Wisp escrita por dihh


Capítulo 1
Heartbeat


Notas iniciais do capítulo

Então gente, é bem provável que essa fic seja bem curta, convenhamos, não tenho tempo pra nada, muito menos pra escrever mas to aqui porque eu rio na cara do perigo.



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Crack...

 

Crack...

É o único som que ouve, o som dos próprios ossos estalando ao que se espreguiça e estica os membros, se preparando para a caminhada que iria ser iniciada e que há horas não fazia nada semelhante. Vôos sempre foram uma complicação, conforme sua individualidade ficava mais forte eles simplesmente se tornavam cada vez mais insuportáveis.

Foram 34 horas de voo sem paradas do aeroporto de Toronto até o aeroporto de Tóquio e agora o rapaz esperava suas malas na esteira para que então possa seguir seu caminho até Tóquio. A notícia que recebeu antes do embarque, que seus pais haviam lhe comprado um apartamento como presente de graduação foi, na realidade, muito bem-vinda.

Depois de passar 5 anos morando em um país tão diferente, experimentando a sensação de não ter que efetivamente dar satisfações a alguém ao mesmo tempo em que experimentava novas formas de viver, ele não mais era capaz de se imaginar vivendo tendo que se submeter as formas de existência e costumes que seus pais, em todos os anos vivendo juntos, desenvolveram e tomaram como dogmas sociais.

Assim que consegue recuperar suas 3 malas, ele as posiciona em um carrinho e se dirige à saída do aeroporto, tendo que passar pela tão temida guarda que mantinha o controle de quem entrava e saía do país, nesses tempos de constante medo e preocupação era uma medida bem razoável.

O herói número um estava morto. Não morto, morto. Mas seria injusto chamar essa situação de aposentadoria, considerando que ele jamais poderá fazer o que fazia outrora. O seu substituto, Endeavor... Só de pensar no nome já sentia a bile subir-lhe a garganta.

Todoroki Enji, um homem cruel na definição mais clássica da palavra. Se dependesse de si, o homem teria sua licença revogada, não tem o mínimo de capacidade para ser um herói, muito menos o herói número um, aquele que representa o símbolo da paz. Se a população soubesse o que acontece dentro da mansão dos Todoroki, a própria população se voltaria contra o atual herói número 1. Mas isso não é um luxo ao qual o país se possa dar, não nesse momento, não sob a constante ameaça da Liga dos Vilões.

Ficou tão absorto com o seu desprezo pelo herói que sequer percebeu que era sua vez de ser atendido na guarita do guarda e ele estava falando consigo, não que fosse capaz de ouví-lo, mas os gestos que este realizava deixavam bem clara a mensagem.

Retire os fones.

Sorriu enquanto se preparava pra tirar os abafadores, embora tinham um design que o faziam parecer headphones comuns que poderiam ser comprados em qualquer loja, estes, na verdade foram desenvolvidos por uma empresa de suporte tendo em vista justamente sua individualidade e as desvantagens que vinham com ela, sabia muito bem o que viria a seguir e, sendo honesto, não estava nem um pouco ansioso, mas ao mesmo tempo sabia que não poderia evitar por muito tempo. Assim que os abafadores deixaram suas orelhas tudo veio a tona, e, assim como toda a informação, veio também a vertigem, enquanto uma mão foi instintivamente para a cabeça, uma reação humana de massagear as têmporas para evitar dores de cabeça, a outra mão se dirigiu rapidamente à guarita do guarda em busca de algum apoio para que não caísse. Deu um riso fraco quando viu o olhar de preocupação misturado com arrependimento no rosto do guarda, mas reconhecia que ele simplesmente seguiu o procedimento padrão, considerando seu próprio emprego, ele entendia muito bem disso.

— Perdão. Quando eu bloqueio minha individualidade por muito tempo o retorno dela é sempre um choque. - Esclareceu enquanto buscava em sua carteira seus documentos que o guarda obviamente iria solicitar. Encontrou o pequeno cartão de material frágil e o entregou ao guarda. Era sempre divertido ver a reação das pessoas quando se deparavam com sua licença de herói.

— Sonar. - Ouviu o guarda falar em algo que sequer chegava a ser um sussurro. Provavelmente acabou pensando em voz alta. Mas a verdade é que nada mais alto que um pensamento passaria despercebido pelo rapaz.

— Eu mesmo, Sonar, o herói de suporte. - Era uma mentira, ele sabia disso, mas ninguém mais precisava saber. O título autoconcedido de herói de suporte o mantinha longe de várias lutas que ele preferia não ter que se envolver diretamente.

— Seja bem-vindo a Tóquio, senhor. - O guarda lhe disse animado devolvendo sua identificação. Quem poderia julgá-lo? Nesse momento qualquer herói que entre no território nacional será de grande ajuda.

Seguiu seu caminho sussurrando um agradecimento ao que passava pelo guarda. O trajeto até seu novo apartamento foi bem tranquilo, por ser um aeroporto o que não falta são táxis logo na saída do mesmo e tudo que bastou foi passar o endereço e em pouco tempo estava agradecendo pela ajuda que recebeu do vigia do prédio para carregar suas malas até seu novo apartamento. O rapaz já não era muito alto e o sobretudo que vestia escondia os músculos não muito desenvolvidos, porém bem trabalhados que criou durante os anos que conciliava seu nível superior com o trabalho como herói. Foram tempos árduos, isso é inegável, mas ao mesmo tempo valeu cada segundo.

Tomou um banho quente e muito proveitoso, depois de mais de 30 horas sem tomar um banho, ele necessitava disso, além do efeito da água quente no seu corpo, ela trazia a tona memórias que ele fazia questão de guardar no coração. Memórias do seu único arrependimento. Arrependimento que ele planejava resolver e concertar.

Depois do banho e de mais uma caminhada de alguns minutos, convenhamos, embora o sol já estivesse se pondo não é como se ele não fosse capaz de lidar com qualquer vilão ou pseudo-vilão que quisesse tentar qualquer coisa contra ele, e mais, o local aonde ele queria chegar nem era tão distante assim. Até que fazia sentido na verdade, embora seus pais tinham noção que estava na hora de ele ter sua própria independência e criar seu próprio lar, nunca que eles ficariam satisfeitos em deixar seu único filho morar distante deles ao retornar à sua terra natal, não depois de morar 5 anos em um país diferente.

E então ele se deparou em frente àquele portão, o portão que não mudou nada, assim como a fachada da casa, a boa, velha e confiável casa dos Tsukiyama. Em Toronto é normal as casas não terem muros ou coisas semelhantes, o lugar exala um ar de paz. Tóquio já é bem diferente, uma cidade que está sempre correndo, sempre tem algo acontecendo, ultimamente esse algo sendo assaltos. Mas a verdade é que com a mansão dos Todoroki estando a duas ruas de distância, os meliantes costumam evitar essa área. O homem é desprezível, mas é forte, não só forte como também rápido. Um passo em falso por aqui e qualquer um estaria atrás de grades com queimaduras de primeiro grau.

Antes que lembrar de tal homem estragasse sua noite, decidiu enfim entrar na casa. Sequer se passaram segundos após suas batidas na porta e foi envolvido por braços magros em um abraço forte. Mesmo se sua individualidade não tivesse entregado a identidade da pessoa antes mesmo da porta ser aberta ele já saberia quem era. Poderia reconhecer aquele cheiro de frutas vermelhas em qualquer lugar. Afinal, sua mãe sempre fora a melhor doceira da vizinhança.

Assim que a senhora Tsukiyama se deu por satisfeita eles enfim entraram e não foi difícil localizar seu pai sentado no sofá ouvindo a um telejornal que dizia algo que não parecia interessante o suficiente para que ele focasse. Não quando finalmente estava na presença dos pais que não via há tanto tempo. Abraçou seu pai por trás encostando sua testa na nuca do mesmo, estava ficando velho, muitos dos seus cabelos já estavam ficando brancos, em contrapartida sentiu um leve toque em um dos seus braços que envolvia o senhor sentado.

Assim que ouviram o aviso que o jantar estava servido, ele viu o senhor se levantar. Velho orgulhoso. Pensou. Sempre se recusou a usar uma bengala, todos sabiam que ele não precisava realmente de uma, mas era o seu pai, a preocupação era justificável. Os olhos com poucas tonalidades de branco e cinza deixavam claro do que se tratava a preocupação, mesmo assim a cegueira nunca foi um impedimento, não quando sua individualidade era justamente a solução disso. Ecolocalização. Desde que se entende por gente se recorda de ver o velho com um isqueiro na mão, mesmo jamais tendo o visto fumando. Ele sempre ficava abrindo e fechando o isqueiro gerando ondas sonoras pra se localizar, mesmo agora com mais de 50 anos era incrível a forma como ele se locomovia com confiança e sem sequer encostar na mobília, enquanto isso seu filho sequer sabia quantas vezes tinha chutado a mobília em desatenção.

Já na cozinha podia ver sua mãe terminado de pôr a mesa, essa que diriam sequer passar dos 40 mas que na verdade era até mais velha que seu pai, sua individualidade era mais... esquisita, para dizer o mínimo. Podia se lembrar da primeira vez que a viu bebendo sangue. Entrou correndo na casa para dar um susto na genitora e quem ficou aterrorizado foi ele próprio quando em um pulo a genitora deixou cair o copo opaco com sangue que sujou grande parte do azulejo branco da cozinha. Se recorda de como teve pesadelos por um longo período de tempo depois disso. O Vampirismo da sua mãe é muito controverso e por isso sempre foi mantido em segredo, até então, para ele, a individualidade de sua mãe era ter os caninos pontiagudos, mas não sua individualidade na verdade é a capacidade se absorver os nutrientes do sangue para recuperar a energia, com essa recuperação ela também restaura as células, o que a faz parecer tão mais jovem, e sejamos honestos, isso cutuca a vaidade de qualquer um.

Recordaram-se sobre esse episódio assim como de vários outros, como por exemplo de como caiu a ficha sobre a sua própria individualidade e a versão pré-adolescente de si ficou rindo como um maníaco.

"Filho de um morcego e uma vampira, nada mais justo que a minha individualidade ser Som."

Recitaram em um momento durante a refeição.

Logo a visita teve que chegar ao seu fim, estava ficando tarde e ninguém queria que ele ficasse andando pelas ruas a noite, e os genitores sabiam muito bem como seu filho podia ser teimoso sobre coisas que ele considerava desnecessárias.

Chegando no seu apartamento ele foi direto para a varanda externa, o prédio era alto e seu apartamento no último andar, os sons da rua chegariam abafados lá, qualquer pessoa normal sequer os ouviria. E então ele se lembrou do seu principal objetivo voltando pra Tóquio.

Fechou os olhos sentido a brisa fresca da noite, assim como ouvindo a tudo e todos, o rádio da polícia, o diálogo que estava acontecendo em um filme no cinema do shopping, um casal fazendo amor no prédio do outro lado da rua, e então aquele som.

TUM-TUM

TUM-TUM

Sua individualidade era mais semelhante a do seu pai, a diferença é que este tinha total controle sobre as ondas de som livremente, é um conceito complexo para uma criança entender, mas quando se amadurece, as possibilidades se tornam virtualmente infinitas.

TUM-TUM

TUM-TUM

Ao mesmo tempo, todo ser-vivo emite sons, e cada ser-vivo tem um som característico seu, um som que não pode ser copiado. E ele jamais esquecia o som de um coração.

TUM-TUM

TUM-TUM

Muito menos o daquele coração.


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Notas finais do capítulo

É isso gente.
Não sei quando vou postar mais, escrever é difícil e embora eu goste, requer energia.
Não tenho a intenção de fazer essa história ser muito extensa.
Lembrando que botei +16 pra desencargo de consciência, não planejo nada pesado, nem sexo, 0 de paciência pra escrever isso no momento.
Enfim, espero que tenham gostado e se interessado pela história.
Se essa é a primeira vez que leem algo escrito por mim, recomendo manter distância das outras histórias, I'm not that person anymore.
No mais é isso, qualquer coisa só mandar aí embaixo, algumas informações foram escondidas de propósito, beijos.



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