You Are Someone's Altar escrita por EVE


Capítulo 3
Felícia/Celeste Dos Deuses


Notas iniciais do capítulo

“Preencha o silêncio, toque vagarosamente as escrituras que você desconhece e ouça-a recitar como um culto ao deus dos excessos. Trema com o calor da antecipação e permita que ela tire seu vestido de veraneio.”



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"Encontre-a" foi a ordem. 

Ela, como uma boa garota com poros exalando servidão e na ausência do comum medo, seguiu por aqueles caminhos, prestando o mais fino costume com o palácio nas horas tardias. 

Ela aproximou-se do corredor do quarto da sacerdotisa, mas a escassa luz iluminava uma outra pequena silhueta à frente do seu destino. 

Era Felícia outra de igual como ela, uma mulher sem face e de importância singular com quem trocou poucos olhares. 

Bonnibel se resguardou no início do corredor e observou somente a outra garota de longos cabelos castanhos estática à frente da grande porta, respirando a crescente ansiedade da passagem dos segundos. 

Finalmente, Felícia bateu suavemente na porta e ela foi aberta por aquela figura conhecida, não houve troca de palavra alguma e a convidada adentrou no cômodo. 

Na manhã seguinte, Bonnibel encontrou Felícia com o ar de quem sonha, realizando seus afazeres, nada de novo somente um brilho constante de criança travessa no olhar. 

Bonnibel não demorou seu interesse em Felícia, mas sim, na sacerdotisa que monitorava as atividades das outras mulheres com a sempre presente seriedade. 

Ela retornou ao corredor, à porta. Ela sentia-se não convidada, intrusa, mas estupidamente disposta. 

Ela tocou a maçaneta fria, quase sem ar e a girou. O seu olhar curioso caiu prontamente no cômodo, para somente encontrar um corpo tranquilo e nu sobre a cama iluminado pela escassa luz da lua. Quase poético. E o ar covarde desapareceu de seus pulmões, em uma expiração rasa. 

"Fuja, volte e deixe estar" Sua consciência gritava e seus pés desobedeciam. Mais um passo, seguido pelo segundo, terceiro e, finalmente fixou seu corpo à beira da cama com o juízo derrotado, consumido por já tão poucos pensamentos. 

Ela acreditou não ter vocabulário, mas ali havia a certeza de um desejo. 

Era um corpo feminino não incomum dos que se apresentavam para ela nas casas de banho. Um corpo que ela acreditava ser quente e posto somente para adoração. As longas pernas, a pele pálida e enxergou com dificuldade os pequenos símbolos na costela da mulher, em uma linguagem antiga, ela não decodificou, mas os seus dedos formigaram para tocá-los. 

As mãos de Bonnibel lentamente foram de encontro com a pele da outra mulher, mas pararam no caminho. 

"Não" sentiu a negativa em todo o seu corpo, suficiente para fugir e o fez. 

Os seus batimentos acalmaram-se apenas quando já estava segura em seu próprio quarto. Ela não dormiu naquela noite, as tentativas de fechar os olhos e lutar contra as imagens que aqueciam seu ventre e roubavam seu descanso. 

Ainda assim, com a precisão de um relógio, na noite seguinte, ela voltou para ao mesmo corredor, à mesma porta. Ela entrava no quarto e somente observava o corpo por alguns minutos. Mas, na terceira noite não havia ninguém, apenas a brisa fria da noite na pele. Bonnibel olha para as janelas abertas e para cama novamente, e uma figura aparece estática frente à Bonnibel. 

*** 

— O que significam? – perguntou, enquanto, os seus dedos tocavam suavemente os pequenos símbolos causando arrepios na sacerdotisa, que por instinto agarrou o pulso dela. 

— Um poema para a deusa. 

— Recite-o para mim. 

— Não. 

— Diga o que significam e a deixarei em paz. 

Então, ela começou: 

"Aproximei-me da luz, mas a luz me chamuscou. 

Aproximei-me da sombra, mas estava coberto por uma tempestade." 

E Bonnibel lentamente se aproximou, enquanto Abadeer recitava suave sua canção. 

"Você é magnífica, seu nome é elogiado, você sozinha é magnífica! 

Minha senhora... eu sou sua! Sempre será assim! 

Que seu coração se acalme em relação a mim!" 

Ela estava dizendo com um fio de voz e olhos fechados, enquanto o toque quente daqueles dedos novamente surrupiava a sua razão. Levou-se pelas sensações e esqueceu o resto da canção. 

— Não! – exclamou a mulher, agora com os olhos abertos. 

— Por que? 

Haviam tantas respostas concretas, sucintas e absurdamente válidas, mas por lapsos no presente, a sua argumentação e seus princípios não estavam acima desse olhar azul e curioso. 

— Isso não é correto. 

— O que não é correto? 

— Você. Nós. O que está tentando fazer. — Ela tentou responder com o rosto de Bonnibel próximo ao seu, todas as imperfeições tão próximas ao toque, o olhar atento da jovem que pendia entre os seus lábios e olhos. E a falta de espaço tornou-se perigosa demais para ambas. 

Novamente, aqueles pensamentos tomaram a mente da sacerdotisa, pensamentos sobre a sensação daquele corpo sobre seus dedos. Macio, quente e inesquecível. 

Como seria furtar a pureza dos lábios dela que até agora se contradiziam, repousar sua cabeça entre seus seios ou sentir os músculos se contraírem ao mais calmo toque. 

Para Bonnibel, ainda que necessário se entregar para um corpo vazio e desconhecido, ainda que suas intenções não sejam claras e o passado dessa mulher, uma imagem opaca que lhe é apresentada. Ela se encantou pelos cabelos negros e permaneceu presa ao presente, às cores sóbrias do cômodo, ao calor e ao silêncio. 

— Tenha medo de mim, por favor. – Srta. Abadeer sussurrou com a força de mil infernos, com as mãos entre o rosto de Bonnibel. 

Bonnibel retirou as mãos estrangeiras de suas bochechas e aproximou-se do ouvido da sacerdotisa. — Beije-me. Sem toques suaves. Sem conforto. Eu quero pecado. Uma verdadeira deusa. – Sussurrou a última palavra e voltou a sustentar o olhar da sacerdotisa por um momento. 

Ela se entregaria como sacrifício? Para a sacerdotisa de Eros, a filha dos poetas que embebem seus versos com luxúria? 

"Sim" Era a resposta. 

E foi então que ela observou a mudança de semblante da sacerdotisa, o desespero para algo selvagem, indescritível. E sentiu a fome dos lábios e dentes em seu pescoço e uma mão cobrindo os seus gemidos. 

— Quieta. – Srta. Abadeer ordenou. 

Ela jogou seu corpo sem reverência na cama e os tecidos que antes cobriam seu corpo foram se tornando mais escassos. 

Bonnibel não nomeou as sensações, mas sua mente permanecia em êxtase e seu corpo tremia em antecipação. Ela sofria pelo ritmo indefinido por sua dama, pela calma diante de sua urgência. 

Ela, vagarosa e lânguida, beijava sua pele –a protagonista de seus sonhos mais loucos agraciada pelos deuses–finalmente passeava os dedos exploradores e frios sob seu corpo sem rumo, sem bússola. 

Entre suas pernas, ela plantou beijos molhados, e nos quase inaudíveis sussurros, Bonnibel pronunciava palavras que fugiam de sua compreensão inúmeras vezes e para Abadeer essa foi a melhor oração da noite. 

Bonnibel buscava o oxigênio, enquanto puxava os fios pretos, presos e apertados em punho. Repentinamente, não havia temor, somente o crescente calor em seu ventre, para enfim, a clareza de seus sentidos. 

E lançou seu grito silencioso, sua prece a deusa, o mais perto que chegou da paixão ou de algo real. 


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Notas finais do capítulo

"This is as good a place to fall as any
Will you build our altar here?
Make me your Maria
I'm already on my knees
You had Jesus on your breath
And I caught him in mine
Sweating our confessions
The undone and the divine."
Bedroom Hymns - Florence and The Machine



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