Cinco meses depois...

Estou andando pelas ruas congelantes dessa cidade, com um sobretudo de veludo, luvas grossas, botas grandes, e até uma touca, sinto-me oficialmente uma dessas garotas de filme, que andam nas ruas dos EUA com seu café nas mãos, enquanto congela devido ao frio assustador. Apesar de tantos agasalhos ainda me sinto como o jack do titanic, definitivamente preciso de no mínimo um ano pra me acostumar com esse clima.

É sábado.

Sai do campus apenas para comprar alguns materiais que preciso, apenas o necessário nunca era o suficiente em Harvard. Assim que entro na livraria arrependo-me no mesmo instante de ter ido, eu definitivamente não esperava e nem queria ver aquilo. Vários exemplares de um livro da minha mãe.

Não, não, não.

Pego um rapidamente e realmente era o maldito livro, sinto meu coração disparar, depois de Noah ter ido embora e todos esses acontecimentos terríveis que prefiro não me lembrar, minha mãe sequer mencionou aquele livro outra vez, e logicamente, pensei que ela usaria o bom senso e desistiria da ideia, vejo que me enganei.

Observo o livro por alguns segundos, felizmente não mostrava o rosto de ninguém, seria trágico precisar explicar pra alguém como aquele final feliz foi uma farsa. Minha mãe o chamou de “My dear secret admirer” sério? vá pro inferno!!!

Quero ligar pra ela e gritar um milhão de palavrões, mas desisto ao lembrar-me que, primeiro, ela é minha mãe, e segundo, dei a minha maldita permissão.

Esqueço-me de todos os materiais que eu preciso comprar, pago por aquele livro e saio praticamente correndo dali, entro no metrô e só então consigo sentir minha respiração ofegante voltando ao normal. 

Sabe o que me deixa mais puta?

Já haviam se passado cinco meses.

Cinco malditos meses e não havia um dia em que eu não pensasse nele, em que eu não desejasse estar com ele. Era como se eu fosse uma dependente química e precisasse desse garoto. 

Qualquer pessoa que demonstra algum interesse por mim, eu bloqueio de todas as formas possíveis, praticamente sai correndo quando Louis Avery tentou me beijar no refeitório. A Redd chama de trauma, mas eu acredito que, simplesmente, nunca conseguirei amar alguém novamente, não como amo Noah Adams.

E depois desses longos cinco meses, estou finalmente conseguindo superar tudo aquilo, e quando digo superar, ignoro o fato de ainda chorar toda noite antes de dormir enquanto disco o número de Noah, e deixo um caixa postal pra ele contando com detalhe sobre o meu dia, como se dessa forma, eu estivesse mais próxima dele. 

Observo uma mulher sentada do lado oposto ao meu, lendo o mesmo livro que aperto forte em minhas mãos, sinto meu rosto queimar instantaneamente, é constrangedor saber que ela está lendo sobre mim, ou pelo menos, a versão distorcida que minha mãe criou.

A mulher funga o nariz algumas vezes, disfarçadamente, como se fosse séria demais para chorar em um público, e sinto uma vontade imensa de perguntá-la qual momento lhe emocionou E então percebo que talvez eu simplesmente devesse ler, por mais difícil que seja, eu preciso ler esse livro. 

Maldita seja minha mãe! 

Observo com desdém o livro de capa azul no meu colo, respiro fundo e então o abro devagar, começando a leitura.

Sabe quando você lê um livro e fica o tempo todo pensando: "que personagem imbecil, como ela não percebe o que está tão óbvio?"

Eu nunca imaginei sentir isso lendo o próprio livro da minha história de amor, sinto-me uma completa estúpida por não ter me jogado nos braços do meu melhor amigo antes, a verdade é que eu daria tudo pra ter mais um momento do seu lado.

Sinto as lágrimas descerem por meu rosto sem parar, não havia nada triste em como Noah me obrigou a dançar com ele na festa que Redd me obrigou a ir, mas simplesmente não consigo parar de chorar. Parece cruel demais reler tudo isso e saber que o perdi para sempre.

Dei um milhão de voltas naquele metrô, eu me perdi no tempo, passageiros entraram e saíram mais vezes que eu conseguiria contar, e eu continuava ali, não sairia até ler cada palavra.

Ao chegar no meio da leitura, sinto-me assustada em como minha mãe sabia de momentos em que só havia Noah e eu, como ela sabia as falas? Como ela sabia...

Quando finalmente chego no dia que me declarei para Noah, fico ainda mais surpresa, o livro não termina por ali. 

Contou sobre cada detalhe que veio depois, sobre a bolsa em Harvard e até como Noah foi um idiota comigo, só pode ter sido Redd que contou tudo aquilo pra minha mãe, o que deixou-me com ainda mais raiva.

Redd conversa comigo todos os dias, sabe como sequer toco no nome do Noah sem chorar, ela definitivamente sabe que eu não queria que esse livro fosse publicado. Muito menos que tivesse toda as partes horríveis do final, acontece que ler sobre isso me despertou sentimentos terríveis, as lágrimas de nostalgia são de pura dor agora.

Qual é a maldita necessidade de contar tudo isso? Nenhum leitor quer ler todas essas despedidas e coisas tristes no final de um livro.

E depois apenas apareceu um "baseado em fatos verídicos".

Pensei em como era um final ridículo, entretanto, percebo que ainda não havia terminado. Qual era a da minha mãe?  De repente vejo aquele nome e meu coração dispara como nunca, era uma mensagem.... uma mensagem do Noah?

 Então foi ele que deu todos aqueles detalhes para minha mãe, ele voltou. Sinto ódio de mim mesma por ter aceitado essa bolsa, ele voltou e eu não estava lá.

Começo a ler aquela mensagem devagar, preciso entender o que isso significa, por que ele deixaria uma mensagem no fim do livro?

"nem todas as histórias tem um final feliz, mas eu espero que a minha tenha..."

Antes que eu pudesse continuar lendo o grande testamento que Noah havia deixado ali, sinto aquela voz no meu ouvido e no mesmo instante, sinto uma corrente elétrica passando por todo meu corpo, meu coração parece bater mais forte, sinto-me extasiada, as lágrimas transbordam por meus olhos.

— Eu posso te contar o que está escrito no resto – era ele, eu reconheceria aquela voz em qualquer país, em qualquer momento, em qualquer circunstância. 

Praticamente pulei daquele banco, sentindo meu coração bater tão rápido que pensei que fosse desmaiar, o metrô nessa altura estava completamente vazio. Apenas ele parado em minha frente sorrindo como um imbecil.

— N-noah? – gaguejo, observando-o cuidadosamente, questionando-me se aquilo era real ou apenas fruto da minha imaginação — o que você está fazendo aqui?

— Não ficou sabendo? – responde, com um sorriso fofo nos lábios, sem tirar os olhos de mim – hoje é meu primeiro dia de aula nessa faculdade chique.

 Ouço suas palavras, porém não consigo tirar da cabeça a ideia de tudo isso ser apenas um sonho, afinal, é impossível, é impossível ele estar aqui dizendo essas coisas para mim. Continuo apenas encarando-o profundamente, se isso for um sonho quero aproveitá-lo máximo possível.

Ele está tão bonito, não mudou praticamente nada nesses cinco meses, usa uma jaqueta de couro e seus lábios estão roxos devido ao frio.

Apenas observo cada detalhe sobre ele, decorando cada movimento que ele fazia, não consigo dizer nem uma palavra, todas essas coisas rodavam em minha cabeça ao mesmo tempo, deixando-me maluca, ao notar minha expressão extremamente confusa, Noah continua dizendo:

— Malu, eu sinto muito, sinto muito por ter ido embora daquele jeito, eu me odiei tanto, me odiei durante todos os dias nesses meses e eu sei que você deve me odiar também, e provavelmente não vai me querer de volta, mas... – em um ímpeto, antes que Noah continuasse dizendo qualquer coisa, joguei-me em seus braços, beijando-o com anseio e só então me convenci que aquilo realmente era real, seus lábios firmes contra o meu com desejo, nos beijamos como se o mundo estivesse prestes a acabar em qualquer instante.

— Como eu senti falta disso – Noah sussurra, afastando-se o mínimo possível com um sorriso gostoso, fitando-me daquele jeito que sempre me fazia perder a noção de tudo, pensei que nunca mais ele me olharia assim novamente, sinto as lágrimas por meu rosto outra vez, é como se fossem automáticas. 

— Você está aqui de verdade – sussurro, e então ele acaricia meu rosto, limpando cada lágrima, fecho os olhos, apenas sentindo seu toque.

— Eu prometi que nunca te deixaria – murmurou, sem tirar os olhos de mim.

Abraço-o com força e ele retribui na mesma intensidade, ficamos assim por bastante tempo, eu precisava apenas apreciar sua presença, apreciar o fato de ele ter voltado pra mim.

— Como é possível? – pergunto, finalmente afastando-me para encará-lo – como você está aqui? Que papo é esse de faculdade chique? Eu nunca estive tão confusa – continuo, e de repente ele está gargalhando. Como senti falta desse sorriso. 

— como eu posso explicar? – começou a dizer, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha – eu estava lá no dia que você foi embora, precisei ter certeza que você iria – sinto meu coração pular, ele realmente estava no aeroporto quando vim, não era coisa da minha imaginação – pensei em te deixar viver sua vida em paz, eu já tinha sido filho da puta o suficiente, mas eu não conseguia pensar em mais nada além de você, em todos os segundos de todos os meus dias. Eu ouvi cada mensagem que você me enviou e doía demais a ideia de não fazer mais parte da sua vida. – abaixei a cabeça envergonhada, eu nunca pensei que ele realmente ouvisse as mensagens que enviei, todas elas envolviam lágrimas e declarações dramáticas de amor – então, basicamente, meu amor doentio por você, fez com que eu estudasse como nunca estudei em toda minha vida, até pedi ajuda ao Harry. Participei do vestibular e não é como se eu fosse um nerd como você e conseguisse uma bolsa integral, mas consegui metade. – gargalho, imaginando-o realmente estudando e com medo de não passar em uma prova, Noah sempre disse odiar faculdades, nunca imaginei que ele faria tudo isso por mim.

— E como você vai pagar pelo resto? – pergunto, ainda sorrindo como uma idiota.

— O plano inteiro dependia do livro da sua mãe sobre nossa história ir bem... e foi, então na verdade, por conta dessas coisas de direto autorais e tal, ela que vai bancar – explica, sorrindo e de repente toda raiva que eu senti da minha mãe por publicar esse livro pareceu nunca ter existido, se eu soubesse que o lançamento significaria ter o Noah de novo em minha vida teria comprado todos os exemplares quando os vi.

— Uau, você fez tudo isso pra ficar comigo – ele não desvia o olhar de mim, entrelaço as mãos em seu pescoço – Estou com medo.

— O que a gente não faz pelo amor da nossa vida, não é? Até ir pra Harvard, a faculdade mais cheia de mauricinhos. – retrucou, fazendo-me gargalhar outra vez.

Meu coração está batendo tão forte, como se quisesse sair do meu peito. Eu nunca estive tão feliz em toda minha vida, quando nos beijamos pela primeira vez, pensei que era o máximo de felicidade que eu poderia sentir, entretanto, eu estava enganada. A felicidade que estou sentindo agora é muito maior, como se finalmente fossemos ficar juntos para sempre.

— Eu amo tanto você — sussurro, fitando-o. 

— Então... – ele começa a dizer – Maria Luiza Cooper, você aceita ser minha namorada? E se casar comigo daqui uns cinco anos? – pede de forma expressiva, fazendo-me abrir o maior sorriso do mundo.

— Pensei que você não fosse o tipo que namora, casa ou tem filhos – provoco, com nossos lábios praticamente grudados.  

— Por você eu sou – ele deposita um selinho em meus lábios – vou ser o homem mais feliz do mundo quando tivermos sete filhos catarrentos – completa, e então gargalhamos.

— Sabe, eu até aceitaria o seu pedido, mas é proibido namorar no campus – faço-me de difícil, mordendo o lábio inferior.

— Então... parece que terei que ser seu admirador secreto outra vez? – pergunta quase em um sussurro, fitando-me intensamente, sorrio balançando a cabeça em concordância e o beijo outra vez.

Ah Noah, se você soubesse... Eu nunca mais o deixarei ir pra longe, meu querido admirador secreto.