Filhos da Noite escrita por CM Winchester


Capítulo 4
Capítulo 3 – ADJETIVOS




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No outro dia acordei atrasada, de novo. Levantei pulando da cama e corri para o banheiro. Vesti uma camiseta branca gola v, calça jeans, canguru moletom cinza e calcei meu tênis da Nike. Desci as escadas correndo e passei pela cozinha.
Nora já tinha ido para a escola e como sempre, tinha esquecido de me chamar. Sorte que o Skyline corre bastante, mas com toda certeza ganhei alguma multa de carro pela velocidade. Estacionei na escola e saltei do carro correndo.
— Srta. Crawford. - O Treinador murmurou. - Como sempre, está atrasada.
— Desculpe.
— Sorte a sua que estou com bom humor hoje. - Murmurou. - Sente-se.
Segui até a carteira e sentei ao lado de Benjamin. Nora me lançou um olhar culpado e eu dei de ombros. Um claro sinal de que eu não estava ligando para isso.
— Nora? - O Treinador falou e ela o encarou.
— Você poderia repetir a pergunta?
— Quais as qualidades que te atraem em um parceiro em potencial?
— Parceiro em potencial?
— Vamos lá, não temos a tarde toda.
Vee lançou um olhar a mim e nós rimos juntas.
— Você quer que eu liste características de um...?
— Parceiro em potencial, sim, isso seria muito prestativo.
— Eu nunca pensei nisso antes.
— Bem, pense rápido.
— Você poderia chamar outra pessoa primeiro? - Ele acenou para o parceiro dela.
— É com você, Patch.
— Inteligente. Atraente. Vulnerável.
O Treinador estava escrevendo os adjetivos no quadro.
— Vulnerável? Como assim?
— Isso tem alguma coisa a ver com a unidade que estamos estudando? - Vee perguntou. - Porque não consigo achar nada sobre características desejadas em um parceiro em lugar algum do nosso texto. - O Treinador a encarou por cima do ombro.
— Todos os animais no planeta atraem parceiros com o objetivo de reproduzir. Sapos incham seus corpos. Gorilas machos batem em seus peitos. Você já observou uma lagosta macho subir nas pontas dos pés e estalar suas garras exigindo a atenção da fêmea? Atração é o primeiro elemento de toda a reprodução animal, incluindo os humanos. Por que não nos dá a sua lista, Srta. Sky? - Vee ergueu os 5 dedos.
— Lindo, rico, indulgente, ferozmente protetor e só um pouquinho perigoso. - Ela baixou cada dedo conforme um adjetivo era dito.
— Srta. Crawford? - O Treinador falou e eu o encarei assustada.
— Eu não to fazendo nada. - Falei e a sala toda riu.
— Eu sei. - Ele murmurou. - Seus adjetivos.
— Meu adjetivos? - Perguntei e ele assentiu. - Eu passo essa.
— Sr. Archibald?
— Divertida, Indômita e inteligente.
— Indômita? - Ele perguntou escrevendo no quadro. - Indômita é quando não se consegue domar.
— Gosto de garotas que não sigam as regras que são impostas a ela. - Ele me lançou um olhar. - Que não tem as mesmas preocupações que as outras.
— O problema com a atração humana é não saber se ela será retornada. - Patch comentou mudando de assunto.
— Excelente argumento. - O Treinador falou.
— Humanos são vulneráveis porque são capazes de se magoar. - O Treinador assentiu.
— A complexidade da atração humana e da reprodução é uma das características que nos diferenciam das outras espécies. Desde o começo dos tempos as mulheres se atraíam por parceiros com habilidades de sobrevivência fortes como: inteligência e proeza física, porque homens com essas qualidades tem mais chances de trazer a janta para casa no final do dia. - Ele ergueu os dois dedos polegares para cima e sorriu. - Janta equivale à sobrevivência, time. - Ninguém riu. - Igualmente os homens são atraídos pela beleza porque indica saúde e juventude. Não há razão para se acasalar com uma mulher doente que não estará por perto para criar as crianças.
— Isso é tão sexista. - Vee falou. - Me conte alguma coisa que se relacione a uma mulher no século vinte e um.
— Se você abordar a reprodução aos olhos da ciência, senhoria Sky, verá que as crianças são a chave para a sobrevivência da nossa espécie. E quanto mais filhos você tem, maior a sua contribuição para o patrimônio genético.
— Eu acho que finalmente estamos chegando perto do tópico de hoje. Sexo.
— Quase. - O Treinador falou. - Antes do sexo vem a atração, mas depois da atração vem a linguagem corporal. Você tem que comunicar “Estou interessado” para um parceiro em potencial, só que não em tantas palavras. - O treinador apontou para o Patch. - Certo, Patch. Digamos que você está numa festa. A sala está cheia de meninas de todas as formas e tamanhos diferentes. Você vê loiras, morenas, ruivas, algumas meninas de cabelo preto. Algumas são extrovertidas, enquanto outras aparentam ser tímidas. Você achou uma garota que encaixe no seu perfil, atraente, inteligente e vulnerável. Como você a deixa saber que está interessado?
— Escolho-a. Falo com ela.
— Bom. Agora para a pergunta principal: como você sabe se ela está na sua ou se ela quer que você continue andando?
— Eu a estudo. Descubro o que ela está pensando e sentindo. Ela não vai vir de supetão e me contar e é por isso que tenho de prestar atenção. Ela vira seu corpo em direção ao meu? Ela olha nos meus olhos então desvia o olhar? Ela morde seu lábio e brinca com seu cabelo como a Nora está fazendo agora? - Os alunos soltaram algumas risadas. - Ela está na minha.
— Muito bem! Muito bem! - O Treinador falou sorrindo.
— As veias de sangue no rosto da Nora estão se alargando e a pele dela está esquentando. - Patch continuou. - Ela sabe que está sendo avaliada. Ela gosta da atenção, mas não tem certeza de como lidar com isso.
— Eu não estou corando. - Nora falou.
— Ela está nervosa. Ela está acariciando seu braço para tirar a atenção de seu rosto para seu corpo ou talvez para a pele dela. Ambos são pontos vencedores fortes.
— Isso é ridículo. - Nora falou e Patch colocou o braço por cima da cadeira dela.
Nora puxou a cadeira para frente deixando o braço dele cair
— E aí está! - O Treinador falou. - Biologia em ação.
— E sabemos como ele levou um fora. - Debochei rindo e toda a sala riu.
— Sr. Archibald? - O Treinador falou. - Sua vez. Faço a mesma pergunta a você.
— Hum... Essa é fácil. Procuro sempre as ruivas. Observo o local vendo se tem alguma se divertindo. Fugindo das regras. É nela que me concentro. - Ele me lançou um olhar. - O único problema é: tem garotas que gostam de se fazer de difícil. E tem outras que são difíceis. Só tenho que descobrir qual é a dela. Depois disso ela está no papo. - Sorriu me encarando e eu enruguei o nariz. - Por exemplo, Nikki é o tipo de garota certa, mas é difícil. Ela faz uma barreira entre ela e o mundo. Só tenho que encontrar um jeito de cruzar essa barreira.
— Continue tentando parceiro. - Dei um tapinha no seu braço depois me virei para o Treinador. - Segundo fora hoje. Mais alguém se habilita? - A sala inteira começou a rir.
— Podemos por favor falar sobre sexo agora? - Vee perguntou.
— Amanhã. Leiam o capítulo sete e estejam prontos para uma discussão imediata.
O sinal tocou e levantei enfiando o caderno dentro da mochila.
— Você sabe muito bem que corresponde minhas investidas. - Benjamin se inclinou para mim também em pé e eu o encarei. - E sim, vou continuar tentando. - Ele sorriu e piscou antes de se afastar.
Freei a vontade de mostrar o dedo do meio para ele.
— Eu vou começar uma petição para despedirem o Treinador. - Vee falou se aproximando de Nora e eu. - O que foi a aula hoje? Foi um pornô aguado. Ele praticamente colocou você e Patch em cima da sua mesa, na horizontal, sem suas roupas, fazendo A Coisa... - Nora a fuzilou com o olhar. - Noossa. - Ela recuou.
— Vee, quem ainda fala a Coisa?  Você parece ter 5 anos. - Respondi. - É só saber sair dessa com elegância. - Comentei encarando Nora.
— E deboche. - Vee falou.
— Só que eu não sou você. - Nora resmungou. - Preciso falar com o Treinador. Te encontro no armário em dez minutos.
— Sem dúvida.
Sai da sala e fui para a minha outra aula, no corredor encontrei Simas, o professor da aula de música.
— Hey Srta. Crawford? - Olhei para ele esperando. - Estou pensando em te escrever no recital que terá daqui alguns meses.
— Vamos dizer que eu toco para me distrair. Não para seguir carreira. - Comentei e ele suspirou parando mais a minha frente.
— Você pode ganhar ponto extra em algumas matérias. Sem falar que você tem um talento incrível por que não expandi-lo?
— Por que eu iria ter que me concentrar naquilo. Me dedicar a aquilo. E eu não estou a fim disso. - Ele pressionou os lábios me encarando.
Simas era o professor mais novo da escola. E o mais bonito. Sabia que se eu desse bola ele daria em cima de mim facilmente, mas respeitava as regras da escola e principalmente me respeitava por que sabia que eu poderia chuta-lo facilmente. Como já fiz com a maioria dos garotos desta escola que acharam que podiam me beijar sem a minha permissão.
— Só pensa nisso, ok? - Perguntou-me. - Você é talentosa. Poderia ajudar muito esse recital. Vai só os melhores e isso quer dizer que terão pessoas procurando novos talentos.
— Eu ainda tenho mais um ano antes da faculdade. - Comentei.
— Sim. - Respondeu. - Mas você pode se preparar desde agora. Precisa ter um plano. Todo mundo pensa nessas coisas.
— Como dizia minha mãe "eu não sou todo mundo". - Lancei a ele um sorriso e me afastei, virei de costas ainda caminhando e o encarando. - Mas vou pensar nisso. - Desvirei de novo e continuei meu caminho.
Por um segundo passou na minha cabeça o que Benjamin falou. A garota que não seguia regras impostas a si. Que não tinha as mesmas preocupações que as outras.
Lá no fundo, sabia que ele estava falando de mim.
— O que o Sexy do professor de música queria com você? - Vee perguntou quando nos encontramos no estacionamento.
— Queria que eu participasse de um recital daqui alguns meses.
— Ele quer que você participe da cama dele. - Ela debochou.
Eu não neguei já que podia ler mentes e sabia que o professor tinha desejo por mim.
— Por que não participa? - Nora perguntou.
— Por que não quero.
— É sério, Nikki. Você precisa...
— Querer alguma coisa para o futuro? - Perguntei.
— Não para o futuro. Mas você não tem sonhos?
— Eu já tive, mas isso ficou enterrado no passado.
— Olha, o acidente... - Ela se calou e pressionou os lábios. - Seus pais não iriam querer que você desistisse.
— É mais do que isso. - Falei. - Mais do que o acidente.
— Você faltou as idas com a psicóloga três vezes seguidas. Ligaram lá para casa. Mamãe não quer te pressionar. Mas... Talvez...
— Você odeia tanto quanto eu. - Lembrei.
— Sim, mas eu... De certa forma continuei minha vida.
— E eu não continuei? - Perguntei.
— Não é que você não tenha continuado. Você... Só ficou desinteressada pelas coisas. E isso é preocupante.
— Não sei por que é preocupante.
— Claro que é. As pessoas almejam alguma coisa para vida. Você não.
— Ah Nora, corta essa. - Falei. - E outra coisa, quem garante que não vai ser perda de tempo?
— Corta essa você. Eu já te vi tocando. Você toca com a alma. - Ela falou. - Nunca vi algo tão... Emocionante. Até mesmo a Vee ficou impressionada.
— Isso é verdade. - Vee comentou. - E isso que eu não gosto de música clássica.
Bom, não me importava com a opinião da Vee. Nem de ninguém.
— Vamos ver. - Murmurei e Nora revirou os olhos.
Ela me conhecia o bastante para saber que o meu "vamos ver" era para deixar o assunto de lado.
— Você vai no cinema conosco? - Nora mudou de assunto.
— Acho que não. Eu preciso ir?
— Não. Vee e eu podemos ir sozinhas mesmo.
— Ok. - Falei.
Em casa eu fiquei pensando e repensando sobre tocar ou não violoncelo. Era uma coisa que gostava de fazer e minha família, principalmente minha mãe tinham orgulho disso.
Ela sempre falava que seu maior sonho era ver sua filha tocando em um grande show de música. Apesar de não gostar do skate ela nunca me impediu de fazê-lo desde que eu me dedicasse ao violoncelo mais do que a ginastica artística.
Eram aulas quase todos os dias. Aulas particulares. E eu amava aquilo. Amava sentir as cordas em meus dedos. E amava mais ainda sentir que eu fazia parte de algo. Que eu tinha um propósito.
Só que as coisas mudaram. Não foi só o acidente. Eu já tinha mudado tanto.
Nora tinha razão. Eles teriam orgulho que eu continuasse tocando.


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Notas finais do capítulo

N.B.: Oi, oi. Gente, sério, esses capítulos estão maravilhosos.
Leiam, leiam, leiam. Bjs, bjs. Fhany Malfoy

N.A.: Oie. Obrigada Fhany. Espero que todos estejam gostando como você tambem esta. Bjs. Bjs. CM Winchester.



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