O Sol e A Lua escrita por Luana de Mello


Capítulo 16
Exercício de Paciência




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Correr para Naruto era extremamente fácil, mesmo estando de baixo de uma chuva torrencial como aquela, e mesmo carregando Hinata, sua velocidade natural não decaia em nada, era como se não estivesse carregando peso algum; apesar de que com a amiga adormecida nos braços, ele tinha que tomar um pouco mais de cuidado. Quando entrou na floresta, sabia que em menos de cinco minutos chegaria em casa, e naquela hora o tempo contava muito, afinal Hinata dava os primeiros sinais de que ficaria resfriada; não que ela tivesse a saúde fraca, mas as emoções e o estresse dos últimos dias haviam a esgotado de tal forma, que nem seus anticorpos estavam resistindo mais. Assim quando avistou a porta da cabana aberta, Naruto suspirou aliviado, correu com ela para dentro e nem ligou se deixaria o chão ensopado, depois daria um jeito naquilo; ele foi direto ao banheiro, graças aos cuidados maternais de Kurenai, eles sempre souberam o que fazer em situações como aquela, pensando nisso o Uzumaki colocou a banheira para encher com a água na temperatura mais quente que o corpo humano suportaria. Não se preocupou muito pelo motivo da porta estar aberta, sabia que seus amigos os aguardavam em casa e conseguia distinguir claramente o chakra de Shikamaru, e na atual situação não precisava nem se virar para saber que o amigo estava logo às suas costas.

— Shikamaru, chama a Ino pra mim! — Naruto pede afobado e já colocava Hinata na banheira.

— A Ino não está, ela Neji, Chouji e Sai foram avisar os outros pra não virem hoje. — o Nara conta preocupado e Naruto olha pra ele aflito — Desculpa, achamos que vocês iam demorar e pensamos que não seria bom fazer a reunião hoje.

— Tá então chama a Tenten. — Naruto pede como última opção.

— Não dá cara, ela e o Lee ainda nem chegaram. — Shikamaru explica ficando mais nervoso, começava a entender por que o amigo precisava das garotas.

— Está me dizendo que não tem nenhuma menina aqui?! — Naruto grita sem perceber, agora completamente em pânico — O que eu vou fazer Shikamaru?! Hinata não pode ficar com essas roupas molhadas, ela pode pegar uma pneumonia.

— Faz isso você, vocês não tomavam banho juntos quando crianças? Não deve ser muito diferente agora. — o Nara fala, mas nem ele estava muito convencido.

— Você só pode estar me zoando né?! — Naruto rebate sarcástico e fixa seus olhos azuis em Hinata quase toda submersa na banheira — Cara o Neji vai me matar, mas é melhor que deixar ela ficar doente né?

Incerto do que fazer e cada vez mais nervoso, Naruto se coloca a pensar em uma forma de contornar a situação, não podia pedir ao Shikamaru que fizesse isso, essa possibilidade o garoto nem cogitou, a outra opção seria retirar aquelas roupas dela com os olhos fechados, mais ele também corria o risco de por a mão onde não devia, outra opção era fazer um clone para fazer a tarefa, mas aí ele também veria o que o clone viu, já que suas emoções e lembranças eram compartilhadas; sua única e mais segura saída era retirar apenas um pouco de roupa e deixar Hinata com sua roupa íntima, isso seria o mais correto e menos arriscado para a amiga, e durante isso ele poderia tentar acordá-la e deixar que ela fizesse o resto. Era isso, Naruto pensou, o mais seguro e correto, afinal já vira as roupas íntimas de Hinata diversas vezes quando estendia ou lavava as roupas deles, até mesmo na hora de dobrar e guardar as roupas; pra ele isso não seria problema, só esperava que a garota não ficasse brava depois.

— Tá certo, vou fazer isso dattebayo! — o Uzumaki fala tentando se acalmar — Shikamaru vaza daqui e fecha a porta, me avisa se uma das meninas voltar.

— Você quem manda chefe. — o Nara debocha e antes de sair do banheiro dá uma última olhada em Naruto, que tremia como vara verde.

Sentindo seu corpo todo tremer, Naruto se ajoelha ao lado da banheira, respirou fundo duas vezes e antes de começar decidiu fazer um clone, que gritou espantado quando soube o que seu criador faria a seguir; o garoto deixou o clone segurando a cabeça de Hinata, para que não afundasse na água, que já estava até a borda da banheira a essa altura. Com mãos trêmulas e um coração que sairia galopando pela casa, ele começou a retirar as roupas da amiga, primeiro o casaco que ela vestira antes de sair de casa, depois desamarrou a faixa que ala usava na perna direita para logo retirar a calça, e por último a blusa; durante o processo o Uzumaki tentava pensar que estava tudo bem, que só estava cuidando da sua amiga e a todo momento tentava acordá-la, mas no fim ela permaneceu dormindo, seu corpo estava muito fraco e pelo que Naruto vira, ela estava com uma febre um pouco alta.

Ele trocou a água da banheira que começava a esfriar por causa das roupas molhadas e a encheu novamente, manteve um pequeno chuveiro ligado sob o corpo da garota para mantê-la aquecida, o clone tratou de lavar-lhe os cabelos, enquanto que o Uzumaki tratava de lavar seu corpo como podia naquela situação. Agora que já estava mais acostumado com a visão de Hinata seminua, conseguia se concentrar melhor em sua tarefa, mas num primeiro momento não foi nada fácil; Naruto sabia, pelas explicações e ensinamentos que Kurenai lhe dera tempos atrás, como o corpo feminino era diferente do masculino, sabia também que Hinata já havia começado a sofrer as diversas mudanças que aos poucos a tornariam uma mulher adulta, mas não imaginava que essas mudanças já estavam tão visíveis assim. Sentiu-se envergonhado por ser tão consciente desses detalhes e até um pouco pervertido, como Kakashi-sensei, que vivia lendo aqueles livros para adultos, mas não tinha muito o que fazer, só esperava não ficar muito envergonhado quando olhasse para Hinata nos próximos dias.

Quando conseguiu terminar, Naruto a retirou da água e vestiu nela o seu roupão, que sempre ficava no banheiro; não sabia se tinha feito um bom trabalho, mas também não podia deixá-la muito tempo na água, ou sua febre pioraria. Com Hinata nos braços novamente, Naruto se dirigiu para o quarto, ao passar pela sala viu que Shikamaru tinha fechado a porta e feito um fogo na lareira, e agradeceu muito por isso; o Uzumaki colocou a garota sob a cama e passou a secar minuciosamente seus cabelos negros, e enquanto fazia isso, se deu conta de que de nada adiantaria dar o banho quente e mantê-la aquecida, se a amiga permanecesse com as roupas íntimas molhadas. Conformado de que nunca mais poderia olhar Hinata nos olhos novamente, Naruto deu seu maior suspiro da noite, usou o roupão da garota para cobri-la bem, enquanto desajeitadamente tirava suas roupas íntimas; a parte mais complicada foi retirar o top que ela usava sem desnudar seu busto, pensando nisso ele achou uma tesoura e cortou sem dó a peça de roupa, depois compraria outro pra ela, só não podia abrir seu roupão e daquela forma poderia apenas puxar a peça por uma das alças. Com Hinata finalmente seca e envolta em grossas cobertas, Naruto saiu do quarto e deixou a porta entre aberta, para que ouvisse caso ela acordasse, ao se dirigir para a cozinha na intenção de fazer uma sopa bem quente para ela, viu que os amigos já haviam voltado e Kurenai acabava de entrar pela porta; mas o mais preocupante de tudo era a carranca amedrontadora de Neji.

— Naruto! O que pensa que está fazendo?! — o Hyuuga grita e se interpõem em seu caminho.

— Ah não me venha com sermão agora Hyuuga, não estou nem um pouco disposto a te ouvir. — o Uzumaki retruca e empurra o amigo para o lado para passar, sem nenhuma cerimônia.

— Não me venha com essa, que história é essa de dar banho na nee-chan?! Quem te deu essa liberdade?! — Neji grita ensandecido e é segurado por Lee e Tenten ao mesmo tempo que agarra o braço de Naruto.

Shikamaru, Chouji, Ino, Sai e Kurenai se prontificam, pressentindo o perigo daquela imprudência que Neji estava cometendo; eles sabiam instintivamente que provocar o jovem Uzumaki em uma situação delicada daquelas, era pedir pra ver um lado do garoto que somente os Nukenins mortos viram.

— Ah cala essa boca Neji, seu moleque estúpido! — Naruto esbraveja muitíssimo irritado, todo o estresse que a provocação do Uchiha causara mais cedo estava vindo a tona agora — Quem você acha que eu sou?! Vê se cresce cara, eu não deixaria Hinata ficar molhada e congelando como estava só pra agradar essa tua cabeça retrógrada, não me venha com esse moralismo podre daquela merda de clã e mais, eu já vi Hinata sem roupas mais vezes do que posso contar, não se esqueça que foi comigo que ela cresceu! Mas só pra você saber, não tirei todas as roupas dela, eu sei qual o meu limite Neji e jamais faria algo que a desrespeitasse ou deixasse constrangida, então faça o favor de guardar essa tua irritação descabida e me soltar, que eu tenho que fazer uma sopa ainda!

Neji fica tão perplexo com os xingamentos de Naruto, que o solta sem nem ver o que fazia, Lee e Tenten ficaram chocados com as afirmações feitas pelo garoto, tinha partes da história dos dois que eles ainda não conheciam, já Shikamaru, Sai, Ino e Chouji ficaram extremamente felizes que o Uzumaki estivesse preocupado com a Hyuuga, ou não sabiam o que seria de Neji, afinal mesmo durante aquela pequena discussão, os olhos do garoto lampejaram vermelhos como sangue e uma opressão quase assassina emanava dele; a única que sorria abertamente era Kurenai, ela que vira os dois crescendo de perto, agora via seu querido aluno se transformando em um homem num piscar de olhos, Naruto crescera tanto nos últimos anos que era quase surreal de se ver, aquele pequeno bebê amedrontado e machucado que ela encontrara naquela casa anos atrás, agora estava diante dela totalmente amadurecido, era forte, determinado e tinha um senso de responsabilidade sem igual, e para ela era seu maior motivo de orgulho.

— Naruto, quer dizer que Hinata ainda veste peças molhadas? — Kurenai questiona com calma, o vendo separar os ingredientes pra sopa.

— Não, eu tirei o resto usando o roupão, mas se você puder vestir roupas quentes nela, eu agradeço Kurenai-sensei. — ele responde fazendo o possível para recuperar seu autocontrole.

— Claro, vou fazer isso agora mesmo. — a mulher responde sorrindo largo para seu pupilo.

Quando ela deixa a sala, um clima um pouco tenso fica no ar, quem assistiu a discussão não sabe o que fazer para tudo voltar ao normal, Neji por outro lado começava a se dar conta do quão infantil suas atitudes foram, ele conhecia Naruto fazia anos, sabia no fundo do seu ser que o Uzumaki não era o tipo de rapaz que deveria se preocupar, e mesmo que fosse superprotetor com a prima, a maioria das vezes era só pra implicar com Naruto por pura pirraça e ciúmes; mas dessa vez até ele reconhecia que tinha passado dos limites e se envergonhava de sua atitude.

— Ino, o que o vovô e os outros disseram? — Naruto questiona e vai cortando algumas batatas.

— Eles virão igual, ficaram preocupados e querem checar se está tudo bem. — a Yamanaka responde agradecida por uma conversa normal.

— Desculpe por preocupar vocês, eu apenas queria por as ideias em ordem. — Naruto pede sincero, lembrando o que os levara àquela situação.

— Esquece isso cara, qualquer um ficaria perturbado depois de ouvir uma provocação logo após beijar por acidente a garota que você gosta. — Shikamaru afirma sem o menor tato.

— D-d-d-do que tá falando Shikamaru! Quem gosta de quem? Ai! — o Uzumaki retruca nervoso e por consequência disso acaba cortando um dedo.

— Você é apaixonado pela Hinata-chan. — Sai deixa mais clara ainda a afirmação anterior.

— Não precisa ficar nervoso Naruto, todo mundo já sabia. — Ino debocha para desespero de Naruto.

— É, relaxa aí cara, não tinha como a gente não descobrir, você é todo Hime isso, Hime aquilo. — Chouji entra no embalo e faz todos gargalharem — Embora quem descobriu e contou pra todo mundo foi o Shikamaru.

— Até você Chouji? E você Nara desgraçado, então é isso que fala pelas minhas costas? Sua velha fofoqueira! — Naruto reclama completamente vermelho e as gargalhadas aumentam.

— Não me culpe, você que não sabe esconder nada, seu idiota. — Shikamaru se defende.

— É... eu também me esqueci disso... então me desculpe também Naruto, por ser um babaca e não confiar no meu amigo, sei bem que se não fosse você e Kurenai-san, a nee-chan ainda estaria sofrendo nas mãos do meu tio. — Neji pede de joelhos e totalmente desconcertado.

— Esquece isso Neji, agora eu só quero me preocupar com a saúde da Hina e com o que vou fazer com aquele merda do Uchiha. — Naruto responde e já se irrita de novo.

— Ah você tem que se preocupar também com o que vai dizer pra Hinata. — Tenten fala pra distrair o garoto, e funciona perfeitamente — Veja bem, nós entendemos que o que fez foi por pura necessidade e que você agiu super bem, mas não vai ser fácil contar isso pra ela, ainda mais que a Hina é super envergonhada, é capaz dela nunca mais sair do quarto ou fugir pras montanhas.

Bastou isso pra fazer as pernas do Uzumaki ficarem bambas, ele sentiu o coração parar e um suor frio escorrer pelas costas, os sete amigos que olhavam para ele viram com espanto Naruto ficar pálido numa rapidez absurda, como se já fosse morrer ali; o pânico do garoto era tanto diante aquela possibilidade, que ele chegou até a hiperventilar. Para eles era muito engraçado de ver isso, todos ali sabiam como Naruto era forte e um ninja incrivelmente temido no mundo Shinobi, mas ali estava ele, assustado e quase em desespero por uma simples afirmação.

— Você é má Tenten, fique calmo Naruto, a Hinata não faria isso com você. — Lee tenta acalmar o Uzumaki, mas sem sucesso.

— Olha só Naruto, a gente não precisa contar pra ela, pode ser um segredo só nosso, a gente fala pra Hina que fomos eu e a Tenten que fizemos tudo, que acha disso? — Ino sugere antes que Naruto desmaiasse ali.

— Sério? Podemos mesmo, Ino? — o garoto pergunta, se agarrando aquilo como se fosse uma tábua de salvação.

— Claro que sim, todos aqui concordam né pessoal?! — a Yamanaka afirma, para alívio de Naruto, que agora consegue se concentrar novamente na sopa.

Os próximos minutos passaram com todos ajudando em alguma coisa, e quando Kurenai voltou a sala, encontrou um clima bem mais leve e descontraído e teve certeza que tudo tinha voltado ao normal; ela então assumiu a função de terminar a sopa e ordenou que Naruto também fosse tomar um banho quente, e quando ele se negou e disse que Kurama já o tinha secado, a mulher praticamente jogou o pupilo no banheiro, e para evitar a fúria feminina, que Naruto aprendera mais cedo que qualquer um, que podia ser mil vezes pior que uma Bijuu, ele acatou sem muita chance de recusa. Depois do banho tomado e de vestir roupas quentes, ele voltou a sala, onde já se encontravam os demais senseis e o vovô, junto de Hanabi e Konohamaru, que mantinham inquietos e emburrados no sofá da sala. Todos o analisavam com semblantes preocupados e só relaxaram quando o Uzumaki deu um leve sorriso, vendo que estava tudo aparentemente bem com Naruto, os olhos dos adultos vagaram pela casa, e o garoto sabia quem buscavam e logo entendeu que ninguém tinha explicado nada aos recém chegados ainda.

— A sopa da Hina está pronta, sensei? — ele questiona para deixar implícito o que ocorrera, sem ter que entrar em maiores detalhes, não queria contar sobre o beijo acidental e o que veio depois.

— Está sim, você vai tentar dar a ela agora? — Kurenai pergunta e recebe uma afirmativa — Você pode dar a ela um antitérmico depois que ela se alimentar?

— Claro, pode deixar que faço isso. — Naruto afirma e se volta para o Hokage — Vovô, eu só preciso cuidar da Hina um pouco, já volto pra explicar o que foi decidido ontem a noite.

— Não estamos com pressa, faça o que tem que fazer. — Hiruzen responde compreensivo.

Todos ali sabiam que quando o assunto era Hinata, Naruto a colocaria como prioridade, não era assunto discutível; com a preocupação atordoando seus pensamentos, o garoto entra no quarto carregando uma bandeja com a sopa quentinha e a cartela de remédios. Encontra a Hyuuga da mesma forma que deixara, embolada nas cobertas, a única diferença é que agora tinha uma toalha úmida em sua testa, que com certeza fora colocada ali por Kurenai, enquanto ele estivera tomando banho; Naruto repousa a bandeja no criado mudo e verifica a temperatura da garota, que se mantinha alta mesmo com a toalha sob a testa, as suas bochechas estavam vermelhíssimas e a respiração era curta e ligeira, como se não houvesse ar suficiente para seus pulmões.

— Hina? — Naruto chama baixinho, sentia um aperto no coração por vê-la daquela forma — Ei Hina, acorda só um pouquinho, vamos é só um pouco, prometo que te deixo dormir depois.

Ele fica a chamando por mais uns minutos, até que Hinata desperta lentamente, os olhos de lua lacrimosos e avermelhados pela febre, as sobrancelhas finas vincadas na testa por conta do dolorido que sentia por todo o corpo, além da garganta que arranhava e ardia como o inferno; auxiliada por Naruto, a Hyuuga sentou-se na cama, ficou desnorteada e confusa, sem se lembrar ao certo como fora parar ali, a única coisa que se lembrava era de estar na chuva brigando com Naruto.

— Hina, preciso que você coma um pouquinho, pra poder te dar o antitérmico. — ele fala com a voz mansa.

— N... — Hinata tenta falar, mas a voz quebra na primeira tentativa — Não tenho fome.

— Você precisa comer pelo menos um pouco, é sopa de batatinhas que você gosta. — Naruto incentiva e leva uma colherada a boca dela — Por favor Hime, se não comer não vai ficar curada.

— Mas está doendo, Naruto. — Hinata protesta depois de comer a primeira colherada.

— Eu sei Hina, mas prometo que vai passar, vou fazer passar está bem? Agora coma mais um pouquinho. — Naruto pede e continua a fazer Hinata engolir a sopa.

Eles ficam bons minutos assim, o Uzumaki a alimentando e consolando, enquanto a Hyuuga tentava evitar a comida e protestava de dor e desconforto, a medida que os minutos iam passando, Hinata ia ficando mais desperta e mais lembranças povoavam seus pensamentos; fleches de sua conversa com Naruto no monumento Hokage, o medo que sentiu ao pensar que a Akatsuki o tinha capturado, a emoção desconhecida e o frio na barriga que sentiu ao ser beijada acidentalmente por ele. Todas essas coisas reverberavam pela cabeça da Hyuuga e por fim uma lembrança mais inquietante, ela se lembra de adormecer nos braços de Naruto, logo após confessar pra ele o quanto era especial em seu jovem coração, e depois disso não tinha mais nada, apenas sonhos confusos e distorcidos; mas quando se analisa bem, Hinata percebe que estava limpa e com seu pijama de dormir, além de sentir o aroma do seu shampoo nos cabelos, sinal de que foram lavados.

— Naruto, quem me trocou? — Hinata pergunta depois de engolir sofridamente a última colherada de sopa.

— Bem Hina... — ele começa sem jeito, sentia o rosto ruborizando e não conseguia encarar a amiga nos olhos, sem falar nas mãos trêmulas ao destacar o comprimido da cartela para dar a ela — Sabe, você pegou muita chuva e eu vi que já estava começando a ter febre e seus dedos estavam roxos, as meninas não estavam, então eu acabei te dando um banho quente.

Nesse momento, todas as variações de vermelho passam pelo rosto de Hinata, ela sente-se encolhendo e ficando minúscula naquela cama e seus olhos vagueiam pelo quarto buscando um lugar para se esconder, sem conseguir refrear seus atos, a garota levanta as mãos para cobrir o rosto; quando ela faz isso, Naruto também se sente de certa forma protegido, era uma situação complicada e delicada a que se metera, mas ele não suportou a ideia de mentir para a amiga, mesmo que dizer a verdade significasse ficar pisando em ovos por um bom tempo.

— Hina, não precisa ficar preocupada, eu não tirei tudo, sabe? — ele conta nervoso, explicar tudo era tão embaraçoso, mas tinha que fazer isso, mesmo que de cabeça baixa — Depois quem te vestiu foi a Kurenai-sensei, os outros chegaram logo depois que te coloquei na cama e eu juro que não...

— Naruto. — Hinata o interrompe, apesar de todo constrangimento do momento, ouvir o desespero de Naruto a chamou para a realidade — Está tudo bem, eu confio em você!

Aquela simples frase, com tão poucas palavras, foi capaz de devolver toda vida que as últimas horas roubaram do Uzumaki, aquela afirmação sincera e espontânea da Hyuuga devolveu a paz que o garoto precisava; quando Naruto por fim ergueu os olhos, encontrou Hinata com a face muito vermelha, só não sabia dizer se era pela febre ou pela vergonha, e um pequeno e belíssimo sorriso nos lábios, daqueles que somente ele era agraciado por poder ver. Agradecido por um pouco de normalidade no dia deles, Naruto faz a garota tomar o antitérmico, repõem a toalha úmida em sua testa e a faz ficar deitada e coberta para repousar, antes de sair do quarto, mais leve do que entrou, ele dá uma última olhada para a amiga e já a encontra dormindo, sinal de que estivera se segurando para se manter acordada até ali; para deixar que ela descansasse bem, ele apaga as luzes do quarto e fecha a porta totalmente, afim de não deixar qualquer conversa da sala atrapalhar no repouso dela.

— Como a nee-chan está, Naruto? — Neji questiona afoito, assim que o vê saindo do quarto.

— A febre ainda continua, mas não é nem de perto igual a quando chegamos em casa. — Naruto responde e se senta em um dos pufes da sala e entrega a bandeja para Ino, que se prontifica a ajudar.

— Ela tomou o antitérmico direitinho? — Kurenai pede.

— Sim, e tomou toda a sopa, mesmo a contragosto. — Naruto conta, e agora ele mesmo se sentia cansado do dia longo.

— Os demais não virão? — Kakashi pergunta, afim de começarem logo a reunião.

— Gai, Ibiki e Anko estão em missões, parece que seremos só nós hoje. — Kurenai responde.

Ao dizer isso a mulher senta-se no sofá com Asuma ao seu lado, coloca uma bandeja de pastéis cozidos de porco e matcha na mesa de centro, Kakashi e Hiruzen direcionam seus olhares para Naruto, hoje ele presidiária a reunião; sem dizer uma palavra o Uzumaki abre um pergaminho em branco e passa a fazer escritos e símbolos por toda sua superfície, quando para de escrever olha para as duas crianças na sala, seus olhos azuis se tornam gentis, era quase como se fosse outra pessoa.

— Kono, nanica, preciso que vocês vigiem a Hina pra mim? Podem fazer isso? Tomar conta dela no quarto? — Naruto pergunta aos dois, e não precisa pedir duas vezes, eles logo correm para o quarto mais do que felizes, assim que ele fecha a porta novamente, se volta para os outros — Agora vocês aí, estão aqui e não posso mandá-los pro quarto também, por isso preciso que assinem esse pergaminho com seu sangue.

— Por que? Não estou entendendo nada. — Neji questiona desconfiado.

— Você é Genin a tanto tempo, já devia saber que existem conversas que não devem ser "lembradas". — Shikamaru intervém já assinando seu próprio nome.

— Você não confia na gente, Naruto? — Tenten pergunta em tom magoado.

— Não levem pro lado pessoal, saibam separar suas vidas pessoais dos seus deveres, a partir do momento que ficaram pra participar dessa reunião eu não posso mais trata-los como meus amigos. — Naruto responde sério, era a primeira vez que os amigos o viam como ele era na ANBU, e para eles era um choque e tanto — E não fiz isso por que não confio em vocês, fiz porquê sei o que uma pessoa sob tortura pode falar, acreditem é pra segurança de vocês que não devem "saber de nada".

— Então, vamos esquecer dessa noite se assinarmos o pergaminho? — Lee pede interessado no selamento.

— Não, não posso fazer isso gente, é apenas um selamento que vai impedir que falem qualquer assunto com as palavras chaves que já incluí no selo, também não é eterno, esse tem um limite de tempo. — ele explica com calma e os vê um a um assinando seus nomes com letras de sangue.

— Então quais palavras são tabu? — Sai pergunta curioso.

— Akatsuki, Orochimaru, Itachi, Danzou, Sunagakure, Kazekage, Amegakure, Jinchuuriki e Shukaku. — Naruto fala pausadamente — Vocês simplesmente terão um bloqueio quando alguma delas for indagada a vocês.

Apesar de serem apenas palavras, cada uma delas causou um frio na espinha dos recém formados Genins, cada uma daquelas palavras tinha o poder de deixar implícita a seriedade daquela reunião; e mesmo que não dissessem em voz alta, cada um dos sete amigos entendeu o motivo do Uzumaki ter tomado medidas tão drásticas com relação a eles, ali eles entenderam quão distantes seu mundo ninja estava do de Naruto e Hinata.

— Eles não precisam assinar também?— Ino pergunta se referindo aos adultos que riem diante disso.

— Nós já assinamos, todos nós e os senseis que não estão aqui hoje, só que o nosso é um selo permanente, apenas Naruto pode desfazê-lo. — Hiruzen conta de forma simplista e se diverte ao ver as caras de espanto dos jovens.

— Bem os selos estão completos e a barreira no lugar, agora podemos começar. — Naruto começa a reunião — Primeiro, os alvos que Orochimaru visa atacar durante os exames Chunin, Hinata, Sasuke e o vovô, não sabemos ainda em qual ordem ou em que momento do exame ele quer fazer isso, mas é certo que já tem gente sua infiltrada na vila, Anko-sensei disse que a marca dela estava doendo bastante nos últimos dias.

— Vamos deixar que ele continue agindo? — Asuma pergunta claramente inconformado com a situação.

— Sim, não quero alertar o inimigo, e dessa vez ele não está sozinho, Orochimaru fez muitas idas ao país do Chá ultimamente, e em todas elas ele ficou alguns dias em Suna. — Naruto conta e deixa o Hokage e Kakashi apreensivos — Não posso afirmar com certeza que eles estão envolvidos, mas não posso descartar essa possibilidade, alguém como ele não iria tantas vezes ao mesmo lugar, arriscando se expor assim, se não estivesse ganhando algo; por isso digo pra irmos com calma e não por as cartas na mesa até eles se movimentarem primeiro, qualquer passo em falso é uma declaração de guerra.

— Bom, isso explicaria por que eles estavam tão interessados em vir aos exames dessa vez. — Kakashi comenta — Ah droga, agora tudo fica mais complicado, e a Akatsuki? Itachi disse algo sobre eles?

— A organização cortou relações com Orochimaru, por isso ele se aliou a Suna, não têm as mesmas ligações que a Akatsuki têm, mas com o Jinchuuriki do Shukaku ao lado deles as chances de vitória são maiores. — Naruto fala debochado, achava Orochimaru um grande presunçoso, mas tinha que concordar que por dois Jinchuurikis dentro de uma vila podia fazer grandes estragos.

— Sabemos que o Kazekage quer fazer Suna se erguer acima das demais nações, custe o que custar. — Kurenai comenta indignada com a ambição daquele homem.

— O próximo tema, o motivo do interesse de Orochimaru, não sabemos qual é ainda, só sabemos que ele deseja os dois Doujutsus de Konoha, ele também tem usado bastante os antigos laboratórios de Danzou, segundo Tenzou, ele deve estar fazendo mais daquelas pesquisas ilegais. — o Uzumaki conta o último assunto da reunião que tiveram com Itachi.

— Pensei que vocês tinham destruído todos os laboratórios e bases da ANBU Ne. — Asuma comenta muito confuso.

— Não os que estão no país do Ferro, não podemos interferir com os Samurais, não sem o Senhor Feudal do país do Fogo ter que fazer uma apelação oficial para que Neko e Kitsune façam investigações no território deles. — Naruto explica amargurado, odiava deixar pontas soltas no seu trabalho, e aquela era exatamente isso.

— Você nos deu todos esses detalhes tão tranquilamente, sem dúvidas os três ficaram até tarde ontem, formulando um plano. — Hiruzen fala pela primeira vez desde que a reunião começara.

— Muito observador vovô, como sempre. — Naruto retruca sorrindo mais que seu rosto podia aguentar — Temos um plano, para o Uchiha, Hinata, eu e Kakashi-sensei estaremos de olho nele, é um garoto idiota, mas acredito que no momento não vai dar problemas; Hinata vai estar o tempo todo comigo e por precaução, vamos por um dos membros do esquadrão disfarçado de examinador; e quanto ao Hokage, esse vai ser o plano mais idiota que já fiz, mas acredito que vai funcionar exatamente por ser idiota.

Vendo a empolgação de Naruto, todos ficaram animados para ouvir sobre o plano, que sem dúvidas seria mirabolante e inusitado, como somente o Uzumaki poderia criar; assim se passou mais algumas horas, eles discutiram a evacuação das pessoas na hora do ataque, a segurança dos abrigos e como organizar os Shinobis da aldeia para um contra-ataque. No fim, era passado da meia noite quando a reunião foi encerrada, e como de costume, todos os presentes jantaram na cabana aquela noite; Neji, Shikamaru, Ino, Chouji, Sai, Tenten e Lee fizeram suas refeições em silêncio, abalados com o tanto de informações que descobriram e o tanto de hostilidade, intrigas e perigos que rondavam sua vila, coisas que eles nem imaginavam que estavam acontecendo durante seus dias pacíficos. Totalmente opostos a esses últimos, Hanabi e Konohamaru estavam contentes e mais animados que o normal, afinal Naruto tinha confiado a eles a tarefa de cuidar da sua irmã, o que para as duas crianças significava que tinham se tornado um pouco mais adultos. Apesar de toda a tensão do final da tarde, das emoções afloradas que os acontecimentos do dia causaram, o jantar estava sendo tranquilo e até que divertido; antes de todos irem embora, Naruto combinou com Kakashi, de que ele e Hinata iriam a divisão para a cerimônia de posse do seu novo posto como ANBUS, do Hokage eles ganharam uma folga de três dias sem missões, antes que começassem oficialmente como Genins de Konoha, Hinata por estar doente e Naruto para cuidar dela. Quando a casa fica finalmente vazia e silenciosa, já que Hanabi e Konohamaru foram proibidos de dormir ali até que Hinata estivesse completamente curada do resfriado, Naruto tranca a porta e as janelas, sentia o cansaço do dia se acumulando em seus ombros e todas as aflições que sofrera desde a outra noite vinham junto; ele organizou a cozinha antes de ir se deitar, precisava clarear suas ideias e por todos os seus pensamentos em ordem. Enquanto organizava tudo, mais e mais lembranças do dia se repetiam em sua mente, todos os problemas que tiveram, todos os acontecimentos perturbadores e as descobertas extraordinárias que fizera; com tanta coisa pra pensar, ele fica completamente fora do ar e se sobressalta ao sentir as gatas se enroscando em suas pernas, exigindo atenção.

— Eu sei Myuki, foi um dia e tanto né? — Naruto fala pegando a bichana no colo — As vezes eu queria voltar no tempo e consertar algumas coisas, sabe?

— Se você não fosse tão cabeça dura, nada disso teria acontecido. — a voz da Kyuubi ressoa pela cabana.

— Dá um tempo! Qualquer um no meu lugar teria entrado em desespero. — o Uzumaki retruca amargurado.

— Sei disso, mas você se deixou levar pelas emoções e pela provocação do Uchiha, tem noção do que aconteceria se isso me afetasse? As vezes eu acho que você se esquece que sou feito do puro ódio. — a raposa continua as suas queixas, estava preocupado com seu hospedeiro, as emoções de Naruto estavam oscilando muito nos últimos dias.

— Corta essa Kyuubi, você não é o ódio, já te disse isso. — Naruto rebate sério, não gostava de ouvir a Bijuu falando desse jeito de si mesmo, lhe causava um desconforto que ele não sabia explicar — Duvido que seu "pai" tenha te criado para ser o ódio do mundo, tá certo que você é resmungão e mal humorado, mas ainda assim não é mal, pelo menos eu não acho.

— Você é molenga demais garoto, eu não sou um cachorro fofinho sabe?! — a raposa se exalta um pouco, odiava quando Naruto via através dele.

— Não é, sei que não é! É um ser poderoso e temido, e eu não tenho nenhuma noção da extensão do seu poder. — Naruto responde e fecha os olhos, se concentra e vai até a frente da prisão da raposa em seu inconsciente, encara sua enorme forma alaranjada com olhos fascinados — Sei que você poderia ter me possuído e se libertado desde a primeira vez que estive aqui, mas eu sei que você também é meu amigo Kurama!

— Já não está na hora de você ir dormir? Seu moleque insolente! — a raposa retruca e se agita em sua prisão.

Era tão vergonhoso ouvir aquele garoto, que ainda cheirava a leite, ficar falando tão abertamente sobre o relacionamento deles; a raposa odiava quando Naruto fazia isso, simplesmente por que não podia retrucar como de costume e parecia que o garoto sempre conseguia o pegar de guarda baixa. Rindo muito por perturbar a grande Kyuubi, Naruto volta ao mundo físico, e depois de apagar as luzes, se dirige para o quarto, onde encontra Hinata dormindo tranquilamente; após medir sua temperatura e constatar que já não tinha febre, Naruto se troca para dormir, precisava muito descansar, mal se aguentava em pé àquelas alturas. Quando se deitou e se aconchegou nas cobertas, foi como se tivesse sendo embalado em uma rede de plumas, ele rapidamente foi levado ao mundo dos sonhos; e do momento em que adormeceu até o amanhecer do novo dia, ele teve o ininterrupto e agradável sonho, onde tinha a sua vingança contra Sasuke. No outro dia, os dois foram bem cedinho para a vila, Hinata toda agasalhada era carregada por Naruto, mesmo sob protestos e tentativas de fuga, ele não permitiu que ela fosse andando até o prédio da divisão ANBU, onde ambos assumiram oficialmente o posto de tenentes; houve uma cerimônia simples para os membros, e eles dois e Tenzou, que seria o novo capitão, receberam cada um em seu braço direito, mais uma tatuagem para fazer par com a do esquerdo, que simbolizava a sua posição diante dos demais membros. Os outros dois dias passaram tranquilamente, e como prometido, Naruto cuidou de Hinata durante todo o tempo, e por mais que os últimos acontecimentos os deixassem envergonhados e um pouco retraídos um com o outro, a Hyuuga relaxou depois do primeiro dia de descanso e de certa forma, aproveitou ser mimada pelo amigo; durante esses os três dias de folga, o Uzumaki fez todo trabalho que podia em casa, ele analisou documentos e relatórios dos dias de missões da divisão, designou missões e organizou a escala de rondas, todos os assuntos que cabiam aos novos tenentes, foram feitos por ele de casa, o garoto só saiu do lado de Hinata, quando teve uma reunião extraordinária na divisão e a presença dele era necessária. Agora, depois dos dias de folga, e de Hinata estar totalmente recuperada do resfriado, os dois se encaminhavam para o grande salão do prédio Hokage para se apresentar para o trabalho.

Já no prédio Hokage, os Genins recebiam as instruções para sua primeira missão oficial com certa impaciência, afinal para eles, aquele falatório e aqueles avisos era realmente um saco, não viam a necessidade de tudo aquilo, já que a missão era somente uma escolta até o país da Terra. O ponto era que os três jovens estavam extremamente irritados, tinham passado pelo teste dos sinos no dia anterior e não havia sido nada fácil, ainda sentiam irradiando por seus corpos, a dor dos machucados causados pelo Jounin, e agora não era a melhor hora para aguentar sermão, na opinião deles; Kakashi por sua vez não estava dando a mínima para as caras irritadas dos alunos, que ao seu ver, eram exatamente como os relatórios de Naruto descreviam, se não eram piores, tudo que lhe interessava no momento era o seu livro, qua aguardava para ser lido.

— Com licença, Hokage-sama. — um dos guardas interrompe a explicação — Eles estão prontos.

— Muito bem então, pode mandar que entrem. — Hiruzen ordena e volta seus olhos para Kakashi — A missão foi classificada como nível D, mas de acordo com a nossa inteligência, ela pode se tornar nível B ou A, e tendo em vista que vocês vão escoltar a filha do Senhor Feudal do País do Fogo até um território hostil, foi decidido que vão precisar de apoio, por isso o time Deltha vai trabalhar disfarçado nessa missão.

— Como assim, vamos receber apoio do time Deltha?! — Kiba questiona, já muito alterado.

Mas a resposta que ele queria não vem do Hokage, vem da porta do grande salão sendo aberta e revelando um Naruto e uma Hinata totalmente diferentes do que eles conheciam, todos os presentes entenderam imediatamente o que 'trabalhar disfarçado' queria dizer; Hinata estava absurdamente linda, vestindo uma yukata branca com folhas alaranjadas estampadas, seu obi amarelo combinava perfeitamente com a estampa da vestimenta, era de opinião geral e unânime que Hinata estava se tornando uma das mais belas Kunoichis de Konoha, só que dessa vez ela tinha superado os padrões. Mas quem surpreendeu foi Naruto, que vestia um Kimono cinza claro por baixo do umanori hakama de um cinza mais escuro, seu obi era branco e o Katagino que usava por sobre o Kimono era de uma tonalidade diferente de marrom, com detalhes em laranja e o símbolo do clã Uzumaki bordado nos ombros. Para quem nunca tinha visto o garoto vestido dessa forma, era algo impressionante de se ver, Naruto mais parecia um nobre do que um ninja; até mesmo Sakura que sempre o maldizia e ironizava a sua aparência, não tinha um insulto para dizer a ele, e mesmo que não o fizesse em voz alta, em seus pensamentos ela teve que admitir que o Uzumaki estava muito bonito. Sasuke ficou furioso ao ver a cena e constatar que os dois não pareciam nem um pouco abalados pelo ocorrido de três dias atrás, e Kiba estava totalmente frustrado e inconformado por ter que dividir sua primeira missão com a dupla.

— Ei vovô, por que fizeram a gente vestir essas roupas? Não me diga que vamos ficar de guarda em algum festival? — Naruto questiona sem cerimônia, estava se divertindo ao ver a cara de desgosto do time de Kakashi.

— Naruto, olha os modos. — Hinata o repreende baixinho, para total deleite dele, que aumenta mais o sorriso, adorava ouvi-la o chamando tão despreocupadamente.

— Vocês vão dar apoio ao time sete, vão participar da missão disfarçados de dama de companhia e cavaleiro de Yona-sama, na verdade a participação dos dois foi um pedido especial do próprio Koji. — Hiruzen explica de forma simples e faz um sinal para que o guarda traga o cliente.

Quando a porta se abre pela segunda vez, revela uma garota pequena de longos cabelos castanhos, olhos amendoados e a pele levemente bronzeada, vestia um yukata de cores um pouco mais marcantes e seu rosto miúdo ainda lembrava muito uma criança, apesar dos seus dezesseis anos; a acompanhando vinha um homem mais velho, de feições severas e marcantes, devia estar no auge dos seus vinte e poucos anos e usava a mesma vestimenta que Naruto, diferente apenas nas cores.

— Hinata-san, que maravilha poder revê-la! — a garota fala entusiasmada assim que vê a Hyuuga, e então seus olhos se voltam para Naruto — Kami-sama, como você está bonito, Naruto-san! Quase não o reconheci, essas vestes te caíram bem, é bom ficar de olho nele, Hinata-san.

— Yona-sama, ficamos honrados em poder servi-la! — Naruto a cumprimenta se curvando formalmente, sem demonstrar seu constrangimento pelos elogios da garota.

— Por favor, cuide de nós Yona-sama! — Hinata o imita e se curva graciosamente.

— Eles realmente fazem jus a fama que tem, Hiruzen-sama. — a garota se vira para o Hokage e analisa os demais presentes na sala — Você não mudou nada, Kakashi-san! Esse deve ser o seu time, suponho que também farão minha escolta até o país da Terra.

— Certamente Yona-sama, esses são os integrantes do time sete, que trabalharão junto com o time Deltha; Uchiha Sasuke, Haruno Sakura e Inuzuka Kiba, liderados por Hatake Kakashi. — Hiruzen os apresenta, mas diferente da Hyuuga e do Uzumaki, os três Genins são arrogantes e orgulhosos demais pra reconhecer que aquela pessoa não devia ser tratada como bem queriam.

— Não importa muito, tendo esses dois e Kakashi-san comigo, além de Kohaku, não vou precisar me preocupar. — a garota responde com todo desdém que alguém na posição dela pode demonstrar — Se não se importarem, eu gostaria de sair imediatamente.

— Nós os aguardamos no portão sul. — Kakashi decide e se dirige a saída indiferente ao comportamento da garota.

— Ei, eles não vão trabalhar em conjunto? Por que não vão junto? Pensei que tivessem que obedecer o sensei. — Kiba provoca na intenção de fazê-los ser repreendidos, mas acaba envergonhando a si mesmo.

— Kiba, eles dois vão trabalhar disfarçados e por isso mesmo não é bom serem vistos andando junto com os ninjas contratados. — Kakashi explica o óbvio como se falasse a uma criança de cinco anos — E o time Deltha se reporta apenas ao Hokage, o que significa que eles estão em pé de igualdade comigo, não receberão ordens de mais ninguém.

Podia ser precipitado revelar aquilo aos alunos, mas a verdade é que o Hatake estava no seu limite com as infantilidades dos integrantes do seu time, se perguntava quando eles aprenderiam a separar suas vidas pessoais do seu trabalho como Shinobis; sem falar que ver as caras de indignação, incredulidade, raiva e frustração dos três era extremamente satisfatório. Kakashi deixa a sala com um sorriso discreto nos lábios, os três o seguiram de cabeça baixa, não acreditando que estariam a mercê das duas pessoas que mais hostilizaram durante os últimos meses; quando estavam sozinhos no salão, o Hokage retira de sua gaveta um pergaminho selado, o alcança para Naruto com um olhar significativo e o jovem Uzumaki compreende muito bem os motivos de terem sido incluídos na missão.

— Tadeki. — Naruto chama o ANBU, que sai das sombras imediatamente — Você passa na nossa casa para alimentar as gatas, enquanto estivermos fora?

— Sim, Tenente! — o ANBU concorda prontamente — Mas amanhã estarei na ronda o dia todo.

— Nesse caso, peça a Shizuka para ir. — Hinata instrui e entrega as chaves ao homem.

— Sim senhora, Tenente! — Tadeki a cumprimenta igualmente e se retira para as sombras novamente.

— Podemos ir? — Yona questiona e sem esperar por resposta, se dirige para a saída.

Quando os quatro chegam ao portão, com Yona e Hinata sendo carregadas em uma liteira por quatro servos, Naruto e Kohaku caminhando um de cada lado com as Katanas na cintura e as lanças empunhadas, pareciam realmente uma procissão da nobreza mais alta classe, todos paravam para assistir; nesse momento por puro acaso ou obra do destino, Hiromi e Hanabi caminhavam com sua serva pelas ruas e se espantou com o que viu. Ao chegarem ao portão sul, onde o time sete aguardava espumando de raiva, uma carruagem e dois cavalos os aguardavam também; o verdadeiro guarda pessoal de Yona se dirigiu para a carruagem e abriu a porta, a inspecionando por dentro, enquanto Naruto se encarregou de auxiliar as duas a descer da liteira, Yona desceu de nariz empinado, exalando autoridade e poder, já Hinata desceu com uma leveza que encantou quem passava pelo local, e quando sua pequena mão tocou a de Naruto para se apoiar, seu rosto ruborizou lindamente e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios rosados. Quem não conhecia Hinata de vista, pensou realmente que ela era uma princesa, mais que a verdadeira dona do título, está mal olhou para os lados, apenas seguiu para sua carruagem; a única coisa que destoava a cena, foi a careta que Naruto fez quando Kohaku pegou na mão de Hinata, para ajudá-la a subir na carruagem, nessa hora Kakashi quase perdeu a compostura e gargalhou alto.

Com todos em seus postos, eles partiram da vila, os três Genins mais irritados ainda, quando viram que um dos cavalos seria usado por Naruto, mas esse último não estava dando a mínima atenção a eles, mantinha seus olhos azuis em constante movimento, analisando cada centímetro do percurso, em busca de ameaças, armadilhas ou qualquer coisa fora do normal; o mesmo valia para Hinata, de dentro da carruagem ela mantinha seu byakugan ativo, e o leque que devia ser apenas decorativo para uma dama de companhia, estava aberto e pronto para uso ao menor sinal de perigo.Ao cair da noite, todos estavam exaustos, apesar dos dias serem mais frescos, andar de baixo do sol era o mesmo em qualquer estação, assim quando o sol estava quase se pondo, Naruto guiou seu cavalo até a janela de Hinata, sabia que ela já devia ter avistado algum lago ou riacho próximo, para que pudessem descansar aquela noite; a pequena Hyuuga sorriu abertamente quando o viu ao seu lado, não conseguia se conter, Naruto estava realmente deslumbrante disfarçado de cavaleiro.

— A trinta metros, tem um pequeno lago e uma clareira, será seguro acampamos ali hoje. —  ela fala já sabendo o que ele pretendia fazer.

— Muito obrigado, Ojou-sama! — Naruto agradece elegantemente, mas o seu uso de palavras e o sorriso galante que dá ao se afastar, fazem o coração da Hyuuga parar totalmente.

Muito abalada por aquela voz e aqueles olhos azuis, Hinata o assiste se afastar e ir falar com Kakashi, a pobre garota ficou totalmente ofegante e sentia que não seria capaz de se acalmar tão cedo; seu encantamento por Naruto era tão grande, que ela mal nota o olhar extremamente perspicaz de Yona, e até se assusta quando escuta a voz da outra.

— Você está muito apaixonada, não está? — Yona pede por pura pirraça, já que era nítido como água para qualquer um, os sentimentos da Hyuuga.

— Do que está falando, Yona-sama? — Hinata tenta desconversar, muito envergonhada.

— Por favor Hinata, não me trate como tola, posso te ler perfeitamente, e por favor me chame apenas de Yona, somos amigas há muito tempo. — a garota retruca divertida — Me diga Hinata, quanto tempo faz? Você já se declarou? Que idade vão fazer agora?

Pega desprevenida pelas perguntas da outra, Hinata não sabe o que fazer, e fica a ponto de sair correndo da carruagem, mas era verdade que as duas eram amigas, a Hyuuga e o Uzumaki já tinham feito diversos trabalhos para Koji, e por isso mesmo desenvolveram uma amizade com a filha do homem.

— Não tive coragem de contar ainda, mas aconteceu uma coisa que me deu esperanças. — Hinata responde e coloca as mãos no rosto constrangida — Alguns dias atrás, Naruto acabou me beijando, foi por acidente, mas foi um beijo.

— Ah meu Kami! Mas isso é maravilhoso Hinata! Agora é questão de tempo até começarem a namorar. — Yona exclama felicíssima.

— Por favor Yona, não exagere, isso não quer dizer que Naruto também goste de mim. — Hinata ressalta tentando ser madura e não dar asas a imaginação, até parecia que era ela que tinha dezesseis anos.

— Não seja idiota, Hinata! — Yona retruca impaciente e faz sua típica pose de contrariada — É perfeitamente visível que Naruto também está apaixonado, ele é todo um cachorrinho perto de você, só não fique de bobeira, eu vi como aquela outra garota olhou para ele, eram olhos de cobiça, é melhor ficar atenta.

Hinata ia retrucar, mas a porta da carruagem é aberta e a impede de contradizer a princesa do país do Fogo; apesar de não achar cabimento nas palavras de Yona, por algum motivo que não sabia identificar ainda, quando Naruto a ajudou a descer da carruagem dessa vez, Hinata apertou e segurou um pouco mais do que o necessário a mão dele, podia não ter coragem de se declarar ainda, mas podia demonstrar um pouco mais os seus sentimentos. Quando as duas já estavam do lado de fora com o grupo maior, viram os cavalos pastando perto do lago, Kakashi acendendo o fogo e Kohaku e Naruto montando a barraca para as duas, assim como o time sete montava suas próprias barracas; assim que tudo fica pronto, as duas se aproximam da fogueira de braços dados, bem como uma Ojou-sama e sua dama fariam, e vendo o que as duas faziam, Sakura rapidamente fez uma carranca digna do seu jeito. Ignorando totalmente a atitude da Haruno, Hinata fez o que uma dama de companhia faria, usou dois lencinhos de linho para cobrir dois troncos e colocou sua senhorita sentada antes de sentar-se em um deles; Naruto que ficara observando a Hyuuga o tempo todo, entra em sua barraca e volta com duas mantas, a primeira deposita de forma ligeira e despreocupada sobre os ombros de Yona, mas a segunda ele estende cuidadosamente sobre os ombros de Hinata, e antes de se afastar novamente, aperta levemente os ombros da garota, lhe devolvendo o gesto de mais cedo.

— Faz mais frio aqui perto do lago, Ojou-sama. — ele fala alto, como se suas palavras fossem dirigidas a Yona, mas seus olhos estavam fixos em Hinata.

— Eu não disse? Ele é todo seu, Hinata! — Yona provoca e deixa a Hyuuga vermelhíssima — Você não me disse que idade farão esse ano.

— Naruto fará doze daqui a cinco dias, eu farei doze daqui dois meses. — Hinata conta ainda muito corada, no momento que todos se sentam a volta da fogueira.

— Ah é mesmo? Então você completa doze anos durante a missão, Naruto-san? — Yona questiona empolgada, e até se esquece de manter as aparências — Você deve fazer muito sucesso com as garotas, com esses olhinhos azuis, Kohaku me deu muitos problemas também!

— É muita bondade sua, Yona-sama, mas essa informação não é relevante pra mim, não estou interessado em "fazer sucesso com as garotas". — Naruto retruca com mais medo da reação de Hinata, do que vergonha pelos comentários feitos por Yona.

— Desde quando o Uzumaki tem alguma coisa bonita? Eu prefiro muito mais o Sasuke-kun. — Sakura se intromete e aproveita para desmerecer Naruto na frente dos outros.

— Então que bom que sua opinião não é importante, e você nem precisa se preocupar, já que Naruto-san só tem olhos para Hinata-san. — Yona rebate mordaz.

Aquela pequena troca de farpas deixou a todos desconfortáveis, Naruto não sabia como reagir diante daquela declaração, Hinata sentiu que poderia desmaiar a qualquer momento, Kiba queria defender Sakura mas não sabia como, Sasuke era favorável a opinião de Yona, se tivesse que escolher entre Sakura e Hinata, ele com toda certeza escolheria Hinata, ainda mais depois de ver como ela estava hoje; Yona e Sakura estavam como dois leões prontos pra estraçalhar um ao outro, os únicos que não estavam ligando para a pequena discussão, eram Kakashi já que não ligava pra essas coisas, e Kohaku que conhecia bem o gênio de Yona e tinha certeza que alguma hora ela arrumaria briga com alguém. Pensando em quebrar o clima pesado que se instalara no acampamento, Hinata se levanta e vai buscar os ingredientes para fazer alguns ovos mexidos, bacon e peixe frito, e vendo o que ela fazia, Naruto a seguiu, para ele quanto mais longe dos ex-colegas melhor; enquanto os dois separavam a panela e a comida, aproveitaram a oportunidade para conversar em voz baixa sobre o pergaminho entregue pelo Hokage, que era o principal motivo para eles estarem ali.

— Não acho que farão alguma coisa na primeira noite, é de conhecimento geral que uma escolta simples fica alerta apenas nas primeiras horas, acredito que vão tentar agir amanhã, ou no local da reunião. — Hinata observa depois de terem debatido superficialmente o assunto.

— Quando nos chamaram eu não pensei que fosse por causa de alguém de dentro, achei que seria alguém de fora. — Naruto comenta e caminha ao lado da Hyuuga.

— Não é como se nunca tivéssemos visto isso, lembra dos conselheiros Hyuuga's? — a garota ressalta a sua história como exemplo.

— Mas por um motivo como esse? Cara, isso é tão errado. Acho que não tenho escolha, a não ser ficar de olho durante a noite. — o Uzumaki pensa alto.

— Sabe que não precisa se desgastar tanto, eu também vou estar de olho, não vá se levar ao extremo, Naruto! — Hinata avisa preocupada, sabia como ele era teimoso  e não queria o ver fadigado por não tomar cuidado.

— Eu não vou, prometo que tomarei cuidado hoje, mas não é como se eu fosse conseguir dormir estando longe de você, minha linda Ojou-sama! — Naruto declara com toda sua sinceridade e deixa Hinata petrificada no lugar.

Quando ela consegue voltar a andar e raciocinar ele já voltou para perto da fogueira, mas não escondia o sorriso exuberante de quem tinha ganhado algo muito bom; e na verdade o garoto tinha sim, durante todo aquele dia as reações de Hinata eram o maior prêmio para ele, que estava seguindo a risca os conselhos da Kyuubi, que lhe dissera dois dias antes, que elogiar a pessoa alvo do seu amor era uma tática muito efetiva para fazer a pessoa se apaixonar por você; por isso durante todo aquele dia, quando a oportunidade surgiu, a raposa ardilosa criou uma frase de efeito, e Naruto a repetiu como um papagaio tagarela, mas ao que parecia estava dando certo, já que Hinata ficava corada, sorridente e não parava de olhá-lo de esguelha, como Kurama disse que aconteceria. No começo de tudo Naruto até teve dúvidas, pensou que Hinata se zangaria com ele, e depois teve medo deles serem novos demais para esse tipo de coisa, mas segundo a raposa, não havia mal algum em demonstrar seus sentimentos, afinal isso não significava que se tornariam um casal da noite para o dia; mas o Uzumaki ficou verdadeiramente motivado a fazer essas pequenas declarações, quando ouviu Kiba e Sasuke comentando o quanto Hinata estava bonita naquela yukata, e mais ainda quando os olhos do Uchiha não se desviavam de sua amiga.

— Hinata-san! Você cozinha tão bem. — Yona exclama alto, após provar a primeira garfada do prato simples que Hinata havia feito — Você certamente tem mãos de fada, sortudo será o homem que se casar com você.

— Realmente, Hinata se tornará uma ótima esposa, além de uma bela mulher. — Sasuke declara para o choque de todos, e espanto de Yona e Kohaku, que ainda não o tinham ouvido falar nada.

Aquela pequena alfinetada foi o suficiente, num minuto Naruto estava apreciando sua refeição, no outro todos ouviram um barulho de metal sendo amassado, e quando a atenção dos presentes se voltou para o Uzumaki, o encontraram com a mão esquerda segurando seu cantil totalmente deformado e sangrando,  os olhos vermelhos brilhando na noite; nessa hora Hinata deixou de lado o seu disfarce e a missão, sem se importar com mais nada se ajoelhou a frente dele, os olhos de lua aflitos transbordando de preocupação.

— Naruto, me deixe ver sua mão. — ela pede angustiada e retira o metal retorcido da mão dele.

— Estou bem, não foi nada grave. — ele responde tentando controlar a voz e se levanta — Vou fazer a vigia, com sua licença, Ojou-sama.

Ao vê-lo se afastando na escuridão, antes mesmo de terminar o seu prato, Hinata fica completamente sem saber o que fazer, Naruto nunca tinha reagido daquela forma a uma provocação, e essa reação dele a deixava mais do que preocupada, a deixava insegura; ao mesmo passo que o Uchiha dava um sorrisinho discreto, em sua cabeça ele certamente tinha vencido o Uzumaki.

— Não se preocupe, Naruto é muito maduro, ele só quer esfriar a cabeça pra não fazer besteira. — Kakashi sussurra para acalmar a Hyuuga, enquanto fingia se servir mais uma vez.

Depois daquilo o resto do jantar foi o terminado no mais completo silêncio, e tirando a Haruno que agora fazia de tudo para chamar a atenção do Uchiha, ninguém mais disse uma palavra e quando todos estavam satisfeitos, cada um foi se dirigindo a sua barraca; Hinata acompanha Yona, já que dividiria a barraca com ela, e antes de apagar a luz da lamparina, a garota faz uma simples barreira a volta da barraca, só por precaução. Naquela hora, por mais que a Hyuuga quisesse se manter firme na missão, os seus pensamentos se voltavam a todo momento para o lugar que Naruto estava, isso era tudo que lhe interessava; nem mesmo o conforto daquela barraca foi capaz de acalmar a Hyuuga, de fato a única coisa capaz de fazer seu coração inquieto voltar a bater normalmente, eram aqueles olhos que mais pareciam o mar.

A menos de quinze passos dali, fazendo a vigília de cima de uma árvore nodosa, o Uzumaki descansava um pouco depois de receber as informações que seus clones lhe enviavam das suas rondas pela floresta, ele estava estressado e irritado ao limite, não sabia como não tinha feito Sasuke engolir todos os seus dentes, a única coisa que o impedia de fazer alguma besteira, é que ele jamais iria querer decepcionar Hinata, e muito menos por sua missão a perder por causa de um moleque idiota; mas se reconfortava por saber que o trabalho não duraria para sempre e uma vez que fosse concluído, eles poderiam voltar para casa, então ele faria o Uchiha implorar por sua vida. Naruto podia parecer muito calmo e brincalhão pra todos que conviviam com eles, mas só quem conhecia sua outra face era Hinata, e esse lado dele era extremamente vingativo, calculista, impiedoso e cruel, e tudo que Sasuke vinha fazendo nos últimos tempos, era dar motivos pra Naruto querer testar nele, novas formas de interrogar os Nukenins do livro Bingo.

— Se você continuar agitado assim, eu vou acabar enfraquecendo ainda mais o selo. — a voz rosnenta da raposa chega aos seus ouvidos.

— Desculpe, mas hoje não consigo evitar. — ele retruca mal humorado.

— Deixa disso moleque, se você não percebeu, aquele Uchiha é a mesma coisa que nada pra nossa Hyuuga. — a Kyuubi comenta tentando animá-lo.

— Queria poder ter certeza disso. — Naruto suspira cansado e inconscientemente fixa seus olhos na barraca onde Hinata está, a essa hora ela com certeza já estaria dormindo — Você viu Kurama? Como ela estava bonita hoje?

— Vi e já disse pra não se preocupar, ela reagiu bem aos elogios, com certeza você fez um progresso. — Kurama fala divertido, as dúvidas de Naruto eram o seu principal entretenimento.

— Tomara que sim, sabe eu acho que vou contar pra ela logo, assim eu acabo com essa minha incerteza. — o garoto conta pensativo, mas logo seu rosto se retorce enfurecido — E aí eu posso pegar aquele Uchiha e arrancar a língua dele, pra nunca mais falar dela, também posso furar aqueles olhos de cobra que ele tem, pra nunca mais ficar olhando Hinata daquele jeito.

— É bem tentadora essa tua ideia garoto, mas acho que o Uchiha número um não ia gostar disso. — a raposa rebate.

— Eu posso fazer um clone e me transformar no merdinha do irmão do sensei, aposto que ele vai gostar bem mais. — Naruto sugestiona e acaba rindo da sua própria idiotice — Mas é sério Kurama, esse garoto está me tirando a paciência, eu não sei mais quanto tempo vou aguentar.

— A gente pode deixar ele me ver inteiro, ele pode ficar com tanto medo, que vai parar de incomodar. — a Kyuubi se oferece, afinal nem mesmo ele estava aguentando as coisas que Sasuke vinha fazendo, mas quando sente que as emoções de Naruto estavam muito alteradas, a raposa resolve mudar de assunto — Mas uma coisa eu tenho que te dizer, eu nunca pensei que o ciúme fosse genético.

— Como assim Kurama, do que você está falando? — o Uzumaki questiona sem entender o rumo daquela conversa.

— Do que eu falo?! Há, não me faça rir idiota, estou dizendo que você e seu pai são idênticos. — a raposa responde e desperta o interesse de Naruto, como sempre ocorria quando o assunto era seus pais — Minato também era ciumento assim, um verdadeiro idiota e quando Kushina estava por perto ele só faltava abanar o rabinho!

— Ei! Mais respeito com o meu pai! — Naruto protesta indignado.

— Só disse a verdade, e quando ela contou que estava esperando você, nossa aquele homem fez o maior escândalo, saiu correndo e gritando pela vila toda, não teve uma alma que não ficou sabendo. — dessa vez a Kyuubi deixa transparecer uma voz saudosa ao se lembrar do ocorrido.

— Minha mãe era muito bonita, Kurama? — Naruto pergunta com a voz embargada.

— Era, Kushina era uma Kunoichi lindíssima, acho que você herdou isso do seu pai garoto, o ciúme, a idiotice e o bom gosto pra uma companheira. — a Bijuu responde sincera e então conta algo mais inesperado — Eu me arrependo muito Naruto, já vão fazer doze anos, mas pra mim é como se ainda estivesse acontecendo; e naquela hora, mesmo dominado pelo ódio, até eu consegui sentir o amor deles por você, as vezes eu me pergunto se mereço ser tratado dessa maneira pelo meu Jinchuuriki, depois do que fiz.

— Eu já disse Kurama, você é meu amigo! — Naruto declara segurando as lágrimas, a voz arranhando na garganta — Você foi usado e manipulado, eu não te culpo pelo que aconteceu e não quero que você faça isso.

Impactado pelas palavras do Uzumaki, a Bijuu não sabe como responder ou reagir, apenas sentiu quando as grossas gotas caíram dos seus olhos vermelhos, libertando a culpa que ele carregava havia doze anos; nesse instante Naruto provou mais uma vez, que se tornaria o homem predestinado a mudar o mundo. A conversa deles estava tão fluida, que eles nem notaram que já tinham entrado na madrugada do dia seguinte, e muito menos perceberam a sombra que se movia na escuridão; ou isso se devia ao fato de ambos conhecerem tão bem aquele chakra, que já estavam habituados a ela e cientes de sua presença involuntariamente. Mas mesmo assim, quando Hinata pousou no galho do choupo, mas silenciosa que um felino, Naruto se assustou e quase caiu da árvore, para divertimento da raposa, que rolava de rir em sua prisão; quando se recuperou, o Uzumaki olhou atentamente para a amiga, ela havia mudado de roupas, agora vestia parto do seu uniforme da ANBU, e acima de tudo ele notou o quanto estava séria.

— Hina? — ele arrisca uma pergunta — O que está fazendo aqui?

— Eu vim procurar você, o que mais seria?! Por que não voltou pro acampamento? Tem noção do quanto me deixou preocupada? — a Hyuuga desata a falar, demonstrando o quanto estava brava.

— Desculpa, eu só achei que seria melhor ficar aqui já que você está com a Yona, eu não ia conseguir dormir mesmo. — Naruto explica sincero e acaba fazendo a irritação dela retroceder um pouco — Por falar nisso, se você está aqui, quem está com ela?

— Eu deixei um clone com ela, se alguma coisa acontecer eu vou saber, sem falar que fiz uma barreira ao redor da barraca, eu também não conseguia dormir longe de você, Naruto! — ela confessa sentindo o rosto pegar fogo, mas queria deixar que Naruto soubesse que também precisava dele.

— Vem aqui minha Ojou-sama, agora você já pode dormir. — ele fala abrindo os braços para aconchegá-la, com um sorriso maior que seu rosto aguentaria e o coração dando cambalhotas no peito.

Mesmo com a vergonha tomando conta de si, Hinata não esperou por um segundo chamado, deitou dentro do abraço de Naruto e passou seus braços pela cintura dele, quando escorou a cabeça em seu peito se sentiu em casa novamente, minutos depois adormeceu ali, deitada desajeitadamente naquele galho enorme do choupo, ouvindo a canção do coração do Uzumaki niná-la; o garoto quando viu que ela tinha realmente adormecido, fez mais um clone e o mandou até sua barraca buscar uma manta e acomodou a Hyuuga para que ficasse mais confortável em seus braços. Ele velaria o sono dela durante aquela noite, agora já não se importava se a missão toda seria um teste para sua paciência, ou se teria que ter muita força de vontade pra não matar o Uchiha; afinal ali estava, dormindo sob o céu estrelado, o maior tesouro da sua vida.


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