— Não fui eu – fora a primeira coisa que Matias, seu namorado, lhe dissera assim que sentara na frente dele, naquela mesa da sala de visitas.

 - Eu sei. Foi o Bernardo, não é?

 Os lábios de Matias tremeram enquanto ele balançava a cabeça diversas vezes, com a touca vermelha característica quase caindo nos olhos brilhantes pelas lágrimas acumuladas.

 - Você realmente acredita em mim...?

 - De todo meu coração – afirmara com real sinceridade. Acreditava em Matias e sabia que ele jamais seria capaz de colocar fogo na própria casa, com os pais e o próprio Matias dentro.

 Quando o namorado se levantara fizera o mesmo, recebendo-o em um abraço apertado enquanto o menor finalmente desabafava, em um choro compulsivo de partir sua alma.

 Assim ficaram durante toda a visita.

 Na hora de ir embora, estava sentado no chão, com Matias adormecido no que deveria ser a primeira vez em mais de 24 horas, deitado em seu colo enquanto que, de sua parte, acariciava rosto, pescoço, ombros, costas...

 Pegara uma das mãos enfaixadas pelas queimaduras de segundo grau delicadamente, beijando os dedos com a leveza de uma pena.

 Não, Matias jamais faria aquele tipo de coisa. Ele era gentil, doce, cheio de compaixão e amor...

 ... Mas Bernardo faria.

 E era por tal razão que seu namorado encontrava-se internado naquele hospital psiquiátrico.