Meu coração em suas mãos escrita por Eduardo Marais


Capítulo 15
Capítulo Catorze




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A imagem do espelho começa a mover-se e uma figura de rosto coberto por um tecido dourado, surge.

— Posso sair do espelho, bela Rainha?

— Não será necessário, desconhecido. Quero apenas fazer perguntas que talvez você saiba.

A figura ri.

— O que não sei, poderei descobrir. Em que posso ajudar? Saiba que você é a mais bela da cidade e do seu reino, Rainha.

— Não quero falar sobre minha beleza, espelho. Preciso que descubra verdades sobre um homem. Um príncipe que veio por um portal e que está sem memórias de seu passado. O nome dele é William de Velac. O que sabe?

A figura dourada fica em silêncio. Apenas move o corpo para os lados como se estivesse dançando.

— Danna não é uma mulher. É um monstro salamândrico que se uniu a um homem fraco e manipulável. Ela não poderia parir e recebeu o filho recém-nascido de uma meretriz como presente. William de Velac não é legítimo do casal.

— Isso é relevante. O amaram e isso é o que importa. Também não sou mãe biológica de meu filho Henry e o amo demais.

A criatura dourada ignora a fala de Regina e continua:

— Danna conseguiu tesouros em navios afundados e enriqueceu os cofres do reino. Deu condições respeitosas aos que vieram morar e trabalhar na região e protegeu dois magos canibais em seu castelo. Irmãos que cuidaram dela em momentos de fragilidade.

As sobrancelhas de Regina se levantam. Os boatos eram reais, então?

— Ensinaram truques leves para o príncipe. Mas os ventos não me trouxeram mais notícias sobre o príncipe, após seu vigésimo sexto aniversário. Nada mais sei, bela Rainha.

— William de Velac morreu? Então, quem é esse homem que está aqui em minha cidade?

— Uma contraparte dele, linda Rainha.

— E quem teria matado William? – Regina se sente apavorada.

Oigorbma.

Emma se encontra com o marido na lanchonete da Vovó Lucas. Abraçam-se por longo tempo e depois de trocarem um beijo de amor verdadeiro, vão se acomodar em uma das mesas do lado de fora do prédio.

— Meu dia foi intenso demais.

— Eu soube que deu um cruzado de direita no queixo do Crocodilo. O que queria com isso?

— William é um bruxo?

Killian estreita os olhos e faz uma careta que parecia ser de dor, mas era apenas mais uma de suas milhares expressões.

— Bruxo, bruxo, bruxo não. Ele sabe alguns truques, mais parecidos com mágicos bufões de circo. Ele sempre foi avesso aos ensinamentos das aulas que era obrigado a frequentar.

— Poderoso? – Emma insiste.

— Diria que é corajoso. Eu o ensinei a blefar quando o adversário é muito mais forte. Não podemos embater com um gigante, por exemplo, mas podemos usar a lentidão do corpo pesado dele, contra si mesmo. William é assim desde jovem: um bom jogador e isso é uma habilidade que não desaparece da mente, mesmo quando estamos amnésicos. Sabe disso.

— O Sr. Gold insiste que ele é mais poderoso que isso. E a aura de magia poderosa que disse sentir pela cidade, após a chegada de William?

Killian segura as mãos da esposa.

— Amor, o Crocodilo mente até para quem mais ama. Engana e trai todos a quem ama e aqueles o amam. William despertou incômodo em meu velho inimigo, porque é meu amigo. “ Amigo do meu inimigo é meu inimigo. ” É a premissa do Crocodilo!

— Killian, neste caso Gold não está mentindo! Eu usei minhas habilidades e posso afirmar que ele está sendo sincero!

O pirata tenta se controlar e não iniciar uma discussão.

— Então use suas habilidades e teste a veracidade de William!

— Fiz isso! Mas não consegui nada! Seu amigo está bloqueado por alguma redoma! Não saberei explicar!

Killian levanta as mãos e faz uma careta que poderia significar um “desista de tentar, então. ”

— Robin pediu minha ajuda porque afirmou estar enfeitiçada. Disse que minha suspeita inicial estava correta, mas no dia seguinte, ela veio até nossa casa e desmentiu tudo. Eu sei que ela estava mentindo, porque as expressões faciais...eram de desespero e agonia.

O pirata beija as mãos da esposa.

— Robin está vivendo sob pressão desde que voltou a morar com a família. Sobretudo, depois que Cora retornou do autoexílio. Imagine a carga de magia e de tensão que está dentro daquela casa. Além disso, um desconhecido desmemoriado vai virar membro da família em breve.

— Como é? – Emma se interessa pela novidade.

— Regina e William irão oficializar o relacionamento. Talvez irão casar-se.

— Em tão pouco tempo? Isso é arriscado! O que sabemos sobre ele?

— Isso não é problema nosso, amor. – ele se levanta e a convida para irem embora dali.

Na loja do Sr. Gold...

O advogado termina seu controle do caixa e decide fechar a loja para ir para casa. Belle havia avisado que iria demorar um pouco mais na biblioteca e ele decide fazer um jantar para recebê-la.

Organiza os detalhes nas prateleiras e olha em volta para saber se tudo estava como deveria estar. Depois, apaga as luzes e sai do estabelecimento, trancando a porta. Com passos firmes, vai seguindo pela calçada e desaparece na primeira esquina.

Tudo observado atentamente por olhos escuros do outro lado da rua, num corpo invisível à visão humana. William assiste a saída do Senhor das Trevas e decide segui-lo a certa distância.

Durante o trajeto para casa, o advogado olha diversas vezes para trás. Estava sentindo-se incomodado com alguma coisa que não poderia identificar. Não vê nada de anormal a sua volta e começa a sentir-se acovardado. Essa era uma sensação que conhecia bem, quando por algum motivo ou outro, perdia seus poderes.

Entra em sua casa e o silêncio do local acentua ainda mais a sensação incômoda de que algo mal o rondava. Mas não consegue identificar o que seria.

Diante de seus olhos, algo se move como se fosse uma parede de água ou um corpo gelatinoso e incolor. De fato, havia alguém ali, embora não sentisse a presença de magia. Depois, ouve barulhos vindos da cozinha e sente a necessidade de ver o que estava havendo.

Tremendo, Gold vai até a cozinha. Como conseguia ser tão covarde? Estava sendo perseguido por um fantasma? Mas ele era o Senhor das Trevas! E daí? Ele era um homem que sentia medo!

A luz estava acesa e ele surge de repente na cozinha, para tomar de assalto o invasor. Crispa a mão e iria produzir alguma onda de impacto, quando se depara com Belle separando legumes.

— Pensei que fosse ficar na biblioteca até tarde...

— Ah, sim! Vim apenas fazer o jantar e terei de continuar meu trabalho. – ela sorri lindamente.

— Estou com aquela sensação de...captei algo sobrenatural novamente. Aquela aura de magia...

Belle faz alguns muxoxos.

— Estamos nesta cidade. Tudo aqui cheira a magia.

— Tem razão, querida. – ele sorri sentindo a bochecha tremer.

— Você não me beijou. – Belle se aproxima do advogado e beija-lhe demoradamente os lábios. Depois se afasta e vai apanhar um copo com suco. – Fiz um aperitivo para abrir seu apetite.

O homem tenta sorrir ainda mais e aceita o copo da mãozinha de Belle. Olha por cima do ombro em busca daquilo que havia visto e bebe um gole generoso do suco.

— Acredita que fantasmas podem existir nesta cidade?

Belle o olha de viés e assume uma expressão medonha. Um olhar desconhecido.

Gold pisca várias vezes e tudo começa a ficar embaçado à sua volta. Depois, tudo começa a escurecer, mas ele ainda tem a impressão de ver William em pé no lugar onde Belle estava.

Enquanto isso...

Ao chegar em casa, Regina apenas quer conversar com William e relatar o que a figura dourada havia lhe informado. Queria compartilhar e tentar provocar evocações de lembranças na alma do homem por quem estava apaixonando-se cada vez mais.

Encontra-o sentado na cama, enxugando os longos cabelos, como movimentos monótonos e displicentes.

— Você está bem?

Ele sorri e estende a mão para convidá-la para sentar-se ao seu lado.

— Muito cansado e precisando organizar minhas recordações.

— Do que se recordou? – Regina apanha a toalha e assume a tarefa de secar os cabelos dele.

— Eu me recordei de um momento profundamente triste, que provocou um grande sofrimento em minha alma. Sabia que ainda sinto dor física por esta lembrança?

Regina não quer interromper a fala dele, porque se sente curiosa.

— Havia feito uma viagem para levar o resultado de uma produção de nossas terras. Quando retornei, atraquei meu navio no litoral da Floresta Encantada, querendo ver uma pessoa antes de prestar contas ao meu rei. Mas tudo o que encontrei foi desolação a abandono de um reino vazio de pessoas. Soube, mais tarde, que uma maldição havia sido lançada e que não restara nenhum habitante daquele lugar...incluindo a mulher que marcara meu corpo e meu espírito com seu gosto.

— Sinto muito, William. Foi um período de muita tribulação em meu espírito e somente a vingança comandava todos os meus atos. Na época não pensei em seus sentimentos e em sua esperança. Eu queria matar minha enteada.

Ele se levanta da cama e vai vestir roupas mais quentes. Parecia muito triste.

— Durante todo o dia de hoje, vi imagens diante de meus olhos e todas eram recordações de minha vida. Vi pessoas, vi lugares, acontecimentos, sentimentos e emoções...- ele sequer se incomoda em vestir-se diante dos olhos encantados de Regina. – Vi meus pais...sei quem são eles e...consegui ver Hilea, a mulher que sempre cuidou de mim naquela taverna que eu tanto amava. Onde conheci o Capitão Gancho.

Ficando em pé, Regina caminha até seu homem e envolve sua cintura com um abraço por trás. Ele estava gelado e ela percebe que fazia tempo que estava molhado após o banho.

— William, meu amor. Suas lembranças devem trazer felicidade aos seus dias. O que aconteceu em nosso passado não há como ser mudado, por isso, não devemos revolver. De que adianta fazermos cobranças por algo que não podemos apagar de nossas vidas? Estamos juntos agora, mais maduros, mais experientes e conscientes dos que queremos e do que não queremos em nossas vidas. Estamos num momento de nossa idade, que temos o direito de acelerar todas as nossas decisões.

Virando-se dentro do arco do abraço de Regina, ele a encara.

— O que quer dizer?

— Mesmo que eu não saiba o que você viveu em trinta anos de separação, creio que temos maturidade e conhecimento suficientes para iniciarmos uma vida em comum. Iremos nos descobrindo com o passar do tempo.

— Você tem muita fé em mim.

Ela fica na ponta dos pés e alcança os lábios dele com um beijo suave e aquecedor.

— Fiz uma investigação e descobri coisas sobre você. Criei uma tese que poderíamos amadurecer juntos. – toca o peito dele com propriedade. – Os ventos possuem informações sobre você até certa idade e depois nada mais sabem. Alguém matou alguma parte em sua alma e deixou viva apenas a parte que devia ser interessante a esse alguém. Por isso, perdeu suas memórias.

Uma carranca pouco amistosa substitui o rosto sereno do homem.

— E esse ventos disseram que cometeu esse assassinato?

— Oigorbma. Esse é o nome de quem roubou suas memórias e parte de sua alma.

Um véu de espanto desce sobre os olhos castanhos do homem. Apenas entreabre a boca.

— Descobrindo quem é essa pessoa, quais são seus poderes e o que pretendia ao roubar parte de sua vida, iremos conseguir sua totalidade. Mas você não precisa fazer isso sozinho. Eu estarei ao seu lado e não o abandonarei, desta vez.

Alguém lá fora bate na porta do quarto.

— Regina, você tem visita! – era a voz de Zelena.

No escritório, Regina se encontra com Belle. A jovem trazia um livro com capa em couro velho.

— Encontrei algo não oficial, escrito totalmente à mão. – ela mostra a capa do livro. – “ A real história do reino que nasceu do mar. ” Pelo menos o título é bonito.

— Você leu a história, Belle?

— Li, mas vou deixar o livro aqui para que leia quantas vezes quiser. É apenas cheia de detalhes.

— Fala sobre William?

Belle sorri e confirma que sim.

— Mas as narrativas acabam quando ele completa vinte e seis anos.

Os pensamentos de Regina retornam para a sala de espelho, para sua conversa com a figura protegida pelo tecido viscoso e dourado, que se manifestara após sua evocação. A vida de William tinha sido apagada dos ventos e nada se sabia sobre o príncipe. No que o haviam transformado?


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