Marcas de Guerra (Espólios de Guerra 1) escrita por scararmst


Capítulo 6
Conformidade


Notas iniciais do capítulo

Cheguei gente!
Esse é mais um dos que já estavam prontos antes. E tá sem rebetagem, tá só com a betagem de antes mesmo, mas acho que está tudo bem.
Espero que gostem :D



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7 de julho de 1998

 

Pansy conseguiu descer para o jantar sem maiores atrasos. Sua mãe estava furiosa, sabia disso. Passara a noite na casa de Blaise sem contar para ela, e isso resultara em algum evento de lançamento de alguma coisa desinteressante no qual ela não estivera presente. Os Parkinson sempre tinham construído sua fortuna e sua popularidade através de filantropias e investimentos muito cautelosos. Não tinham negócios ilegais, como era de conhecimento dos Malfoys terem, e embora isso os livrasse de uma série de problemas, também deixava tudo muito mais delicado para manter ditas fortuna e popularidade em alta.

Isso porque não podiam simplesmente subornar as pessoas. Não, não era assim que os Parkinson funcionavam. Eles funcionavam fazendo com os outros gostarem deles, ao menos publicamente. Ela sabia que, pelas costas, as famílias puro-sangue tinham desdenhado dos Parkinson década após década por nunca terem se aliado ao Lorde das Trevas. Agora, Pansy sabia ter sido a decisão mais sábia já tomada por eles. Bastava olhar a como seus amigos estavam agora.

— No fim da semana vai ocorrer um evento beneficente para recolher doações para ajuda às vítimas da guerra. Precisamos estar lá, Pansy. Espero que não desapareça dessa vez.

A garota apenas suspirou e concordou com a cabeça. Ela ainda prezava muito sua fortuna e seu status para arriscar perder parte deles por pura preguiça de ir a um evento qualquer. Era uma bruxa maior de idade agora. Eventualmente, seus pais iriam se aposentar, e seria responsabilidade dela encontrar a próxima grande fonte de renda da família. O mercado de cosméticos bruxos estava se mostrando uma ideia cada vez mais promissora… Talvez investisse em alguma linha de embelezadores mágicos.. Seria algo no qual poderia até gostar de trabalhar, e com certeza retornaria um dinheiro interessante.

Mas, é claro, para ser levada a sério no mercado de investimentos a ponto de não ser passada para trás a cada acordo, precisava ter um nome. E esse nome só começaria a ser construído se fosse aos eventos marcados por sua mãe para a família.

Ela suspirou. Sequer podia reclamar. Tinha sorte. Seu pai e sua mãe estavam ambos vivos e sem nenhuma investigação em suas cabeças. O nome Parkinson estava tão imaculado quanto fora antes de toda a bagunça acontecer. Ninguém olhava torto para ela quando ia aos lugares, não mais que em Hogwarts de qualquer forma.

Realmente. Tinha muita sorte.

— Eu estava com Blaise, mãe. Me desculpe. Envio uma carta da próxima vez.

— Está dormindo com ele?

Pansy levantou a cabeça de sua sopa e olhou para a mãe como se ela tivesse perguntado se o céu era verde. Céus, a falta de senso dela, às vezes, era completamente insuportável.

— Quanta discrição, mãe. — ela comentou, revirando os olhos.

— Não tem nada a ver com discrição. A família Zabini é suspeita, todos sabemos como a senhora Zabini ficou viúva sete vezes e sempre enriqueceu com a morte dos maridos. Mas suspeitos nós também somos. Prefiro te ver com alguém suspeito do que com um ex-condenado.

E pronto. Lá se ia o assunto, novamente.

— Draco me largou, mãe. Era o que você queria, não era?

A mulher apenas deu de ombros, e Pansy perdeu o resto de seu apetite.

Não que estivesse de alguma forma profundamente devastada pelo término de seu relacionamento com Draco. Não. Isso acontecera há mais de um ano e já tinha se recuperado muito bem. Mesmo o término tendo sido tortuoso, e bem barraqueiro, por assim dizer, tinha acontecido, e era isso. Acabou. Mas ainda o considerava um grande amigo, e ouvir os pais dizerem todo o tipo de coisa sobre ele, sem saber de nada, doía. Por vezes, Pansy perguntou se seus pais não eram em parte responsáveis pelo desgaste no relacionamento dos dois. Era muito exaustivo tentar lutar contra eles o tempo todo. Eles não queriam o nome da família metido com Comensais e, portanto, Pansy não deveria namorar um.

Bem. E aí estavam. Ela não estava mais namorando ele.

— Eu só não quero que a vida de luxo e respeito que nossa família construiu de forma limpa vá embora da noite para o dia. Se você ficasse com o filho do Malfoy, isso com certeza ia acontecer.

— Mas tudo bem se eu ficar com o filho da viúva assassina?

— Enquanto ela não for condenada, ela é inocente. Então, sim.

Pansy soltou uma risada curta e sarcástica e largou a colher da sopa de vez. Perdera o apetite. A discussão certamente teria continuado, então a entrada de uma coruja pela janela acabou sendo muito conveniente naquele momento, largando uma carta em seu colo. Uma carta justamente de Blaise.

A garota fingiu não ver o olhar curioso da mãe sobre o envelope quando o abriu. Apesar do envelope rebuscado, o bilhete era bem simples e direto:

 

Greg acordou.

 

— Oh, merda. — Pansy xingou, se levantando imediatamente.

Ela viu a mãe fechar a cara ao ouvir o palavrão, mas não ligou. Pegou sua varinha.

— Onde a senhorita está indo?

— Blaise, mãe. Eu volto hoje. Ou mando uma coruja, se não voltar.

E ela aparatou.

Blaise a esperava na sala da mansão, mas Greg não estava em lugar nenhum onde se ver.

— Onde ele está? — ela perguntou, indo até Blaise e o cumprimentando com um abraço breve.

— No quarto. Não quer sair. Disse que não vai para casa de jeito nenhum.

Pansy franziu a testa. E mais essa agora… Que disparate era esse? Como assim ele não ia para casa?

— Ele se deu ao trabalho de dizer por quê? — ela perguntou, já andando para dentro da casa.

No mesmo instante, percebeu como a pergunta era idiota. Sabia porque. A casa de Greg estava um inferno ultimamente, tão insuportável que ele sequer podia lamentar a morte de Vincent em paz.

— Eu até não ligo que ele fique aqui. — Blaise comentou. — Mas minha mãe pode acabar surtando. Sabe, ele e Draco eram muito próximos e… Bem…

Sim, ela entendia. Assim como a família dela, a de Blaise também vinha enchendo a boca para se vangloriar de nunca ter se aliado a Você-Sabe-Quem.

Os dois chegaram até o quarto e encontraram Greg deitado imóvel, com as luzes apagadas, e isso fez Pansy se perguntar se ele teria mesmo acordado.

— Greg. — Blaise chamou. — Greg, por favor cara, não faz isso comigo.

— O quê? — ele respondeu, a voz abafada pelo travesseiro. — Qual é a sua, Blaise? Não queria que eu viesse pra cá? Pronto, eu vim. Agora quer me mandar embora? Tsc…

Pansy viu Blaise revirar os olhos, e embora não o culpasse pelo gesto, também entendia de onde toda a frustração de Greg estava vindo. Aquelas horas passadas na casa de Blaise podiam muito bem ser as primeiras horas de paz para ele desde a morte de Vincent.

Ela não conseguia não empatizar com isso. Não sabia dizer se ela e Greg eram amigos, exatamente, mas passara toda a infância e a adolescência ao redor de Draco, e onde Draco estava, os dois estavam. Greg e Vince podiam até manter toda a pose firme e rígida quando o grupo estava lidando com outros alunos, ou até intimidando alguém, mas ela os vira juntos de verdade. Na sala comunal, estourando bombinhas em cadeiras de calouros. Ou dividindo tortas de abóbora. Ou jogando xadrez, mesmo os dois sendo péssimos nisso. Ela tinha visto Greg dormir no colo de Vince uma vez, exausto depois de passar a noite vigiando um corredor para Draco no sexto ano, e viu Vince se preocupar em tirar as vestes para cobrir Greg com elas, para que ele não sentisse frio.

Pansy sabia a fama dela e de Draco de serem um casal modelo, falso. De não ligavam um para o outro. E era mentira, ela se importava muito com ele. Assim como ela sabia que só os sonserinos sabiam da real natureza do relacionamento de Greg e Vince.

Ela entendia como era gostar tanto de alguém e ver o mundo menosprezar, ignorar ou diminuir seus sentimentos. E depois perder tudo isso.

Céus, não podia mandar Greg para casa.

— Você pode ficar comigo, se quiser. — ela comentou.

Sabia que isso causaria uma enorme dor de cabeça com sua mãe. Sabia que teria que brigar para que Greg pudesse estar lá, e que ele provavelmente ia ter que se esconder. Mas queria ajudar. Queria que ele pudesse aliviar ao menos um pouco da dor que estava sentindo, ou que pudesse ter paz para sentí-la. Por que ela não tinha. Não com sua mãe pisando no que ela tivera com Draco por tanto tempo daquela forma. E não achava justo que Greg, que vira Vince morrer em sua frente, não pudesse ter.

— Por quê? — Greg perguntou, virando na cama o suficiente para olhar para ela.

Pansy deu de ombros. Não sabia se conseguiria explicar.

— Eu não vou te defender de nada. — Greg continuou. — Eu não quero. Eu cansei disso, ok? Cansei de ser o guarda-costa dos modelos da sonserina. Pra que quer me levar pra sua casa? Não sei o que você acha que vai ganhar com isso, mas…

— Ah, Greg, por favor! — ela revirou os olhos, irônica. — A escola acabou, ok? Mesmo se decidirmos voltar para Hogwarts para o último ano, você acha mesmo que vai ser a mesma coisa? 

— Então o que você quer?! — ele perguntou, quase gritando.

Pansy viu um brilho nos olhos dele e entendeu o motivo pelo qual ele estivera deitado era por estar chorando. E por algum motivo, naquele momento, ela entendeu um detalhe muito peculiar de toda situação.

Greg não achava que ela se importasse com ele. E, pior ainda, só achava que ela poderia tentar ajudá-lo se quisesse algo em troca. Ela olhou surpresa para ele, e então para Blaise, e o viu chegando à mesma realização pelo choque  em seu rosto.

— Greg — Blaise disse, com a voz baixa, mas um pouco aguda de susto. — Tudo bem. Fique o tempo que quiser, ok? Me chame se precisar de algo.

Pansy sentiu o braço de Blaise passar por suas costas e a guiar para fora do quarto, e ela apenas acompanhou, ainda muito atordoada para dizer alguma coisa. Ela foi seguindo o garoto até o andar de baixo, onde se sentaram, no sofá.

Levaram alguns minutos para ela dizer alguma coisa.

— Sua mãe não vai brigar?

— Vai. Não ligo. Eu me viro. Greg não é um Comensal. Ele ajudou um, mas eram amigos. E é só. Ela vai ter que entender isso.

Mas mesmo Blaise escolhendo aquelas palavras para invocar certeza, Pansy sentiu no vazio do tom delas o quão pouco ele acreditava naquilo. Ainda precisariam  pensar em como agir com Greg, eventualmente, mas agora ela estava preocupada com outra coisa. Com o que tinham feito.

— Nós… Nós realmente fizemos isso, não foi? — ela murmurou, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Nós usamos ele e o Vince, esses anos todos…

Pansy passou as mãos pelo rosto. Nunca tinha parado para pensar… E se tudo não tivesse mudado tão drasticamente, não pensaria. Se não tivesse visto uma guerra, se não tivesse perdido Draco para toda a tragédia permeando a família dele nos últimos anos… Se sua vida tivesse dado certo, ela não tentaria mudar nada. Nem a forma como tratara alguém que deveria ser seu amigo.

— Nós fizemos muitas coisas nesses anos todos. — Blaise respondeu.

Sim, ela sabia. Não se arrependia da maioria, mas pontualmente… Pansy começara a repassar recentemente momentos nos quais fora maldosa simplesmente porque podia ser, e pensava nas últimas palavras ditas por ela para algum dos alunos da escola podendo ter sido uma risada zombeteira. Ela engoliu em seco, balançando a cabeça. Não podia repassar esse tipo de coisa agora, não podia.

Greg. Precisavam focar em Greg.

— Talvez ele e Vince tenham ficado juntos por isso, no fim das contas. — Pansy comentou, passando a mão discretamente pelos olhos, enxugando o começo de lágrimas de desespero. — Talvez eles tenham se sentido sozinhos o bastante para só não estarem tão sozinhos se estivessem juntos.

Ela ouviu Blaise suspirar e sentiu o braço dele em suas costas mais uma vez. Dessa vez, o garoto a puxou para perto, e ela deitou a cabeça no ombro dele.

— Não adianta chorar o passado agora, Pansy. Só podemos pensar em corrigir as coisas, ou fazer diferente daqui pra frente, ok?

Corrigir… Corrigir o quê, exatamente? Não podiam apagar de Greg a impressão — correta, diga-se de passagem — de ter sido usado e de não ter amigos. Da única pessoa que o amara na vida ter partido, e agora ele estava sozinho no mundo. Não podiam apagar todas as vezes nas quais tinham atacado alguém no corredor porque Snape estava por perto e não haveriam consequências. Ou o quinto ano, quando tinham se alistado na Brigada Inquisitorial de Umbridge por poder mesmo sabendo o quão péssima pessoa ela era, e como tudo feito na brigada apenas prejudicaria a vida em Hogwarts. Nada daquilo, nada nunca poderia ser desfeito.

Mas podiam fazer outro futuro. Ou ao menos tentar fazer um, certo?

— Temos que fazer algo por Greg… É nossa culpa também.

— Sim… — Blaise respondeu, deixando um beijo na testa de Pansy.

Ela corou. Blaise estava interessado nela. Conseguia sentir. Mas… Podia ser tolo, mas ainda não conseguia seguir em frente. Estava muito presa em seu passado com Draco para isso.

— Blaise…

— Eu sei. Tudo bem Pansy, eu espero. Se algum dia você me escolher… — ele sorriu, e Pansy quase suspirou. Era um sorriso muito bonito. — Eu vou estar aqui. Até lá… Vamos pensar em algo para Greg, ok?

Ele deixou outro beijo na testa dela, e acabou desfazendo o abraço.

Pansy não sabia o que dizer. Mesmo não conseguindo se dar a Blaise agora, estar longe dele e ser solta daquele abraço era muito frio e isolador.

Ela abraçou os braços, discretamente, e encarou a janela da casa de Blaise por um tempo. Era provável que nunca superasse Draco, e nunca deixasse de ser a mesma Pansy de Hogwarts. Que morresse alguém odiada e falhasse astronomicamente em seguir o legado de investimentos bem sucedidos da família. Que falhasse, e falhasse, e falhasse, sempre. Com os amigos, com os negócios, com a família, com tudo.

Talvez ela simplesmente fosse uma falha. E já estava conformada.


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Notas finais do capítulo

Por favor meus Potterheads lindos, comentem ♥ As impressões de vocês são muito importantes para mim, e até me ajudam a tomar decisões para o futuro da história e dos personagens nela :D

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