O fio vermelho através do poço escrita por Agome chan


Capítulo 5
Vejo em seu olhar




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Kagome ficou muito distraída na própria banheira. Não era a primeira vez que ficava assim, perdida em seus pensamentos claros como um nevoeiro enquanto deixava a água quente cobri até seus ombros, pensando nele.

Suspirou. Sempre o fazia. Mas dessa vez foi diferente, talvez não fosse só uma sensação, mas… era a verdade. Podia sentir que seria decisivo, já havia passado por isso antes. Quando se deu conta de seus sentimentos por InuYasha, de que estava apaixonada por ele. Sabia da escolha dele de querer ajudar a Kikyou quando ele descobriu quem Naraku era, o Onigumo estava ali dentro ainda apaixonado e obcecado por aquela mulher que destruiu a vida.

No olhar dele viu que ele tinha tomado tal decisão, sentiu naquela dor que via neles e a fez correr para casa por não o querer ouvir.

E quando voltou, ele não tinha mais o mesmo semblante, o mesmo olhar.

O tempo em que ela ficou afastada serviu para eles refletirem mais sobre isso?

Para InuYasha, sim. Ele tinha sentido sua falta, sabia que sentiria, racionalmente falando, porém, sentir de fato era outra coisa. Até se irritou com os amigos achando que torciam contra eles, ele é Kagome juntos, sendo que não tinha tomado decisão oposta?

A justa e correta?

Kikyou morreu por sua causa, Kagome poderia ter uma vida melhor sem ele e a própria Kikyou disse que a vida dele lhe pertencia. Ele havia concordado.

Mas lá estava ele, não querendo ficar sem Kagome por razões que sabia serem egoísta. Toda sua coragem esmorecia e a dela crescia, se alimentava como fogo. Ela decidiu está ao seu lado. Continuaria naquela Era para cumprir seu objetivo e porquê o amava, por mais complicado que a situação fosse.

E passaram por tantas coisas juntos desde então. Colheu os frutos de sua decisão.

Da decisão dele de a querer ao seu lado.

Kagome sabe que o ama.

Não muda de fato.

Mas por tanto tempo, ficou vivendo tanta amargura, pois o amor a ele era o único sentimento que reconhecia. Os sentimentos que vinham juntos a isso; a insegurança, ciúmes, inveja, frustração e irritação, ela os ignorava, não era franca nem consigo, mesmo estando tão evidentes e só cresceram com o tempo. Sufocando.

Tinha que ser sincera.

Entendia o lado dele, claro, porém precisava entender o próprio.

Ver que naquele dia tudo ficou claro para ele, o que ela vinha passando, ficou claro para si também. Não era normal.

Mas o que era normal naquela situação?

O que tem de normal "competir" com sua vida passada? Era insano.

Pensamentos assim a faziam se sentir em segundo lugar e se pegava se perguntando se era de fato.

O ouviu dizer que não, mas seria o caso?

E a forma que Kikyou lhe tratou após lhe salvar daquele rio… parecia que ela se sentia da mesma forma.

Era a realidade.

Kikyou não lhe escondeu nada.

Sua raiva, até seu desgostoso, ciúmes, ela sempre evidenciou desde o momento em que se conheceram.

Tinha uma imagem negativa da mulher desde então, uma imagem tão diferente da que InuYasha e Kaede tinham dela. A Kikyou que eles conheceram era outra, a miko não consumida pelo ódio.

Que imagem ela teria de si?

Certamente não era tão boa.

Morrer fez Kikyou se sentir mais livre para expressar tais emoções indesejáveis?

Provavelmente.

Além do ódio era tanto que transbordava, não havia mais o porquê esconder nada.

Talvez devesse aprender com isso. Podia não ser uma sacerdotisa com tamanho ódio e rancor no coração, na verdade tinha muita força, empatia e esperança em si que InuYasha e os demais admiravam, só não deixava de ser uma garota também. Kikyou sempre quis ser apenas uma mulher e Kagome passou maior parte da sua vida assim, por que negar esse seu lado agora?

Era bom não se deixar consumir a isso e encontrar um balanço sobre seus sentimentos.

Estava crescendo.

 

Se levantou da banheira e foi se secar.

 

 

No dia seguinte, InuYasha cochilava sentado a rama, abraçado a Tensaiga, apoiado ao poço.

Shippou achava tudo muito estranho. Comentou com os companheiros de viagem; Sango, Miroku e Kirara. Até com a senhora Kaede. Realmente todo mundo estranhava a forma quieta dele. Muito pensativo.

Geralmente estaria super inquieto quando Kagome ia para “sua época”.

Talvez por fazer apenas um dia?

Ainda era estranho…

Shippou e Miroku nem estavam querendo zombar e provoca-lo. Todos concordaram que o que quer que fosse, era melhor deixar InuYasha quieto até ele voltar ao o habitual.

Sabiam que Kagome voltaria, porém ainda assim estavam preocupados. Alguma coisa tinha acontecido, só não sabiam o quê.

 

No fim da tarde, InuYasha ainda estava ao lado do poço, olhando para o céu, quando um youkai coletor de almas passou diante seus olhos.

Estranhou, pensou ser imaginação e esfregou os olhos. Apareceu mais outro.

O cheiro dela lhe atingiu e a viu surgir entre as árvores.

— Kikyou…

Ela estava ali e ele mal sabia ler sua expressão mais.

Era muito estranho vê-la naquele lugar.

Chegava a ser nostálgico a encontrar perto da vila que ela costumava morar.

Também por uma situação similar ter ocorrido; esperando Kagome, viu os mesmos youkais e ao longe notou Kikyou em perigo e correu para socorre-la.

Foi a noite que a abraçou na árvore, Kagome os viu e estava decidido a fazer viagem ao lado de Kikyou.

Nem Kikyou o levou a sério, mesmo que ele insistisse. No momento o irritou tal atitude, porém, ela estava errada? Não estava.

Logo em seguida, pouco tempo depois, ele já voltava atrás em tal decisão por querer estar com Kagome.

Podia acabar esbarrando com ela para não ir atrás dela, comprimido o que disse a Kagome, mas a Kikyou não chegou a fazer tal esforço em cumprir com sua palavra, nem o tentou.

Seguiu como se nada tivesse ocorrido.

 

Se levantou.

— O que faz aqui?

— Não vim te ver — disse Kikyou com serenidade, mas ele notou a dureza em seu olhar. — Preciso ver minha irmã.

Ele concordou com a cabeça.

— Ela ficará feliz em ver que está bem.

E voltou a se sentar diante ao poço.

Kikyou não se moveu, ficou o estudando.

— Estou feliz que esteja bem — disse InuYasha por fim.

— … realmente estranho.

InuYasha enrugou a testa.

— O que?

— Você. Mas era de se esperar. A cada vez que te vejo, está mais o irreconhecível.

Geralmente ele levaria aquilo como ofensa, diria que era ainda o mesmo InuYasha.

Seria mentira, concluiu.

O InuYasha que ela conheceu nunca tinha se quer se transformado em youkai completo ou sabia de tal possibilidade.

E se soubesse?

Se deixaria perder o controle por poder? Para não ser mais fraco e humano?

Antes de Kikyou e após perder sua mãe, era possível…

Não era à toa que Miyouga nunca lhe contou.

— No que está pensando?

Ela o acordou das correntes de seus pensamentos.

— Eu… — abaixou o olhar — vim sendo… injusto com Kagome e você.

Ela inclinou a cabeça.

— De que forma?

— Keh! Você sabe — resmungou e cruzou os braços olhando para o lado.

Passou uma brisa e ele percebeu o que havia feito, ela o olhava com os olhos arregalados, tão surpresa quanto ele e logo se pôs a rir.

Qual foi a última vez que a viu rir?

Quando entregou um grande pedaço da joia ao Naraku? Sim, era um plano que ele menos não tinha conseguido entender na época e mesmo depois de entender, o irritava. Kagome que mais se irritou com sua tentativa de compreensão.

E tinha sido um riso maldoso até.

Esse era um… natural.

Genuíno.

Desde quando não a vê assim?

Desde que estava viva, se deu conta.

E era exatamente o que ela tinha pesado em relação a ele:

— Nunca mais te vi se comportar assim comigo. Desse jeito rabugento e infantil que você sempre teve.

— Que?! — Arqueou a sobrancelha, irritado — Eu não sou infantil!

— Céus, parece que voltei no tempo — ela ria.

E ele não estava mais irritado. Estava até confuso.

Realmente, por que não mais se comportava assim com ela?

— Você nunca mais riu assim.

— Não perto de você realmente.

Era um fato dolorido para ele ouvir.

— E sei que você é você quando está com ela — disse Kikyou. — Não é a mesma coisa quando está comigo, sabe por quê?

Ficou surpreso com a pergunta retórica. Mesmo assim, decidiu tentar responder:

— É diferente. Com Kagome é diferente.

— Você é todo diferente. Nós somos diferentes do que me fomos. Quando te vejo, você sempre me olhar cheio de dor e pena. Me irrita.

O deixou boquiaberto:

— Eu não sinto pena de você.

— Não, você não sente pena, mas sente pena também. E culpa.

— Faz parecer que é só isso e sabe que não é verdade — se irritou.

— Eu sei. Mas não era melhor antes? Quando só me olhava com amor e só pra mim?

Engoliu em seco e abaixou a cabeça, até suas orelhas caninas ficaram abaixadas.

Respirou fundo.

— Também era melhor quando você era… sei lá, afetuosa comigo… quando me sentia à vontade só de estar ao seu lado, quando estávamos aprendendo a confiar um no outro. Conversávamos sobre muitas coisas, lembra? Agora só falamos daquele maldito quando nos vemos.

Ergueu seu olhar dourado para ela e prosseguiu a falar:

— Antes não tinha tanto ódio em você. Ainda mais por mim.

— Não te odeio mais. Odiava quando tive que voltar a despertar nesse mundo, eu odiava tudo. Só odeio Naraku.

Ele negou com a cabeça

— Vamos destruiu aquele desgraçado, mas não é disso! Sua raiva ainda está aí. E eu sei que é porquê eu… segui em frente.

— Não seria justo com você isso. Está vivo e eu estou morta. Entendi isso. A vida move pessoas e as tornam novas. Eu no máximo sou uma casca da antiga Kikyou.

— Não muda o fato que dói — concluiu.

Ela não rebateu ou discordou.

Era verdade.

— Quando nos vemos, fico fingindo para mim mesmo que não sei o que está acontecendo e você sempre joga na minha cara. Meus amigos, Kagome... e estão todos certos.

— E do que está falando dessa vez, InuYasha?

— Você sabe. Eu posso me culpar o quando for por… estar vivendo, — gesticulava com as mãos, tentando se expressas — mas na verdade eu quero.

InuYasha ajeitou a própria postura, passou as garras pelo kotodoma. Podia ser alfo que Kikyou iria usar nele no passado, porém agora não fazia a associação a ela, só de olhar a peça era como se lembrar de sua ligação com Kagome.

Kikyou ficou a analisar o semblante sério do hanyou a poucos metros de distância. Ele não fazia qualquer sinal de se aproximar, mesmo quando voltou a encarar.

— Eu quero seguir com Kagome. Eu quero estar com ela, eu sempre quis.

— E sabe que esse não é o lugar dela.

— Sei. Eu sei — engoliu em seco, frustrado. — Não sinto só culpa e pena, Kikyou. O que tivemos foi tudo real, não some assim, você sempre será importante para mim.

Ela o cortou:

— Como uma lembrança.

InuYasha cobriu o próprio rosto, cansado.

— Porque está apaixonado por outra mulher. A minha reencarnação.

— Não é por ela ser sua reencarnação que eu…

— Eu sei — o interrompeu. — Somos duas pessoas muito diferentes. E mesmo assim você a ama.

— … mais do que minha própria vida.

— Que era pra pertencer a mim, pelo o que nos aconteceu. Mas você daria por ela.

Voltou a encarar.

— Não estou te julgando — disse a sacerdotisa. — Estou feliz que é a primeira vez que está sendo totalmente franco. Bem, quando te perguntava sobre ela, você ao menos nunca negou ou mentiu.

Ele abaixou o olhar, passando os dedos pelas gotas do kotodama.

— Só precisava de tempo pra entender. Não era como se eu parasse pra pensar sobre. — Ficou cabisbaixo. — Machuquei muito a Kagome por isso.

— Ela vai entender.

— Não, quem tem que entender as coisas sou eu — disse, irritado consigo mesmo. — Ela sempre entendeu tudo, já chega disso. Não posso exigir nada dela.

E Kikyou sentia até que doía, mas era o que já sabia. Não era por falta de amor que não deu certo entre os dois, mas InuYasha já tinha uma outra relação com amor e confiança, sendo construída e moldada.

Ela teve que acompanhar mesmo quando tentava se distanciar ao máximo.

A vida continuava e ela estava ali parada no tempo.

Foi caminhando para Kaede, ele não iria interceder ou impedir, estaria ali pensando em tudo.

A cada vez que se encontravam, parecia que ele amadurecida anos e anos, por causa da Kagome.

Estava pensando até sobre se responsabilizar por emoções, pela mágoa que não causou de propósitos, mas causou.

Era praticamente um marido.

Só que não era o dela como haviam prometido.

Olhou para trás e viu que ele a olhava também.

Tinha sim afeto e amor naquele olhar, mas ainda estava a melancolia, a dor, a culpa e a pena.

Ela estava certa, não havia volta para eles.

— Fique bem, Kikyou.

Por um lado, o amava e estava feliz por ele estar bem. Ele tinha feito amigos, não era mais o hanyou solitário, acuado, que um dia conheceu. Bom ele poder viver um amor e uma vida que ela não poderia dar. Só que doía.

InuYasha desejava que Kikyou pudesse viver o mesmo, encontrar tal felicidade nessa “nova vida”. Ainda que visse o ressentimento, dor e raiva em seu olhar para si.

— Você também, InuYasha.

Mas eram como as coisas são.

Realmente sentiram aquela despedida. Ele teve que ir para a copa de uma árvore, ficar sozinho e escondido entre os galhos, para as lágrimas escorrem.

 

Girava com os dedos as gotas do kotodama.

Resmungou. O céu azul do começo do dia era melhor, pois lembravam os olhos de Kagome.


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