imagina o quanto! – concordou Don Alejandro, realmente precisando de uma boa noite de sono. Ele tinha passado efetivamente, apenas uma noite na prisão, e os demais prisioneiros tinham sido muito gentis ao cederem a cama da cela para ele, mas nada se comparava a passar uma noite tranquila em uma cama macia e confortável.

— Acho que não estou em condições de voltar para a fazenda hoje. – constatou Don Alejandro. - Como já está tarde, passarei a noite na taverna. Também estou preocupado com Diego, e ficando por lá, aproveito para ver como ele está. Esse menino tem os nervos muito frágeis! Boa noite, senhores.

— Boa noite, Don Alejandro. – responderam o Sargento e o Governador, enquanto viam Don Alejandro cruzar o portão e ser recebido por Bernardo.

O criado não tinha conseguido permissão para entrar no quartel, mas havia permanecido o tempo todo em frente ao portão, esperando pela saída do patrão, enquanto roía nervosamente as unhas, que já quase não existiam mais. Ele só se tranquilizou quando viu Zorro sair do quarto do capitão e pouco depois passar por ele em disparada. Quando viu Don Alejandro sair também, foi imediatamente ao seu encontro, já com o coração mais leve. Don Alejandro parecia estar bem e apesar das dores que ainda sentia, não precisou ser amparado pelo criado, como tinha acontecido algumas horas antes. Ele já conseguia andar sozinho e então os dois seguiram para a taverna.

Após a saída de Zorro e de Don Alejandro, Don Luíz pôde finalmente se retirar também.

— Com licença e boa noite, Comandante interino Garcia. Amanhã nos falamos.

— Boa noi... Comandante interino? – perguntou Garcia surpreso com o novo título que parecia ter acabado de conquistar.

— Sim. Com a prisão de Monastário o Capitão Aurellana voltará a assumir seu posto aqui, mas enquanto procuramos um substituto para ocupar o cargo dele lá na capital, o senhor ficará, temporariamente, responsável pelo quartel de Los Angeles.

— Gracias, Sr. Governador! – respondeu Garcia sorridente e orgulhoso do novo cargo. - E tenha uma boa noite!


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