—Boa tarde, humildes telespectadores! – Uma voz ecoou pelo lugar, saindo das diversas caixas de som espalhadas. – Espero que estejam preparados para assistir e participar desse evento incrível que será a obtenção de ranks. Bom, sabemos que parece meio apressado, mas nem todos os nossos jurados poderão ficar aqui por muito tempo, então não vamos segurá-los por muito tempo!

O comentador tinha uma voz muito animada, e realmente não ficou de enrolação nenhuma. Eu estava encarando a salinha vip, mas aparentemente, nossos heróis de rank mais alto estavam bem quietos e concentrados.

—Regras rápidas: vocês devem atirar os seus oponentes para fora da arena, qualquer toque no chão contará como derrota, o teto é passe livre. Incapacitar os oponentes também conta. – Ele estava sendo bem mais informal do que eu esperava, mas talvez seja porque o lugar tinha muitas crianças. – Vocês não têm permissão de matar, se acharmos que estão passando do limite, vamos intervir e os atos afetarão seus ranks. Se a sua dupla não puder mais continuar, você poderá lutar sozinho, mas como seria difícil interpretar seu trabalho em equipe, isso pode afetar seu rank também. Vamos começar! Números 0036 com 0245 contra 4032 com 4028.

Foi bem rápido, mas no geral, deu para entender o que era para fazer. Os quatro chamados desceram à arena e, após se declararem prontos, o comentador comandou que a partida começasse.

Os participantes se encararam por alguns segundos, provavelmente se estudando. Uma das duplas se afastou da outra até uma das pontas, sussurrando algo. Com certeza estavam planejando algo, mas me surpreendi com a repentina mudança do ambiente. As luzes começaram a piscar vermelhas, com uma horrível sirene fazendo barulho. Uau, algum deles tinha poder de ativar coisas eletrônicas, muito interessante, certo?

Errado, o teto explodiu de forma bem audível, o som se misturando ao horrível urrar das sirenes. Do enorme buraco formado, desceram ao chão algumas figuras muito estranhas. Um animal que se assemelhava a uma lontra gigante marrom, mas com garras afiadas, um rabo longo com espinhos na ponta e uma espécie de juba castanha se encontrava no meio da arena. Ele tinha uns 4 metros de altura, estava sendo montado por um louco de cabeludos espetados e tinha vários filhotes bem pequenos (uns 50 centimetros) em uma bolsa em sua barriga, que pularam para fora assim que a mãe terminou de aterrissar.

—Preparem-se par... – Bum. A figura em cima do Lontroru (sim, meus nomes como sempre, incríveis) foi interrompida.

Tanto os animais quanto o criminoso estavam presos ao chão, em uma explosão de força descendente. Era óbvio que a gravidade ali estava incrivelmente aumentada, porque era possível sentir o ar que entrava na área sendo imediatamente arremessado para baixo. O chão em si parecia que não ia aguentar, apesar de ter sido construído para aguentar lutas para definir os ranks. Uau, os ranks SS realmente não eram brincadeira, eu olhei para a salinha, sentindo uma grande energia, e percebi que o homem careca sem camisa estava em pé, mas nenhuma alteração visual além dessa.

Os afetados pela habilidade pareciam ter desmaiado, o que pareceu o suficiente para o autor do poder cancelá-lo.

—Equipe 4, prossigam para a arena e retirem os invasores. Utilizem a jaula Beta-3 para as criaturas. – Uma mulher usando um terno profissional falou perto da gente. Ela tinha o cabelo castanho escuro entre cacheado e ondulado, passando um pouco dos ombros, seus olhos eram castanhos claro e ela tinha um anel com um pequeno orifício pendurado no pescoço (para ser mais exata, tinha uma pequena haste de metal nesse buraco, e ela é que prendia o anel no colar). – A direção não vai ficar muito feliz com isso...

Um grupo de profissionais de terno chegou ao local e prendeu o criminoso, bem como a enorme criatura (que foi colocada junto aos filhotes em uma jaula com rodinhas). O chão da arena, que estava completamente destruído, começou a se reconstruir sozinho, bem como o teto. Olhando novamente para a sala vip, pude sentir que alguém lá de dentro estava controlando a terra para fazer isso, muito interessante.

—Desculpem pelo contratempo, mas podem continuar! Isso não costuma acontecer... – O comentador parecia um pouco ansioso, mas ainda animado.

Após essa incrível demonstração de poder (por praticamente nenhum esforço), diversas pessoas das arquibancadas se levantaram e foram embora, a maior parte delas carregando placas com números também.

—Acho que nem todos têm determinação o bastante para competir com os heróis atuais. – Mia apontou, observando as pessoas cabisbaixas passando pelo corredor.

—Você os culparia? Acabamos de ver uma fera forte o bastante para invadir um prédio superprotegido sendo completamente derrotada em milésimos de segundos. – Blair disse sensatamente. – E olha que ele nem fez esforço.

—É, mas mesmo assim, se não participar não dá para chegar nesse nível. – Eu disse, provavelmente sendo a mais sábia do grupo, óbvio. – Eu chuto que consigo vencer ele em uns 4 dias se eu treinar direitinho.

Todos os meus amigos me encararam, expressando descrença nas faces. Acho que não concordavam comigo exatamente, mas voltamos a prestar atenção na batalha.

O grupo que havia se afastado aparentemente mudara de estratégia, pois eles estavam se aproximando de novo da outra dupla. Um dos membros que se aproximava de repente acelerou, contornando os outros dois rapidamente. Eles não estavam preparados para isso, pois até se virarem, já tinham recebido uma rasteira. O garoto mais distante ergueu as mãos para frente e lançou uma torrente de vento, empurrando os dois que estavam no ar para fora da arena. Simples assim, a luta foi extremamente rápida.

—Com a disparidade de níveis, era evidente que algumas seriam derrotadas muito mais rápidas que outras. – G falou, analisando o que acabou de acontecer.

—É, acho que a competição em si só começa depois de algumas batalhas. – Dandara concordou com ele.

—Disparidade? Quem disparou ali? – Eu, apesar de com certeza ser uma anciã de tão sábia, não conhecia aquela palavra.

—Disparidade, Alicia. É a mesma coisa que diferença. – Mia explicou para mim, me lembrarei da palavra.

—Com essa óbvia vitória, desçam agora 5178, 2783 e 7824, 2333. – A voz anunciou.

Mia e Steve se levantaram juntos, começando a descer as escadas até a arena. Uma dupla do outro lado também desceu.

—Boa sorte, Mia! Arrebenta! – Gritei.

Eles desceram e avaliaram os seus oponentes, esperando o anunciador declarar o início. Seus oponentes pareciam irmãos, ambos com cabelos curtos e roupas casuais normais. O comentador anunciou o início da partida e eles começaram os seus ataques.

Steve tomou a frente, atirando lâminas de água para testar as habilidades dos oponentes, enquanto Mia ficou atrás atraindo canos e barras metálicas que poderiam ser úteis. Os dois adversários se aproximavam enquanto desviavam dos ataques com incrível flexibilidade, quase como se não tivessem ossos em seu corpo, o que era estranho. Acho que Steve percebeu algo de estranho, pois tentou recuar deles rapidamente, o que não funcionou tão bem assim. Eles esticaram os braços para a frente, e quando digo que esticaram, esticaram mesmo, alguns metros, e seguraram nas pernas do Steve, um em cada perna. Em um movimento parecido com uma catapulta, eles atiraram-no para fora da arena.

Steve tinha muita sorte que a Mia era habilidosa, senão já teria seu rank definido. Antes que pudesse tocar no chão, os corrimões das arquibancadas próximas se dobraram e foram arrancados, formando uma espécie de amparo (doloroso, mas melhor que perder) para ele, alguns centímetros acima do chão, que ele rapidamente usou para pular de volta para a arena. Os irmãos (defini que eram irmãos mesmo, eles eram parecidos e tinham o mesmo poder) não chegaram a perceber isso, estavam muito ocupados indo em direção à Mia.

Enquanto Steve se aproximava, ele ficou completamente deslumbrado com o que via, isso estava estampado no rosto dele. Mia estava sendo atacada pelos dois irmãos ao mesmo tempo, mas eles não pareciam ser muito capazes de acertá-la. Ela parecia estar fazendo algum movimento estranho, como se estivesse lutando kung-fu ou algo do tipo. Toda vez que ela movia os braços para uma posição de defesa, um objeto metálico do seu controle bloqueava um ataque perfeitamente. Apesar disso, os três recuavam na direção de uma das beiradas da arena.

Mia olhou para Steve e colocou um dos pés para trás, em um sinal que ele obviamente entendeu (e eu não). Steve parou de correr e ergueu as mãos para frente, tirando uma bolha de água do ar e jogando em cima da área em que estava Mia. Assim que a água desceu e ensopou a área, ele congelou a parte que tocava o chão. Mia ergueu as mãos para a frente, como se segurasse uma barra na horizontal, e puxou em sua direção, se jogando no chão de joelhos e deitando o corpo para trás ao mesmo tempo.

Isso pareceu muito confuso para mim, e para os dois irmãos também, aparentemente, mas ela tinha um plano muito bom. Assim que ela fez isso, os objetos metálicos que ela tinha reunido vieram por trás deles, como uma parede muito rápida, e empurrou os irmãos em direção a beirada (a Mia era mais flexível do que eu pensava, ela se abaixou o bastante para a parede passar por cima). Apesar de tentarem se segurar, o chão estava muito escorregadio, e os oponentes foram levados para fora da arena, garantindo a vitória de Mia e Steve.

—Muito bom, muito bom, podem subir agora. – A voz anunciou, assim que os irmãos elásticos (aham, agora dou nome para os heróis também) tocaram o chão. – Preciso dos números 3875, 0327, 4778 e 9874 em campo, por favor.

Assim que Mia e Steve chegaram, eu troquei soquinhos com eles, muito contente pela vitória inteligente. Blair e Spike se levantaram e desceram à arena também, acompanhados de mais uma dupla de garotos de iriam lutar contra. Mal o anunciador declarou o início, eles já começaram a agir.

—Gente, não precisamos passar por isso, sério, a gente pode só descer e exigir exames de ranks mais justos. – Blair disse à dupla adversária, carregando a voz com entendimento.

Spike não interferiu, mas parecia irritado, como sempre. A dupla adversária começou a andar em direção à beirada, e um deles chegou a tocar o chão, mas o outro franziu o rosto, um pouco confuso.

—Espera um pouco, nós... – Tarde demais, Spike arremessou uma bola de fogo em suas costas, que explodiu e o arremessou na parede da lateral da arena. Blair e Spike tiveram, até agora, uma das vitórias mais rápidas.

—Uma vitória muito rápida, não é mesmo? Os próximos serão... 4295, 1984 e 5486, 6589. – Como sempre, o anunciador disse com incrível eficiência.

G e Dandara desceram à arena confiantemente, juntos com seus oponentes do lado oposto. Eles pareciam já ter combinado algo, pois marcharam confiantemente na direção dos inimigos. O anunciador proclamou o início da partida e o G imediatamente colocou os dois oponentes em uma ilusão. Eles pareciam um pouco confusos, mas entraram em posição de batalha. No meio tempo, Dandara se aproximou correndo a eles, mas eles não pareceram notar isso, provavelmente por causa da ilusão do G. Os músculos do braço dela pareciam maiores, e ela não perdeu tempo para bater a cabeça de um dos oponentes na do outro, de forma dolorosa, (sério, eu acho que eu ouvi o impacto lá das arquibancadas) nocauteando os dois instantaneamente.

—Uau, outra vitória rápida! – O comentador ainda falava rápido, mas parecia começar a ficar surpreso com os jovens do nosso orfanato. – Os próximos são 2203, 5642 contra 3665 e 7844.

—Opa, sou eu! – Eu comecei a descer, acompanhada da Lina. Que bom, porque eu sabia que ela lutava bem. Chegamos à arena e encaramos nossos adversários, uma mulher e um homem, ambos com cabelos longos e claros e ambos incrivelmente esquisitos. Assim que o comentador anunciou o início, eles vieram em nossa direção.

Eu e Lina apenas observamos eles se aproximando. A garota começou a fazer as unhas dela crescerem absurdamente, enquanto o cara deslizava em nossa direção. Sim, deslizava, o poder dele era... deslizar. Tanto eu quanto a Lina estávamos visivelmente desapontados com nossos oponentes.

—Queratina contra cálcio, vamos ver quem ganha. – Lina falou, ainda desanimada com a fraqueza dos adversários.

—Quem é Tina? – Eu perguntei, confusa.

—Deixa para lá, só cuida do cara. – Ela respondeu, entediada por eu não ter entendido.

Lina cresceu uma espécie de camada de ossos no braço dela, formando um escudo simples, nós andamos até uma das pontas da arena e esperamos nossos oponentes se aproximarem. Quando o homem chegou a uns 6 metros de mim, eu corri na direção dele e dei uma rasteira rápida. Acho que ele não estava esperando, pois após cair no chão, continuou deslizando até cair da arena. A moça se aproximou de Lina e atacou com as unhas deformadas, que se quebraram no escudo que ela tinha feito. Lina apenas utilizou o impulso dela e o desequilíbrio e choque de quando a unha se quebrou para empurrá-la para fora da arena também.

Nós duas nos encaramos, suspirando entediadas, e subimos até a arquibancada, ignorando a voz que chamava outros números. Ao chegarmos onde nossos amigos se encontravam, o professor nos guiou até o corredor novamente, nos fazendo entrar em uma das portas laterais, que se assemelhava a uma sala de espera de um consultório de dentistas por dentro.

—Professor, por que nós fomos chamados primeiro? – Mia perguntou, notando algo que eu não tinha prestado atenção.

—O diretor conversou com as pessoas que estão organizando isso e fez esse pedido. – Ele disse, com tom admirador. – Acho que ser SS tem essas vantagens. Vocês devem esperar aqui, não quero que vejam as habilidades dos seus oponentes, já que vocês também não conheceriam os poderes de seus inimigos em uma luta real.

Essas primeiras lutas foram muito chatas e fáceis, Mia e Steve foram os que tiveram os oponentes mais fortes. Mas acho que era de se esperar, esse início é praticamente uma limpeza dos ranks mais baixos, as lutas de verdade ainda estariam por vir. Deitei em um dos sofás ali e cochilei.