MIB - Homens de Preto: O Caos Invisível escrita por Agente F


Capítulo 4
O Ataque dos "Morcegos Vermelhos"




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Alguns meses depois daquele caso do “morcego vermelho”, um OVNI – até mesmo para a MIB – cujo sistema de monitoramento não conseguiu identificar e reconhecer aquele tipo de nave - chegando à Terra foi monitorado pelo sistema de vigilância atmosférico da MIB. Os sensores de calor evidenciavam uma silhueta e proporção semelhantes à daquela criatura.

Por não ser uma nave pertencente aos planetas conhecidos pela MIB, foi vetado o pouso da nave na Terra. Os Gêmeos, seres fluentes em uma centena de idiomas não-humanos e capazes de compreender e emitir quaisquer formas de comunicação - inclusive sons de animais oriundos de outros ecossistemas extraterrestres - ouviram pelos radiotransmissores seus ruídos e simularam ruídos igualmente inteligíveis aos seres – zumbidos e gritinhos – ao qual responderam.

Os Gêmeos se voltaram para o chefe da MIB à época, Alpha, comunicando o interesse das criaturas.

— Entendido. Z, B! Venham até o Salão Principal. – chamou Alpha.

Ao chegarem lá, Alpha os recorda do caso dos “morcegos vermelhos”, e diz que parece que uma estranha nave contendo aquelas criaturas estava nas redondezas.

Na verdade, o elemento em questão estava mais para um ninho ambulante do que para uma nave. Uma verdadeira casa de cera, que, ao entrar em contato com as primeiras camadas da atmosfera terrestre, emitiu queimas, que, à distância, fariam com que fosse facilmente confundido com um meteoro. Não tratava-se, portanto, de um aparato tecnológico, e a comunicação para com os Gêmeos só foi possível por causa do uso dos satélites.

— Estão convocados a fazerem parte do Comitê de Recepção. Os Gêmeos dizem que as criaturas estão à procura de entes perdidos. Aquele corpo que vocês encontraram naquela vila deve ser de um deles. – informa Alpha.

— Acho que seu pouso não deve ser permitido! – diz B. – Estão à procura de novas presas!

Acontece que, após examinarem o corpo da criatura naquela ocasião, foi verificado que a cor vermelha, na verdade, vinha do sangue da vítima, sugado pela criatura. Seu couro era de um tipo de tecido não existente na Terra, que era transparente. Extraído o sangue de dentro da criatura, percebeu-se ficar acinzentada, quase como um morcego comum da Terra. Portanto, o termo “morcego de tecido epitelial transparente” seria mais apropriado.

Porém, apesar de se saber que o rapaz fazendeiro foi a óbito por causa do morcego, nunca se soube o que teria levado o próprio morcego ao óbito, visto que estava bem nutrido de sangue.

Alpha vira-se para Zed.

— Z? – pergunta Alpha.

— Acho que é quase um dever moral nosso devolver a eles o cadáver de seus entes. – diz Zed.

— Não! Está trazendo os demônios até nós! – grita B ao parceiro.

— Demônios? São animais assim como os morcegos da Terra. – diz Zed.

— Falei em sentido figurado, Zed! Quando puderem fincar seus dentes em nós, serão os equivalentes aos demônios para nós!

— Está bem. Daremos sinal de proibição de pouso. Se, ainda assim, mantiverem o curso, não abriremos fogo contra eles.

— Por mim, temos permissão para abrir tanto fogo quanto pudermos! – diz B.

Alpha fica pensativo por um tempo.

— Está bem, Z. Confio em você. Afinal, sua contribuição para a organização com a obtenção daquela vila foi inestimável.

B olha para Z com um pouco de inveja.

Alpha vai até os Gêmeos.

— Transmitam a mensagem de que não estão permitidos a realizar o pouso.

Os Gêmeos obedecem. Em seguida, ouvem a resposta das criaturas. Fazendo a vez de intérpretes, respondem a Alpha dizendo que não pretendem recuar.

— Maldição! – exclama Alpha.

Ele pega um transmissor.

— A postos! Corpo de agentes a postos no Porto Interespacial!

Em seguida, Alpha vira-se para Z e B.

— Visita pra vocês, rapazes.

— Aff! – resmunga B.

— Levem pistolas e armas subatômicas... – recomenda Alpha.

B estala os punhos e os dedos.

— ... para usar em último caso! – destaca Alpha.

Z e B vão até a sala de equipamentos. Ao chegarem lá, acionam um botão. Uma das paredes da sala vira-se, revelando um arsenal com os mais variados tipos de armas.

— Acho que vamos precisar de um desatomizador. – diz B.

— Não sabemos ainda do que vamos precisar. – diz Z.

Após alguns segundos pensando, Z apanha um carbonizador, uma arma menos letal que a apanhada pelo seu parceiro.

— Bem, vamos de carbonizador.

— Fala sério, Zed! Pela detectação dos sensores, esses morcegos são maiores do que aquele que vimos na vila. Provavelmente, o que vimos tratava-se de um filhote.

— Sim, mas não tão maiores assim. Se puderem estender seus corpos, o que acho difícil, consideramos uma arma mais potente. E o estrago que pode ser causado pela que tem em mãos deve bastar. Em caso, contrário, deixe-me virar com esta daqui.

Eles vão até o Porto Interespacial. Um certo número de Homens de Preto se mantém a postos no local. Através de um transmissor, Alpha se comunica com Z e B.

— Cuidado, agentes! Está sendo registrada uma velocidade incomum para a nave ou o que quer que aquilo seja. Talvez tenham que recuar do local por algumas dezenas de metros, pois o impacto será explosivo!

— Entendido, chefe! – responde Z.

Z volta-se para os colegas.

— Ouviram Alpha, homens! Vamos recuar uns 60 metros! Agora!

Os homens correm. B se cansa um pouco e sua enquanto corre.

— Está precisando se exercitar. – diz Z ao parceiro. O outro apenas resmunga.

Alpha aparece no transmissor.

— Observem as coordenadas, senhores! Pelos cálculos, eles nem pousarão exatamente na base aérea! O curso está apontado para perto do Laboratório de Teste de Veículos Automotores da agência!

— Mas que droga! – diz B.

Ao avistarem o estranho elemento se aproximando, já às vistas a olho nu, no céu, os homens tentam manter a distância relativa ao referido Laboratório.

Um clarão invade seus rostos, fazendo com que todos tenham que colocar seus óculos escuros.

— Pagaremos caro por termos confiado em você, Z! – diz B.

— Nos concentremos na missão, parceiro. – responde Z.

O ninho cai numa região perto do Laboratório, causando um choque que proporcionou um leve tremor no solo terrestre, que foi sentido ao longo de algumas centenas de quilômetros nos arredores. Horas depois, o ocorrido seria noticiado pela imprensa, cujas origens nunca foram descobertas. Tudo que acontece na Área 51, fica na Área 51.

Agentes driblam alguns detritos que são lançados em sua direção, com o impacto do elemento. Uma explosão ocorre, destruindo parte considerável do Laboratório de Teste de Veículos Automotores da agência. Demoraria décadas para que os estudos e os avanços tecnológicos relacionados aos aparatos automobilísticos fossem retomados. Grande parte de pesquisas e protótipos de máquinas se perderam no incidente. Uma das pesquisas que se mantiveram intactas foi a referente ao tal “botão vermelho”, que passaria a ser incorporado aos carros utilizados pela agência. A empresa teve que cortar gastos posteriormente, passando a investir em modelos de automóveis bem mais modestos do que o desejável. Isso intrigaria J, anos e anos depois, quando da ocasião em que viu o carro de K pela primeira vez.

Voltando aos agentes, todos estão perplexos.

— Maldito seja esse ninho de morcegos ambulante! – grita B, que, depois, vira-se para seu parceiro. – Acredito que as perdas que você causou à agência agora também sejam... “inestimáveis”, não é mesmo, Zed?

Eles começam a andar em direção ao local.

— Nem mais uma palavra, Beta! – responde Z.

— O que será que o chefe acha de você agora? – continua B.

— Não me arrependo de tentar evitar uma chacina gratuita. – diz Z.

— De proteger a Terra de ameaças, você quer dizer. – explica B.

Os homens começam a formar uma espécie de roda entre si enquanto caminham.

— Mantenham-se próximos, homens. – diz um certo agente aos demais, pelos transmissores.

O carro contendo o cadáver do pequeno morcego se dirige lentamente ao local.

Ao se aproximarem do buraco terrestre causado pelo elemento, eles levam suas mãos aos seus paletós, preparados para sacarem suas armas se necessário.

O elemento pegando fogo é visto pelos agentes.

— Espero que tenham morrido com o impacto. – diz B.

Z balança negativamente a cabeça.

— Equipe de bombeiros a postos! – chama um dos agentes pelo transmissor.

O carro de agentes bombeiros se mantém uns 15 metros antes da região do impacto. Os homens descem, com seus extintores, correndo até o local.

Alpha aparece no transmissor para Z.

— Dêem cobertura aos bombeiros, senhores! - diz Alpha.

— Demorou para se manifestar, chefe. – diz Z.

— Claro. Eu estava ocupado exclamando palavrões aos quatro cantos pelo prejuízo causado. – responde Alpha.

— Sinto muito por isso, chefe. – diz Z.

— É claro que você sente. – diz B, ouvindo tudo ao seu lado.

— Eu dei a ordem, B. Não atormente Z. Ele precisa de sua cooperação agora. – diz Alpha a B.

Ao se aproximarem do local, os bombeiros atuam, dispersando e apagando o fogo. Ao se aproximarem mais, analisam o interior do ninho. Verificam que não há nada.

Subitamente, um morcego gigantesco vem voando, não se sabe de que lugar, e, com uma força sobrehumana, apanha um dos bombeiros, levando-o consigo pelo ar.

Z aciona os socorristas pelo transmissor. Em seguida, aponta seu carbonizador para a criatura e atira. Ela solta o bombeiro, fazendo-o cair em cima de uma cama elástica de um dos carros de socorristas previamente preparados para essas ocasiões.

Vários morcegos começam a aparecer voando sobre os agentes, em seguida.

B saca seu desatomizador e atira em um deles antes que possa apanhar algum agente. A criatura imediatamente emite um som que atua como uma rajada sônica, ricocheteando o tiro de B contra ele mesmo. Ele morre.

— Peritos médicos, a postos! – grita Z.

Os peritos saem de um carro e colocam o cadáver do filhote às vistas das grandes criaturas. Elas se aglomeram em torno deles, reconhecendo o espécime semelhante.

Enquanto isso, Z vai até seu parceiro caído.

— Beta! Beta! – grita Z.

Depois, Z olha ao redor.

— Reforços aqui! Rápido! – grita Z, desesperado.

Uma equipe vem e leva B.

Depois de chorar um pouco, Z presta atenção ao que ocorre perto da equipe de peritos médicos.

Os morcegos aglomerados vão até o cadáver do filhote. Um deles o apanha das mãos de um dos peritos. Após alguns segundos olhando para o corpo, joga-o de lado. Alguns agentes que estavam observando a situação aos arredores têm um mau pressentimento. Não hesitam em sacar suas armas. O morcego lança-se em um dos peritos enquanto convoca outros a fazerem o mesmo com os demais. B estava certo. Eles estavam apenas atrás de presas.

Os Homens de Preto atiram. Alguns morcegos são abatidos.

Outros vão tentando sugar o sangue do pescoço de alguns dos agentes, mas são rapidamente alvo de tiros por outros. Alguns conseguem fincar seus dentes em seus pescoços e extrair sangue. Após serem acertados por novos disparos, soltam suas vítimas, que caem ao chão como bonecos. O corpo de paramédicos é acionado.

Z tem uma ideia. Ele pede para que todos os agentes se aglomerem entre si.

— Igual ao que os morcegos estão fazendo? – pergunta um outro agente.

— Sim! – responde Z.

Eles simplesmente obedecem, sem entender.

Z pede pelo transmissor que todos os peritos médicos, socorristas e bombeiros, além de integrantes da NASA, evacuem o local. Só os agentes de campo devem atuar agora.

Todos obedecem. Algumas criaturas tentam ir atrás de alguns deles, mas são rapidamente abatidas pelos tiros de carbonizadores.

— Isso! Usem apenas essa arma! – recomenda Z.

Os homens vão se aglomerando entre si, enquanto continuam atirando nas criaturas que ousam se aproximar.

Z retira do bolso um pequeno dispositivo.

Alguns morcegos emitem ecos sonares que fazem com que alguns homens fiquem quase surdos. Muitos deles deixam suas armas caírem e levam as mãos aos ouvidos.

Antes que se dêem por vencidos, vendo-os se aproximarem ainda mais, e sem retaliação à altura, alguns homens tentam fugir.

— Não! Preciso que fiquem por só mais alguns segundos! – intercede Z.

Os homens páram, mas ficam sem entender.

— Vamos morrer, Z!

Z finalmente aperta um botão do dispositivo, bem na hora que outro eco sonar é emitido pelo morcego líder. O dispositivo, surpreendentemente, faz com que o eco inverta seu sentido e materialize-se na forma de um campo de força, que se estende pelo derredor dos agentes, e parece congelar-se. Os homens ficam protegidos. Todos ficam surpresos com o que vêem.

— Mas... o que é isso, Z?

— Eu andei trabalhando, juntamente com a equipe de engenheiros, no desenvolvimento desse dispositivo. Ainda está em fase de testes, mas decidi utilizá-lo. – explica Z.

As criaturas tentam encostar no campo, mas não conseguem atravessá-lo. Então, começam a afastar-se dali.

— Eles estão indo embora! Desative o campo de força, Z! – diz um dos agentes.

— Não se preocupe. Há outros homens do batalhão especial reserva camuflados por aí. -  diz Z.

O colega estranha o que ouve.

De repente, tiros de carbonizadores são ouvidos. Os disparos vêm de lugares ocultos que ninguém consegue conjecturar. Cada um dos morcegos vai sendo abatido. Alguns voam para além dos limites da Área 51, mas encontram novos disparos pelo caminho.

Uns morcegos tentam driblar os disparos, cada vez mais confusos. Eles olham para todos os lados, sem identificar a fonte dos mesmos.

Observando isso, outros começam a simplesmente voar para o alto, para um nível de altura em que não possam ser alcançados pelos tiros. Após voarem certo tempo, se dão por livres e começam a iniciar um vôo horizontal. Inútil. Os que não são surpreendidos por feixes de laser disparados da Lua contra eles, são sufocados à medida que o ar vai se tornando rarefeito.

De um visor, homens relatam a Alpha que todas as criaturas contabilizadas foram abatidas.

— Muito bem, homens. Cessar fogo. – diz Alpha.

Z desativa o campo de força. Os homens suspiram.

— Obrigado, Zed. – diz um agente.

— De nada.

Ao ser chamado de Zed, Z se remete a B, quem fora que lhe deu esse apelido.

— B! Tenho que ver como ele está! – lembra Z.

 

Ao chegar à agência, bastante suado, Z vai até a Enfermaria da agência. Ele observa sala por sala, enquanto caminha. Em uma, avista B numa maca.

Ao se dirigir à maca, a enfermeira o informa de que B está morto.

Z cai em lágrimas copiosamente.

— Seu... teimoso! – exclama Z.

B está com um semblante que expressa tanta vulnerabilidade quanto Z jamais vira em seu colega, durante a vida.

Abalado, fica fitando B por algum tempo. Depois, sai da sala.

Z senta numa cadeira e fica pensativo durante algum tempo. Um turbilhão de pensamentos vagava agora pela sua cabeça. Apesar de ser um homem bastante racional, permite que resquícios de vulnerabilidade à superstição em seu cérebro encontrem abertura para gerar pensamentos negativos.

Um agente, S, passa pelo corredor. Ele avista Z e senta-se ao seu lado.

— Z. – cumprimenta.

— S.

— Fiquei sabendo do ocorrido. Lamento pelo seu parceiro. – diz o agente.

Após alguns segundos calado, Z ofega.

— Eu fico me perguntando... – diz Z.

Antes que possa continuar falando, S o interrompe.

— Você vai prestar atenção em mim agora, está bem? O que aconteceu não foi culpa sua. E sim, foi um acidente. Não, não há nenhuma orquestração divina envolvida na morte de B, se é o que a parte mais emocional e menos racional do seu cérebro veio a inferir, devido à personalidade tão consciente quanto arrogante de B, no que nos leva ao incidente da vila Amish. Ele foi vítima do próprio infortúnio. Usou a arma errada, no momento errado.

Z soltou um riso. Sentiu ter sua mente lida pelo enigmático e sábio colega.

— Claro. Como eu poderia pensar diferente? Deus não é Amish. – riu Zed.

S também deu um leve riso. Um riso de alívio, e de esperança depois de uma tragédia.

Depois, ele vira-se para S.

— Eu falei para ele não usar um desatomizador. – diz Z.

— Pupilos. Sempre chega um momento em que acham que podem tudo, não é mesmo?

Ao ser chamado para ir para o Salão Principal, por Alpha, Z depara-se com algo inesperado.

Os sistemas de satélites detectaram cerca de trinta e poucos elementos voadores como aquele, dos morcegos extraterrenos, pairando sobre a exosfera. Foi registrado o recuo deles cerca de 15 minutos após o abatimento dos morcegos na troposfera.

Parece que o não-recebimento de mensagens via satélite dos invasores aos seus comparsas espalhados pela órbita da Terra haveria de significar o fracasso da missão, que era um sinal de que eles não deveriam se aproximar mais da atmosfera terrestre. 

Tivessem os primeiros sido abatidos ainda quando de sua chegada na estratosfera – como era de desejo de B – isso levaria os outros a iniciarem uma invasão à Terra, em retaliação, pois o ataque teria sido ouvido pelo grande alcance da audição dos morcegos – informação essa que viria a constar dos autos da organização sobre o episódio, após meses de estudo sobre a anatomia desses seres, realizados a partir da análise dos vários corpos abatidos.

Em dúvida sobre o paradeiro dos colegas, os outros morcegos simplesmente recuaram, pensando que os primeiros haviam apenas desistido de atacar, pelo julgo desigual de forças contra os humanos, por sua tecnologia de armas de ponta. Mal poderiam considerar um pouso totalmente mal-sucedido do casulo voador.

A partir daquele fatídico dia, as coisas não seriam mais as mesmas na organização. Uma semana após a missa de sétimo dia do corpo de B, o primeiro concílio interno da companhia foi realizado, definindo novas diretrizes para o Comitê de Recepção Interespacial.

Em uma das normas, estabeleceu-se que todo pouso proibido seria combatido com fogo, se a nave ultrapassasse a troposfera, em direção à Terra. A decisão de receber o elemento voador ao invés de direcionar fogo contra ele antes de chegar à troposfera, e a subsequente debandada dos outros elementos voadores detectados, elevaria o prestígio de Z junto aos colegas de trabalho. Mais tarde, este episódio se mostraria decisivo para a indicação de Z à chefia da organização.

Apesar de não concordar absolutamente com a resolução do concílio, sobre a referida postura defensiva, foi obrigado a submeter-se a ela, pela própria delicadeza da questão. A morte do próprio parceiro o abalara profundamente, e este não seria um risco que estava disposto a enfrentar novamente. Além de B, três socorristas e um perito morreram naquele dia.

As principais proezas de Zed e Beta estão representadas em pinturas em quadros no Salão Memorial da agência.

Em uma delas, vemos Zed e Beta em combate com o que parece ser uma espécie de Hidra, a besta de várias cabeças da Mitologia Grega. A cena consiste num plano sobre ombros a partir da perspectiva da grande criatura, sobre a dupla de agentes logo à frente e abaixo, observando-a. Sob as grandes cabeças ocupando grande parte do quadro, em primeiro plano, vemos a proporção minúscula de Zed e Beta, empunhando suas armas contra a criatura.

No canto inferior direito da obra, há uma assinatura, contendo simplesmente uma estilização da letra P. O próprio autor está parado diante da obra, enquanto toma um gole de café puro.

Ele é abordado por alguém que aparece ao lado dele.

— Foi você mesmo quem fez isso? – pergunta J.

— Sim. – diz P.

— É artista nas horas vagas? – complementa J.

— Eu tento. – responde P.

— Impressionante! Você tem talento, hein?

— Obrigado.

J tosse um pouco enquanto um silêncio de 30 segundos se faz evidente.

— Sabe, sempre achei que essas criaturas eram invenções mitológicas. Mas quando você se torna um Homem de Preto, acaba descobrindo que, numa outra parte do Cosmos, essas coisas podem ser reais. – comenta J.

— Sim, há quem acredite em um misterioso e inexplicável contato amistoso e aberto entre alienígenas e humanos na Antiguidade, o que teria inspirado essas representações. – diz P, quase sussurrando.

— As bestas enfrentadas por Hércules nos Doze Trabalhos podem ter sido criaturas vindas para a Terra e que são comuns em outros planetas? – pergunta J.

— Quem sabe? É possível. – diz P.

— E os centauros e sátiros? Seriam eles oriundos do cruzamento entre humanos e animais – se é que isso é possível – ou eram seres de outros planetas? – pergunta J.

— Quem sabe? Isso também é bastante possível. – diz P.

— Achei que você pudesse saber. Afinal, está aqui há bem mais tempo do que eu. Já deve ter visto muita coisa.

— Não o suficiente.

— Sei.

— O valor da imagem é mais artístico do que documental, diferentemente das fotografias ali na ala 7B. Aqui, o importante é o que a imagem evoca. As várias cabeças observando Z e B são também metáforas sobre tantos seres ocultos pelo Cosmos que podem estar nos observando neste exato momento.

J levanta as sobrancelhas.

P vira-se para ele.

— Desconcertante, não? – pergunta P.

— É. Um pouco.

— Café?

— Não, obrigado. Acabei de fazer um lanche.

— Ah, sim.

J passa a prestar mais atenção na música-ambiente que toca no Salão.

— Gosta de óperas? – pergunta retoricamente J a P.

— Sim. Tanto as da Terra quanto as de Titus.

— Como é?

— A ópera que você ouve agora é uma produção de outra raça. Sinfonia n° 386, de Klwatoo.

— Surpreendente. Bem que estranhei os pequenos grunhidos.

— No incidente em questão, em que Z e B enfrentavam esta criatura, semelhante ao monstro chamado Hidra na Mitologia Grega, adivinha como tentaram abatê-lo.

— Atirando em suas cabeças. – riu-se J.

— Exato. Mas elas sempre cresciam novamente.

— Conheço um cara assim. – diz J, lembrando-se do comerciante e também contrabandista Jeebs.

— Então, atiraram no tronco da criatura. Surpreendentemente, ele também se reconstituiu.

— Que coisa!

— Então, Z teve uma brilhante ideia. Atirou nos olhos de uma das cabeças, com um projetor de feixes. Uma arma muito boa para pequenos alvos. Ao ficar cega, a criatura entrou em estado de desespero, vindo a perder o fôlego e debater-se, até cair ao chão. Isso pareceu perturbar as outras cabeças, que demonstraram um semblante de fraqueza. Z pediu para B atirar em cada um dos olhos das ouras cabeças. Ao concluir o serviço, a criatura caiu completamente ao chão, abatida.

J olha para P, impressionado.

— É como se a criatura fosse biologicamente imortal. Mas a perda de um dos sentidos a fez perder suas funções vitais. O desespero da cegueira a levou à morte, e não os tiros em si. Absurdamente curioso, não? - comenta P.

— De fato.

— Recorda-se de ter sentido medo do escuro, na infância, agente J?

— Sim. Durante um tempo.

— Imagine a ideia de uma escuridão absoluta e eterna. E daí entenderá a angústia do cego. Imagine uma raça de seres vivos psicologicamente despreparada para a cegueira, e aí você terá essa Hidra.

J suspira, impressionado.

— Entendo. – depois volta-se para P. – Escuta, mudando um pouco de assunto, você tem algum tipo de ressentimento pelo agente B, se é que posso perguntar isso?

— Pelo modo como falou com minha avó? – pergunta P.

— Sim.

P sorri.

— Então, meu pai lhe contou. Bem, sinto um misto de compreensão e raiva.

— Sei.

— Mas se permitisse que minha alma sucumbisse ao ódio, ela seria tão negra quanto o terno que visto.

— Profundo.

— Chega de escuridão! Sobretudo a escuridão da ignorância. Que contemplemos apenas a escuridão do céu noturno, cujas estrelas são pontinhos brancos que filtram a nós a luz de lugares mais elevados que o nosso! A grande peneira existencial terrestre, sob cuja cúpula vive o homem!

J fita P nos olhos.

— Também já pensou em ser poeta?

— As molduras com textos logo ali também são minhas. – responde P.

— É claro. – diz J.

— Não se olha mais para o céu noturno da mesma forma, quando você tem uma remota ideia do que há para além dele.

— Você chama todo conhecimento que os Homens de Preto possuem sobre a vida extraterrestre de “remota”?

— Com toda certeza, agente J.

L aparece na entrada do Salão, dando pequenas batidas com a mão na porta.

— J. Precisamos ir para aquela missão.

J vira-se para ela.

— Ah, é claro, L.

Ele cumprimenta P, apertando suas mãos.

— Foi uma conversa interessante, mas o dever chama. Quando eu tiver um tempo, vou exercitar mais essa parada de contemplação. – diz J.

— A contemplação nada mais é do que a conclusão que sintetizamos de nossas experiências, bem como a pureza do olhar predisposto a novas experiências a serem vividas. – divaga P.

— É claro. Vou lembrar. – diz J.

J e P, durante este diálogo, estavam de frente a uma parede que contém uma série de quadros com representações de missões de campo de antigos agentes. No corredor mais à frente, há o Mural de Retratos, com retratos pintados de seres de variadas raças. No corredor ao lado, há afrescos com cenas fictícias envolvendo a relação entre seres terrestres e extraterrestres. Ali também há esculturas de mármore representando apenas indivíduos de raças de planetas que mantém pactos e acordos com a Terra.

Numa porta que fica ao centro de um corredor que tem uma série de bustos de ex-agentes, que fica num cômodo perpendicular aos corredores anteriormente citados, fica a entrada para o Museu Intergaláctico, um lugar transformador, cujo curador é o próprio P.

Diferentemente do Centro de Artes Secretas, onde fica o Salão Memorial, que contém apenas obras feitas por humanos – obviamente, leia-se Homens de Preto - lá, no Musel Intergaláctico, encontram-se coletas de peças artísticas de autoria de outras raças, como pinturas e escuturas. Além disso, há as alas de documentos de acordos intergalácticos, amostras de objetos, artefatos e pedaços do solo destes planetas, etc. De tudo um pouco.

No Salão de Belas Artes do Museu, encontram-se algumas réplicas, uns poucos originais, e até mesmo esculturas que foram presentes de outras raças aos humanos. Uma delas, uma dama reptiliana segurando uma tocha, que carrega uma hilária similaridade com a Estátua da Liberdade.

— Nesta semana, encomendei réplicas de peças que retratam a Revolução Krinelliana. Acho que gostaria de conferir, agente L. Ah, e também peças abstratas do Período Médio da Era Neoclássica Trivoniana. – diz P a L.

— Jura? Farei questão de conferir! Principalmente as desconstruções anatômicas de Blich ILX XxxLm – responde L.

— Teremos três peças inéditas dele. – responde P, entusiasmado.

— Fascinante! – diz L.

J olha para L, surpreso.

— Podem voltar a falar inglês, por gentileza? – ironiza J.

— Tudo bem, agente J. L é uma das frequentadoras mais assíduas do Museu.

J arregala os olhos para L.

— Não sabia que vinha tanto assim aqui.

— Quando fico com insônia, peço goles de café das Minhocas e venho aqui, respirar novos ares de contemplação. Após ouvir as Nuances de Vek Ur Mir, sinto uma paz indescritível. – responde L.

— Sei. “Nuances”? – surpreende-se J.

— É um gênero musical trivoniano. – explica P.

— Ok. Agora sou eu que quero dar logo o fora daqui. É coisa demais pra cabeça de um homem. Vamos, L. – diz J.

J pega na mão de L enquanto sai da sala. Algo que ele nunca fizera antes.

— Tchau, agente P. – saúda J.

— Até mais, P. – saúda L.

P vira-se para um de seus quadros novamente. Porém, agora, com olhares ao infinito, não parecendo mais estar prestando atenção às peças.

— Estava demorando para um casal de agentes quebrar os protocolos celibatários da organização. – diz baixinho P, para si mesmo.


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