Olhos Solitários escrita por unalternagi


Capítulo 2
Capítulo Dois – Você realmente viria ao meu encontro agora?


Notas iniciais do capítulo

A continuação da história está aqui: https://fanfiction.com.br/historia/783090/Filho_Meu_Filho/

espero ver muitos de vocês por lá



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/781564/chapter/2

Capítulo Dois – Você realmente viria ao meu encontro agora?

As ruas brancas daquela cidade deixavam todo um clima propício para que o espírito natalino tomasse conta dos moradores e visitantes.

Depois da noite do quase acidente horrível de mais para que Edward, sequer, pudesse nomeá-lo de qualquer forma, Bella sumiu. Pela manhã ela já não estava na casa dele, as roupas que ele tinha emprestado a ela se foram juntos e, sequer um bilhete a garota tinha deixado a ele, sem perspectivas de vê-la novamente, dia após dia, ele voltava para o trabalho pela fagulha de esperança de que ela fosse aparecer para lhe agradecer e dizer que eles poderiam conversar, ele tinha tanta curiosidade para conhecer a história por trás daqueles olhos.

Não aconteceu. O natal dele foi tão solitário quanto o de todos os outros anos, a salvar por uma ligação que Carlisle o fez e que Victoria e Laurent tornaram o humor perigoso dele tão carinhoso, como sempre o era, quando falava com os irmãos mais novos.

O ano novo não foi diferente, foi para um pub com antigos colegas de classe da universidade, mas em cada cabelo castanho ele procurava os olhos solitários que sabia que não encontraria, ela era muito nova para estar em um local com bebidas alcóolicas. Edward, por outro lado, se encheu de bebidas e quis esquecer aquela garota por toda a noite, ele não tinha nada a ver com ela, não teria o porquê se preocupar tanto com ela ou com o que estava fazendo ou se ela estava segura.

Então por que ele não conseguia parar de pensar naquilo?

Pediu mais uma dose de uísque e, à meia noite, como uma tradição, beijou uma desconhecida. Bonita, atraente, provavelmente da idade dele.

E a próxima coisa que ele se lembrava de ouvir eram as batidas fortes na porta do apartamento dele. Batidas urgentes.

As coisas funcionavam um pouco devagar demais na cabeça ainda alcoolizada de Edward. A bebida tinha feito um efeito forte. Começou a pensar que cheiro enjoativo era o que sentia, por que não saia do olfato dele? Percebeu provir das roupas dele, as mesmas que usava no dia anterior, e aquilo o acarretou algumas lembranças, ele com uma mulher no canto de alguma boate.

As batidas voltaram a soar na porta dele, o que tornou a dor de cabeça insuportável, mesmo assim, como um imã, Edward foi levado a se levantar e abrir a porta, apenas para ficar em um choque absoluto ao encontrar Bella ali, depois de tudo o que tinha passado naquelas semanas, ele não conseguia acreditar que era ela ali. Coçou os olhos como que parar enxergar melhor, para expulsar a imagem de sua cabeça, mas ela permanecia ali.

O rosto sério, quase amedrontado, mas ela sempre parecia assustada. Em seus braços, entretanto, tinha algo que ele não conjurara nem em um milhão de ideias que passaram por suas mentes, nem em dois bilhões de teorias infundadas. Um garotinho, pequeno e muito, muito lindo, que tossia em intervalos pequenos de tempo.

Edward não percebera, devido ao choque extremo enquanto informações desconexas tentavam entrar em ordem dentro da cabeça dele, que girava de forma alucinante, mas Bella soltou um suspiro de alívio ao ver o rosto da única pessoa que a ajudou sem pedir coisas em troca.

Não foi fácil para ela assumir que precisaria da ajuda dele, mas, de qualquer jeito, ele foi a única pessoa em que ela pensou ao entender do que precisava.

—Desculpe acordá-lo – foi o que ela disse.

O neném no colo dela não deveria ter mais de dois anos e dormia embolado na jaqueta que Edward emprestou a ela uma noite antes dela sumir sem dar explicações, ainda tossia de forma contínua.

 -Não tem problema – ele murmurou debilmente.

—Eu preciso da sua ajuda – ela falou basicamente.

Claro, ele poderia negar, talvez até devesse o fazer.

Depois de pensar friamente, e mais de uma vez, em tudo o que aconteceu na noite em que ele a ajudou, ele começou a entender muitas coisas como, por exemplo, Bella deveria viver naquele beco, teria sentido se fosse pensar que ela estava sempre com a mesma roupa, parecia cada vez mais suja, os cabelos estavam sempre mal cuidados. E o que aquilo dizia sobre ela?

Nunca havia se considerado um cara preconceituoso, mas seu orgulho foi ferido quando fez a boa ação e não foi recompensado. Não queria nada demais, só queria ajuda-la, conhece-la e, mesmo assim, foi deixado de lado como um qualquer, nem mesmo uma explicação ela foi capaz de deixar. Então sim, ele sabia que deveria fechar a porta na cara daquela garota, esquecer que a conhecia e esquecer o que viu, a deixar fazer o que fazia, obriga-la a se cuidar e cuidar da criança no colo dela que, ainda mais curiosidade fez nascer no cérebro de Edward.

Ele tinha consciência de que era o que ele tinha que fazer, os deixa-lo ir.

Entretanto, o que ele fez foi abrir espaço para que Bella entrasse com o garoto que dormia pesadamente nos braços dela.

—Coloque-o na cama, se quiser – Edward disse.

O garoto tossiu, novamente, Bella suspirou e fez o que Edward mandou. Cobriu o garoto da melhor forma que pode e, com aquilo, virou para Edward. Os olhos solitários estavam desesperados.

Edward estava representando, naquele momento, um pouco de oxigênio para alguém que se afogava.

—Ele está doente, você não é médico? Você disse aquela vez para mim, eu preciso da sua ajuda – ela disse desesperada.

Ele ficou desesperado também. Olhou para o garoto reparando as bochechas – que estavam menos roliças do que se esperava ver em uma criança da idade do menino -, mais coradas do que era o habitual.

A ressaca de Edward gritava contra todos os pensamentos que rondavam sua mente. Ele suspirou e se aproximou do garoto, se sentiu estranhamente ansioso ao levantar sua mão para tocar no menino, mas, tentando ultrapassar os sentimentos conflitantes que tinha, posicionou a mão na testa, depois bochecha e então no pescoço do menino.

 -Ele está ardendo em febre – Edward brigou tirando a jaqueta do garoto que reclamou ainda dormindo.

—Eu não sei o que fazer – Bella confessou e Edward suspirou, pensando, a dor de cabeça atrapalhava tanto.

Ele foi até a cozinha, ligou a cafeteira preparando um café para ele. Tomou duas aspirinas e procurou algo no armário para comer, achou umas barrinhas de cereal e as levou para Bella porque, em algum lugar de seu íntimo, ele sabia que ela não tinha comido nada.

 Entregou as barrinhas ao voltar para a sala com a xícara de café.

—Você quer? – perguntou sobre o café e ela negou de pronto, abrindo uma barrinha.

Ele tomou o líquido fumegante ainda encarando o garoto. Tentando ver mais sintomas, febre não poderia significar as mais diversas coisas e, foi o encarando para achar sintomas, que Edward viu marcas roxas pelo corpo do garoto.

—O que é isso? – ele perguntou bravo, chegou mais perto do menino e tirou a camiseta gasta que ele vestia, as marcas se mostravam por todo o corpinho dele, Edward ficou possesso – Está brincando comigo? O que é isso, Bella? – ele perguntou irritado.

Bella se retraiu, soltou a barrinha que comia e se arrependeu de estar lá.

—Não precisa ajudar se não quiser, desculpa vir...

A mente de Edward soltou um alarme alto. Apesar do ódio que sentia por ver o garoto machucado daquela forma, ele sabia que tinha que ser pacífico com ela. Um erro e ela poderia sumir de novo e para sempre, e ele já tinha entendido que, se assim ela quisesse, Edward não a encontraria nem se esforçando muito.

—Eu vou cuidar dele, você não se atreva a sair daqui. Vou à farmácia e volto logo... Bella, eu estou falando sério, não ouse sair daqui com ele nesse estado – o garoto tossiu de novo e Edward voltou a vesti-lo, o enrolou no cobertor que ele mesmo usava a pouco.

Pegou a carteira, celular e chaves, vestiu uma touca e suspirou pensando que tinha que ter certeza que ela não ia sumir de novo, não com o garoto daquela forma.

—Eu vou trancar a porta, fica a vontade para comer e beber o que quiser, não estou tentando te fazer refém, eu só preciso ter certeza que vai me deixar cuidar dele – Edward disse mais calmo, Bella assentiu, não achava ruim ficar no apartamento dele, lá fora estava frio e ela não queria ficar vagando pelas ruas com o menino.

Edward saiu apressado, ignorou o elevador e desceu de escadas mais rápido do que já o tinha feito antes.

Na farmácia ele conversou com o farmacêutico, disse sobre sua desconfiança de ser pneumonia e o farmacêutico deu algumas sugestões, depois de muitas conversas, Edward saiu da farmácia munido com medicamentos infantis e sopas instantâneas.

De volta ao apartamento, Bella acariciava o cabelo do neném que chorava agora que estava acordado.

—Qual é o problema? – perguntou Edward preocupado por ter escutado o choro dele do corredor.

—Eu não sei – Bella disse aflita.

Edward o pegou no colo e começou a balança-lo devagar, pensando em diversas causas e foi quando algo o ocorreu.

—Bella, quando ele comeu? – perguntou preocupado.

Ela arregalou os olhos.

—Ahm, ele não quis comer a barrinha de cereal – ela disse mordendo os lábios, com vergonha por não ter pensado que poderia ser aquilo.

Seu temperamento era o de brigar com a negligência dela. Uma coisa era ela passar horas sem comer, outra completamente distinta era ela deixar uma criança tão pequena passar pela mesma situação mas, novamente, Edward se conteve e apenas segurou o garoto com mais cuidado ainda.

—Ei, neném, está tudo bem, eu vou cuidar de você – Edward prometeu baixinho à criança.

Da melhor forma que pôde, com o garoto no colo, Edward preparou uma das sopas e, quando pronta, com muita tranquilidade e cuidado, pediu que Bella segurasse o garoto e, daquela forma, ele o alimentou.

O menino comeu a sopa com uma fome que preocupou Edward e, ainda superconsciente, sabia que tinha que preparar algo mais forte para a criança à noite, pensar o que faria para ele comer a tarde e, a contragosto, pensou que também tinha que cuidar de Bella, fazer algo para ela almoçar, mais forte que sopa. Mas, um problema de cada vez, Edward pensou.

Depois de alimentar o menino, Edward deu os remédios que precisava para fazer a febre baixar e para a tosse melhorar, ele ia com calma, ver como o garoto respondia e, só depois, veria a necessidade do antibiótico.

Fez o menino dormir e o ajeitou na cama com cuidado, o cobrindo bem. Ficou velando o sono dele por um tempo, ainda consciente de Bella, mas encantado demais com a criança. Os cabelos eram de um tom dourado muito bonito, escuro, quase castanho e o nariz tinha a angulação perfeita, até mesmo para aquela idade, os olhos fechados eram castanhos com um pouquinho de verde e os cílios compridos eram bem loirinhos. Havia algo, Edward não sabia o que, mas algo que o fazia pensar em Bella quando olhava para o menino e pensou qual seria o grau de parentesco deles, se é que existia, mas se conteve, com medo de perdê-la de novo.

—Vou fazer nosso almoço – ele avisou.

—Não sinto fome – Bella mentiu, rapidamente, não queria que ele a mandasse embora por dar trabalho demais.

—Você nunca está – ele observou, mas foi para a cozinha de qualquer jeito.

Preparou algo rápido e ele e Bella almoçaram em um silêncio constrangedor. Com tanto a dizer, o barulho dos garfos contra os pratos era quase irônico.

Edward limpou a louça que sujou e depois foi tomar um banho quente, ainda sem conversar com Bella. A água quente contra os músculos tensos das costas dele foi uma sensação bem-vinda e ele quis senti-la por bastante tempo enquanto refletia sobre o que fazer. Queria cuidar de Bella e também do garoto, mas até onde ele poderia ir? O quanto poderia oferecer a eles sem parecer invasivo de mais? Sem oferecer mais do que tinha a dar?

Saiu do banheiro com moletons quentes e, olhou para a sala só para sentir tudo se realocar dentro de sua cabeça.

Bella estava encolhida na cama, abraçada ao garoto que deitava no peito dela ressonando baixinho, os dois pareciam em paz, foi a primeira vez que ele viu o rosto de Bella naquela calmaria e ele pensou, com pesar, que ele já tinha oferecido muito mais do que tinha percebido.

Não a eles, mas para si próprio.

Chegou mais perto da cama e se sentou na ponta encarando os rostos calmos que confiavam nele a ponto de se deixarem tão vulneráveis assim perto dele. O estado de sonolência de alguém, na opinião de Edward, era o máximo da vulnerabilidade humana, você confiava que a pessoa do seu lado não iria embora, que não lhe machucaria, que não roubaria tudo o que você tem. Mesmo que Bella não corresse o último risco ali, já que não tinha trazido nada.

Então, com calma e paz estrangeira, foi a cozinha e, na tela de seu novo celular, começou a procurar receitas boas para crianças, com bastante vitaminas, achou um mingau que parecia gostoso e voltou a sair de casa, precisava comprar coisas para alimentá-los e torceu para que não acordassem enquanto ele estivesse fora.

Voltou para casa acelerado, os braços cheio de compras que, sabia, nunca poderia contar a Sulpicia que não foi no mercado dela que comprou. Entrou no prédio sentindo um receio estranho tomar seu peito, sentia tanta ânsia de estar em casa que pensava se era isso o que alguém que fazia parte de uma família funcional sentia depois de um tempo longe.

Ao abrir a porta, com cuidado, encontrou Bella e o neném da mesma forma que os tinha deixado. A serenidade tomou seu ser por completo.

Ele entendeu que não tinha mais jeito de deixa-los ir embora e, com certeza, jurou a si mesmo que cuidaria dos dois, que os curaria e, com esperança, mesmo depois daquilo, eles poderiam ficar com ele.

Aquela coisa, de fato, não era o que ele procurava ou o que esperava encontrar, mas era tudo o que ele precisava desde, antes mesmo, sair de Londres à procura de algo no continente americano.

Ali estava o seu “algo”.

.

.

Continuação da história está na fanfic Filho, Meu Filho


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Essa foi a primeira fase, mas ainda temos algumas partes dessa história.

Ainda não tenho previsão para postar (muito provavelmente, semana que vem), então fiquem ligados em meu perfil para que possam continuar a acompanhar essa história ou, se quiserem, mandem MPs ou reviews e eu aviso assim que chegar com a nova parte da história.

Obrigada a todos que leram até aqui, espero lhes ver logo.