You Are Someone's Altar escrita por EVE


Capítulo 1
You are Someone's Wildest Dream


Notas iniciais do capítulo

Enredo? O que é um "enredo", senão a corda que eu uso para conectar as tachinhas dos momentos emocionalmente cheios de tesão que eu espalho sobre o quadro de cortiça da minha ideia inicial.
Talvez, eu precise de Jesus? Não sei. Termina de ler, tire suas conclusões e liga pra cá.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/781429/chapter/1

Ouça ou não "Horny with Dark and Religious Overtones" on Spotify

A grande mesa com todas as cadeiras ocupadas por convidados que conversavam alegremente e comemoravam o início do período fértil de uma mulher, formando um momento de festas, cores e música. As comunidades periféricas ainda se alegravam com os poucos cânticos que sabiam. 

Contudo, o espaço estava em desarmonia com o humor da sacerdotisa no canto inferior da mesa que somente observava as risadas partidas, exageradas e as faces ruborizadas devido a bebida. A jovem felizarda na cadeira à frente compartilhava a mesma animação de todos, e sentindo-se observada, lentamente ofereceu um sorriso e ergueu sua taça em reconhecimento a pessoa em questão. A sacerdotisa repetiu a mesma ação em resposta e manteve o contato visual com seriedade, a jovem satisfeita continuou sua conversação, porém, os olhos da sacerdotisa permaneceram firmes. 

Com o fim das festividades, a sacerdotisa agora no seu atual percurso: as cercas, a grama seca, a fina neblina que cobria os casarões com suas cores que há muito não pertenciam às paredes e uma jovem orgulhosa em lhe acompanhar a passos firmes no orvalho. A moça de vestes claras andava com a cabeça erguida e um pequeno sorriso no canto da boca, suave como as curvas de sua mandíbula. 

A noite já anunciava sua indiferença, não haveria lua, e ninguém na rua insalubre para se despedir, salvo, ao final de sua caminhada, uma criança coberta por um casaco vermelho e trança sobre os ombros. 

A moça andou na direção ao encontro da pequena menina e essa lhe ofereceu uma fruta, pegou a mão da mais velha e a levou para a entrada de sua casa, que sem relutância, acompanhou a criança com passos rápidos pelos vários portões de cor semelhante ao casaco da pequena menina. Tornando para a sua acompanhante impossível de alcançá-las, para enfim, chegarem ao singelo jardim de uma só árvore na imensidão coberta pelo orvalho da noite, e então, ambas se reuniram sentadas nas raízes da árvore, onde o tempo se negava a infringir. A garota de casaco vermelho envolvia o pescoço de sua amiga com seus finos braços enquanto sussurrava para que não a deixasse. 

— Bonnie, quem será a minha princesa, e o nosso reino? – confessou a menina com tom choroso. 

Bonnibel lançou um olhar de compaixão e acalmou a criança com o aperto de um longo abraço, porém a sacerdotisa impaciente desfez a bela cena e ordenou que deveriam partir. Ela aferrou a mão em seu braço e por fim, refizeram o caminho, deixando a pequena menina já saudosa. 

Em uma viagem silenciosa, o automóvel seguia a escuridão da estrada. Os óleos de banho enchiam com ternura as narinas da sacerdotisa, além de notar o colar de pingente azul-turquesa que dançava conforme a calma respiração da mulher ao lado, ela observava as feições suaves, o álcool não corria em seu interior, porém, as bochechas ainda permaneciam róseas e em sua postura tranquila observava a paisagem, compreendendo seu dever com facilidade, dócil e serena, verdadeiramente como um sacrifício virgem. 

Seguindo fielmente, as especificações de um Conselho que visava manter as jovens com suas características virginais, pelo menos, aparentemente, para alguém com título superior com a quantidade de sêmen suficiente para produzir uma criança no ventre da garota, assim como dizem as velhas leis que pregavam os velhos mestres. 

Enfim, algo comum e indiferente para a sacerdotisa, contudo, o prolongamento do estudo sobre a jovem ao lado causava-lhe desconforto, um incômodo constante, estado que foi percebido pela acompanhante. Os dedos finos se apertaram em volta do volante, e sacudiu a cabeça, a fim de dispersar os pensamentos. Por fim, ela necessitava de uma pausa na viagem. 

Elas se alojaram em um pequeno hotel na estrada. No quarto, a sacerdotisa apresentou o espaço, ordenou que trocasse sua vestimenta, sem qualquer contato visual como uma oração seca e repetitiva. A mais nova continuou em silêncio e acompanhou obediente. Ela retirou as alças de seu vestido alvo dos ombros, elas percorreram sobre seus braços, para finalmente caírem ao chão e expor a pele à luz fraca do ambiente. E suas ações foram seguidas pelos olhos da sacerdotisa, demorados que pendiam entre a rigidez e permissão. 

E por último, determinou que ali permanecesse até a sua volta. E partiu do pequeno quarto. Sem o sinal do som dos pneus sobre o assalto, a jovem presumiu que fora a pé. 

Os minutos se passaram e a monotonia encheu o quarto com o som dos poucos carros na estrada ou do canal qualquer na pequena televisão ou a mísera luz do abajur sobre a decoração sóbria do espaço. 

Após a tediosa espera a jovem partiu também. 

A noite estava fria, escura, silenciosa e o breve caminho, incerto. Havia um local próximo e ela precisava de alimento e calor. Ela adentrou facilmente e tomou para si alguns olhares de lado. Era um ambiente pequeno, limpo com o mezanino na entrada e vista para o andar abaixo. Aos primeiros olhares era um bar comum, com os poucos casais que ali estavam se deliciavam em risadas e bebidas, não precisou de muito tempo para esbarrar seu olhar. 

*** 

Um quadril desnudo balançava em sua frente. O toque seco sobre o flanco da meretriz em um lento caminho com seus dedos brutos, sobre as curvas dela, para enfim, selar a mínima distância com seus lábios e eles passearam por toda extensão da pele. A meretriz apoiou-se em seus ombros. Ao perceber que havia uma telespectadora com os mínimos sentidos, Srta. Abadeer notando os pequenos olhos arregalados já conhecidos, se desfez dos braços morenos. 

*** 

As feições da Srta. Abadeer estavam sombrias, Bonnibel somente sentiu os dedos finos apertarem seus braços e foi obrigada a seguir os passos firmes até o hotel. 

Ela percorreu inquieta o cômodo entre um suspiro e outro, e por fim se acomodou na poltrona mais próxima, enquanto Bonnibel permanecia sentada desajeitadamente na cama. 

— Explicações para a curiosidade? 

No momento, as palavras não ditas pesaram o ambiente e temor se fazia presente. A jovem amassou as bordas do vestido e respondeu: 

— Algumas. Bem poucas, na realidade. 

A sacerdotisa levantou uma das sobrancelhas e desejou sorrir, mas não o fez. Os pequenos resquícios de curiosidade na fala e no olhar da garota, mencionavam uma antiga pessoa. 

E a jovem tentou prosseguir. 

— Aquelas pessoas. Você. Como? Eu não esperava que você estivesse ali e... 

— Pare. – pediu a sacerdotisa. 

Depois de alguns segundos, ela respirou e expirou o ar vagarosamente. 

— Naquele lugar não havia nada do que você não venha aprender futuramente. O único problema é que você estava onde não devia. – disse somente. 

E o silêncio como manto se estendeu novamente sobre o cômodo. 

— Sairemos cedo pela manhã. - E a deixou com os seus pensamentos e se dirigiu ao banheiro. 

No pequeno espaço, ela observou o seu reflexo no espelho, os cabelos desgrenhados e as sombras abaixo de seus olhos, e com mais atenção, podia observar os fantasmas no fundo do seu olhar. Uma face que necessitava de água, sabão e tolerância moral. 

“Aquelas pessoas” era uma curiosidade que dependia do seu tipo de visão. O que faziam aquelas pessoas ou por que ali estavam, nem sempre, uma simples olhadela compreendia. Naquele local, haviam relações unilaterais onde a necessidade se fazia presente, porém os toques eram desprovidos daquele desejo puramente químico, comovente, pois nessas relações, enquanto alguns procuravam se desfazer das lembranças do mundo exterior ou anestesiar os sentidos, apesar da eloquente existência da realidade e suas impurezas, outros... eram os acompanhantes com suas diversas justificativas: ora oferecidos pela família ora punidos pelo Conselho ora por escolha, prestando serviços, nada além de serviços. 

Contudo, as pessoas naquele lugar eram as sortudas. Elas foram espertas, cínicas, belas, espirituosas ou simplesmente afortunadas o suficiente para conseguir escapar relativamente jovens, da brutalidade do comércio sexual no país, dominado pelo crime organizado, e com o estupro ou agressão como um risco diário. 

Por fim, todos aprendem a olhar “aquelas pessoas” e ao término do dia, do expediente, lidam também de maneira cínica e indiferente em seu jeito anestesiado, mas a pequena cena com a garota podia comprometer o estado comum. 

Ao retornar, o corpo da mulher estava sobre a cama, onde adormecia serena. 

Pela manhã, Bonnibel acordou vagarosamente de seu sono com os raios de sol, iluminando e aquecendo o pequeno cômodo. O desconforto permeava seu corpo e os lençóis colados em sua pele úmida. Reconheceu aos poucos o cômodo. Não era o seu quarto. As cenas breves da noite anterior em sua mente. A sacerdotisa. E subitamente lançou seu olhar para o espaço à procura de algum sinal da silenciosa mulher. 

Ela estava sentada na poltrona com as mesmas feições que nada diziam, ciente somente da recente atenção não requerida sobre si, ela interrompeu o olhar onírico e distante, de repente, se levantou, foi em direção a porta, e saiu. Assim como a noite passada. 

Naquela estrada calma, ela percebeu que sentia saudade, mas rapidamente se desvencilhou, ao longo caminho para a capital, do que ela não podia sentir. 

Do automóvel, ela observava as edificações enormes apresentando a suntuosa cidade. 

Com a diminuição da distância, ela era ciente de sua ansiedade, do intenso calor e talvez de algum segredo. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu preciso?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "You Are Someone's Altar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.