Meu coração em suas mãos escrita por Eduardo Marais


Capítulo 27
Capítulo Vinte e Seis




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Regina observa a praia ao longe e consegue identificar a figura de William parado diante da imensidão do mar. Um pequeno ser humano frente a frente com a imponência do reino marinho.

Precisava estar ao lado dele, tomá-lo em seus braços e beijar aqueles lábios até que ficassem inchados pelo assalto apaixonado. Não conseguia alimentar mais a distância daquele homem que agora lhe pertencia, simbolicamente. Iria aproveitar todas as chances, porque seu coração estava implorando por isso.

Ajeita a camisa e protege os pés com meias, apenas por pura precaução. Não poderia afrontar a natureza e suas temperaturas, não sobretudo, agora. Não era somente seu corpo que precisava proteger.

Sorrindo, ela avança para a praia. Iria reivindicar a atenção prometida por seu marido, no altar.

Perdido em seus pensamentos, suas dúvidas e sua imensa angústia, William procura acalento e orientação para suas decisões. Controla as lágrimas que estavam atrevidas demais nos últimos dias, subindo aos seus olhos sem pedir permissão.

— Eu sei que transgredi suas leis...sei que me tornei um degenerado ao aceitar as sombras...mas isso está destruindo a minha alma e queimando o meu coração. – ele murmura em uma oração.- Sempre relutei contra esse conhecimento sombrio, porém, fui fraco demais e permiti que a tristeza dominasse todas as minhas atitudes...matei o homem que ainda existia em mim e dei espaço para ser essa coisa abjeta, mágica e cruel. Sei que meu coração está podre e negro...e percebo que estou sendo cobrado pelas vidas que ceifei.

Ele se ajoelha na areia fina da praia.

— Eu não aguento mais essa divisão em meu espírito. Não posso escolher entre meus dois amores e continuar a vida como se minha decisão fosse simples e correta. – ele soluça e chora. – Peço perdão pelos meus pecados, meus crimes e meus erros...e clamo que me mostre o que tenho de fazer para me redimir diante de Teus olhos, Senhor. Eu imploro que me salve e que me indique a decisão mais decente a ser tomada...

Regina se ajoelha ao lado dele e toca gentilmente seu ombro. Recebe sobre si, um olhar molhado e carregado de dor. Céus! Qual seria a proporção de sofrimento dentro daquele homem? Qual seria o segredo que o estava consumindo como fogo?

Ele se inclina e abraça a esposa, deixando-se ser abraçado. Expira e começa a recuperar o que ele conhecia por dignidade. Não poderia demonstrar tanta fraqueza, porque sua existência exigia imponência e gana em seu comportamento. Afinal, era um príncipe e deveria comportar-se como o governante que era. O que seus súditos diriam, se o vissem tão fragilizado dentro dos braços da mulher que condenara seus pais ao sofrimento?

— O que há como você, William? O que o está afligindo tanto? Ainda temos segredos um com o outro?

— Ainda estou perturbado com a avalanche de lembranças que retornam de uma só vez. Vejo meu povo, minha mãe e meu pai. Vejo os magos que me ensinaram os primeiros truques...vejo as crianças de meu reino com seus rostinhos risonhos...vejo a mulher que me deu à luz...

Regina não diz nada. Apenas deixa espaço para que ele fale, caso se sinta confiante.

— Minha amada, você se lembra dos nomes dos soldados transformados em insetos e esmagados pelo salto de suas botas?

— Que pergunta horrível! Isso foi em meu passado e ficará no passado!

Pura ironia. A expressão de William é pura ironia e deboche.

— Eu não me lembro, ok? E você se lembra das pessoas que matou? Porque você não é um príncipe bonzinho que ficava desfilando em um belo cavalo malhado!

— Sim. Eu me lembro de todos os nomes de quem tirei a vida. Daqueles que invadiam meu reino para raptarem crianças para rituais macabros, daqueles que me assediavam sexualmente, daqueles que vinham pilhar nossas riquezas...lembro-me dos nomes e das expressões de seus rostos momentos antes de serem privados de suas vidas.

Regina se acomoda e deita a cabeça nas coxas dele. Olha o movimento das ondas e deixa espaço para que William fale. Ele queria falar.

— Quando retornei daquela viagem e não a encontrei, perdi meus alicerces. Mas a esperança de que você retornasse, encheu-me de forças para continuar. Zelei pela Floresta Encantada e seus recursos naturais, para que continuasse linda para sua volta.

— Todos os habitantes e eu voltamos para a Floresta, mas nossa estadia não durou muitos dias. Travamos uma luta e depois retornamos para Storybrooke.

— Por que você arrancou o coração de meu pai?

Depois de alguns segundos em silêncio, Regina resolve responder.

— Ele decidiu que iria utilizar minha floresta como fonte de recursos para o reino de vocês. Queria minhas árvores, minhas lindas árvores e minhas pedras preciosas de minhas minas. Olavo queria expandir o reino dele. Seu pai me desafiou e eu não o perdoei. O enxotei de minhas terras e fiquei com o coração dele, para garantir que não me incomodaria mais.

William não conseguia desviar seus olhos da beleza que aquela mulher lhe oferecia. Ela era impressionante, apaixonante e encantadora. Rainha Má ou Regina Mills, que importava? Soberana e alterosa em sua pequena estatura física. Como conseguia ser tão poderosa, mesmo quando queria ser apenas suave?

— E por que transformou minha mãe naquele monstro? Ela também invadiu seu território?

— Nada fiz contra sua mãe, William. – Regina se senta e encara o marido. – Eu a vi poucas vezes e nem sei como é a voz dela. A Rainha Danna nunca me ofereceu risco algum...era insignificante demais para me incomodar.

— Minha mãe é uma combinação incongruente entre animal e ser humano...

Desta vez, a risada debochada é da bela mulher.

— Bela forma de dizer que sua mãe é uma personagem fugida de algum conto de fadas de terror. Lamento, meu belo príncipe, mas eu não amaldiçoei sua mãe. – Regina se levanta e ao estender a mão para pedir a companhia do esposo, sente o mundo girar em volta de sua cabeça.

Mais tarde, Regina recebe uma caneca com sopa.

— Está se sentindo melhor, minha amada? – William encosta o narigão ao nariz dela.

Melindrosa, ela liberta um gemido gozoso e aproveita a proximidade para beijar os lábios de seu verdadeiro e legítimo príncipe.

— Quero que conheça meu filho Henry adulto, minha nora Jacinda e minha neta Lucy...serão parte de sua família. – ela deposita a caneca em um móvel. – William, meu amor, insisto em irmos para Velac para que eu tire as arestas de meu relacionamento com seu pai.

— Quando saí de Velac, meu pai estava morrendo...

— Ele não pode morrer sem o coração. Murchará, mas não morrerá. Precisamos encontrar o coração dele e...- ela para de falar bruscamente e inclina a cabeça para o lado. Estreita os olhos e franze a testa. – Foi por isso que você atravessou o portal? Por isso me convenceu a devolver os corações? Queria encontrar o coração de seu pai? Se você é um Sombrio, por que não salvou seu pai?

Um riso tímido e paciente ameniza a expressão do príncipe.

— Para evitar a morte e o envelhecimento de alguém que amamos, temos de transformar a pessoa em algo abjeto como somos. Eu não suportaria ver meu pai como...

Regina espalma a mão no ar. Queria que o marido parasse de falar.

— Estou incomodada com a situação de seu pai...queria mesmo ajudar.

— Por favor, de uma vez por todas, quero que pare de falar sobre meu pai. O meu relacionamento com eles é horrível e tenho meus motivos para tirá-lo de minha memória. Tudo o que importa agora é o nosso casamento e o que iremos fazer daqui em diante. Não sei se retornarei para minha terra, então, peço que pare de citar o meu passado. E eu não citarei mais o seu. – William se afasta de Regina, mas não desvia seus olhos dela.

Os dois ficam olhando um para o outro, sem dizer nada. O silêncio se torna a sonoplastia daquele momento, até que Regina resolve aproveitar sua nova fase de vida. O que lhe importava detalhes relevantes?

— Eu amo você, William. Não sei quanto a minha felicidade irá durar, por isso, não quero perder meu tempo com especulações, dúvidas, cobranças, choros e tristeza.

— Não tenho certeza de nada, minha Rainha. Sinto-me como se fosse uma dessas estátuas ocas, usadas pelos navegantes para fazer contrabando. Mas o que me preenche não são pedras preciosas, e sim dúvidas, vazios, sombras...e medo.

— Medo?

— Medo do futuro...é muito pesado ser um sombrio, mas eu não vou condenar alguém a ser isso. Tenho de aprender a lidar e há trinta anos é tudo o que tento fazer. – ele sorri com os olhos.

Chegando bem perto do marido, Regina envolve o pescoço dele com os braços.

O simples sorriso de Regina trazia vida ao espírito escuro de William. Era tudo o que sempre havia sonhado e que estava vivenciando na realidade. Ah! Ela irradiava a luz roubada de algum raio do Sol, que não havia sido devolvida ao Astro Rei. Ela exalava o aroma fresco das plantas no momento em que o orvalho evaporava. Ela era vida e puro amor. Ela era a sua Rainha, a sua esposa e a sua Regina.

— Eu passarei minha existência inteira, tentando explicar o quanto amo você. – ele diz.

— Todo novo dia em que acordo ao seu lado, é o melhor dia de minha vida.

Eles começam a rir. Uma competição de pieguices?

— Quero trocar de corpo com você, outra vez. Quero ter aquela sensação deliciosa que proporcionamos um ao outro.

— Tudo o que quiser, minha Rainha.

Naquele final de tarde, Regina desperta sozinha na cama. Ouve o barulho da água caindo do chuveiro. Sorri e olha-se, vendo-se em seu corpo de novo. Move-se sobre o colchão para ir banhar-se com o marido, mas se surpreende ao ver suas coxas e o lençol sujos de sangue. Uma grande quantidade de sangue. Imediatamente, ela leva a mão à barriga e apavora-se.

— William, socorro! – ela grita a todo pulmão.

Momentos depois, já banhada e devidamente cuidada, ela é observada adormecida sobre a cama limpa. Serena, dormia tão inocente e frágil. A grande Rainha Má, a mulher que ordenou a morte da mãe, matou o próprio pai para realizar sua vingança contra um reino inteiro, uniu todos os reinos de portais diferentes apenas para ter sua família protegida e unida, estava li sobre aquela cama. Estava à mercê de um desconhecido, em quem demonstrava confiar em todos os instantes.

William se senta na cama e toca a barriga da amada. Sorri orgulhoso e arrebentado ao mesmo tempo.

— Vocês estão protegidos e salvos. Reconheço que vocês são os maiores amores de minha existência. Minha razão para agir corretamente. Tudo terminará bem, amada.

Aproveitando-se da solidão, William vai para outro cômodo e evoca a magia de comunicação por um espelho. Aos poucos, a superfície do espelho começa a mexer-se e dar forma ao rosto de um dos magos de seu reino.

— Estou ao seu dispor, Alteza.

— Não tenho tempo, Borae, por isso serei direto. Quero notícias de meu pai.

O mago pisca várias vezes, um hábito estranhamente engraçado.

— O Rei Olavo está acamado e bastante murcho. Já utilizamos poções e ele se restabeleceu, mas será temporário. É urgente que retorne de sua missão, Alteza.

William maneia afirmativamente com a cabeça. Gesticula e a imagem do mago magricela começa a esmaecer.

— Alteza, há algo que precisa...- ele é interrompido e desaparece do espelho.

Segundos depois, a voz de Regina ecoa pela casa. Ela estava exigindo a presença do marido em sua cama.

O homem olha por cima do ombro, de viés e vai atender ao chamado. Submisso e sem questionamento.


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