Meu coração em suas mãos escrita por Eduardo Marais


Capítulo 24
Capítulo vinte e três




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Emma e Killian chegam ao vilarejo e caminham entre as barracas da grande feira. Muitos cheiros, muitas cores, muitos produtos, pessoas animadas negociando ou apenas conversando. Uma diversidade de rostos e características. Pessoas que não haviam nascido ali, mas que escolheram Velac como um espaço para ser de seu lar.

O casal para diante de um comerciante. São recebidos por um sorriso.

— Poderia nos fornecer água? Estamos caminhando há um bom tempo...

O homem arregala os olhos e cobre a boca com ambas as mãos. Começa a gargalhar.

— Não creio! É o senhor? Capitão Gancho! O senhor voltou!

Emma acha divertida a reação do homem, enquanto Killian fica constrangido.

— Mas...o senhor ainda está jovem! Como pode ser isso?

O pirata faz uma careta risonha.

— Magia. Fiquei preso durante vinte e oito anos numa bolha. Cora Mills nos protegeu da maldição que caiu sobre a Floresta Encantada...

— Oh, sim! Eu me lembro! – o homem entrega duas canecas com suco aos visitantes. – Bebam isso para que se refresquem. O senhor não irá se lembrar de mim, porque eu tinha oito anos quando o senhor ainda vinha para esta região. O senhor sempre costumava me mandar comprar ovos para sua tripulação.

As sobrancelhas grossas do pirata de levantam.

— Arnon? O menino Arnon? Aquele que queria ter um gancho como o meu?

O homem gargalha ainda mais e bate palmas. Dá a volta na barraca e vai abraçar seu ídolo de criança. Ele olha para Emma e sorri encantando.

— É sua esposa? Linda como a uma princesa!

— Emma Swan Jones. – a loira estende a mão e cumprimenta o aldeão.

Arnon se volta para o pirata. Olha-o sem acreditar em seus olhos.

— Soubemos que aquele espaço que ficou protegido da maldição, sofreu a maldição da decadência e da miséria.

— É verdade. Ficaram numa situação precária. Não na região onde eu estava, porque a Rainha de Copas nos abastecia com sua magia. Mas as outras regiões...

Uma sombra triste emoldura o rosto redondo de Arnon.

— E pensar que toda a desgraça aconteceu por culpa da Rainha Má Regina. Ela causou muita tristeza na vida de pessoas. Inclusive nosso Rei Olavo está morrendo por causa dela. – ele limpa as mãos em seu avental. – Vou avisar meu empregado que irei sair. Vou levar vocês até minha casa e conversaremos. Vocês devem estar famintos!

Momentos depois, numa casa feita totalmente de pedras polidas, o casal visitante comia o que havia sido alegremente oferecido.

— Você nos disse sobre o Rei Olavo... – Emma retoma o assunto.

— Ah, sim! O nosso Rei Olavo teve o coração roubado pela Rainha Demônio. E ela também condenou nossa Rainha Danna a ser um monstro comedor de corações de crianças. Imagine como as pessoas reagiram com medo do casal real.

Killian concorda e não fala nada. Queria que o homem falasse sem interrupção.

— Depois que deixou nossos reis amaldiçoados, eles passaram a realizar rituais horrendos para conseguir sobreviver. Foi nesse momento que o príncipe abdicou do trono, porque desconhecia o motivo que levava os pais a fazerem aquilo. William veio morar conosco e usou a magia que possuía, para bloquear o peito de nossas crianças.

— Não puderam tirar o coração delas. – Emma incentiva o homem.

— Isso mesmo, princesa! E também decretou com pena de morte, o crime de rapto ou venda de crianças.

— Mas como os reis sobreviveram?

— Ah, Capitão! Tiveram de comer tripas de animais. Não se sabe que tipo de magia a Rainha Má usou, que a nossa Rainha Danna se transformou num monstro. Mas para evitar temor nas pessoas, os magos usaram truques para disfarçar a aparência dela.

Emma e Killian se entreolham.

— E William? Como reagiu a tudo isso? Como lidou com a maldição sobre os pais? E onde ele está? – Killian pergunta tentando esconder sua ansiedade.

— Ele viveu conosco e mesmo sabendo do tipo de rituais que seus pais tinham de fazer para sobreviverem, decretou vigilância total sobre todas as crianças do reino. Foi implacável com os próprios pais, porém, foi mais implacável com os forasteiros que se atreviam a tentar roubar crianças para vender aos nossos reis.

Delicada, Emma afasta o prato de comida. Estava farta e sua curiosidade a impedia de sentir vontade de devorar as guloseimas oferecidas.

— Implacável? O que ele fazia?

— Ele os capturava, os julgava e os matava. Depois que nosso príncipe foi abandonado pela Rainha Regina, tornou-se amargo e taciturno. Raramente víamos um sorriso dele.

— Mas você nos disse que o Rei Olavo está morrendo.

— Sim, princesa. Nosso rei está murchando em vida. Segundo os empregados do castelo, ele já não anda e está acamado. Continua vivo, atento, consciente, mas está se transformando numa criatura...dizem que ele está secando e ficará como se fosse uma raiz, caso o coração não seja devolvido ao corpo.

Inspirando profundamente, Emma se ajeita na cadeira.

— E a Rainha Danna? Vai se transformar num monstro?

O homem dá de ombros e espreme os lábios. Estava tão animado com a presença do pirata que praticamente vomitava as palavras.

— Os empregados do castelo dizem que ela já é um monstro, mas que os magos usam a magia para que as pessoas a vejam como uma mulher comum.

Killian bebe um gole generoso do suco. Depois pergunta:

— Mas onde está William que não busca uma solução para a cura dos pais?

— O nosso príncipe passou as últimas décadas numa busca por isso. Viajou para terras distantes, conviveu com feiticeiros poderosos, comprou poções e tudo o que lhe ensinavam sobre possibilidades de cura. Qualquer informação sobre o paradeiro da Rainha Regina era verificada, para a tentativa de recuperação do coração do rei.

— Você nos disse que o príncipe bloqueou o coração das crianças... – Emma inicia a frase para que o homem a completasse.

Entusiasmado, o homem sorri e continua:

— Nosso príncipe abominava os ensinamentos sobre magia que recebia, mas teve de se aprofundar neles. Ele tocou cada uma das crianças do reino e fechou o corpinho delas, para que nenhum conhecedor de magia tirasse o coraçãozinho. – ele aproxima a bandeja com frutas e insiste para que comam. – Experimentem essas frutas. Estão frescas!

— Onde está William, agora? – insiste Killian. Ele queria ouvir a explicação sobre a saída do príncipe.

Arnon sorri orgulhoso demais.

— Nosso príncipe atravessou um portal em busca do coração no nosso Rei Olavo.

— Sabem onde ele está? – Emma sorri sedutora.

— Não sabemos, princesa. Apenas nos foi dito que ele se ausentaria da administração para buscar o coração do Rei. Nós estamos mantendo o reino em plena atividade produtiva, assim como ele gostaria que fizéssemos. Quando ele retornar, ficará orgulhoso do povo dele.

Momentos depois, o casal está se apresentando aos guardas do castelo, onde viviam o Rei Olavo e sua Rainha Danna. Mesmo sem terem marcado uma audiência, queria, arriscar um encontro.

Levados por soldados até o interior do palácio, o casal não consegue esconder a admiração pela beleza daquele lugar, todo construído com pedras cuidadosamente colocadas. Muito requinte e delicadeza na decoração, com muita iluminação das tochas e grandes lâmpadas de azeite.

Aguardam por alguns instantes e são surpreendidos pela chegada de uma mulher de rosto redondo e pele rosada e lisa, como uma salamandra mexicana. Causava certo repúdio e desconforto. Mas não deixava de ser uma bela mulher com cabelos escuros.

— Quando me disseram, pensei que fosse alguma brincadeira! – ela camina com os braços abertos para um abraço de boas vindas. – Finalmente vou conhecer o Capitão Gancho!

Killian se deixa ser abraçado e antes que pudesse apresentar sua esposa à Rainha, vê a loira ser abraçada com muito entusiasmo.

— Mas o senhor é jovem demais para ter tantos anos! Por quê?

— Porque fui envolvido em magia durante a fuga da Rainha Má.

— Maldita! Sempre colocando aquela pata bifurcada na vida dos outros e destruindo cidadãos de bem! – ela se mostra furiosa e no segundo seguinte, calma. – Venham comigo! Quero que fiquem à vontade!

Ela segura o braço de Emma e encanta-se com a beleza da mulher.

— Linda jovem! É sua esposa?

— Com as graças dos Céus! – o pirata infla o ego de orgulho. – Minha amada!

— Espero que sejam felizes, como sou com meu Olavo. – a Rainha os conduz para outra sala e ordena que fosse trazido algo para seu convidados beberem. – O meu William sempre falou muito bem do senhor e fez com que nós o amássemos, Capitão! O senhor sempre tratou meu filho como se fosse uma joia rara...

— Mas William é uma joia única. – o pirata acomoda sua esposa na cadeira estofada e depois ajuda a Rainha a acomodar-se.

Danna aperta as mãos uma contra a outra. Sorri encantada e feliz.

— É lamentável que meu filho não esteja aqui. Ficaria encantado com a sua volta. O senhor não sabe a honra que tenho em receber vocês...

Um sorriso largo faz o rosto de Emma se tornar infantil. Diz:

— Ficamos honrados, Rainha.

Uma jovem vem à sala trazendo taças com vinho. Os visitantes são servidos antes da Rainha.

— Meu filho sempre foi generoso em seus elogios, Capitão. Mas nunca me disse o quanto o senhor é bonito...pelo menos a magia da Rainha Maldita serviu para preservar sua beleza. – ela espalma a mãozinha sobre o colo. – Meu marido ficaria imensamente feliz caso pudesse conhecer o senhor, Capitão...

— E ele não pode vir?

— Olavo está acamado e aguarda a vinda da cura. – Danna fica em silêncio por alguns segundos.- Pena que o senhor não tenha vindo ao nosso reino, há semanas. Poderia ter ido ajudar meu filho numa missão perigosa e necessária.

— Onde está seu filho? – Emma deposita a taça num móvel.

Por segundos, a Rainha apenas admira a beleza de seus visitantes, sobretudo, da mulher com aqueles cabelos dourados como trigais. Ah! Seria tão bom ter aquela aparência!

— Meu William abriu um portal para tentar salvar a vida do meu esposo. E quem sabe, salvar a minha vida também.

— Soubemos por informações superficiais que a senhora e seu marido foram afetados pela magia de Regina Mills...

— Afetados? – grita a Rainha ficando em pé. – Nós fomos destruídos por aquele demônio em forma de mulher! Fomos roubados de nossa dignidade e transformados em assassinos canibais! Como não podíamos realizar os rituais que nos mantinha saudáveis, começamos a definhar! Tenho de camuflar minha verdadeira aparência com magia, para não causar repulsa em meus súditos amados! Estou prisioneira em minha própria casa e se meu William não conseguir ser vitorioso em sua missão...nosso reino irá perecer. Entendem o que aquele monstro nos causou?

Pedindo paciência com as mãos espalmadas, Killian consegue produzir um efeito calmante na histeria de Danna.

— Peço desculpas pelo meu arroubo, mas é muito doloroso saber que meu filo ama aquela mulher. Entregou-se a ela e teve a alma e o corpo marcados, transformando-o numa espécie de eunuco cheio de tristeza e sem vontade de viver. – Danna ajeita os tecidos da saia. – Meu filho rejeitou as jovens mais lindas e pucelas, os pedidos de outros nobres para tê-lo como genro, apenas por nutrir a esperança de que a Rainha Monstro voltasse para buscá-lo.

Killian encara Emma e ela dá uma ordem muda para que ele se manifestasse para confortar a Rainha e fazer com que ela confiasse ainda mais em ambos.

Levantando-se, o pirata se aproxima da Rainha e estende sua mão, convidando-a para sentar-se novo. Consegue acomodá-la e em seguida serve-lhe uma taça com vinho.

—Beba um gole e vai ajudar a relaxar. – senta-se ao lado da Rainha. – Onde William está, neste momento? E fazendo o quê?

— Depois de muitos estudos, viagens e entrevistas, os magos descobriram um meio de salvar a vida de Olavo e evitar que se transforme numa raiz seca sobre a cama. Corpo seco e alma viva.

— Que horror! – Emma fala como se estivesse chocada.

A Rainha se sente confortada ao perceber que poderia ter mais aliados. Bastava envenenar um pouco mais a sua narrativa.

— Eu era uma linda mulher. Mas conseguimos a ira da Rainha Regina. Ela tirou o coração de meu marido e lançou uma praga sobre mim. Meu William nos flagrou em um dos rituais e descobriu a minha forma animalesca...mesmo nos amando, ele nos proibiu de continuar com os rituais e nos condenou à morte, sem ter consciência disso.

— E quando ele descobriu que poderia perder os pais, decidiu procurar ajuda e se aprofundar no mundo da magia. – completa Killian. – Soube que ele bloqueou os corações das crianças com magia. E sabemos que toda magia tem um preço.

Danna estende a mão e segura o antebraço do pirata.

— Eu não tenho notícias do meu filho. Nosso último contato foi há semanas...morro de medo de que o encontro com a Rainha inclemente, tenha causado um mal a ele.


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