MIB - Homens de Preto: A Síndrome da Nação Humana escrita por Agente F
São perto das 19:00. O atendente de uma loja de conveniências está ansioso pela chegada de alguém. Enquanto isso, ele fica olhando diretamente para um certo corredor de sua loja, o que contém caixas de leite.
Um carro preto estaciona em frente ao estabelecimento. O homem vira-se para olhar para fora. Em seguida, espreme os olhos, como que querendo enxergar melhor.
Um homem negro e uma mulher branca de cabelos pretos, usando ternos pretos e óculos escuros, saem do carro e entram no estabelecimento. São J e L.
— Boa noite. – dizem J e L.
— Boa noite. – responde o homem.
— Eu sou o agente Jones, essa é a agente Loris. – diz J, alterando seus nomes, para fins de disfarce, como de praxe.
L lança um olhar de desagrado para J. “Que diabos de nome era aquele? Loris?!”
J percebe o olhar recriminador dela.
— Mas pode chamá-la de... agente... Elle. – corrige-se J, enquanto volta a olhar para o homem.
L faz uma expressão de satisfação. Elle é um nome que possui a mesma pronúncia que a letra inicial de seu nome, por extenso. Isso evitaria eventuais confusões, caso ele precisasse chamá-la, e, por ventura, esquecesse o nome falso que a deu.
— Vocês são os agentes que vieram investigar o estranho desaparecimento das caixas de leite da minha loja? – pergunta o homem.
— Isso mesmo. – diz J.
— Que bom que chegaram! – diz o homem, entusiasmado.
— Então, você mesmo é Wallace, gerente daqui. – conclui J.
— Sim, sou eu mesmo.
— Você diz que o incidente costuma acontecer todo dia sempre no mesmo horário? – pergunta J.
O homem agora sai de detrás da bancada para se dirigir até eles.
— Isso mesmo. Sempre por volta das 20:00. – responde o homem.
— E a que horas o estabelecimento costuma fechar? – pergunta L.
— 21:30.
J e L se entreolham.
Pelas análises de Zed repassadas a eles, já sabiam tratar-se de um alienígena que tinha o poder de camuflagem. Não era que a caixa de leite desaparecesse exatamente, e sim os membros da criatura que apanhavam o material e que, ao se camuflar no ambiente, faziam com que o mesmo ficasse invisível às vistas humanas.
Tudo indicava que o elemento escolhia esse horário perto do fim do funcionamento do estabelecimento, para que nada ficasse tão evidente. Furtando uma unidade por dia, poderia achar que a falta demoraria para ser percebida. E, de fato, foi. Apenas depois de um mês verificando o estoque, o gerente se deu conta de que havia algo errado com o número de unidades. A partir de então, começou a prestar atenção aos monitores das câmeras de segurança para verificar algum incidente. E aí, descobriu aquilo, o que era totalmente incomum.
— Pode retornar ao seu posto, senhor, enquanto checamos o local. Finja que somos clientes comuns. – recomenda L ao homem.
— Está bem.
J e L começam a disfarçar uma circulada pelo local, como se fossem clientes comuns fazendo compras. Ela apanha uma cesta e começa a colocar produtos dentro.
L olha para J.
— A criatura já deve até estar por aqui, sem que saibamos. – sussurra L a J.
— Verdade.
J começa a pegar produtos de estantes seguidas uma da outra, aleatoriamente, e as coloca na cesta.
— Quer fazer isso direito? Temos que seguir um padrão de compra. – diz L. - Caso o bicho já esteja por aqui, não podemos deixar que pense que viemos investigar alguma coisa.
— Beleza. Eu vou até os materiais de higiene, e você fica aqui na área de alimentos. – sugere J.
J vai até a área, fica algum tempo observando alguns produtos, pega alguns e depois volta para L. No caminho, percebe que há um extintor de incêndio na parede ao fundo, perto da área restrita a funcionários.
— Podemos usar o extintor contra a criatura quando ela estiver cometendo o roubo. – sussurra J a L.
L olha para os materiais que J apanhou.
— Ou... simplesmente usar o desodorante! Assim o bicho não vai suspeitar de nada. Por que um cliente pegaria um extintor? Além disso, demoraria muito ir até ele, pegar e usá-lo. Pode não dar tempo de apanharmos o ladrãozinho. – diz L.
— Tem razão. – diz J.
J olha para os lados. Outros clientes chegam ao local. Ele volta-se para L e tenta disfarçar, iniciando uma conversa qualquer, para passar o tempo.
— Então, que tal um joguinho? Eu gosto de chamar de “MIBecedário”. – diz J.
L franze a testa.
— “MIB” com “Abecedário”!? – exclama L.
É um jogo em que eles lançam mão dos dedos para definirem uma letra, contando-os em ordem alfabética, tal qual um jogo de abecedário. Porém, a letra que der como resultado, neste caso, faz referência a algum dos 26 agentes de campo da MIB, dos quais eles mesmos fazem parte, cada um identificado com uma letra, a inicial de seu nome. L precisa adivinhar justamente qual o primeiro nome de cada agente, a partir de sua inicial.
O resultado dá U.
— Ahm... Ulysses? – aposta L.
— Não. Três tentativas. – responde J.
— U... Peraí, é homem ou mulher?
J ri.
— O agente U é um homem! Não se lembra de seus colegas? – diz J.
— Não de todos.
— Continue.
— U.... Ulbrich?
— Isso seria um sobrenome.
— Ai, essa é uma letra muito difícil!
— Tá bom. Vamos de novo.
O resultado agora dá S.
— Aha! “Sandra”!
— Acertou. Ah, então das mulheres você sabe, né? Vocês, por acaso, ficam tendo conversinhas de mulher, nos tempos livres, pela agência?
— Às vezes. – responde L, com um sorrisinho.
Eles fazem outra partida. Dá a letra P.
— Mas que coincidência! – diz J. – Esse nem mesmo eu sei.
— “Peter”. – diz L.
— Sério? Como sabia o nome do P? Ah é, lembrei, vocês são coleguinhas que discutem arte.
— Peter é um homem incrível.
J levanta uma das sobrancelhas para L.
— Assim vou ficar com ciúmes.
L gargalha.
— Ah, cala a boca, J! - diz L, com uma acidez fraternal.
Após um tempo passeando ao redor das prateleiras da loja, J ofega.
— Quer saber? Acho que nem deveríamos ter entrado, pra início de conversa. – considera J.
— Por quê? – pergunta L.
— Por que uma dupla, digo, um casal de pessoas de ternos escuros iria a uma loja de conveniência a uma hora dessas? O ladrão vai desconfiar que somos agentes. Nós deveríamos ter ficado lá fora esperando no carro até a devida hora em que o incidente acontece.
— Tem razão. Mas agora é tarde demais. Preste atenção ao redor.
J olha ao redor, como quem não quer nada. L percebe que é melhor tirar seus óculos escuros. Se é incomum pessoas vestidas com aquele traje formal – que poderia até se passar por um traje de gala – naquele ambiente àquela hora da noite, imagina ainda com o uso de óculos escuros em plena noite. Claro que ambos sabem que, nesse tipo de ocasião, os óculos escuros são essenciais para que possam vasculhar o local com o olhar, sem serem percebidos. Porém, é melhor que apenas um deles estivesse usando-o, para não proporcionar nenhuma margem de sugestão de que são uma dupla de agentes.
J e L vão para o canto oposto ao da prateleira que contém as caixas de leite. Eles fingem apanhar salgadinhos.
— Acho que vou levar esse de verdade. Já experimentou? – pergunta J a L.
— Ainda não. – responde L.
J vira-se para olhar para as telas que reproduzem as gravações das câmeras de segurança, que ficam logo atrás do balcão, em que o gerente, também balconista, está.
— Acho melhor eu ir até a área de revistas. Vou ficar de olho nos monitores. – sugere J.
— Boa ideia. Assim que você vir o incidente, me manda um sinal. Tenho que ficar olhando diretamente para os produtos.
— Qual sinal?
— Bem, deixe-me ver... Manda um bip pro meu transmissor.
— Beleza.
L retira do bolso um espelhinho para fingir se olhar, apontando-o na direção oposta ao da saída da loja. Sim, J tem uma parceira mais sagaz do que ele poderia imaginar. Ela o fez porque percebeu que o primeiro cliente da loja desde que eles chegaram estava prestes a sair.
No momento em que ele abre a porta, L vê que a porta parece ter encostado levemente em algo, ao retornar após o homem ter aberto a mesma. Opa! Parece que ela conseguiu captar o exato momento em que a criatura entrou na loja. Como Zed já havia orientado-os, tratava-se de uma criatura não com poder de invisibilidade, mas de camuflagem. E ela precisaria, portanto, passar pela porta para entrar na loja.
Isso aconteceu em questão de segundos. Enquanto J ainda está dirigindo-se para a bancada de revistas e livros, ele é interrompido por mais uma chamada de L.
— O que foi? – pergunta J a L.
— Finja-se de cego.
— O quê?
J achega-se para L.
— Isso mesmo o que ouviu. Finja-se de cego! – diz L, incisivamente. – Nenhum cliente reparou direito em nós mesmo, então não vão estranhar.
— Pra quê?
— Pra disfarçar o uso do óculos.
— E o que um cego faria folheando revistas?
— Há um livro de braile ali naquela prateleira, ao lado das revistas de caça-palavras. Notei logo que cheguei.
— Ah! Boa garota. Mas, peraí, já estamos aqui há algum tempo. Se a criatura já estiver por aqui e estiver prestando atenção ao perímetro, vai perceber que eu mudei de comportamento.
— Não, ela entrou agora.
J franze a testa.
L apenas assente positivamente com a cabeça, insistindo que ele acredite no que acabou de dizer e siga com o plano.
J vira-se e continua.
L sorri. Parece que alguém soube vasculhar o local com o olhar muito bem desde que chegaram. Nesse sentido, L sempre complementou J. Enquanto ele sempre foi um ás nos momentos de perseguição e uso de força física, além de saber preencher os momentos de descontração cotidianos, L sempre foi do tipo mais observadora e sagaz. Além disso, ela sempre teve uma mira melhor que a dele, apesar de ele nunca ser capaz de admitir isso.
Enfim, J pega uma bengala que estava numa prateleira próxima. “Eu nem sabia que se vendia esse tipo de coisa numa loja de conveniência.” – pensou. Em seguida, caminha com ela até perto do balcão, onde fica a ala de revistas. Ele avista o livro do qual L lhe falara. Ele o apanha e fica folheando-o, com a cabeça levemente erguida, exatamente como um cego faria, e não com o seu ponto de visão diretamente voltado para o livro. Isso até facilita para que ele, com o canto do olho, sob os óculos, possa fitar o monitor referente ao corredor em questão.
O gerente olha para ele, estranhando-o. Percebendo isso, J olha para os lados apenas usando a pupila, e, em seguida, abaixa levemente os óculos em seu rosto, dando uma piscada para ele. Ele entende. O gerente volta a prestar atenção em seus serviços.
Nada de aparecer a criatura ainda. Ou melhor, de desaparecer uma caixa de leite. J fica atento.
O horário está se aproximando.
L fica com o desodorante em mãos.
Enquanto está esperando o bip do transmissor tocar a qualquer momento, L começa a suar. De repente, algo absolutamente inconveniente e surpreendente acontece. Uma das clientes da loja que estava próxima de L, reconhece-a e vai até ela. Trata-se, coincidentemente, da prima de L.
— Laurel?
L franze a testa e vira-se.
— Darla? – surpreende-se L.
— O que está fazendo por aqui? Não havia se mudado para o Egito?
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