Say Something escrita por Andreza Cullen


Capítulo 6
Chapter five


Notas iniciais do capítulo

Oiii gente, não, vcs não estão enlouquecendo, esse é o mesmo que eu postei domingo. Vamos lá para a explicação haha
Minha vida anda tão corrida que eu fiz confusão e acabei pulando um cap, postando o cinco como sendo o quarto, então se vocês voltarem para o cap anterior vão perceber que é um novo. Resolvi editar a história e deixar a ordem cronológica para não ficar mais confuso, beleza? Então, recaptulando, a história ta certinha do jeito que está, ok? Os capítulos então na ordem e só o que aconteceu é que eu havia pulado um haha, então comentem nesse daqui o que vocês acharam do outro, pode ser?



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Faziam horas que eu estava deitado na cama, encarando o teto e fechando os olhos por períodos de tempo longos, na esperança de dormir. Mas nada acontecia.

Eu estava exausto, cansada, irritado e amanhã precisaria acordar cedo, porque Merlin eu não conseguia apenas descansar?

Fiz mais uma tentativa. Fechei os olhos e tentei relaxar. Não funcionou. Algo dentro de mim não permitia que eu me desligasse, mesmo eu fazendo o impossível para esquecer aquela briga com Potter e o olhar assustado de Scorp.

Se tem algo que ninguém pode negar é o quanto ele ama aquela cobrinha, e eu sei que aquele grito foi uma coisa de momento e que ele estava pensando o mesmo que eu, mas isso não muda o fato de que ele magoou o nosso filho. Por outro lado, se não tivéssemos que expor nossos problemas ao pequeno com aquela discussão ridícula nada disso teria acontecido. Potter, espero que você esteja se sentindo tão podre quanto eu, ou melhor, bem mais podre.

Mais uma tentativa. Frustrada.

Desisti, me virando para o gaveteiro ao lado da cama e pegando um comprimido de enjoos trouxa que era ótimo para te fazer dormir. Uma poção sonífera seria muito forte e eu nunca acordaria a tempo.

Voltei a me deitar sobre o colchão, dessa vez de lado. Não demorou muito para que eu sentisse uma sensação de relaxamento sobre o meu corpo.

A minha mão me incomodava. Era estranho, depois de tanto tempo, não ter aquele círculo gelado envolta do meu dedo.

Me lembrava ainda o que Potter disse quando eu a coloquei pela primeira vez no dedo.

“Quando eu a ví, soube que teria que ser sua. Então percebi que que tudo o que eu queria era ser a pessoa a te entregar ela”

Ele havia me pedido em casamento exatamente quatro horas depois de encontrar a aliança. E, mesmo que o estilo do testa rachada não seja dos melhores, era a aliança mais linda que eu já havia visto na vida.

Era dourada e fina. O mais puro ouro em conjunto com uma linha tênue cravejada com pequeníssimas esmeraldas. 

“Verde é a sua cor, ninguém pode discutir que acima de tudo você é um sonserino”

Dei graças a Slythein pelo remédio que fez efeito quando senti meus olhos se fechando.

Por pouco, ou melhor, pelo Iphone, eu não perdi a hora. Tomei um banho rápido, coloquei uma roupa e já fui acordar Scorp me preparando para conversar com ele sobre ontem.

Abri a porta delicadamente, espiando para dentro do quarto do loirinho quando vi que uma cabeleira bagunçada nega estava junto dele na cama.

Scorp estava com a cabeça apoiada no peito de Potter, abraçando o pai e dormindo ternamente. Já Potter estava com a respiração um pouco pesada, mas era normal vindo dele.

Sorri. Era tudo o que eu poderia fazer, sorrir. Era uma das imagens mais lindas da minha vida. Olhei para cima, segurando um amontoado molhado que se agrupara nos meus olhos. Só Merlin sabe o quão sensível eu fico quando o assunto é o meu filho. 

Depois que as lagrimas estavam sobre controle, peguei meu celular e fui bem devagar até a cama, tirando uma foto. Momentos assim deveriam ser obrigatórios serem registrados.

Acordei Potter primeiro, sabendo que Scorp pularia nele para acordá– lo e que aquilo não era uma boa ideia.

—  Potter, são 7:00 horas – balancei o moreno suavemente, e quando ele acordou, pareceu aliviado ao me ver.

Fechei a cara e fui para o outro lado da cama.

—  Scorp, que tal panquecas hoje? – não foi precisa nem que eu terminasse a frase para a cobrinha abrir os olhos e pular em mim, exclamando um “Bom dia!”

Não olhei ou falei com Potter. Ele havia deixado bem claro o que achava do nosso casamento ontem, e eu deixaria bem claro que ele estava acabado.

Scorp estava calado por todo o café da manhã. Apenas comia as panquecas, olhando para o prato que com os ombros curvados. Alguma coisa não estava certa. Ele sempre se orgulhara da sua postura.

Troquei um olhar com Potter, e ele concordou com a cabeça.

—  Filho – o loirinho levantou o olhar para mim – o que ta acontecendo? –  coloquei uma mecha lisa que caia sobre os olhinhos azuis para trás.

Ele não respondeu, só negou com a cabeça e voltou a olhar para o prato.

Alguns segundos se passaram enquanto eu acariciava os cabelos dele. E então ví, uma única e solitária lagrimas desprender do seu olho e pingar sobre o prato. Depois outra. E outra.

—  Scorp, fala com a gente. Somos seus pais – usei o tom mais sereno que eu poderia imaginar que eu poderia usar.

Ele olhou para mim, e naquele momento eu quis que a dor dele fosse minha. Era insuportável velo tão triste, amuado.

—  Não quero perder minha família...

A voz do pequeno saiu quase como um sussurro.

Olhei alarmado para Potter.

—  Dá onde você tirou isso? Você nunca vai perder sua família Scorp...

—  Nunca, por nada, por ninguém, em nenhuma hipótese isso vai acontecer – Harry foi até a banqueta alta do nosso filho, o pegando no colo e se sentando em seguida – Se tem uma coisa que você não deve se preocupar, é com isso – ele olhava diretamente para os olhos azuis.

—  Preciso sim – Scorp fungou, se aninhando ao peito de Potter .

—  Cobrinha, se foi pela briga de ontem...

—  Casais brigam, isso é normal...

Ele balançou a cabeça negativamente.

—  Vocês me disseram que eu era diferente porque eu nasci do amor de vocês –  ele desenterrou a cabeça do ombro do pai e olhou para nós dois.

—  Essa é a mais pura verdade, meu amor – disse firme, mas tentando soar suave.

—  Seu eu nasci do amor de vocês e vocês não se amam mais, vocês vão me deixar! 

Meu coração estava esmagado, mutilado, morto ao ver aquilo.

Potter o abraçou mais forte, e eu me levantei indo até eles e o abraçando também.

—  Filhão, nós nunca, nunca vamos deixar de te amar. Você é a coisa mais importante que temos na vida, e nada vai mudar isso. Você nasceu do nosso amor, e é por isso que você é eterno, por que eu sempre, sempre vou amar você e ao seu papai mais do que a própria vida.

O abraço ficou mais forte, e eu nem pensei em criar caso pela frase dele, pois aquele estava longe de ser um momento apropriado para isso.

Percebemos que o corpo do nosso filho havia parado de tremer pelas lagrimas, e a respiração estava voltando ao normal. Sai do abraço, parando na sua frente e me abaixando um pouco para olhar bem naqueles olhinhos de lagoa.

—  Você sempre, sempre, vai ser a coisa mais amada e importante das nossas vidas, ta bom? Nunca mais pense isso, nunca. E se sentir mal de novo, sobre qualquer motivo, fala com a gente ta bom, cobrinha? Nunca guarda essas coisas aqui – apontei para o peito dele, onde ficava o coração –  palavra de sonserino? –  ergui a mão, esperando que ele batesse.

Me senti tão aliviado que poderia até chorar quando ele sorriu e correspondeu meu toque.

Eu e a sangue– ruim vamos almoçar com você –  Pansy

Pansy era a única pessoa no mundo que continuava chamar Hermione de sangue– ruim, mas a outra não parecia se importar, achava até divertido.

La Vita è Bella? –  Draco

La Vita è Bella! –  Pansy

Olhei para o relógio, eu tinha 15 minutos para chegar lá antes que não houvessem mais mesas na varanda do segundo andar. Arrumei alguns formulários e aparatei no lugar mais próximo perto do restaurante. Às vezes eu até sonhava com o ravióli deles, mas hoje eu só queria manter distância daquele prato.

— A mesa de sempre, senhor Malfoy? Para duas pessoas? – a morena perguntou assim que adentrei o local. Se eles tivessem algum tipo de cartão fidelidade, tenho certeza que eu seria o campeão em completá– lo.

—  Sim, mas para três pessoas dessa vez, Maria.

Maria concordou, me guiando escada acima para uma mesa no canto da varanda. Era um dos únicos lugares que me faziam lembrar o tempo que passei com minha mãe em Veneza quando eu tinha 6 anos. Foi um tempo inesquecível.

Ela colocou três cardápios sobre a mesa e saiu. 

Quando eu e minha mãe resolvemos viajar sozinhos, pois papai estava ocupado com algumas coisas que ninguém me dizia, eu me senti um pouco deixado de lado, mas estava acostumado. Eu nunca fora a prioridade dele. Mas para mamãe era diferente. Embora Narcisa sempre estivesse com aquela postura seria, estática e parecendo que tinha nojo de tudo e todos, ela era a melhor mãe que alguém poderia ter. Foi a única que, em raras ocasiões, enfrentara Lucius para me defender, me abraçara e dizia que tudo ficaria bem e me protegeria. Aquele verão sobre o sol fresco de Verona foi onde eu percebi que não queria Lucius em nossas vidas. Seria muito mais simples só nos dois.

E é por isso que eu tenho que ser o melhor pai do mundo. Scorp tem que ter toda a segurança emocional e física que eu não tive. Toda a confiança que precisar.

—  Olá Draco, Pansy ainda não chegou? –  Hermione se sentou na cadeira a minha frente. Estava radiante, como sempre. Depois que ela e Fred resolveram ficar juntos, ela sempre esteve assim.

Apontei com o queixo para a morena que acabara de entrar na varanda. Mesmo que mais de dez anos houvessem se passado, ela ainda mantinha a malicia no olhar dos tempos de escola, e o mesmo corte de cabelo na altura do queixo, embora agora estivesse desfiado em um chanel sem franjas.

—  Falando no diabo...

—  Aqui estou! –  Pansy e sentou na cadeira restante, indo direto para o cardápio –  Olá Doninha, Mione, já decidiram o que pedir?

Revirei os olhos ignorando o apelido, mas no fundo eu sabia que não seria Pansy sem aquilo.

—  Parece que deixaram uma jararaca escapar do covil, não é? –  falei, enquanto erguia a mão para um dos garçons.

—  Somos da mesma linhada, querido Draco – ela me lançou uma piscadela.

O almoço ocorreu normalmente, ou tão normalmente quanto poderia.

Às vezes eu pensava que íamos nos matar, mas sempre acabávamos com risadas. Hermione quis enterrar sua cabeça no vaso que tinha ali próximo quando Pansy começou a deixá– la constrangida com perguntas indiscretas, e eu a ajudei, é claro.

Havíamos acabado de pedir a sobremesa e Hermione contava sobre o que os filhos e o marido haviam aprontado, dizendo que qualquer hora ela acabaria louca convivendo com eles, mas aquele brilho no seu olhar deixava claro que era o tipo certo de loucura.

—  E eu nem imagino o que a coitada da Luna tem que passar, presa naquele covil de cobras! 

—  O que a Luna tem que passar? Vocês já pararam para pensar como é difícil fingir que eu estou vendo as criaturas mágicas que eu não estou? –  eu e Mione trocamos um olhar enquanto Pansy fazia uma expressão frustrada. Realmente, não parecia nada fácil. Não aguentamos a gargalhada em imaginar ela, com toda aquela pompa sonserina, fingindo ver zonzobulos ou algo assim – Mas eu amo cada parte da minha Di’ lua – ela deu de ombros, e se tinha uma coisa que sabíamos era que aquilo era verdade.

Ninguém, acho que nem elas mesmas, sabia como havia começado aquilo. Mas percebemos que existia alguns olhares aqui, e que Pansy na verdade não usava daqueles apelidos para deixar Luna mal. E um dia, quando Pansy jogava conosco no ultimo jogo e nosso time levou a taça de quadribol, Luna passou calmamente entre as pessoas ate chegar na morena, e a beijou. Simples assim. E depois saiu, sem dizer nada com aquela expressão sonhadora de sempre.

Bom, não preciso explicar que depois disso elas não se desgrudaram mais.

O garçom trouxe nossa sobremesa, e comecei a saborear o sorvete com pedaços de macarrons quando senti dois pares de olhos sobre mim. Um silencio constrangedor me fez olhar para as duas que me encaravam como quem dizia “nós sabemos o que você fez no verão passado”

—  Perdeu a aliança, Draco?

Quis me matar quando a cobra perguntou, me esquecendo completamente de disfarçar que eu estava sem ela. Droga.

—  Harry contou para Rony, que contou para mim, que fui falar com Harry que contou para mim outra vez – Mione falou como quem se desculpa por já saber, mas não por se intrometer.

—  Então essa foi a real intenção com o almoço de vocês? –  o sorvete não me parecia mais apetitoso, e senti meu estomago encolher enquanto eu disfarçadamente abaixava a mão par debaixo na mesa, tirando– a do campo de visão.

—  Malfoy, nós não vamos te forçar a falar sobre nada, mas somos suas amigas, e queríamos que desabafasse conosco, falasse o que anda acontecendo – Pansy assumiu aquele tom sério que usou comigo quando conversou por mensagem de vídeo algum tempo atrás.

Não respondi nada, mas me senti encurralado.

Se eu não falasse sobre o assunto, ele não parecia tão real.

—  Você sabe que, ao contrário dessa intrometida aqui – Hermioe apontou com a cabeça para Pansy – eu não gosto de me meter nos assuntos dos outros. Mas Draco, Harry estava realmente muito mal, você sabe que ele não é a melhor pessoa disfarçando sentimentos. E o que mais me preocupa é que você faz isso muito bem.

Meus ombros quase cederam por um momento pela sensação de confiança que as duas me passavam. Mas não, mantive minha postura intacta. Eu era um Malfoy, não deixaria ninguém pensar que sou um fraco.

—  Olha, aqui não é o melhor lugar – olhei em volta, o restaurante estava cheio, e embora as mesas fossem extremamente separadas uma das outras, ainda não me sentia a vontade com aquilo. 

—  Claro que não, e é por isso que você e a sangue- ruim vão jantar comigo hoje. Luna teve que viajar para uma pesquisa para o Pasquim e vamos nos divertir um pouco com nossas crias – o olhar de Pansy, embora a voz estivesse com o mesmo tom perigoso de sempre, deixava claro que não tínhamos escolhas.

Suspirei, derrotado. De um jeito ou de outro Scorp iria adorar compartilhar aquele momento com os primos.

—  Tudo bem, mas diga para as suas pestes não ensinarem nadica de nada que eles aprendem com o pai aos meus filhos – usei o meu melhor tom de ameaça com Mione, mas a mesma apenas abriu um sorriso genuíno.

Realmente Malfoy, não adianta. Com essa família você não tem mais a eficiência dos tempos de Hogwarts. E aquilo era estranhamente reconfortante.

—  Francamente, Parkinson, todo mundo sabe que você tinha uma queda pelo Cedrico – revirei os olhos enquanto terminava de ajudar Pansy com a louça e Hermione cuidava para que nenhum dos filhos transformasse alguma coisa em um animal na casa da morena.

Depois que busquei Scorp na escola e ele se aprontou, escolhendo uma camisa vinho muito elegante que havia ganho simplesmente porque achei linda e havia o tamanho do meu filho, deixei um bilhete para Potter e viemos pela rede Flu.

O jantar ocorrera normalmente e nenhuma das duas tocara no assunto, afinal, as crianças estavam na mesa também. Mas eu sabia que isso não duraria muito.

Ela parou de secar a louça por um instante antes de me olhar com as sobrancelhas grossas erguidas.

—  Mas que eu saiba, quem enfiou a língua na boca dele foi você!

—  Eu estava bêbado e ele também. Alias, se não lembro, não fiz! –  voltei minha atenção a pia que agora estava vazia.

Terminamos na cozinha e fomos ver o filme que as crianças e Mione haviam escolhido. Luna adorava televisão, e como Pansy fazia tudo o que a loira pedia, comprava sempre o modelo mais novo e maior de televisão todos os natais para ela.

—  A casa monstro! –  o coro das crianças era desafinado o bastante para Hermione não tardar a colocar o filme, e logo elas estavam espalhadas pelo colchão grande estendido na sala, incrivelmente quietas e prestando atenção no filme. Voltamos para a cozinha, e Pansy abriu um vinho enquanto conversávamos.

—  Draco, conta pra gente o que anda acontecendo – Mione pediu quando estávamos os três acomodados na mesa da cozinha, tendo uma vista privilegiada das crianças na sala.

Era muito errado eu não ficar tenso com elas como eu fico com qualquer outra pessoa, principalmente com Potter?

—  Nada – dei de ombros enquanto bebericada a bebida de qualidade. 

—  Vamos lá, naja, nós sabemos que alguma coisa bem complicada anda acontecendo – Pansy sempre soava desafiadora. 

Analisei minha taça que agora estava meio vazia, mas logo voltou a se encher quando a morena despejou mais vinho dentro dela.

Bebi metade de uma vez.

O que anda acontecendo? Como eu explicaria isso para elas? E, além do mais, com certeza elas ficariam do lado de Potter. Quer dizer, não do lado dele, mas falariam coisas para tentar “salvar” o casamento, e eu não queria aquilo. Havíamos passado disso.

—  Esse é o problema, não vem acontecendo nada que eu não esperasse – me surpreendi quando as palavras saíram livremente. A taça estava cheia novamente.

Olhei para as mulheres que esperavam que eu continuasse.

—  Como você está se sentindo com relação ao Harry?

Harry. Era estranho para mim ouvir as pessoas se referindo a ele pelo primeiro nome quando para mim ele era Potter.

—  Nada – foi a única coisa que pareci fazer sentido responder. Eu não sabia. Não estava surpreso com o rumo que as coisas tomaram, e a pouco tempo nem doía mais. Mas agora... Argh, eu não sabia.

Bebi novamente metade da taça. 

E novamente ela foi cheia por uma Pansy que queria respostas em troca de me embebedar. Bom, estava funcionando. Infelizmente.

—  Draco, ele tem te tratado mal? Pois se não, eu acabo com a vida daquele quatro olhos e faço questão de...

A tosse de Mione fez Pansy se interromper e voltar a atenção para mim.

—  Não, ele nunca me tratou mal – falei negando preguiçosamente com a cabeça.

Se ele pelo menos me tratasse mal, me trataria de alguma forma. A indiferença dele era a arma poderosa.

Mione me encarava com curiosidade, parecendo analisar a situação com o mesmo semblante que tinha antes de dar uma resposta sobre algo quando estudávamos em Hogwarts.

Um sorriso triste tomou conta do seu rosto.

—  As coisas ficaram indiferentes, não foi?

Franzi o cenho automaticamente.

—  Como eu sei, você deve estar pensando – ela parecia ter lido meu pensamento – Bom – ela soltou um suspiro pesado antes de responder – Por que isso aconteceu comigo e com Fred também, bem no começo do nosso casamento.

Fred e Hermione? Mas eles pareciam tão perfeitos, completos juntos.

—  Desembucha, Granger – Pansy instigou Hermione a continuar.

—  Não foi fácil, sabe? –  ela desviou o olhar de mim, parecendo remexer algo dentro de sí mesma – Os gêmeos haviam acabado de nascer, não tínhamos tempo um para o outro com os nossos empregos. Muitas vezes nem nos víamos já que um chegava tarde e o outro acordava cedo. Bom, quando dei por mim estávamos nos tratando pelo primeiro nome, não nos olhávamos mais ou nos tocávamos – ela deu de ombros, parecendo aliviar algo de suas costas – E não demorou para as paranóias aparecerem. Fred pensava que eu passava tempo demais no ministério e eu sempre tentando sentir um cheiro diferente nas roupas dele. No fundo, acho que eu esperava encontrar alguma coisa que confirmasse a minha desconfiança –  me perguntei se Granger não havia lido a minha mente e dito aquilo apenas para que as histórias ficassem idênticas de tão perplexo que eu estava – Mas é claro que eu nunca encontrei nada.

—  Fred nunca te trairia Hermione, ele vive por você e por aqueles diabinhos – apontei com a cabeça para a sala, onde incrivelmente todas as crianças estavam quietas grudadas na televisão.

Hermione seguiu o meu olhar e abriu um sorriso.

—  Eu sei, o pior é que eu sempre soube, e isso deixava tudo tão esquisito. Era como se eu precisasse de uma confirmação para enfim me tocar de que não havia mais volta, sabe?

Essa parte eu não entendia, ou pelo menos achava que não. Eu não precisava de uma confirmação para deixar de ter esperanças, por que para mim aquilo já havia acabado a muito tempo. Quer dizer, eu não olhava as roupas dele esperando encontrar algo para matar qualquer coisa em mim, era só... algo que aconteceria eventualmente, certo?

Não era grande coisa.

Ela me olhava com expectativa, e eu sabia o que estava esperando que eu perguntasse. Mas eu não perguntaria como eles resolveram aquilo.

Por que era diferente entre mim e Potter, não havia mais nada para resolver entre nós exceto coisas que envolvessem Scorp. Eu tinha que me proteger para protege- lo.

Cheguei em casa pelo pó de Flu com um Scorp adormecido em meus braços. Potter usava magia para passar pano na sala e tirava pós com um pano dos portas retratos da estante embutida. Assim que me viu, veio até mim pegando Scorp.

—  Tudo bem, eu vou dar um banho nele – entendi os braços para que ele devolvesse nosso filho, que logo se agarrou em mim ainda sonolento reclamando de ter que tomar banho, mesmo estando todo sujo de fuligem por conta da lareira.

Potter depositou um beijo na testa do loirinho e eu segui para o seu quarto.

—  Papai, eu posso tomar banho sozinho – Scorp falou enquanto eu ensaboava ele na banheira.

—  Claro que pode Scorp, mas você sabe que vai demorar demais e quer dormir, certo? –  indaguei, e ele acabou por concordar.

Na verdade, se eu deixasse Scorp naquela situação sozinho na banheira ele acabaria dormindo ali mesmo.

Depois que terminei de ajuda-lo com o pijama, ele se jogou na cama por cima das cobertas, e caiu no sono. Deve ter herdado essa preguiça de Potter, só pode. Fui até o guarda– roupa pegando outra coberta e colocando por cima do corpo encolhido do meu filho, depositando um beijo de sua testa antes de desligar o abajur e sair do quarto.

Potter estava saindo do banheiro do corredor, já vestindo o pijama e indo para o quarto de hospedes. O segui. Ele iria mesmo insistir com aquilo depois de ver a situação do nosso filho de manhã?

Entrei, fechando a porta atrás de mim. Ele ergueu o olhar e pareceu surpreso.

—  Você não vai mesmo levar isso a diante, não é? –  indaguei, me apoiando na porta fechada e olhando ao redor do quarto. Havia algumas camisas sobre uma poltrona, a maleta que ele usava no trabalho repousava ao lado delas e alguns sapatos jogados embaixo da cama.

Santa desorganização.

Ele respondeu minha pergunta puxando a coxa da cama pronto para se deitar.

—  Você não pode estar falando sério! Por Merlin Potter, você viu o estado do nosso filho no café, o que você acha que ele vai pensar quando ver que estamos dormindo em quartos separados?! –  uma pontada de raiva começou a surgir em mim, e eu fui até ele puxando a coxa da sua mão com força.

—  Draco, e como acha que ele vai reagir quando ver que você está sem aliança?

Revirei os olhos, controlando a vontade de olhar na mão do moreno e checar se ele ainda usava o anel.

—  Isso é explicável, Potter. Posso falar que eu perdi, ou que mandei limpar. Mas isso – me referi com as mãos ao quarto –  é inconcebível. 

Ele sentou na cama, com o mesmo olhar perdido de ontem. 

—  Não posso dividir a cama com você depois de ontem, Draco.

—  Não precisa, podemos transformar a cama de casal em duas de solteiro – usei o melhor tom de indiferença, ocultando com sucesso o quanto aquela frase estúpida me atingiu. Não deveria, mas atingiu. De um jeito ou de outro era melhor assim.

Ele continuou sentado, olhando um espaço vazio no canto sem dizer nada.

Suspirei, cansado, sentando– me ao seu lado.

—  Potter – ele não me olhou. Precisava chamar sua atenção, aquilo já havia ido longe demais e tinha que resolver logo – Harry...–  consegui que seus olhos se voltassem para mim descrentes, mas lá no fundo tinha um brilho que eu não via dês da nossa briga – volta para o quarto e vamos nos poupar de outra briga. Sei que você está tão cansado quanto eu.

Tão cansado de tantas coisas que não sobrava energia nem para me lembrar de cada uma delas. Não ouvi sua resposta durante alguns segundos.

—  Certo – ele se levantou, abrindo a porta e a segurando para mim. Saímos do quarto de hospedes e fomos em silencio para o nosso.

E ficamos em silencio pelo resto da noite.


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Notas finais do capítulo

Então, como não estava programado para o cap sair hoje, não sei se vou conseguir portar outro domingo, mas vou tentar, okay?



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